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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Há quatro anos

Em novembro de 2014 eu vi o prenúncio de uma nova era. A nova era da direita que hoje, plenipotenciária, ocupa as manchetes dos telejornais, com seu comandante supremo e inquestionável, Jair Bolsonaro, começou faz quatro anos.

Quando Dilma Rousseff venceu o segundo turno contra Aécio Neves algo novo se descortinou na política do Brasil. A primeira vitória da Nova Direita brasileira foi sobre os separatistas de São Paulo. Foi uma vitória da organização contra a desorganização. Uma vitória dos contatos sobre os passos em falso. Foi também uma vitória de Pirro da traição.

Naquele momento o lema era "ou a Dilma cai ou São Paulo sai". Méritos por esse lema ao senhor Paulo Batista, corretor de imóveis no interior de São Paulo e, naquele ano, candidato liberal derrotado ao parlamento paulista. Ele criou um mega evento no Facebook, prenunciando o poder que as redes sociais viriam a desempenhar nos quatro anos seguintes, que reuniu mais de um milhão de pessoas. A conclamação para ir às ruas se assentava sobre a ideia, mesmo que remota, da independência de São Paulo, diante de mais uma vitória petista ter sido obtida graças ao voto de cabresto do nordeste subdesenvolvido.

No dia daquela manifestação os separatistas foram traídos. Fomos traídos por que eu mesmo havia falado, por telefone, com o "raio privatizador", alinhavando o apoio separatista. Chegando ao ápice, ao dia da manifestação, o carro de som estava repleto de nacionalistas brasileiros, como Eduardo Bolsonaro (sendo franco, Eduardo me pareceu a figura mais sensata e honesta naquele momento), Bene Barbosa (odiento anti separatista), além do cantor e ex-cocainômano Lobão, recém convertido, à época, as hostes do olavismo cultural. Os separatistas foram proibidos de subir ao carro de som. Durante, a manifestação fomos hostilizados, não pelos populares, mas pelos bodes patriotas que estavam em evidência no caminhão.

Naquele dia muitas pessoas passaram a apoiar a causa paulista e deixaram de ser apenas direitistas.

Naquele momento ainda havia muita expectativa pelo bom desempenho que o derrotado Aécio havia tido na eleição. Pouco tempo depois ele haveria de ser esmagado por sua própria sujeira.

Naquele tempo o jornalista Reinaldo Azevedo ainda era um ícone da direita reacionária e hidrófoba. Hoje, num canto da Rede TV, é uma sombra do símbolo que foi. Tornou-se um mostruário do jornalismo mais escroto que há, que sobrevive do puxassaquismo dos donos do poder, especialmente do MDB.

Jair Bolsonaro já era uma figura em total ascensão na internet, que gestava a niobosfera, que dita a nova era dos dias de hoje.

Olavo de Carvalho, ideólogo geral da nova direita, já era esse elemento controverso, inteligente, maquiavélico e prepotente que é até hoje. Quem começou a conhecer o sujeito nos anos iniciais do True Outspeak sabe ver bem a decadência moral do sujeito, que de analista cáustico e coerente passou a tratar a todos que discordavam dele como sendo inimigos mortais.

A inteligentsia neo direitista ainda não trabalhava em emissoras de rádio, em jornais de grande circulação e não dava pitacos em emissoras de TV.

Luiz Felipe Pondé só era admirado por uma pequena quantidade de leitores que liam sobre "jantares inteligentes" na Folha. Ele ainda não havia sido deglutido pela esquerda pós moderna, que não havia compreendido o liberalismo do filósofo judeu-baiano.

2018 vai chegando ao fim e eu mesmo não acreditaria, se me contassem quatro anos atrás, que tudo isso iria acontecer. Como Chesterton falou, a única lei da história é o imprevisto. A direita hoje se prepara para assumir o controle do país. Será bom. Será bom por que, como separatista, sei que não há ideologia ou doutrina política que possa curar o Brasil. Quando os remédios da direita se provarem, não só ineficazes, como também nocivos, assim como os da esquerda, muita gente vai cair na real, vai aderir ao ceticismo que a causa paulista defende.

Ps.: Paulo Batista, que traiu os separatistas, de figura ascendente da política direitista de 2014, acabou sendo traído por seus pupilos, em especial Kim Kataguiri e cia, que fundaram naquele mesmo dia o MBL, chutando o traseiro de Batista para fora. Hoje Kim e seus parceiros estão eleitos, todos pelo DEM e Batista continua na internet, com menos importância do que tinha em 14. De traidor a traído, apenas um passo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Tudo estranho nesse atentado sofrido por Bolsonaro

Sai de casa um pouco depois do meio dia. Fui no mercado comprar algumas babujas: requeijão do norte, cerveja, linguiça, um docinho. Os dias tem se sucedido assim, mais ou menos. Um após outro, uma aflição por dia, um docinho por dia pra compensar.

Quando era por volta das duas e quebrados eu me deitei um pouco com o celular e ouvi umas entrevistas velhas do Jô Soares Onze e Meia no Youtube. Adormeci e me levantei pouco antes das seis para ir tomar uma chuveirada e pegar o carro pra ir pra escola. Quando saio do banheiro minha mãe comenta com meu irmão que haviam esfaqueado o Bolsonaro. Fiquei espantado com o que ouvi e minha reação foi pegar o celular pra ver as redes sociais.

Ora, passadas 24 horas do atentado muito já foi dito. O tema do atentado monopolizou a imprensa. Dizem que o Jornal Nacional praticamente só falou disso. A internet também só fala sobre. A direita está em total frenesi com o ocorrido, uns por comoção real com o fato outros pela emoção que o ocorrido traz ao pleito eleitoral. Pessoas normais que são de esquerda acham tudo o que ocorreu um grande risco. Nota-se que foram pegos de surpresa como todo mundo e que estão ainda digerindo todo o forfé.

Não há menor dúvida de que o criminoso era uma pessoa afinada com as pautas da extrema esquerda. Foi filiado ao PSOL. Seu Facebook está repleto de publicações com teor esquerdista. Contudo, chama também a atenção para o conteúdo anti-maçônico que se encontram em outras tantas postagens do sujeito.

A maçonaria, a partir do governo Dilma, passou a dar mais a cara a tapa, publicamente. Ninguém que não seja afetado mentalmente desmerece todo o poder que ao longo da história essa seita teve e permanece tendo. A maçonaria é, talvez, a principal rede de contatos políticos que existe no mundo. Mais forte em seus intentos do que a Igreja Católica. O número de maçons em cargos de eminência no mundo é incontável: governantes, ministros, executivos de grandes corporações, membros do poder judiciário e forças armadas, artistas, elementos do clero. A maçonaria realmente é quase onipresente, embora eu duvide muito da capacidade do coesa plena e total da mesma.

