quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Oliveira Viana sobre a constituição de 1891. Alguns comentários.

 Francisco José de Oliveria Viana foi um jurista, sociólogo e pensador fluminense, cuja relevância na discussão sobre o caráter da formação e constituição do Brasil não pode jamais ser diminuída. Está no mesmo patamar, embora seja menos lido e menos estudado, do que Sérgio Buarque de Hollanda ou Gilberto Freyre, ou ainda do ilustre Alfredo Ellis Júnior, esse ainda menos conhecido, lido e estudado. 

"O Idealismo da Constituição" é apontado como um texto fundamental do autor para compreender sua análise sobre a república no Brasil. É um texto composto integralmente de críticas ao republicanismo no Brasil, à forma como ele foi adotado e, sem apontar para um modelo ideal, muito embora fosse O. Viana um monarquista. 

Inicia comparando a fortaleza da formação e do preparo dos titulares do império, cuja política reunida na representação dos Partidos Liberal e Conservador eram muito superiores aos homens que vieram a fazer a república e a compôr a sua classe dirigente. Se há fraqueza nos representantes da república há fraqueza também no próprio modelo republicano, liberal, constitucional e federal que foi importado e aplicado aqui. Os vícios da república, cristalizados na constituição de 1891, são as cópias do modelos prontos do democracismo francês, do liberalismo inglês e do federalismo americano. Não é preciso dizer mais nada a respeito, é nítida a posição de completa oposição do autor ao novo regime e suas inspirações.

Oliveira Viana é um autor que raciocina em termos de elite e a coloca como sendo a força única capaz de conduzir um processo histórico, nunca a obra coletiva de uma classe social, senão de uma elite, um grupo de escol. Compartilhamos com ele essa mesma opinião.

Trazer para o Brasil os modelos políticos estrangeiros, que não seriam adaptados aos hábitos e costumes da população brasileira, nem próprios para sua formação, teria sido um erro. Trazer a democracia republicana que pressupunha um regime assentado sobre a formação de uma opinião pública em um país de analfabetos sem instituições que possam consubstanciar essa opinião pública é formalizar um grande faz de contas. 




terça-feira, 18 de julho de 2023

Resenha: A Revolta dos Novos Farrapos, de Delmar Marques.





Um interessante livro. Um romance de história alternativa. Não conheço muitas obras desse feitio, tratando da realidade política, social e histórica do Brasil. Imagine que ali nos anos 80, na época da redemocratização, o clima político gerasse uma nova Farroupilha.

O cenário é bastante parecido com o que vivemos há mais de trinta anos. Aponto alguns elementos da paisagem que encontram total lastro na realidade. 

1. Greve de arrozeiros. 
2. Bloqueio de rodovias. 
3.Agitações militares. 
4. Greve de professores. 
5. Greve dos demais servidores.
6. Greve de celetistas. 
7. Invasão da assembleia legislativa e palácio do governo. 
8. Brigada militar aquartelada. 
9. Pessoas feridas por militares em manifestações. 
10. Mobilizações de sem terra. 
11. Inexistência de reforma agrária. 
12. Estações de rádio encampadas.
13. Discurso anti-mídia estrangeira. 
14. Formação de milícias civis. 
15. Empresário alemães gaúchos neonazistas!!! 
16. Cenas de flerte e lascívia entre um aspone e uma grevista. 
17. Falência das contas públicas. 
18. Explosão de bomba (ref. RioCentro).
19. O candidato da direita citado é um industrial Paulista. 
20. Expectativa por ação dos militares. 
21. Final com acordão político, embora com alterações no modelo legal/constitucional (ou seja, uma revolução que dá certo).

Todos esses 21 itens são factíveis com a realidade. É o que se vê acontecer na política desse país. Claro, há elementos aí que são absolutamente literários e servem para dar ares mais interessantes ao romance, como a presença de um espectro de industriais neonazistas gaúchos, que se reúnem de tempos em tempos para vestir suas velhas fardas pretas da época da II Guerra Mundial. Isso, claramente, é um elemento que não tem importância nenhuma na nossa política, mas, em se tratar da mente progressista, que vê fantasmas de fascistas e nazistas em toda a parte e que chama todos aqueles que são seus adversários políticos ou que apenas pensem diferente de fascistas, a presença desses personagens passageiros não chega a causar espanto. 

Se eu fosse da Rede Globo toparia filmar isso como minissérie. Teria apelo. Se bem que aqui o Brizola é personagem que passa discreto, mas está presente e a Globo odiava o "Brisa". Quer dizer, o Roberto Marinho. Essa Globo de hoje adora esquerdistas.

Há alusões em uma passagem que me lembram um livro que foi usado nas aulas de geografia da 7ª série, chamado A Invasão Cultural Norte Americana, da Júlia Falivene Alves. Aquele papo de Mcdonalds e Coca Cola, imperialismo cultural e etc. É a cara do discurso de quem frequentava o Fórum Social Mundial...

