Me parece urgente repensar como um todo o ensino superior brasileiro e toda a prática docente, metodológica, avaliativa e de ingresso da nossa dita academia. O atual governo, movido sabe Deus por quais forças e interesses, parece ter tomado uma medida correta reduzindo um pouquinho as mamatas e descasos que havia com a verdadeira venda de diplomas, por meio dos cursos de graduação e especializações por via ead. O ead é uma farsa. É um sistema que pode atender a muitos, mas quase sempre atenderá da forma mais precária e desonesta possível.
Com o crescimento e avanço dos aplicativos e sites de inteligência artificial, que podem fornecer respostas padrão para todo o tipo de perguntas de múltipla escolha ou ainda gerar parágrafos e mais parágrafos sobre qualquer assunto técnico que você pensar, basta que você aplique o prompt correto -- ou seja, saiba fazer as perguntas corretas para a inteligência artificial e direcioná-la, não há mais modelo de ensino à distância que faça o menor sentido, se ele não for baseado, na melhor das hipóteses, em aulas síncronas, com o professor ao vivo do outro lado da tela, forçando interação e discussão, como em uma sala de aula normal e, como instrumento avaliativo, não é possível no sistema ead fugir de seminários, apresentações e produções de texto. A aplicação de testes de múltipla escolha não cumpre sua função num sistema como esse. O chat GPT ou o Gemini estarão sempre ao alcance das mãos do aluno e com isso toda a lógica do aprendizado cai por terra.
A ideia de que no ead o aluno seja obrigado a fazer as avaliações de maneira presencial em um polo, debaixo de alguma fiscalização (que deveria ser rigorosa, com fiscais e filmagens, destaco) já é um ganho substancial. Em 2014 fiz uma especialização em História Militar, que, por completa burrice minha, a abandonei, e essa pós tinha todas as suas avaliações presenciais, ainda que com possibilidade de consulta ao material impresso fornecido pela instituição de ensino superior. Era um tempo em que o ead ainda não estava tão safado, embora fosse já possível colar e fazer mutretas naquela época (sempre foi possível encomendar um tcc ou artigo acadêmico pronto por aí).
Ainda assim, não só o ead merece críticas. As graduações presenciais também.
A metodologia de ingresso deveria ser totalmente revista.
Mais uma vez caberia dar um passo atrás e olhar para o passado. Voltar a ter o ingresso no ensino superior apenas por vestibulares presenciais com nota de corte mínima, a despeito das vagas existentes e também ser avaliado por redação. Talvez combinar isso com um rendimento mínimo das notas obtidas no ensino médio. É uma maneira de re-valorizar também o ensino médio, coisa muitíssimo necessária.
Agora, outro exemplo objetivo. Com esse ingresso de pessoas despreparadas para o ensino superior a coisa já avançou para o caso de termos também professores muito despreparados para o ensino. Some-se a isso o grassante analfabetismo funcional. Um curso de direito, por exemplo, usa linguajar técnico que até muitos juristas precisam consultar dicionários específicos para entender. Há docentes que esperam que uma pessoa recém ingressa nas letras jurídicas vá compreender a maioria dos termos da área do direito. É uma ilusão. Repensar a metodologia e a didática dos cursos acadêmicos de direito é preciso. É necessário ter uma formação propedêutica muito segura nos dois primeiros semestres, ao menos. Ai podemos ir para o direito material e processual. Mas, o apressamento faz com que queiram que o aluno já tenha direito processual num primeiro semestre. Uma faculdade aqui da capital nem mais tem a disciplina da IED (Introdução ao Estudo do Direito) que é uma matéria elementar e fundamental.
Muitos dizem que a universidade para todos é um equívoco. Eu penso isso. É preciso mais critério em todo o processo, até para valorizar mais o ensino técnico profissionalizante e o ensino médio.