Mas aqui no Bananão os maçons, depois de controlarem total e diretamente, a política do país no Império e na Primeira República, parecem que se afastaram da política miúda, das disputas eleitorais periódicas. Coloco o período da década de 1960 até a atual década como o momento de reclusão da maçonaria brasileira. Ao ver a instabilidade geral e a falta de perspectiva política, a classe dos seguidores de GADU no Brasil aparente ter despertado, saído de sua dormência. É notório o papel desempenhado por relevantes setores e membros da maçonaria em nossa década, contra o governo petista, sobretudo. Um dos mais destacados movimentos de rua que participaram dos protestos contra Dilma Rousseff foi o Avança Brasil Maçons-BR. Nosso atual presidente é maçon adormecido e, rezam as lendas, que é dos graus mais elevados (não digo que ele seja grau 33, o mais alto da seita, por que este, normalmente, é reservado aos grãos mestres). Boa parte dos mais próximos assessores do candidato Jair Bolsonaro é formado por maçons: o princípe Luiz Phellippe de Orleans de Bragança, Major Sérgio Olímpio Gomes, o General Hamilton Mourão, o também General Augusto Heleno. Estas são figuras publicamente maçônicas. Certamente há outros homens da maçonaria no casting de Bolsonaro. Não seria equivocado dizer que, embora não oficialmente, Jair Bolsonaro é o candidato da maçonaria brasileira à presidência da república.

Adélio Bispo de Oliveira, obscuro personagem que apareceu de sopetão no dia de ontem, em seu Facebook se coloca como um anti-maçon. O que teria gerado esse anti-maçonismo dele? Teria ele não sido convidado a participar de alguma loja? Teria sido alvo de algum complô de bairro de maçons contra ele (parece que sim)? A verdade é que muitos podem achar estranho um sujeito que seja anti-maçon e de algum modo religioso ser membro de uma legenda de extrema esquerda, como é o PSOL. As tendências conspiratórias são fortes tanto na esquerda quanto na direita e mesmo fora delas.

Bom, nesse texto, a maior parte do que escrevi são conjecturas. A verdade, acho difícil que venhamos a conhece-la. A imprensa está desbaratinada e preocupada apenas com o alcance eleitoral do evento e com os pontos de audiência que a cobertura do caso podem lhe render. As informações são desencontradas e não irão investigar isso como se deve: não irão, por exemplo, atrás do dinheiro do tal Adélio (desempregado, morador de Santa Catarina, que passava temporada em Juiz de Fora), assim como não me parece que estão interessados em saber se ele agiu sozinho ou em conluio (o ministro Raul Jungmann, da segurança pública, disse em entrevista, que acredita ter sido ação de um lobo solitário). A versão do lobo solitário é aquela que tende a ganhar mais força, apesar da verdade.

Bolsonaro sai mais forte disso tudo. Sai vivo. Não sabemos ainda se ele poderá se dedicar a campanha. Se terá o seu restabelecimento a tempo de pegar a reta final da disputa. Por enquanto tudo está em compasso de espero. Penso que até segunda feira mais coisas devem se aclarar. Tanto sobre o estado físico de Jair Bolsonaro, quanto sobre a corrida eleitoral. O resto, porém, não se aclarará.

terça-feira, 31 de julho de 2018

Bolsonaro no Roda Viva: a astúcia frente ao medíocre

A seletividade da imprensa é notória. Ela tem os seus interesses muito claros, sejam aqueles interesses dos patrões, sejam os das redações. Já não é de hoje eu penso que os interesses desses últimos tem sobressaído.

A cobertura política do Brasil favorece amplamente certos elementos e certos partidos. Exemplo claro é o espaço que o PSOL e representantes dessa legenda acabam por ocupar, inversamente proporcional à relevância que esta pequena legenda de esquerda tem. O mesmo se observa à Rede Sustentabilidade, partido-movimento ancorado em Marina Silva.

Fora esses dois casos ainda se deve destacar que há algum consenso, as vezes meio a fórceps, de que os melhores partidos para o Brasil são mesmo o PT e o PSDB. Gilmar Mendes, ministro do STF também acha e compartilhou esse pensamento em sua Twitter. O PT e o PSDB representariam o que ainda existe de moderno na política, enquanto os partidos pós-modernos ainda não obtém viabilidade eleitoral. A encarnação do mau se dá no MDB, no Centrão e nas bancadas ruralista e evangélica. 

O consenso social-democrata está formado no Brasil desde a redemocratização, mas ele está cansado e não sou roube, por enquanto, se renovar. PT e PSDB ocuparam o poder num consórcio desde 1994, interrompido, de jure, duas vezes, pelos governos interinos de Itamar Franco e agora de Michel Temer. Na política já há hoje mais vozes céticas em relação à social-democracia brasileira do que a vinte anos.

No meio acadêmico, porém, nada mudou. Talvez tenha mudado para pior. O domínio da esquerda é inconteste em todas as áreas. As perseguições do estamento universitário progressista aos dissidentes é enorme: falam de colegas, negam orientações em mestrado e doutorado, vetam bolsas e verbas de pesquisa, tudo isso para manter o status quo de esquerda dominante no meio universitário. Não tenho notado grande avanço e resistência nesse campo.

Na mídia tradicional, como já começamos a tratar no início desses escritos, há alguma mudança, em razão da pressão que a internet tem feito e da concorrência que ela representa para a imprensa tradicional. A mídia oficial perdeu a sua exclusividade na produção de conteúdos e hoje um Youtuber pode ter mais influência do que um comentarista do Jornal da Globo.

É na internet que encontramos resistência ao modelo progressista de sociedade. Alguma resistência. Desorganizada e descentralizada. Se no www temos muitas vozes, muitos influenciadores, não há um que seja o absoluto categórico que domine absolutamente esse meio. A voz mais importante no combate teórico à esquerda no Brasil é o jornalista Olavo de Carvalho e sobre já nos referimos aqui em outros textos. Olavo coleciona amores e desafetos. Há uma torcida organizada a seu favor e outra contra, mas negar a sua relevância no atual momento de transição e de geração que passa o Brasil é mentir.

Na política aquele que com mais relevância irá repercutir as vozes da internet é Jair Messias Bolsonaro. Goste-se dele ou não, foi a durante um bom tempo o único parlamentar assumidamente de direita em Brasília (seja lá que cazzo de direita isso represente). Apanhou e apanha até hoje de todos os lados, mas parece ser como massa de bolo: quanto mais se bate, mais ele cresce. Cansou de ser entrevistado em programas boçais, como o Superpop de Luciana Gimenez ou a arapuca do finado CQC. Seus debates-entrevistas com travestis e atores pornôs, além de outras sub-celebridades na Redetv! são clássicos e lhe deram cancha de como lidar com uma malta de jornalistas raivosos sempre dispostos não a questioná-lo mas a confina-lo num canto e o espremer como se faz com uma barata e um sapato de bico-fino.