Mas, no fim, a nova Farroupilha consegue melhores condições para o Rio Grande num contexto constitucional de um federalismo político mais amplo ou de um estado autonômico. Não é recriada a República Rio-Grandense, como o leitor espera durante o livro. Seria um cenário divertido.

Eu gostaria de ver um desenlace como esse ocorrer. Uma revolta que proporcionasse um cenário de mais descentralização política e colocasse o governo federal de plantão de joelhos. Seria bom não só para o Rio Grande do Sul, mas para todos os estados da federação.


domingo, 11 de junho de 2023

Antígona

 O homem que governa bem a sua casa há de governar com justiça a cidade. Mas quem, por orgulho, menospreza as leis e pretende opor-se a quem tem o poder, esse não terá jamais o meu favor. Ao governador é devida obediência na pequena ou grande coisa, justa ou não. O homem que obedece, esse, eu tenho certeza, saberá mandar, pois sabe ser mandado, e, na confusão da peleja, estará firme em seu lugar, soldado bravo e Leal. A anarquia é o pior de todos os flagelos: é ela que destrói cidades, que subverte lares, que em batalha rompe, põe em fuga, desbarata tropas; enquanto onde há ordem salva-se por certo a maior parte das vidas. Eis por que é um dever respeitar sempre as leis, e não se deixar dominar por mulheres. "


*Tradução de Guilherme de Almeida 

sábado, 3 de junho de 2023

Uns vizinhos

 Já se contam mais de dez anos dessa fala.

Acho que é normal que se fala mal de vizinhos. Assim como é normal falar pelos cotovelos sobre colegas de trabalho, gente da igreja, parentes e de quaisquer outros círculos pessoais. 

Aqui em casa eu sempre estranhei alguns vizinhos. 

Um casal aposentado que não soube chutar pra fora seus dois filhos marmanjos e hoje já agregaram as notas. Nunca vi esse casal ir no mercado e trazer sacolas de compras, mesmo a casa deles ficando na frente da janela da minha sala. Como pode haver gente que não faz mercado? Bom, hoje, o amigo poderia dizer, isso é mais fácil com esses aplicativos de entrega. Mas não era o caso quinze anos atrás. Ou mesmo para dois velhos que não dominam a Internet. 

Uma senhora três casas pra frente. Morreu ano passado, aliás. Era divorciada ou viúva (ninguém sabia nem tinha coragem de perguntar) e morava com dois netos gêmeos que tinham a idade do meu irmão mais novo. Morava nessa casa também um filho dela que era maluco. Sempre o chamamos de monstrondonte. Ele tinha síndrome de pânico e realmente não saia de casa. Era a falecida velha que fazia tudo. Ela morreu e os netos se dividiram: um foi faculdade no interior, parece que em São Carlos e o outro aqui permaneceu, virando entregador de pizza.

Há uma moça japonesa, que mora com a mãe. As duas professoras. A mãe já aposentada e filha ainda na ativa. Roteiro de sempre do bairro. Casa antiga, quintal grande, pouca ou nenhuma visita. Pouco contato com os vizinhos (tem conosco). Acho que a moça deve ser uns três anos mais velha que eu. Uma vez ela me entrevistou e ao meu irmão mais novo, quando ele tinha uns dez anos. Era pra uma pesquisa de campo dela da USP. Umas perguntas bobinhas. Tenho alguma curiosidade por ela. E tenho também alguma pena, pois acho que ela não regula bem do juízo. Anda sozinha parando no meio do caminho, aparentemente sem motivo, como se tivesse tido uma pane seca. Ela namorava um senhor bem mais velho. Acho que eles ainda namoram. Mas são gente bastante fechada.

Na frente dessa mãe e filha mora um solteirão de meia idade. Quando nos mudamos pra cá ele já estava lá. Passados 23 anos nada mudou. Quer dizer, aquele rapaz que devia ter os seus vinte e poucos anos hoje deve beirar os cinquenta. A sua mãe, senhorinha espírita muito simpática mas fantasmagórica(só a vi umas dez vezes nessas mais de duas décadas).

Hoje eu me parei pensando em como os vizinhos devem ver a mim e a minha família. 23 anos na mesma casa. Não casei, não sai daqui. Engordei muito e fiquei careca. Pensarão que sou um sujeito com quais tipos de manias exóticas? Terão a mesma visão atravessada que posso ter deles? E o que é pior: podemos todos nós estamos certos... 

domingo, 30 de abril de 2023

Comentários sobre a obra VRIL - O poder da raça futura, de Bulwer-Lytton.

 A literatura está repleta de livros que dão asas à imaginação prodigiosa de autores que pensaram sociedades alternativas e utópicas, visões muitas vezes propositivas de seus ideários, mas ocultados e disfarçados sob o véu de obras de ficção. Reputo, por exemplo, A Máquina do Tempo, de H.G. Wells como um livro que se enquadra perfeitamente nesta categoria. São conhecidas as ligações do senhor Wells com sociedades políticas secretas socialistas, no caso a malfalada Sociedade Fabiana, que propunha um socialista reformista, lento e gradual. O símbolo dessa sociedade política era, aliás, uma tartaruga, para ilustrar que os seus membros não tinham pressa em alcançar os seus fins. Todo esse projeto de poder mundialista e globalista, que hoje é tema de discussões e chamado pela imprensa hegemônica de teoria da conspiração da ultra direita, no fundo, é a continuação das discussões iniciadas ainda no século XIX sobre alternativas socialistas para a construção de um mundo perfeito, que suplantasse a luta de classes por meio de reformas sociais-democratas.

