sexta-feira, 14 de abril de 2023

Uma leitura pouco comum: resenha de "O Governo Mundial Secreto - A mão invisível".

 AUTOR: Conde Arthur Cherep-Spiridovich

TÍTULO COMPLETO: O Governo Mundial Secreto - A mão invisível: fatos não revelados na História. 100 "Mistérios" históricos explicados.

EDITORA: Adversum Editorial (de São Paulo).

ANO: 2016 (versão em português). Original: 1926 (USA).


Arthur Cherep-Spiridovich era um militar da marinha imperial russa, que se exilou nos Estados Unidos e passou sua vida na América promovendo a divulgação de seu pensamento político, que não era um composto de ideias isoladas e sem respaldo na interpretação de outras pessoas, sobretudo na Europa. A obra foi lançada num contexto posterior ao fim da Primeira Guerra Mundial, para um mundo novo que estava surgindo sobre os escombros de uma velha ordem de impérios plurinacionais que tinham acabado de se fragmentar em nações menores, dando vazão às aspirações nacionalistas e separatistas, como o Império Austro Húngaro, o Império Otomano, o Império Alemão e o Império Russo. O único império europeu clássico a sair íntegro da Primeira Guerra Mundial foi o Império Britânico. Nas linhas de "O Governo Mundial Secreto" nós podemos ter uma ideia dos meandros políticos e econômicos que basearam parte dos motivos desse conflito que sepultou a velha Europa.

Havia então uma série de ideias e movimentos brotando com força em várias nações, como o Pan Eslavismo, o Pan Germanismo, o socialismo que ganhava muito mais forças com a Revolução Bolchevique de 1917. Notamos e concordamos com o autor que não deve ser minimizada a presença de judeus na movimentação política dessa época. Compreendemos que a afirmação nacional que viria ocorrer no período, com o fortalecimento de estados nação modernos, vários deles republicanos, organizados sobre um texto constitucional, parlamentares, com sufrágio universal e muito nacionalismo nos campos cultural e mesmo linguístico (para não dizer também no campo étnico) não poderia deixar de ter problemas com grupos raciais que não faziam parte do corpo nacional, como é a presença dos judeus nos países onde vivem. Nunca deixam de ser judeus-israelitas que não se integram à sociedade de cada país, antes mantém-se coesos e separados decisivamente. Essa é uma característica marcante e histórica do povo judeu desde pelo menos a diáspora imposta pelas Legiões Romanas, no ano 70 d.C. ainda que hoje exista um país exclusivo para a existência e o governo dos judeus, criado às custas da expulsão dos Palestinos. Mesmo o Israel terrenal sendo recriado espuriamente em 1948, ainda desse modo os judeus mantém o mesmo modos operandi.

O livro é dividido em mais de cem pequenos capítulos, sendo que cada capítulo é a reprodução de um pequeno artigo típico de jornal, embora não tenha sido possível encontrar informações se todos os artigos tenham sido antes publicados em jornais dos Estados Unidos e da Europa, exceto aqueles que estão indicados nas notas de rodapé como tendo sido publicados em jornais. A tradução do livro carece de uma boa revisão, pois há inúmeros erros gramaticais em português. O trabalho de um revisor para uma futura reedição é indispensável.

Mas voltando ao tema conspiratório do livro, nos chama a atenção alguns enfoques que o autor dá, por exemplo ao citar sempre o judeu como um mongol-asiático, ainda que saibamos que o judeu é um povo semita, que apesar de sua mistura racial posterior com povos europeus e do centro da Ásia, sobretudo, ainda assim nos parece impróprio classificar o judeu como mongol. Contudo, o autor pode ter querido utilizar uma referência às invasões mongóis de Gêngis Kahn, provindas da Ásia, como sinal de barbarismo. Imagino que as referência sejam nesse sentido. 

O autor era membro da nobreza papal e não da nobreza russa, não sendo seu título equiparado no Império Russo dos Romanovs. Defendia a reunião dos cristãos do mundo como uma resposta ao governo tirânico dos 300 homens de famílias judias poderosas, que operavam nas sombras para destruir o mundo cristão. Há mesmo nesse livro a ideia de reunificar o catolicismo romano e o catolicismo ortodoxo. Não há referências em quantidade elogiosas ao protestantismo no livro, ainda que estivesse exilado o autor em país, na época, predominantemente evangélico (os Estados Unidos). A reunificação do cristianismo seria uma dura resposta para o projeto de poder globalista exercido por essas 300 pessoas de estirpe judaica, que por meio de seus golpes e artes bancárias controlavam governos, empresas e instituições, como a maçonaria. A família destacada centralmente em "O Governo Mundial Secreto" é a família Rothschild, que, sabidamente criou sua fortuna por meios sujos.

Em um certo sentido concordamos com o autor que uma maior reunião eclesiástica dos cristãos do mundo seria um choque para os projetos políticos anti-cristãos que vemos controlar a política dos séculos XX e XXI, que por meio da ONU e do Fórum Econômico Mundial de Davos e de suas fundações de bilionários promovem uma agenda absolutamente anticivilizatória e super-liberal em matéria de individualismo e moral. Cherep-Spiridovich esperava conscientizar os povos brancos para que com a reunião do cristianismo e a recristianização da política os povos arianos não perecessem nas garras israelitas. É um discurso que não pode ser chamado de nazista, porque precede em quase uma década o surgimento do nacional socialismo como ator político de primeira grandeza. 

Observamos também um patriotismo russo muito forte no livro, evidenciado pela ênfase que é dada nas qualidades dos Romanovs, apresentados como monarcas amplamente virtuosos, odiados pela "Mão Invisível" e pelo papel sempre positivo desempenhado pela Rússia na geopolítica europeia e americana, enfatizando a ação de fiel da balança da Marinha Imperial Russa na Guerra de Secessão dos Estados Unidos, que teria impedido a participação maior de tropas europeias em favor da Confederação. Em todas as questões os russos estavam do lado certo da política europeia, até que os desditosos bolcheviques chegaram ao poder. 

Há hipóteses que não podem ser provadas facilmente, como aquelas que o autor apresenta sobre Otto Von Bismarck ser judeu e descendente lateral da família Rothschild ou ainda Napoleão Bonaporte só ter conseguido subir ao poder militar e político graças ao dedo dos judeus Rothschilds que queriam colocar um monarca para chamar de seu e consolidar o processo revolucionário francês. Porém, o mesmo não pode ser afirmado sobre o primeiro ministro Benjamin Disraeli, cuja ação pró-Sião foi declarada e escancarada. Há sempre os que negam a ação política dos Rothschilds, qualificando-a sempre com o rótulo de "teoria da conspiração" para que as pessoas automaticamente não levem os fatos em consideração, isso que os "negacionistas" nem sempre estão nas folhas de pagamento ou endowment dos donos do mundo. 

Pessoas que buscam fontes alternativas de leitura dos fatos e movimentos históricos irão encontrar em "O Governo Mundial Secreto" um rico alimento de fontes e de bibliografia estrangeira para o tema do sionismo e conspirações. Já aqueles que tem interesse em compreender o fenômeno literário e historiográfico negativamente alcunhado de conspiracionismo ou conspirologia terão um manancial para reforçar os seus estudos e teses.



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