Bolsonaro não foi figurinha carimbada, em todos esses anos em que é um fenômeno dissidente na internet, na imprensa tradicional. Na Globonews ele nunca teve o espaço que deputados de esquerda (como Maurício Rands, Chico Alencar, Miro Teixeira, Alessandro Molon e o senador Randolfe Rodrigues) sempre tiveram ao seu dispor, como arautos do mais puro republicanismo. As primeiras entrevistas aos dois mais relevantes programas semanais de política da TV aberta só aconteceram nesse ano: no Canal Livre da Band e no Roda Viva, da TV Cultura, no dia de ontem.

Quem não assistiu essas entrevistas precisa vê-las não para discutir o candidato em si, mas para analisar e observar, com um olhar quase etnográfico, o comportamento dos experimentados jornalistas que ali estavam sabatinando Bolsonaro. O deputado que já esperava um comportamento agressivo e rancoroso se deparou com aquilo para o que já estava preparado, temas como a ditadura militar, racismo, homofobia, misoginia, enfim, aquilo que interessa ao mundinho histórico e social que só existe na cabeça de membros da imprensa, das artes e da academia. São as taras e fetiches que povoam as mentes dessas pessoas, que, não tem sua luxúria com pés, chicotes, tapas, xingamentos, posições ou acessórios, mas com a dívida histórica com a população negra, o genocídio de homossexuais ou a violência policial. Tanto as taras sexuais clássicas quanto essas são doentias. 

A astúcia do Bolsonaro não precisava ser muita, diante do quadro horrendo de sodomia moral dos inquiridores. A mediocridade da imprensa a faz pensar que com ataques já velhos a tudo aquilo que o candidato sempre defendeu e que até agora só o fez angariar um séquito fiel e disposto a seguir ele até o fim, o fará agora marchar para trás, aprisionando-o ao baixo clero eterno da câmara dos deputados. Isso não vai acontecer. O eleitor quer um Messias que o guie, que o conduza, que o leve a um novo jardim de delícias. Esse condutor precisa ser forte, valente, aguerrido. Bolsonaro encarna o que povo quer e o que as elites não podem ofertar.

sábado, 9 de junho de 2018

Nossa república sempre será uma velha república

Não tenho medo de afirmar que desde os protestos de 2013 o Brasil não é o mesmo. Não estou aqui fazendo nenhum juízo de valor, antes atestando um fato. Não consigo, também, encontrar nenhum paralelo destes cinco anos com nenhum período da história republicana. Todavia, em grupos privados, tenho exposto o meu receio de que o momento que temos passado seja semelhante ao da Primeira República (1889-1930), quando chegava em seus estertores. Uma fração das elites brasileiras, naquele momento, achou por bem "fazer uma revolução antes que o povo a fizesse". 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, maior intelectual vivo dentro da esquerda nacional, já apontou para as circunstâncias em que passamos hoje serem aquelas típicas de momentos pré-revolucionários. Há que se lembrar ainda que o Brasil não passou por uma "revolução burguesa", como ocorreu na Europa e nos Estados Unidos. A Revolução (golpe) de 1930 foi tramado pelos militares em comunhão com uma elite dissidente, mas que compartilhava até então do poder e cujo projeto político em nada se diferenciava de seus adversários reais. Não havia uma burguesia para que uma revolução real ocorresse e, sendo assim, essa jamais de completou totalmente. 

Hoje, como na Primeira República, há suspeitas de fraudes eleitorais. Há também candidatos que procuram se mostrar como limpos e desligados das velhas e carcomidas elites tradicionais. Há também um certo histerismo com um fantasma sem contornos claros da esquerda. E, por fim, um senso de que é preciso "salvar a república". Essa é uma conversa antiga. A história se repetirá, mais uma vez, como farsa? Torço para que ela não se repita.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Há como prever o resultado das eleições?

Já tem bastante tempo que venho fazendo a análise de alguns cenários possíveis sobre as eleições deste ano. Insisti por muito tempo sobre a viabilidade eleitoral de Joaquim Barbosa, aliás, falei isso com bastante antecedência (basta olhar os posts do ano passado nesse blog para ver isso). Análise não é aposta e eu não apostei que ele já estava eleito, apenas apontei para o fato de se ele viesse mesmo disputar a eleição (algo que sempre coloquei em condicional, afinal, a imprensa e as informações de bastidores sempre apontaram para o fato da reticência de Joaquim Barbosa em participar do pleito) seria o candidato com mais chances de ser exitoso, dada a composição de candidaturas em 2018.

O ex-ministro do STF desistiu de sua candidatura. Era algo dentro do esperado. Barbosa não queria ser candidato. Queria (e quer ainda) ser presidente. Sua expectativa era a da unção. Imaginava que levantaria rapidamente um forte movimento de apoio das classes falantes em torno de si. Imaginava também que sua legenda, o PSB, pularia integralmente e prontamente em sua campanha. Tudo isso que em algum momento passou pela cabeça do retinto ex-ministro é algo fora das proporções. Não digo que fossem coisas irrealizáveis, longe disso, afinal, a imprensa já o estava colocando em patamares apolíneos, boa parte de nossa elite ilustrada demonstrava a possibilidade de empolgar-se com a candidatura JB e mesmo seu partido caminhava em direção à um apoio total à sua campanha. Eram questões que se encaminhavam com extrema rapidez e que estariam consolidadas antes mesmo do prazo final de inscrições de candidaturas.

Aventei também neste blog a hipótese de o PSB sair dessas eleições sendo a maior legenda do país. Sem a presença de Joaquim Barbosa encabeçando a disputa pela presidência da república essa possibilidade se torna residual. As candidaturas que estão por se consolidar, afinal, estamos com pouco mais de um mês para o início dos registros de candidaturas, são todas de políticos tradicionais, o que mostra que o Brasil não foi exitoso em buscar a figura de um outsider, com o perfil, preferencialmente, do francês Emmanuel Macron.

As inúmeras candidaturas que ainda sustentam os seus nomes até esse momento já dão claras demonstrações de que nada foram além de simples balões de ensaios. São os casos de Fernando Collor de Melo, Flávio Rocha, Michel Temer, Henrique Meirelles, Paulo Rabello de Castro, Rodrigo Maia, João Amoêdo, Valéria Monteiro, Cabo Daciolo e Guilherme Afif Domingos (provavelmente esqueci de mais algum candidato sem chances). Destes nomes citados, talvez venham a concretizar suas candidaturas, mas sem conquistar nenhum apelo eleitoral, Collor, Meirelles, Paulo Rabello, Amoêdo e Daciolo. Somem-se a esses os eternos candidatos Eymael, do PSDC, Levy Fidelix (PRTB) e alguém pelo PSTU. Independente dos nomes, cujo registro tem pouco importância histórica, nenhum deles possui chances de disputar a eleição com força (talvez, em condições muito específicas, Meirelles viesse a fazer algum barulho, mas duvido disso).