Há literatura utópica que propõe um mundo, como um diagrama a ser seguido, como já citei "A Máquina do Tempo", mas poderia citar a Utopia, de Tomás Moro, livro ainda do século XVI, ou A Cidade do Sol, de Tomaso de Campanella. Há também livros que denunciam a degeneração da utopia, quando realizada, como é o famosíssimo caso de 1984, de George Orwell, que, sendo um socialista um pouco arrependido, após ver os caminhos que o socialismo real estava trilhando, denunciou a escravidão absoluta que o homem poderia estar submetido em um estado socialista totalitário. Precisamos reforçar sempre que todo estado totalitário moderno é sempre um estado socialista, por mais que venha a ter matizes diferentes. Há versões nacionais de socialismos. Há socialismos de empresários monopolistas, como é aquele proposto por grupos globalistas, que até apelidaram seu ideário mais recentemente de capitalismo (sic) de stakeholders. Aproveito para lembrar que a Revolução Russa foi totalmente financiada por banqueiros judeus americanos de Wall Street. Lembro também que todo desenvolvimento tecnológico feito pela União Soviética e pela China somente foi possível com a entrega de tecnologia por parte de países capitalistas ou o simples roubo dessas tecnologias. O socialismo não é criador nem multiplicador de riquezas e de tecnologias. Vejam a Cuba do século XXI, em que tal miséria vive, absolutamente isolada em seu socialismo autárquico, que mantém uma população completamente miserável e famélica. Cuba sem recursos doados pela URSS nunca conseguiu deixar de ser uma ilha-favela, pior e mais pobre do que muitas favelas brasileiras.

Contudo, me chamou a atenção uma obra de utopia não tão conhecida nem tão lida no Brasil, do autor esotérico Edward Bulwer-Lytton. Inglês do século XIX, lançou VRIL - O poder da raça futura sete anos após o livro mais famoso de Júlio Verne, Viagem ao Centro da Terra. Vril também se passa no centro do planeta Terra, que seria oco, fazendo referências claras à tradições religiosas e místicas orientais, como no budismo tibetano, que prega a existência de Agartha, uma cidade secreta no centro do planeta, somente acessada por pessoas especiais, a partir de caminhos ocultos e preservados por mestres tibetanos. Sobre Agartha, posso recomendar o livro do jornalista e escritor polaco Ferdynand Antoni Ossendovsky, Bestas, Homens e Deuses (traduzido e publicado em português). Ossendovsky nasceu em uma família polonesa abastada, tendo vivido na comunidade evangélica reformada polonesa (país majoritariamente católico) e viveu viajando pelo Oriente, onde entrou em contato com diversas narrativas e tradições religiosas e místicas. É considerado um dos grandes nomes da literatura de viagem. 

O personagem central da história, um humano que em algum local incerto e não sabido, no século XIX, adentrou uma antiga mina e perscrutando aquele ambiente acaba descobrindo uma fonte de luz muito incomum, nunca vista por ele, que lhe desperta a atenção, junto com um seu companheiro. Sendo atraídos pela curiosidade, atravessam em direção a essa luz dentro da caverna da mina e entram em um mundo novo, subterrâneo, mas iluminado e composto de paisagens naturais que, embora distintas das terráqueas, ainda assim lembram a superfície. Ao entrar em contato com os seres desse mundo, o personagem central descobre uma sociedade avançada, humanóide, que migrou para o centro da Terra após alguma catástrofe natural antediluviana, que fez com que progredissem muito e em ritmo diferente dos povos da superfície. (A imaginação do leitor que tem referências bíblicas não pode deixar de pensar que tais habitantes, bonitos, mais altos e alvos do que os homens da superfície, seriam néfilins, supostos híbridos entre as filhas dos homens e anjos caídos, como é citado no Antigo Testamento.)

