terça-feira, 17 de março de 2020

1968 chegou ao fim

Um bom tempo se passou, tempo em que a sociedade parecia ter se acostumado com ideias belas, idealizadas, prenhes de humanismo, que deixariam Jean Jacques Rousseau morrendo de orgulho. A sociedade passou muito tempo sublimando toda espécie de sentimento mais primitivo, como aqueles que nos orientam, naturalmente, para querer proteger nossa família, nossas posses e nossas liberdades. Pensemos todos em ressocialização. Pensemos na recuperação dos indivíduos e da sociedade. O mal é resultado da sociedade doente e perversa, pelo poder e sobretudo pelo dinheiro, pelo capitalismo. O tempo em que essa cantilena deixava a todos mais mansos parece ter findado.

Cada pessoa que eu pergunto sobre um tema, como a pena capital, castração química ou mesmo prisão perpétua, vejo e ouço respostas sempre favoráveis a implantação geral de tais teses. Parece que passamos da fase de complacência e pietismo vulgar e ingressamos num período de justiçamentos. A eleição dos governos direitistas refletem o total esgotamento com o ciclo humanista radical e social democrata pelo qual passamos, desde o fim da segunda guerra mundial (nessa lógica, os governos militares da América Latina são rupturas nas continuidades), passando, sobretudo, por 1968.

Realmente, é um mundo novo. É uma nova era.

terça-feira, 10 de março de 2020

O presidente cristão

Bolsonaro é cristão. Se perguntado, Lula dirá que também é cristão. E Dilma. E Sarney. E Collor. E qualquer político brasileiro também. 

Esse cristianismo, contudo, é só um verniz, uma aparência sem forma definida, se clareza, torpe. Somente um presidente cristão de verdade poderia tomar medidas que fossem decisivas e significativas. Qualquer presidente pretensamente cristão, quando dá um passo a frente nalguma medida, noutra proporção desvia-se para a direita e para a esquerda, move-se a serviço do inimigo. Não basta a guerra cultural, kulturkampf do Bolsonarismo. Só há uma oposição ao mundo: Cristo! E o evangelho precisa entrar de vez para a política, não na forma de pastores deputados vendilhões, mas de homens de bem e de bom testemunho, que empunhem o pendão da Pátria Eterna. 

Vamos deixar o mundo!

sábado, 7 de março de 2020

Mussolini liberal

Penso ser difícil colocar um fim definitivo no serviço público, assim como preconizam os anarco capitalistas, que prefiguram uma sociedade onde toda a burocracia é ausente e mesmo o estado desparece totalmente de cena.

Enquanto a vida continuar avançando em direção inequívoca às cidades, a necessidade de uma burocracia que seja capaz de trabalhar unicamente com a regulação de processos será sempre necessária. Outras formas, como a terceirização dos serviços e a informatização podem continuar sendo implantados, sem, contudo, significarem um caminho sem volta para o fim do funcionalismo.

Além disso, em toda esse discussão, o contexto não pode jamais ser ignorado. Se um cidade pequena, de 600 habitantes, decidir não ter um serviço público de saúde ou de educação, um arranjo comunitário pode ser possível, com um plano de saúde privado se tornando o provedor de assistência médica, eliminando toda a burocracia que é inerente ao serviço público. Claro, quem financiaria tal convênio? Os próprios cidadãos. O SUS é também um convênio médico, mas, cujo serviço deixa a desejar e cujo o seu pagamento cidadão nenhum pode deixar de pagar, por meio de seus impostos. Ele é federal, e como tudo o que é federal, é ruim, ineficiente e por vezes injusto. 

Em São Paulo, uma megalópole tremenda, a presença e a atuação do estado se transformam é algo absolutamente indispensável. Trânsito, saúde pública, creches, saneamento básico, manutenção do viário e infraestrutura urbana, dificilmente tudo isso poderá ser colocado um dia totalmente sob o guarda chuva da livre iniciativa. Que se procurem arranjos híbridos é desejável, mas sistemas exclusivos, seja todo estatal, seja todo privado, será injusto e incapaz de manter a paz social. 

Falo sempre que no Brasil, Mussolini seria um liberal. Há muito a que se trabalhar pela livre iniciativa nesse país, para que o estado não se agigante e se torne um inimigo declarado da liberdade e da propriedade. Isso não significa que a extinção do estado e da burocracia pública seja uma meta desejável.

Novos estados na Federação Brasileira: alguns são necessários outros gerarão perigosos reflexos.

“A dimensão dramática da diferença é demonstrada no fato de que no início do século XIX a colônia espanhola dividia-se administrativamente e...