sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Professores

Não me recordo ao certo em que ano isso aconteceu. Sei que foi na linha 1, azul, creio. Não lembro também se foi na época em que estava na faculdade. A julgar pela conjunção dos fatos é provável. Contudo, não estaria surpreso se isso tivesse ocorrido antes.
Nunca decidi me tornar professor. Isso é uma vocação. É a predisposição para falar, para explicar, para mostrar os fatos. Quando estava na escola sempre me dei melhor com geografia, em razão dos professores dessa matéria serem, normalmente, mais legais e interessantes do que os de história. O perfil dos meus professores de história, na escola, sempre foi muito sisudo, fechado, um pouco arrogante mesmo. Tirando a professora da quinta série, que na verdade era bem dinâmica e gostava de despertar a nossa imaginação, nos provocando viagens imaginárias ao Egito ou à Grécia, todos os demais não se destacavam para mim pelo seu carisma, tampouco pela maneira voluntariosa com que ensinavam. No ensino médio tive professores que quase nada explicavam. Era o uso do livro, da apostila ou do texto em lousa e quase nada (ou mesmo nada) de exortação. No primeiro ano uma professora mal encarada, com cara de tia infeliz (dr. Paulo Maluf diria que professoras não são mal pagas...). Não explicava e era brava. Ela saiu antes do fim do ano e veio um substituto novato, que nos aconselhou a comprar um livro didático da disciplina (na época, os livros não eram gratuitos no ensino público). Lembro que ele era anarquista e rockeiro, Leitor do Nietzsche. Conversava conosco, mas também não tinha o tom professoral que julgo ser fundamental para todo o docente. Ele chegou. inclusive, a comprar um jaqueta de couro velha, que estava a venda no brechó de garagem da minha mãe. O vi mais duas vezes. Uma, na Fuvest, acho que de 2008 ou 2009, onde se não me falta a memória, ele estava prestado letras (e eu jornalismo ou geografia, depende do ano). Da outra vez ele era mesário na seção eleitoral em que voto. 
No segundo e terceiro anos do Ensino Médio tive aula com um professor que tinha uma excelente formação e boa leitura. Era formado na Unicamp. Era do interior, Não lembro se de Campinas mesmo. Um esquerdista típico do petismo de raiz. Eu sempre conversava com ele, mas ele pouco explicava para a sala. Tenho guardadas as xerox da suas aulas até hoje.
Nenhum desses professores da disciplina em que sou formado me serviu de inspiração para dar aula. As minhas duas inspirações vieram de três geógrafos. Um da quinta série, outro da sétima e mais um da oitava e do primeiro ano. Pessoas legais. Foram meus modelos. Dois deles ainda dão aula. Um já se aposentou. Na quinta série o professor fazia conosco vários quizes e nos dava bombons de prêmio. Era desafiante. Eu adorava essas disputas pelo conhecimento sobre capitais, moedas, acidentes, relevos, climas e afins. Na oitava e no primeiro, o professor era uma voz com quem eu podia dialogar sobre temas das ciências humanas e da política com um pouco de seriedade. Eu era ouvido por uma pessoa de vasto conhecimento enciclopédico e de notável organização. Em parte da sétima série tive o professor mais disposto: mais um esquerdista daqueles do tipo antiamericano, mas eu adorava ler os textos que ele passava na lousa sobre a "invasão cultural norte americana", até da letra dele eu me lembro e me lembro também que eu mesmo imitava esse tipo de letra.
No metrô, algum dia, eu ouvi dois rapazes comentando sobre uma aula. Um deles falava sobre um professor de história, que arrisco dizer, havia ministrado uma explanação sobre a Primeira Guerra Mundial. O sujeito falava sobre esse docente, que imitava um sérvio bêbado. Pensando bem, talvez fosse um professor de geografia mesmo, falando sobre a Guerra da Bósnias e o malfadado Slobodan Milosevic. De todo modo, aquilo me levou a fantasiar sobre um professor, trajando um terno cinza mal ajanbrado, imitando um sérvio alcoolizado com razões pedagógicas. Foi um modelo docente que me serviu de inspiração, mesmo sem saber quem seja tal pessoa.
O professor precisa ter algumas qualidades. Uma visão integral do conhecimento e das ciências. Vasta cultura. Oratória, para saber modular a maneira como emposta a voz e faz com que a narração e a explicitação dos fatos não se torne monótona. Precisa também saber a hora de parar, o momento em que o Tratado de Versalhes precisa ser explicado com uma piadinha sórdida sobre os alemães. Uma vocação, claramente.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Equações sentimentais