A verdade é que a eleição ficará em torno de Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, Marina Silva, Geraldo Alckmin, além, talvez de um nome do PT que conte com a cara do Lula estampada na sua. Esse nome pode ser Jacques Wagner ou Fernando Haddad. 

É preciso esperar mais, por que muitas articulações por ora estão sendo realizadas, como as que saíram como notas, da aproximação de Ciro Gomes com o "centrão", especialmente com o PP e o DEM. Se Ciro conseguir o apoio dessas legendas terá tido um acréscimo considerável de força política, tempo de TV e recursos para a campanha. Se consolidaria como o anti-Bolsonaro.

Apenas, para finalizar, registro que a imprensa, em particular a televisiva, continua ignorando e desprezando Jair Bolsonaro. Me parecem que não o convidam e não colocam para falar ao público com o receio de que ele cresça ainda mais. Não sei se esse temor é fundamentado ou se o Bolsonaro falando mais ao público pode fazer com que ele venha a perder uma fatia de possíveis eleitores por enquanto indecisos. Veremos com ele o mesmo fenômeno de Marine Le Pen, que na França liderou no primeiro turno e foi esmagada por Macron no segundo, com um discurso técnico e centrista, apoiado pela mídia e pelas grandes finanças? Talvez sim. Resta saber quem será esse Macron verde-amarelo.




segunda-feira, 16 de abril de 2018

Márcio França será reeleito governador de São Paulo

Desde 2006, quando o também vice de Alckmin, Cláudio Lembo, na época no ainda PFL, assumiu o governo com a renúncia do titular que iria naquele ano disputar a presidência pela primeira vez, São Paulo não era governado por alguém que não fosse do PSDB. Mesmo assim, o pequeno período de Lembro à frente do executivo paulista foi inexpressivo, sendo marcado, negativamente, apenas pelas séries de ataques terroristas realizados pelo PCC.

Agora, em 2018, Alckmin novamente renuncia no fim de seu mandato para disputar a presidência da república, deixando no comando do estado bandeirante o seu vice, Márcio França, ex-prefeito de São Vicente, filiado ao PSB. 

As diferenças entre Lembo e França são muitas. A idade, o estilo, o partido e a disposição em querer permanecer no cargo, inexistente no primeiro e firme no segundo. 

Com a quebra da hegemonia tucana em São Paulo em vista, França já constrói amplo arco de apoios partidários, com siglas pequenas e médias, ainda com chances de atrair siglas grandes como PP e DEM. 

Seu discurso de posse, feito poucos dias atrás, foi também comovente, pela forma e pelo teor. O grande enfoque na lealdade foi, ao mesmo tempo, uma declaração de total respeito e confiança à Alckmin e um ataque à João Dória, que traiu o eleitor paulistano, deixando a prefeitura para disputar o cargo de governador esse ano. 

França será reeleito esse ano e romperá o domínio do grupo tucano em décadas. Vencerá as eleições por que sabe fazer política de bastidor, por que é político, não nega isso e ao contrário, reafirma com veemência. Comenta-se à boca miúda que segue uma máxima antiga: "palavra dada é como seta lançada, quando se solta, ela não volta atrás."

Tem ele também o jeito, o falar e o aspecto de político caipira, de velho cacique do PRP. Em sua posse, fez referência à saudosa memória do itapetiningano Júlio Prestes, impedido de tomar posse como presidente pelo golpe de 1930. Lembrou de grandes Paulistas de todos os tempos: Bartyra, João Ramalho, Osvald de Andrade, Monteiro Lobato. 

França também é irmão e é figura de grande exposição na potência Paulista. É pedreiro de loja. 

A pesquisa do Datafolha divulgada hoje mostra ele com um índice muito bom: 8%. São 8% de apenas 9% dos entrevistados que o conhecem. O atual governador ainda é um ilustre desconhecido. Dória e Skaf estão na frente pelo recall que possuem. Seus índices desvanecerão. Ainda terá o apoio tácito de Alckmin que o tem por seu candidato, mesmo o PSDB lançando Dória na disputa. Corre ainda muito risco de ter o apoio de Joaquim Barbosa, que pode ser o campeão de votos da eleição presidencial e ajudar a alavancar ainda mais a candidatura do ex-prefeito de São Vicente.



Dória já está usando uma retórica abertamente macarthista, dizendo que o atual governador deveria ser chamado não de Márcio França, mas de Márcio "Cuba" dada a sua inclinação social-democrata. Dória será desmascarado pela própria direita, que já viu nele apenas um oportunista, pois elegeu-se com parte do voto conservador e liberal mas tomou medidas em sua gestão à frente da capital Paulistana que não agradaram ao seu eleitor, como a taxação de serviços digitais (Netflix e Spotfy) e o embróglio mal resolvido envolvendo o Uber e os taxistas. Não creio que terá fôlego para ganhar. Se nada de novo não aparecer, todos os caminhos que levam ao Palácio dos Bandeirantes estarão nas mãos de Márcio França. 

E quem diria? O Brasil pode iniciar 2019 tendo o PSB como a sua maior legenda.


quarta-feira, 11 de abril de 2018

A direita e o federalismo

Lula está preso e não sabemos por quanto tempo ele ficará detido. Creio que mesmo que ele venha a sair da cadeia brevemente essa sua saída será temporária, por que ainda há vários outros processos em que ele é réu e deverá ser condenado. 

Porém, o grotesco espetáculo que ele protagonizou no último fim de semana mostra ainda que lhe resta alguma força política e muita força simbólica. Já afirmamos, ano passado, neste blog que caso ficasse livre e pudesse disputar a eleição, os brasileiros, fatalmente, acabariam elegendo o sapo de Garanhuns. É difícil falar de maneira hegemônica e reducionista, mas, a grosso modo, os nordestinos tendem a votar no assistencialismo. Além do eleitorado nordestino, Lula ainda tem muito voto em vários estratos e classes sociais. Seu governo não foi de ruptura política nem econômica. Se seguiu a risca a cartilha demagógica e populista de Getúlio Vargas, sendo considerado um novo "pai dos pobres" também é justo qualificá-lo como sendo a grande mãe dos ricos, vide a política de campeões nacionais e as altíssimas taxas de juros que só interessam aos banqueiros (que nunca lucraram tanto em um mercado hiper concentrado) produzidas pelo petismo.

A força simbólica de Lula é ainda mais forte e não sei dimensionar apropriadamente o seu tamanho. A exceção do PSTU e de setores muito minoritários de correntes dentro de outras legendas, Luis Inácio conseguiu unir a esquerda em torno de sua narrativa de que é um perseguido político nas mãos de um juiz vendilhão. Nesse sentido ele, Lula, seria o bode expiatório colocado em holocausto para o sacrifício de todo um projeto de país por ele conduzido que teria tirado milhões de pessoas da pobreza e tudo mais que já estamos cansados de ver a esquerda repetir.