Uma obra utópica serve precipuamente, ou deveria servir, para questionar a sociedade vigente. Pode servir como tema para discussão de qual caminho aquela sociedade pretende tomar e seguir ou ainda de quais decisões abortar, como é mais característicos em obras que denunciam o caráter totalitário de sociedades utópicas (as distopias, como 1984). No caso de Vril, a sociedade subterrânea é muito avançada tecnologicamente e também socialmente. É uma monarquia eletiva que elege um magistrado ilustrado que governo temporariamente aquela comunidade. A civilização subterrânea não padece de problemas sociais de nenhuma natureza. Não há problemas de natalidade, de desabastecimento de comida, de violência, de ocupação do território. Todas as comunidades são pequenas e quando o número de população de uma delas cresce em demasia, há um fluxo migratório para outras comunidades, de modo que as cidades são pequenas e perfeitamente se mantém em equilíbrio. Não há trabalho manual, no geral, pois as atividades do dia são realizadas por robôs autômatos. O próprio trabalho intelectual é basicamente desprezível, pois não há muito o que ser questionado ou repensado, já que há o domínio da energia do Vril, mais forte nas crianças e nas mulheres - em especial nas mulheres - afinal, essa sociedade perfeita do submundo é uma ginecocracia. Até a religião está pacificada. Todos creem em um ser supremo, uma divindade que dá a vida e a retira quando quer. Toda a crença religiosa é uniforme e pacificada. Não há discussão dogmática ou de natureza teológica, por absoluta falta de necessidade. Todo ordenamento socialmente está plenamente pacificado. Não há, essencialmente, discórdia.  Há ali paz e felicidades perpétuas. A compreensão e o entendimento são plenos, inclusive em temas como a morte ou o casamento e a reprodução. Entendo essa sociedade apresentada como uma representação idealizada do paraíso. É uma sociedade sem escassez. A economia é um detalhe administrativo, pois a energia do Vril e a tecnologia dão jeito de cuidar de tudo. Papéis etários e de gênero são diferentes. O casamento é no começo da adolescência e são as moças que escolhem os seus pares. Depois de casados, quando atingem a maturidade, a vida é só paciência e pacificação, na esperança do fim dos dias. O enrosco do personagem central se dá quando a jovem mais poderosa daquele reino decide escolher o forasteiro como o seu parceiro de casamento, algo que geraria um cruzamento genético espúrio e indesejado. 

Há como perceber na obra influências de ideias e correntes de pensamento da época, como do darwinismo (evolucionismo), diria eu também do positivismo comteano, conforme observamos essa sociedade harmoniosa, liderada por um magistrado absolutista e ilustrado, baseada em compreensão e em amor. Confesso que percebi menos referências esotéricas e ocultistas do que estava esperando, pela fama do livro e do autor. Sabemos que a palavra VRIL, entendida como uma energia vital, será tratada no decorrer do século XIX e começos do século XX com um sentido objetivo e real, não como fantasia. Max Heindel, um dos mais destacados líderes do Rosacrucianismo, enxergava o domínio da energia VRIL (ou desse-se a ela o nome que fosse) como a mais nova revolução científica que estaria no limiar. Suplantaria a revolução da energia mecânica, da máquina a vapor, da energia elétrica e do éter. 

Não pode deixar de comentar como a temática do VRIL me lembra de William Reich e do orgônio, suposta energia (de origem sexual) que ele conseguiria controlar por meio de técnicas e aparelhagem específica (caixas de Reich). Devo também lembrar que a canalização de energia sexual é tema recorrente em sociedades esotéricas, em círculos maçônicos e druídicos. Supostamente isso esteve presente nos círculos fechados do III Reich. Supostamente também Hitler teria lido esse livro de Bulwer-Lytton e se inspirado nela para pensar e formular determinados aspectos e políticas do estado alemão para o Reich de mil anos. Me parece bastante nebuloso determinar quais são os reais limites disso no campo real e no campo da fantasia e das ilações livres. Demandará uma pesquisa que talvez eu possa fazer futuramente, indo direto em fontes bibliográficas pouco exploradas no Brasil, traduzindo textos do alemão, sobretudo. 

A conclusão que chego é que muito ainda pode ser escrito sobre as utopias e as sociedades secretas e esotéricas. Considere-se sempre que toda a rápida mudança que nossa civilização tem atravessado desde o fim da II Guerra Mundial é o resultado de uma guerra oculta travada entre sociedades secretas e grupos de poder, no centro do capitalismo financeiro e do socialismo. A hibridização entre financeirismo, monopolismo e socialismo é o Godzilla que está para destruir o mundo. Há ainda o aspecto do milenarismo que deve sempre estar presente em todas as discussões e debates acerca desses temas. Acredito que as crenças heréticas milenaristas podem estar no centro do movimento histórico reformista e revolucionário, com uma matização nem sempre tão clara e nem sempre tão definitiva, mas, ainda que de maneira assessória, é um elemento que precisa sempre ser considerado na história dos movimentos políticos do Ocidente, desde a Baixa Idade Média, pelo menos.

Edward Bulwer-Lytton


sábado, 29 de abril de 2023

Revisitando perguntas de doze anos atrás sobre a administração da cidade de São Paulo

 Corria o ano de 2011. São Paulo ainda era uma cidade administrada por Gilberto Kassab. O meteoro Fernando Haddad ainda não havia passado por aqui como um fogo devorador, ajudando a destruir o que ainda sobrava de não tão decrépito na capital bandeirante. 2011. Ainda se falava em Maluf, Marta, Erundina e José Serra como os grandes figurões para cargos do executivo por aqui. O PT ainda estava nacionalmente por cima da carne seca. Dilma não era ameaçada de impeachment. Não havia mobilização de massas de direita e antissistema. Só quem era do meio político ou gostava do assunto sabia quem era Fernando Haddad. Ninguém imaginaria que João Dória Júnior seria prefeito e depois governador. Ninguém levava Bolsonaro a sério como potencial candidato à presidente da república. Os nomes da "direita" para uma futura disputa, enfrentando a Dilma que iria se reeleger ficavam em torno da trinca derrotista do tucanato: Serra, Alckmin e Aécio Neves. Foi o Aécio, que roubado em 2014, acabou mudando para sempre a política desse país, desmantelando o consórcio socialdemocrata "PETUCANO". 