Em um diálogo, dias desses com um amigo, estava falando sobre uma teoria que desenvolvi, com base na experiência própria, a respeito do cálculo do amor.
Terminar um relacionamento é sempre algo muito complexo e circunstancial. Depende de uma série de fatores. Como se deu o rompimento, por que razões, se foi amistoso ou não, se se foi a parte ofendida ou não, se esse relacionamento envolveu amor real ou simples paixão e outros tantos elementos.
Sou da opinião que um amor não pode ser jamais apagado. Diria que ele é como uma tatuagem, que uma vez feita, dificilmente poderá ser removida sem que deixe marcas e cicatrizes, mas hoje já existem meios, usando lasers, de se remover uma tatuagem sem deixar uma só marca profunda. Se fosse possível encontrar uma forma de se esquecer um amor e removê-lo, definitivamente, do coração, eu estarei muito feliz, mas não faria hoje grandes esforços para me submeter a este "tratamento".
A alternativa não é buscar substituir o amor por outro sentimento. Quem já amou alguém, morrerá com esse mesmo sentimento. O que pode ser feito é esconder deliberadamente esse amor em algum compartimento recôndito do coração, de modo a fazer com que ele seja apenas uma caixa cheia de lembranças em um canto qualquer. Ela está lá. É um elemento incômodo na paisagem, mas ninguém tem coragem, nem condições de se livrar daquele entulho.
Para saber se aquilo que você sentiu por uma pessoa foi amor ou só paixão, é preciso levar alguns elementos em consideração, sempre colocando o objeto do cálculo em comparação com outro relacionamento.
Pense e considere: o que você sentiu por aquela pessoa foi mais ou menos intenso do que o que sentiu por outras pessoas? Leve em ponderação o tempos dos relacionamentos, o grau de intimidade e grau da confiança existente na relação. Equacione esses elementos e, POR COMPARAÇÃO, chegue a conclusão se você amou ou não alguém.
Veja, isso apenas serve para fazer o diagnóstico, mas não é a receita para a cura da dor do fim de um relacionamento (jamais do fim de um amor, por que amor não tem fim!).
Como lidar com esse processo é sempre difícil dizer e dar uma posologia e dizer qual o remédio. Mas, leve sempre em consideração que você não vai nunca eliminar o sentimento que você construiu. Ele vai permanecer lá. A saída principal é desenvolver um sentimento ainda mais intenso por uma nova pessoa, porém, deixo aqui o conselho: procure desenvolver esse sentimento apenas pela pessoa certa, por aquela que você vai passar o resto da vida junto, não por que seu amor seja o mais puro e imaculado que exista, mas por que simplesmente você precisa e quer permanecer junto. Com essa pessoa você deve ter o maior amor, o mais forte amor, o amor mais intenso. Esse amor nunca sumirá e ainda dará para ti o instrumento para poder fazer com que o primeiro amor fique ali, escondido, mas como um elemento que você dificilmente irá notar, na paisagem histórica da sua vida.

Novos estados na Federação Brasileira: alguns são necessários outros gerarão perigosos reflexos.

“A dimensão dramática da diferença é demonstrada no fato de que no início do século XIX a colônia espanhola dividia-se administrativamente e...