Todavia, o mais importante que precisamos destacar aqui é que o PT foi o responsável por uma extrema ideologização do país. Creio que a discussão política que é feita hoje em todos os ambientes: escolas, universidades, mídia, igrejas, botecos, zonas, enfim, em toda a parte, é inédito no Brasil. Nem durante a época do Getulismo e da chamada República Populista (1946-1964) tivemos algo igual. Os tempos são outros e a onipresença da mídia (hoje quase que completamente dominada por uma esquerda vociferante) e das redes sociais tem bombardeado o cidadão médio com memes, imagens, textões em caps lock sempre rondando assuntos políticos. Na internet, a força da direita é bem maior do que a da esquerda, em alcance e em capacidade de construir narrativas e vendê-las ao público. Na imprensa tradicional, contudo, permanece a força do ideal esquerdista (uma vulgarização de manual promovida por professores universitários, que ronda em temas como o problema da desigualdade de renda, de raça, de sexo além é claro, de constantemente alertar para os perigos de um inexistente fascismo).

Mas nem tudo se resume ao domínio da esquerda. Na internet, como já dissemos, a direita é dominante. O discurso anti petista é a tônica, tendo como pano de fundo algum senso mais ou menos vago de um liberalismo conservador, que pede "menos estado" sem indicar, contudo, com alguma clareza, onde a presença do estado deve ser diminuída. 

Concordamos e reafirmamos que a onipresença do estado em todas as mínimas relações sociais neste país é sufocante, além de uma carga tributária de mais de 30% do PIB, somada a um défice de 9% nos gastos públicos, que nos qualificam como sendo um país de estrutura social democrata, sem contudo oferecer os benefícios públicos que os países nórdicos (os sociais democratas por excelência) oferecem aos seus cidadãos.

A necessidade de se reduzir a intromissão do estado no Brasil passa necessariamente não apenas pela venda ou extinção de empresas estatais, mas pela redução de leis, normas, portarias, atos normativos e administrativos e regulações, pela redução de oferta de certos serviços públicos que devem ser colocados integralmente sob o guarda chuva de um mercado com mais concorrência e sobretudo pela descentralização do poder político aos estados, eliminando o modelo de federalismo truncado que a Constituição de 1988 fez, construindo um federalismo real, que aproxime o cidadão dos centros de participação e decisão política, criando um senso maior e mais forte de cidadania e exercício do poder.

A esquerda continuará prosperando aqui neste país por que a direita brasileira é pouco articulada e não tem se dedicado a compreender esse fenômeno do federalismo, que eu reputo como sendo o principal problema do Brasil e aquele que nos leva, inexoravelmente, se ele não for resolvido, ao caminho do socialismo. De tempos em tempos a imprensa dá algum destaque aos movimentos separatistas que existem na região sul do Brasil, em São Paulo e em estados do nordeste, sempre com tom pejorativo, mas são poucos aqueles que compreendem que a força que o discurso separatista vem adquirindo está justamente em ser um alerta e ao mesmo tempo uma resposta forte ao excesso de centralização administrativa e política que temos, cujo artífice construtor foi o caudilho Getúlio Vargas.

Enfrentar o problema do federalismo é urgente. Quando tomou posse, o presidente Michel Temer alertou que seu desejo era fazer uma reforma que encarasse e buscasse resolver esse problema. Já nos encaminhamos para o fim de seu mandato e nada no sentido da descentralização do poder foi feito. Temer, assim como outros presidentes que tiveram consciência do problema federativo não tiveram a coragem para enfrentar politicamente a questão (FHC e Figueiredo, por exemplo, apoiavam, idealmente, a descentralização, mas pouco fizeram no sentido de promovê-la). 

Essa questão não é enfrentada por que existe uma super representação congressual dos estados mais atrasados do país, das regiões norte e nordeste, em detrimento das regiões mais avançadas e desenvolvidas, o sudeste, o sul e também o centro-oeste. Um bom começo para tentar mudar esse problema da representação talvez fosse a implantação do voto distrital, porém vejo-o como insuficiente para resolver o problema, mas já seria um bom avanço no sentido da descentralização. Enfrentar a força do estados nordestinos e nortistas é uma necessidade urgente. A direita brasileira não entende que são esses estados que dão sustentação a todos os presidentes que implantaram agendas intervencionistas e extremamente estatistas no país. A direita brasileira compreende que o problema do Brasil é basicamente o PT e seus demais partidos satélites, mas não atenta para a oligarquia nordestina que comanda a política nacional nos bastidores, apoiando todo o tipo de política que venha inchar ainda mais o estado. Não adianta apenas gozar com a prisão do Lula se Renan Calheiros, José Sarney, Jader Barbalho, Eunício Oliveira, Ciro Gomes, Tasso Jereissatti, ACM Neto, Fernando Collor de Melo, Ronaldo Lessa, Agripino Maia, Marcondes Gadelha, Teotônio Vilela, Cunha Lima e tantos outros coronéis e suas famílias continuarem mandando nos bastidores políticos, perpetuando esse estamento burocrático parasitário e perdulário, que somente draga a energia moral e social do país. 

A extrema desigualdade regional que existe no Brasil terá difícil resolução e não será um homem como Jair Bolsonaro ou qualquer outro líder político messiânico que queira repartir o espólio eleitoral pós lulismo com os velhos caciques nordestinos que irá mudar alguma coisa. Vejo que a saída está em algumas possibilidades: um federalismo hegemônico centrado no estado de São Paulo (como estava a se construir na Primeira República, até o advento do Varguismo), a confederação ou a separação de todos os estados brasileiros. Sou um entusiasta e fiel defensor da última proposta. Acredito que a melhor saída para todos os estados brasileiros seria a secessão. Confio e trabalho por isso, todavia, não descarto a importância processual das outras duas alternativas.