Hoje, 2023, São Paulo é um estado governado por um absoluto desconhecido à época, o carioca Tarcísio de Freitas. A cidade de São Paulo também tem como alcaide um total desconhecido, Ricardo Nunes, um empresário da região do extremo-sul, que havia sido vice candidato de Bruno Covas, na maldita eleição de 2020, onde os paulistanos estiveram entre a "Cruz e a Caldeirinha", opondo de um lado o péssimo e moribundo Bruno Covas e o diabo socialista Guilherme Boulos. Boulos é a encarnação visível da mal (socialismo) na política. Imbecis completos são aqueles que votam nesse senhor, pensando que o discurso "pobrista", "favelista", uma reedição brasileira e adaptada de terceiro-mundismo, pode gerar alguma melhoria para a população. 

Lá em 2011 escrevi um texto com algumas considerações sobre a gestão de Gilberto Kassab como prefeito. Hoje, doze anos depois, ele, Kassab, é secretário de governo do governador Tarcísio de Freitas. É o seu principal articulador político. Kassab virou uma das eminências pardas mais relevantes da república. Não consegue ganhar uma eleição para cargo nenhum. É um fracasso eleitoral, embora não tenha sido, na somatória de tudo um mal prefeito, longe disso. Em comparação com aqueles que o sucederam, Haddad, Dória, Covas e Ricardo Nunes, a ladeira que corria para baixo parecia não ter mais fim. Nunes é um pouco melhor do que os seus antecessores. Está investindo pesado em um projeto de recapeamento de vias públicas, como há muito eu não via por aqui. Parece querer fazer disso a marca de sua primeira gestão na prefeitura, algo para habilitá-lo a poder disputar a reeleição no ano que vem. 

Hoje se pode ler na imprensa que Kassab, para apoiar Ricardo Nunes em seu projeto político, sugere ao prefeito que ele esqueça grandes obras e se concentre em zeladoria urbana. Tenho boa memória para as coisas da cidade. Kassab foi um bom zelador de São Paulo. Os seus sucessores péssimos zeladores urbanos. A zeladoria é fundamental, mas um calcanhar de Aquiles de Kassab foi justamente não investir em nenhuma grande obra como marca indelével de sua administração. Nenhuma obra de vulto se pode encontrar como marca deixada por sua gestão. Construiu alguns CEU'S, que dizem serem melhores construídos do que aqueles que a Marta fez. Não sei dizer. Fora isso, nenhum hospital, nenhuma avenida nova, nem novas pontes ou viadutos. Não teve ambição de ser um novo Maluf, tocador de obras, embora tivesse condições para isso. Agora me parece querer castrar as ideias e os propósitos do prefeito Ricardo Nunes. São Paulo precisa sim de expansão, de grandes obras, sobretudo na Zona Sul, historicamente a menos considerada pela prefeitura paulistana. Parece-me que os ex-prefeitos viam na região de Santo Amaro algum preconceito, afinal, nós que éramos um município separado até 90 anos atrás, talvez não precisássemos de investimentos paulistanos. Um erro. Duplo. Talvez devêssemos mesmo voltar a ser município separado e nos deixassem cuidar dos nossos interesses ao invés de nos boicotar. A elite política Paulista não parece aceitar muito um prefeito que não seja morador dos Jardins ou das áreas centrais da cidade. Há esse preconceito.

Espero que Ricardo Nunes siga adiante com os seus arrojados planos urbanísticos para São Paulo. Era disso que estávamos carentes.

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Por que não sou um Integralista

"Eu sou integralista, que é a principal interpretação brasileira da Teoria Política de 3ª Posição. O integralismo é resumido na tríade “Deus, Pátria e Família”. Todo aquele que crê nisso e luta por isso já é integralista, ainda que não queira ou ainda que não saiba." 

(Eduardo Fauzi)

No início da formação de minha identidade política estava a oposição ao petismo, que não época era encarnada na figura radical da senhora prefeita Marta Suplicy. Meus pais eram malufistas e por essa razão meu anti-petismo era tão figadal. Marta era um demônio loiro e grotesco para mim.

Sempre gostei de história e de geografia. Tinha livros didáticos antigos em casa, da década de 80, e que enfatizam o Integralismo, como o nazismo à brasileira. Isso me despertou fortemente a atenção. Era um período em que não tinha acesso à internet. O que eu quisesse saber deveria buscar como fonte de informação nos professores e em poucos livros que eu tinha acesso.