Lula e Dilma governaram com o apoio dos políticos do PMDB, PP, PR, PDT, PTB, PSC, PSB e outros sempre com o forte apoio dos nordestinos e nortistas dessas legendas. Enquanto a economia mundial caminhou bem e o Brasil foi puxado por esse movimento externo o país viveu em superávit e isso significava vultosos repasses de verbas do governo federal para os políticos dessas regiões. Quando a crise chegou pra valer no governo Dilma os repasses diminuíram as cisões na base de apoio desses mesmos partidos ao petismo começaram a ganhar força, até o fim com o impeachment e agora com a prisão de Lula. Porém, o que os senhores auto identificados como direitistas precisam entender é que caso a esquerda volte à presidência novamente esse ano (ou mesmo esquerdistas soft como Alckmin, Joaquim Barbosa ou Marina) e a economia torne a se recuperar, esses mesmos políticos fisiológicos (notadamente os nortistas e os nordestinos) apoiarão integralmente políticas de esquerda, como as que o PT implantou. É necessário quebrar a estrutura de poder político que existe e que foi criada não pelo PT mas por todos os partidos na Assembleia Constituinte de 1988. Ou se rompe com essas estruturas ou o júbilo direitista será sempre provisório.


quinta-feira, 29 de março de 2018

O excesso de candidaturas é sinal de vacuidade no poder

Estamos no fim de março e até agora várias são as candidaturas postas à presidência da república, elenquemos elas:

1. Lula (ou Haddad/Jacques Wagner) - PT
2. Ciro Gomes - PDT
3. Marina Silva - Rede
4. Geraldo Alckmin - PSDB
5. Jair Bolsonaro - PSL
6. Álvaro Dias - PODEMOS
7. Fernando Collor - PTC
8. Michel Temer (ou Henrique Meirelles) - MDB
9. Rodrigo Maia - DEM
10. Flávio Rocha - PRB
11. João Amoedo - NOVO
12. Guilherme Boulos - PSOL
13. Manoela D'Ávila - PC do B
14. Paulo Rabello de Castro - PSC
15. José Maria Eymael - PSDC
16. Levy Fidelyx - PRTB
17. Valéria Monteiro - PMN
18. Cabo Daciolo - PEN/Patriota

Não estou colocando nessa lista os possíveis candidatos do PSTU e PCO, que sempre tem lançado nomes a essa disputa e também da possibilidade de algum nome do PSB, seja Joaquim Barbosa, seja Aldo Rebelo.

De todo modo, estamos falando em vinte candidatos. Uma disputa como essa não se vê desde 1989, quando também tivemos inúmeras candidaturas e um postulante que representava a elite mais coroca desse país acabou eleito, sendo vendido como vento de novidade, no caso, Fernando Collor de Melo, que diz que irá disputar dessa vez também a presidência.

Podemos também fazer alguns paralelos entre 1989 e 2018, como o fato de 28 anos atrás também a população estar farta com seu chefe do executivo, que não havia sido eleito diretamente pelo povo e havia assumido em circunstâncias nebulosas, no caso, José Sarney. Semelhantemente, vivemos em 2018 um desgaste com um presidente, que, embora eleito pelo voto popular como vice, também assumiu em condições pouco republicanas e vem fazendo um governo baseado em situações ainda menos republicanas. A rejeição ao nome de Temer, apontam as pesquisas, é enorme e mesmo assim ele nos ameaça dizendo querer concorrer a reeleição. Penso que isso não se concretizará e ele acabará abrindo mão para a candidatura de Henrique Meirelles.

Até o momento, a grande novidade dessa disputa tem sido o desempenho do deputado Jair Messias Bolsonaro. Faltando alguns meses para a eleição, os índices do ex-capitão do Exército se mantém estáveis e em projeção de subida. Sem a presença do condenado Lula na disputa, Bolsonaro ocupa a primeira colocação isolada. Resta saber como a sua candidatura irá se comportar, com a perspectiva de pouco tempo de propaganda no rádio e na TV e com a entrada de outros candidatos que busquem votos na mesmo eleitorado dele, como Amoêdo e Flávio Rocha, além de possivelmente também Henrique Meirelles.

Penso que a candidatura de Rodrigo Maia seja um balão de ensaio, que não chegará até o momento das convenções partidárias. O DEM acabará sendo arrastado ou para a campanha de Alckmin ou de Meirelles.

Flávio Rocha, dono da Riachuelo, foi a grande novidade dessa semana. Ele acaba de se filiar ao PRB, partido da Igreja Universal do Reino de Deus. Dinheiro é que não falta para que ele possa investir em sua campanha. Criador do movimento Brasil 200, que reúne empresários que buscam reafirmar seus valores liberais e promoção de uma agenda liberal para o país, como a redução da carga tributária e modernização administrativa do país. É uma boa agenda, mas insuficiente para se ganhar uma eleição em país de vocação estatista, como é o Brasil. Não se tem muita informação sobre as articulações políticas de bastidores acerca de Rocha. Sabemos que ele flertava com o ingresso no MDB, mas com a chegada de Meirelles ao partido e a predisposição de Temer em buscar a reeleição, o empresário pernambucano ficou sem espaço dentro da legenda e buscou refugio no partido de Edir Macedo. Sabe-se que quem está auxiliando Flávio Rocha é o MBL - Movimento Brasil Livre. Se conseguirá agregar mais algum partido em sua coligação não podemos afirmar. Existe uma tendência, caso essa candidatura se concretize, que ela venha a pulverizar votos, tanto de Alckmin (que tem desempenho muito fraco no nordeste), como do candidato do MDB, quanto de Amoêdo e Bolsonaro. O quanto de votos pulverizará é algo também incerto.

Faz tempo neste blog que tenho trazido informações acerca de uma possível candidatura de Joaquim Barbosa, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal. Barbosa está se "marinando", seguindo os passos de Marina Silva, se negando a fazer a política como deve ser feita, se fazendo de difícil. Ele ainda negocia sua filiação ao PSB, que deverá se concretizar até a próxima semana. Caso essa filiação se realize esse é um indício forte de que sua pré-candidatura avança, mas, de todo modo, ela já entra fora do timing da disputa, em um momento em que várias outros nomes já estão colocados ao grande público e alianças já estão costuradas, quando não firmadas. De toda a forma, o nome de Joaquim Barbosa é ainda muito forte no imaginário popular e marcaria o ingresso de um juiz de peso na disputa eleitoral, após anos de operação Lava Jato muitíssimo bem avaliada pelo eleitorado. Barbosa poderia embaralhar sobremaneira essa disputa, com muitas chances de ganhar.

Agora, esse excesso de pré-candidaturas, umas viáveis e outras quase fictícias, mostra a completa desorganização das elites políticas brasileiras e a imaturidade da república nesse país. Durante a década 1990 e 2000, além de primeira parte dessa década de 2010, o poder político brasileiro esteve assentado sobre um consórcio social-democrata de petistas e tucanos. Some-se os oitos anos de FHC e quase quinze de Lula e Dilma e temos a consolidação de uma estrutura de governo e de estado tipicamente social-democrata, com alta carga tributária, muitos serviços públicos e uma onipresença do estado sobre a sociedade e sobre os indivíduos. Vivemos uma encruzilhada desse modelo, que associado aos enormes índices e esquemas de corrupção, tem levado parte da população a enxergar alternativas, como candidatos militares (Bolsonaro) e liberais, como Amoêdo, Meirelles e Flávio Rocha.

Além de revelar um esgarçamento do modelo social democrata e do consórcio de poder tucano-petista, essa eleição mostra que o poder simplesmente não aceita o vazio. As nossas elites estão se rearranjando, por um lado buscando um grande acordo nacional (como quer o estamento burocrático ligado aos principais partidos, como PSDB, MDB, PT) e por outro tentando a sorte em candidaturas que representem uma dissidência dessas mesmas elites, como é o caso de nomes como Bolsonaro, Joaquim Barbosa, Ciro, Marina, Rocha, etc. 2018 é um ano marcante na história eleitoral do país, mas há coisas que nunca mudam, como a busca do brasileiro médio por um salvador da pátria, o pouco ou nenhum apego à convicções políticas e doutrinárias e o domínio do estamento burocrático sobre o todo da população.


sábado, 17 de fevereiro de 2018

A embaralhada corrida eleitoral pelo Palácio dos Bandeirantes

Publicamos neste blog no dia 25 de Agosto do ano passado uma análise sobre o cenário eleitoral Paulista naquela altura. Passados alguns meses, as indefinições permanecem.



Hoje, Geraldo Alckmin como presidente nacional do PSDB é a maior força política em nosso estado. A quem ele ungir como seu candidato ao governo será, muito provavelmente, eleito. As ligações dele com as prefeituras e de seu aliado muito dileto, o deputado Campos Machado, do PTB, são fortes agentes, com grande capilaridade, em todo o interior. Isso é fundamental em uma disputa desse tipo. A força da bancada de deputados estaduais e federais ligadas à Alckmin também é vigorosa e aumenta assim a sua capacidade de influenciar a política estadual.

Contudo, a política Paulista está a reboque da disputa presidencial. As candidaturas estão todas em compasso de espera, diante das indefinições em nível nacional. Se Alckmin quiser o apoio do PSB para sua campanha, certamente terá que apoiar Márcio França, seu atual vice-governador para a disputa do Governo do Estado. Um eventual apoio do MDB também ao governador Paulista dependeria, dessa vez, de um acordo que envolvesse o presidente da FIESP, Paulo Skaf.

Nesse meio de campo embolado, temos um jogador de primeira grandeza, que é a grande revelação da política brasileira em muito tempo, o prefeito João Dória. O capital eleitoral do prefeito é gigante e ele não pode dar passos erráticos na direção errada. Ao que tudo indica, o seu sonho mór é mesmo concorrer à presidência, seja por seu partido, o PSDB, seja por qualquer outro que as circunstância apontarem. Se não puder ser presidente, se contentaria em sair para governador e é nessa disputa para o governo do estado que ainda não conseguimos enxergar sem maiores nebulosidades.

A leitura que faço, como já indiquei, é a de que a fadiga geral das pessoas com a política, não deve afetar substancialmente o desempenho do PSDB no estado de São Paulo e existem algumas razões para isso. Primeiro, o perfil do eleitor Paulista é essencialmente conservador. O Paulista não quer grandes mudanças na sua política, onde o governo deve cumprir suas tarefas básicas elementares e ser o mais invisível possível, afinal, o melhor governo é mesmo aquele que menos governa, já dizia Thoreau. Segundo, a associação do PSDB com suas grandes figuras estaduais, de Franco Montoro, passando por Covas, Serra e por fim Alckmin é muito forte. Foram políticos sempre relativamente bem avaliados e com gestões moderadas, sem grandes obras, sem grandes planos, mas também realizadoras, embora, em passos de tartaruga (veja-se os exemplos das obras de maior vulto das últimas duas décadas no estado, o Rodoanel, que nunca termina e as obras do Metrô da capital, que são sempre marcadas por enormes atrasos e suspeitas de ilícitos). Por fim, o perfil de Alckmin é muito associado ao político interiorano, que passa segurança e confiança. É tucano, mas tem alma de Peerrepista. Neste sentido, Geraldo Alckmin é senhor inconteste da política Paulista.

Não consigo ver nenhum candidato que apareça em São Paulo com força para abalar as estruturas dessa eleição. Russomanno, o melhor avaliado nas pesquisas, não deverá sair. Vai buscar a reeleição para a Câmara dos Deputados e servir como puxador de votos, como sempre tem feito, desde que migrou para o PRB. Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e apoiado por Lula, como candidato do PT terá tudo para ter o pior desempenho eleitoral de um candidato petista ao governo do estado desde a sua fundação. Fora isso, além do círculo político alckmista não há mais nada em nossa política. Até Skaf, que disputará sua terceira eleição para o governo do estado, está dentro do radar do campo tucano-emedebista.

Concluo essa análise convidando o leitor a pensar sobre todo o potencial do povo de São Paulo, que não vem sendo devidamente explorado, justamente pela visão curta e falta de ambição de nossos governantes tucanos. O Paulista parece ter se acostumado com o estilo tucano de tal forma que nos leva a questionar se os políticos do PRP, na Primeira República, realmente precisavam fraudar as eleições para se manterem no cargo. A diferença dos velhos peerrepistas para os tucanos é que os primeiros defendiam até a medula todos os interesses políticos e econômicos do nosso estado, enquanto o PSDB nos submete à dominação dos interesses do governo federal em primeiro lugar, acima das necessidades Paulistas. Somos, na prática, uma colônia ou um domínio do grande imperialismo interno brasileiro e sua política neocolonialista, que insiste em manter São Paulo preso em um laço bem curto, para evitar a vocação secessionista dos Paulistas.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Considerações eleitorais sobre a disputa de 2018

Ano passado, neste blog, fiz alguns apontamentos sobre a disputa eleitoral que ocorrerá neste ano de 2018. As linhas ali traçadas apontam para um caminho que, passados alguns meses, tem se mostrado corretos.

A condenação de Lula na segunda instância poderá tirá-lo da disputa. É incrível como uma questão como essa ainda esteja em aberto! O sujeito já está condenado por tribunal superior em um dos vários processos em que responde e ainda discutimos (infelizmente, por que é uma hipótese muito viável) se um delinquente condenado pode ou não disputar a presidência da República. Aliás, se poderia disputá-la de dentro da cadeia. E se ele ganha e seus votos são impugnados depois da eleição pelo TSE? Isso ocasionaria uma tensão social enorme e aprofundaria a desconfiança de setores da população nas instituições. É um desgaste desnecessário e se a Justiça tiver um pouco de juízo ela trabalhará para evitar isso, colocando Lula no xadrez e o impedindo definitivamente de participar da disputa e forçando o PT a se renovar, lançando Jacques Wagner ou Fernando Haddad na disputa, encerrando qualquer chance de existir um terceiro governo Lula.

Já iniciamos, então, o comentário seguinte, sobre a situação do PT e das esquerdas no país.