Dessa ênfase que encontrei no Integralismo descrito ali naquele livro acabei por me identificar parcialmente com aquele movimento, embora, já com meus quatorze anos eu já fosse também separatista. Já identificava claramente que São Paulo deveria ser um país. 

O Fauzi, que talvez seja o Integralista mais corajoso vivo no século XXI, escreveu um livro, publicado na internet, que se chama "Metafísica da Terceira Posição". É um testamento político de um homem que foi exilado político da República Federativa do Brasil em pleno regime democrático, suposto, pelo menos, regime democrático. 

Creio na presença da ideia de Deus, Pátria e Família na política, mas minha pátria não é o Brasil unido, pelo qual nutro absoluto desprezo, como ente político e simbólico. O Brasil como país simboliza valores que aqueles que se dizem de terceira posição também desprezam. Não é um país de ordem, de seriedade, de cristianismo forte, de hierarquia, de tradição. É um país de carnaval, de mistura, de bagunça, de desordem. Minha pátria única é São Paulo, por ela sou integralmente nacionalista e patriota. Não como ser integralista brasileiro sendo ciente da inviabilidade intrínseca do Brasil como país. 

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Uma leitura pouco comum: resenha de "O Governo Mundial Secreto - A mão invisível".

 AUTOR: Conde Arthur Cherep-Spiridovich

TÍTULO COMPLETO: O Governo Mundial Secreto - A mão invisível: fatos não revelados na História. 100 "Mistérios" históricos explicados.

EDITORA: Adversum Editorial (de São Paulo).

ANO: 2016 (versão em português). Original: 1926 (USA).


Arthur Cherep-Spiridovich era um militar da marinha imperial russa, que se exilou nos Estados Unidos e passou sua vida na América promovendo a divulgação de seu pensamento político, que não era um composto de ideias isoladas e sem respaldo na interpretação de outras pessoas, sobretudo na Europa. A obra foi lançada num contexto posterior ao fim da Primeira Guerra Mundial, para um mundo novo que estava surgindo sobre os escombros de uma velha ordem de impérios plurinacionais que tinham acabado de se fragmentar em nações menores, dando vazão às aspirações nacionalistas e separatistas, como o Império Austro Húngaro, o Império Otomano, o Império Alemão e o Império Russo. O único império europeu clássico a sair íntegro da Primeira Guerra Mundial foi o Império Britânico. Nas linhas de "O Governo Mundial Secreto" nós podemos ter uma ideia dos meandros políticos e econômicos que basearam parte dos motivos desse conflito que sepultou a velha Europa.

Havia então uma série de ideias e movimentos brotando com força em várias nações, como o Pan Eslavismo, o Pan Germanismo, o socialismo que ganhava muito mais forças com a Revolução Bolchevique de 1917. Notamos e concordamos com o autor que não deve ser minimizada a presença de judeus na movimentação política dessa época. Compreendemos que a afirmação nacional que viria ocorrer no período, com o fortalecimento de estados nação modernos, vários deles republicanos, organizados sobre um texto constitucional, parlamentares, com sufrágio universal e muito nacionalismo nos campos cultural e mesmo linguístico (para não dizer também no campo étnico) não poderia deixar de ter problemas com grupos raciais que não faziam parte do corpo nacional, como é a presença dos judeus nos países onde vivem. Nunca deixam de ser judeus-israelitas que não se integram à sociedade de cada país, antes mantém-se coesos e separados decisivamente. Essa é uma característica marcante e histórica do povo judeu desde pelo menos a diáspora imposta pelas Legiões Romanas, no ano 70 d.C. ainda que hoje exista um país exclusivo para a existência e o governo dos judeus, criado às custas da expulsão dos Palestinos. Mesmo o Israel terrenal sendo recriado espuriamente em 1948, ainda desse modo os judeus mantém o mesmo modos operandi.

O livro é dividido em mais de cem pequenos capítulos, sendo que cada capítulo é a reprodução de um pequeno artigo típico de jornal, embora não tenha sido possível encontrar informações se todos os artigos tenham sido antes publicados em jornais dos Estados Unidos e da Europa, exceto aqueles que estão indicados nas notas de rodapé como tendo sido publicados em jornais. A tradução do livro carece de uma boa revisão, pois há inúmeros erros gramaticais em português. O trabalho de um revisor para uma futura reedição é indispensável.

Mas voltando ao tema conspiratório do livro, nos chama a atenção alguns enfoques que o autor dá, por exemplo ao citar sempre o judeu como um mongol-asiático, ainda que saibamos que o judeu é um povo semita, que apesar de sua mistura racial posterior com povos europeus e do centro da Ásia, sobretudo, ainda assim nos parece impróprio classificar o judeu como mongol. Contudo, o autor pode ter querido utilizar uma referência às invasões mongóis de Gêngis Kahn, provindas da Ásia, como sinal de barbarismo. Imagino que as referência sejam nesse sentido. 