Lula é, historicamente, o maior líder das esquerdas nacionais. Maior não por sua consistência ou firmeza ideológica (simplesmente porque estás não existem nele) mas por que foi o único a conseguir chegar ao poder e a dominá-lo (Dilma Rousseff é uma extensão do Lula que quis se afastar do padrinho e se deu mal). A esquerda já vem discutindo e articulando maneiras de poder superar o lulismo, por mais que setores fortes dentro do PT, claro, e não tão surpreendentemente dentro de outras legendas se neguem a isso. A memória positiva do período do segundo mandato do líder sindical à frente da presidência da República é ainda muito forte, mas muitos não entendem que a bonança daquele período pouco se deve à Lula, mas sim à conjuntura econômica internacional da época.

Manuela D'Ávila, do PC do B colocou seu nome para a disputa. Não deve se sustentar. Penso que ela é candidata à vice e, colocando seu nome no show das pré-campanhas, tenta justamente é se cacifar para compor chapa com outro candidato mais competitivo. Joaquim Barbosa, pelo PSB, não é uma hipótese que possa ser descartada, embora informações nos apontem que é soberbo ex-ministro do STF só sai se os socialistas estiverem totalmente unidos em torno de sua campanha, coisa que, dificilmente, deve acontecer, já que a legenda é rachada entre aqueles que esperam poder apoiar Lula ou quem ele indicar, os que querem apoiar Alckimin, os que querem Barbosa e aqueles que apoiam uma candidatura da casa, como Beto Albuquerque (ex-vice da Marina Silva em 2014) e Aldo Rebelo. Há ainda os que pensam e defendem que o PSB não lance e não apoie ninguém para presidente. 

Ciro Gomes, creio, é aquele que tem o maior potencial na esquerda para poder chegar ao poder. O fato de ser um coronel nordestino e conhecer bem os gostos eleitorais daquele público tende a fortalece-lo, na ausência do sapo de Garanhuns. O PDT, em 2016, cresceu eleitoralmente, em grande parte ocupando o vácuo deixado pelo desgaste do PT. Sozinho, o partido teria não muito tempo de TV, mas Ciro é um velho político, que entende bem da arte do "comício e do cochicho", como diziam as raposas do antigo PSD mineiro. Pode levar para sua chapa outros partidos médios, como o próprio PC do B, talvez PHS, PROS e AVANTE.

Marina Silva é outra que se fortalece com a possível saída de Lula da disputa. Ela é a candidata mais insossa dessa disputa e isso não é novidade. Disputando a presidência pela terceira vez (e pelo terceiro partido), Marina hoje já não tem o mesmo fôlego de campanhas anteriores, mas, ainda sim tem um recall muito forte na cabeça do eleitor. Não deve ter muito tempo de TV na campanha e pouca possibilidade de ampliação desse tempo.

O PSOL tende a lançar o líder provocador e agitador social Guilherme Boulos. Ele é a apontado como o novo Lula do futuro! Chefe do MTST, Movimento dos Trabalhadores sem Teto,vem ganhando algum espaço na mídia, sobretudo em jornais como a Folha de SP e na Globonews. Se ele não decidir por sua candidatura, o PSOL que é uma das legendas que mais ganha com o declínio do PT irá decidir em convenção o seu futuro. Hoje, além de Boulos, a legenda de extrema esquerda tem como postulantes ao cargo de presidente os professores Nildo Ouriques, Plínio de Arruda Sampaio Júnior e a liderança indigenista Sônia Guajajara. 

O Centro está desbarato. Não sabe que caminho tomar, embora esteja consciente de que essa eleição tem tudo para ser vencida por um candidato com o perfil centrista.

Geraldo Alckmin, do PSDB, não tem arrancado nenhum suspiro, ao contrário, tem chamado a atenção as sérias dificuldades que vem tendo para poder subir nas pesquisas. Não chega aos dois dígitos nem por reza. Isso já aumentou e muito os ânimos de partidos que em eleições passadas nem sonhariam em lançar candidatos, já que a posição de apoio à candidatos do PSDB ou do PT lhe eram muito cômodas. Falo aqui sobre as pré-candidaturas possíveis de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados pelo renascido DEM (ex-PFL), do Ministro da Fazenda Henrique Meirelles, do PSD e do próprio presidente Michel Temer, pelo PMDB.

Francamente, penso que é impossível iniciarmos o ano de 2019 sendo governados por Temer, Maia ou Meirelles. Essa divisão no Centro e a inexistência de uma candidatura nesse campo que consiga obter fôlego eleitoral, pode acabar dando o segundo turno para Jair Bolsonaro e alguém da esquerda, como Ciro ou Marina. Mesmo assim, se for apontar para um centrista, todas as fichas deveriam ser colocadas em Geraldo Alckmin.

Essa inexistência de um forte nome pelo centro tem trazido, novamente, à tona o nome de Luciano Huck. Essa semana muito se falou sobre o seu nome. Fernando Henrique Cardoso parece ser a figura mais entusiasmada com a possibilidade do animador sair candidato. Huck, por mais que não seja candidato à presidente, não deixará de se fazer presente nesta eleição, por meio do dinheiro que será investido por ele e outros ricassos progressistas em campanhas de deputados ligados aos grupos Renova BR e Agora.

A ausência de um nome forte pelo centro chegou ao extremo de trazer de volta ao centro das atenções o ex-presidente Fernando Collor de Melo, que lançou a sua pré-candidatura pelo PTC, justamente com o mote de candidato centrista. O que Collor realmente quer é uma icógnita. É carta fora do baralho, mas pode deixar a disputa do primeiro turno ainda mais acentuada e embaralhada, favorecendo a ida para o segundo turno de candidatos com baixa votação individual.

Me parece que há apenas hoje um nome que se consolida como pré-candidato sólido e com um pé no segundo turno: Jair Bolsonaro. O ex-capitão do exército tem inúmeros defeitos, que vem sendo, sistematicamente e exaustivamente explorados pela imprensa, mas, mesmo assim, não desaba nas pesquisas. A força dele na internet é assustadora e supera a de qualquer outro candidato. Seu partido futuro, o PSL, é nanico e com poucos segundos de TV. Deverá fazer uma boa bancada de deputados, puxados pela associação ao nome de Bolsonaro. Se ele vai conseguir manter o fôlego para firmar sua candidatura e chegar ao segundo turno não sabemos e eu não apostaria nada.

Infelizmente, diante de um quadro tão horrendo quanto este, fico mais uma vez emputecido com a passividade da população, que assiste a tudo bovinamente. Não que eu esperasse uma revolução ou coisa do gênero, mas esse desprezo das pessoas pela política não é um desprezo total, indiferente. Esses mesmos que estão com ar blasé a desprezar todos os ladrões, por que todos se equivalem, no dia eleição irão lá votar naquele nome que estiver em primeiro lugar nas pesquisas ou no candidato que a grande imprensa ungir como seu. É uma falsa indiferença. Se essa se mostrasse como abstenções, nulos e brancos, ai sim teríamos uma grande vitória eleitoral.


O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...