O autor era membro da nobreza papal e não da nobreza russa, não sendo seu título equiparado no Império Russo dos Romanovs. Defendia a reunião dos cristãos do mundo como uma resposta ao governo tirânico dos 300 homens de famílias judias poderosas, que operavam nas sombras para destruir o mundo cristão. Há mesmo nesse livro a ideia de reunificar o catolicismo romano e o catolicismo ortodoxo. Não há referências em quantidade elogiosas ao protestantismo no livro, ainda que estivesse exilado o autor em país, na época, predominantemente evangélico (os Estados Unidos). A reunificação do cristianismo seria uma dura resposta para o projeto de poder globalista exercido por essas 300 pessoas de estirpe judaica, que por meio de seus golpes e artes bancárias controlavam governos, empresas e instituições, como a maçonaria. A família destacada centralmente em "O Governo Mundial Secreto" é a família Rothschild, que, sabidamente criou sua fortuna por meios sujos.

Em um certo sentido concordamos com o autor que uma maior reunião eclesiástica dos cristãos do mundo seria um choque para os projetos políticos anti-cristãos que vemos controlar a política dos séculos XX e XXI, que por meio da ONU e do Fórum Econômico Mundial de Davos e de suas fundações de bilionários promovem uma agenda absolutamente anticivilizatória e super-liberal em matéria de individualismo e moral. Cherep-Spiridovich esperava conscientizar os povos brancos para que com a reunião do cristianismo e a recristianização da política os povos arianos não perecessem nas garras israelitas. É um discurso que não pode ser chamado de nazista, porque precede em quase uma década o surgimento do nacional socialismo como ator político de primeira grandeza. 

Observamos também um patriotismo russo muito forte no livro, evidenciado pela ênfase que é dada nas qualidades dos Romanovs, apresentados como monarcas amplamente virtuosos, odiados pela "Mão Invisível" e pelo papel sempre positivo desempenhado pela Rússia na geopolítica europeia e americana, enfatizando a ação de fiel da balança da Marinha Imperial Russa na Guerra de Secessão dos Estados Unidos, que teria impedido a participação maior de tropas europeias em favor da Confederação. Em todas as questões os russos estavam do lado certo da política europeia, até que os desditosos bolcheviques chegaram ao poder. 

Há hipóteses que não podem ser provadas facilmente, como aquelas que o autor apresenta sobre Otto Von Bismarck ser judeu e descendente lateral da família Rothschild ou ainda Napoleão Bonaporte só ter conseguido subir ao poder militar e político graças ao dedo dos judeus Rothschilds que queriam colocar um monarca para chamar de seu e consolidar o processo revolucionário francês. Porém, o mesmo não pode ser afirmado sobre o primeiro ministro Benjamin Disraeli, cuja ação pró-Sião foi declarada e escancarada. Há sempre os que negam a ação política dos Rothschilds, qualificando-a sempre com o rótulo de "teoria da conspiração" para que as pessoas automaticamente não levem os fatos em consideração, isso que os "negacionistas" nem sempre estão nas folhas de pagamento ou endowment dos donos do mundo. 

Pessoas que buscam fontes alternativas de leitura dos fatos e movimentos históricos irão encontrar em "O Governo Mundial Secreto" um rico alimento de fontes e de bibliografia estrangeira para o tema do sionismo e conspirações. Já aqueles que tem interesse em compreender o fenômeno literário e historiográfico negativamente alcunhado de conspiracionismo ou conspirologia terão um manancial para reforçar os seus estudos e teses.



domingo, 5 de março de 2023

O famoso discurso de John Francis Hylan sobre o poder oculto que governa o mundo.

A declaração mais famosa de Hylan contra "os interesses" foi o seguinte discurso, feito em 1922, enquanto ele era o atual prefeito da cidade de Nova York:


A verdadeira ameaça à nossa República é o governo invisível, que como um polvo gigante estende suas pernas viscosas sobre nossas cidades, estados e nação. Para me afastar de meras generalizações, deixe-me dizer que à frente desse polvo estão os interesses Rockefeller – Standard Oil e um pequeno grupo de poderosas casas bancárias geralmente chamadas de banqueiros internacionais. O pequeno círculo de poderosos banqueiros internacionais praticamente dirige o governo dos Estados Unidos para seus próprios propósitos egoístas.

Eles praticamente controlam ambos os partidos, escrevem plataformas políticas, transformam os líderes partidários em alvos, usam os líderes de organizações privadas e recorrem a todos os artifícios para nomear para altos cargos públicos apenas os candidatos que serão receptivos aos ditames dos grandes corruptos. negócios.

Esses banqueiros internacionais e os interesses da Rockefeller-Standard Oil controlam a maioria dos jornais e revistas neste país. Eles usam as colunas desses jornais para submeter-se ou expulsar do cargo funcionários públicos que se recusam a obedecer às poderosas panelinhas corruptas que compõem o governo invisível. Ele opera sob a cobertura de uma tela autocriada [e] apreende nossos executivos, órgãos legislativos, escolas, tribunais, jornais e todas as agências criadas para a proteção pública.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Sobre livrarias e memórias

 A primeira recordação que tenho sobre ir em uma livraria, já no caso uma megastore, foi em 2007, na Fnac do Shopping Morumbi. Naquele ano eu estava no 3º colegial e participei de um concurso de redação sobre meio ambiente, patrocinado pela Bayer do Brasil. A fábrica da Bayer era vizinha da nossa escola, no Socorro. Como prêmio pelo terceiro lugar no concurso ganhei um voucher da Fnac. Lembro que nunca tinha ido até o Shopping Morumbi e achei tudo ali um pouco classe média demais para o que eu estava acostumado até então. Os shoppings que eu estava mais habituado a frequentar eram mais simples e atendiam a um público menos seleto, como o Interlagos (em cujo cinema assisti meu primeiro filme, Gasparzinho), o SP Market (que tinha o ótimo Parque do Gugu), o Fiesta e o Center Sul (depois Boa Vista). 

Com aquele voucher que ganhei eu comprei um dvd do Paul Mauriat e um cd de seleções de trechos de ópera para corais. Os dois reais que sobrariam foram usados para adquirir um conjunto de canetas Bic Crystal. Foi a primeira vez que eu fui ali naquele shopping e também em uma livraria moderna, como a Fnac. Me lembro que era tudo muito novo pra mim. Achava graça e algum espanto no ambiente todo com carpetes bege, pilhas de cd's em promoção, dvd's, livros de autoajuda, aquelas estações com fones de ouvido para ascultarmos demonstrações de cd's. Era algo muito interessante. Àquela altura não me chamavam tanto a atenção os livros. A leitura foi algo que a faculdade me obrigou a despertar, não tinha o hábito, mesmo morando a 1 km de uma biblioteca pública, onde fiz minha carteirinha com 12 anos. 

 A segunda megastore que me recordo ter ido foi justamente outra Fnac. A loja subterrânea da Avenida Paulista. A sensação de descobrimento foi a mesma. Depois, já de 2010 para frente eu comecei a ir mais lá. Cheguei a ir com um ou dois amigos da faculdade também. Me lembro que comprei muito barato lá os dois volumes do livro do Raymundo Faoro, Os donos do Poder, da Editora Globo. Comprei outros livros que não me recordo mais. Era um tempo de pouquíssimo dinheiro e pouca margem para comprar o que não fosse essencial, inclusive para leitura da graduação, que era mais recheada de xerox e textos digitalizados. Depois quando comecei a trabalhar e a ter salário é que iniciei a montagem da minha coleção de livros, hoje por volta dos 600 volumes (e que cresce vegetativamente). Quando a grana passou a ser um pouco mais liberal comigo aí já a internet reinava na aquisição de livros. Ainda assim comprei online muita coisa na Fnac e na Livraria da Folha. As duas marcas fazem falta no meio digital. Eram boas concorrentes e se podia achar coisa lá em promoções melhores do que as da Amazon, eventualmente. 

A verdade é uma só, o público que consome livros é mais selecionado do que aquele que compra coxinha na promoção do Ragazzo e casquinha do McDonalds. O brasileiro lê pouco e lê mal, mas ainda assim é um brasileiro mais seleto do que a média do povo. Manter uma livraria custa caro. Ainda mais megastores que tinham de bosta a bomba atômica, como eram as lojas da Fnac. 

Inclusive, o que me motivou a escrever esse texto foi o descobrimento por minha parte do Ática Shopping Cultural, em Pinheiros. 

A falência da Livraria Cultura, outra queridinha dos leitores, trouxe à superfície o saudosismo de muitos leitores, que inclusive desenterraram uma foto da Ática Shopping Cultural. Eu sabia que existia a Fnac de Pinheiros (ou melhor, que ela havia existido), mas não sabia que ali havia tido este outro empreendimento primevo. Um local enorme, com três andares que prometia ter todo o tipo de literatura, multimídia e equipamentos de informática. Se eu tivesse meus trinta e poucos anos lá em 1996 (e não 6, como foi o caso) eu teria adorado frequentar aquele lugar. 

Foto: Cristiano Mascaro - Fonte: Revista Projeto (2023)

Aliás, legal ver nessa foto é também a fonte usada pela Editora Ática antes de ser engolida pela Abril e se concentrar apenas em livros didáticos e paradidáticos. Tenho alguns livros aqui dessa fase da Ática.

Agora, sobre a Livraria Cultura: sempre muito bonita, sortida e agradável, mas sempre muito cara, seja na loja, seja no site. Eu ia perscrutar autores e títulos lá, mas comprava na Saraiva ou na Fnac. A estratégia de não ser competitivo em preços era uma burrice, sobretudo em tempos em que o trovões anunciavam a chegada barulhenta da Amazon (e de outros marketplaces generalistas -- hoje é capaz de se achar preços melhores no Mercado Livre ou na Magalu -- os livreiros ainda não entenderam esse fenômeno).

Em tempo: leio que a Saraiva parece estar se dando muito bem em sua recuperação judicial. Menor, mas saudável. Que bom. É uma marca de respeito, a maior livraria que já tivemos. Que fique mais cem anos viva.

O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...