quinta-feira, 27 de julho de 2017

Esoterismo e pensamento moderno

Estudando sobre o movimento da Escola Nova, muito famoso no Brasil por meio de Anisio Teixeira, responsável por uma série de reformas educacionais nas primeiras décadas do século passado, chego a Adolphe Ferriere. Este pedagogo suíço é considerado o principal pensador dessa corrente da educação no período e até hoje é uma referência nos cursos de formação de professores. Para minha surpresa, Ferriere foi amigo próximo de Karl Ernst Krafft, matemático e astrólogo também suíço. Kraft, por sua vez, ficou famoso por ser o "astrólogo de Hitler". 

É curiosa a aproximação que existe de vários campos do pensamento moderno e contemporâneo, com os diversos ramos e escolas do esoterismo. Muito mais eu poderia escrever aqui sobre isso, mas deixo esse apontamento como registro.

http://astrologianapratica.com.br/blog/krafft-o-astrologo-de-hitler/
https://fr.wikipedia.org/wiki/Adolphe_Ferri%C3%A8re

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Nunca assisti Kiarostami

Quando jovem sempre lia algum encarte de jornalões que me parava nas mãos. O guia cultural da Folha ou do Estadão. Era uma espécie de revistinha, impressão também em papel jornal, que trazia as principais novidades da agenda cultural de São Paulo: novos restaurantes e botecos, peças de teatro em cartaz, musicais, concertos e shows e filmes em exibição nas salas de cinema de rua e dos shoppings centers. 

Na parte dos filmes, me recordo que uma presença sempre constante era a do diretor persa-iraniano Abbas Kiarostami. Via frames de seus filmes, sempre trazendo imagens belas e dramáticas do Oriente Médio, em uma época em que os Estados Unidos estavam encrencados tanto no Afeganistão quanto no Iraque. Eu, 14 ou 15 anos (talvez um pouco menos), conseguia fazer relações entre os filmes, que nunca assisti, desse diretor, com a situação geopolítica do Médio Oriente.

Ontem assistindo um filme dinamarquês de suspense policial (nada demais, mas gostei do silêncio nórdico, Departamento Q - Uma conspiração de fé) me recordei de buscar filmes cult, que apreciem o silêncio como recurso técnico e me lembrei de Ingmar Bergman e Persona, recomendado por meu irmão mas que não tive paciência para assistir e, na sequência, me lembrei também de Abbas Kiarostami. Fui ver sua filmografia e descobri que ele morreu no ano passado.

Não fiquei sabendo de sua morte. Ele era uma espécie de figura cult de intelectuais, que eu sabia que existia, que era comentado e assistido, como são lidos e comentados certos pensadores (Derrida, Foucault, Guatari e Deleuze). Nunca o assisti seus filmes assim como nunca li obra alguma dos filósofos citados. 

Escrevo sobre Kiarostami por que seu nome, de certa forma, faz parte da minha juventude. Faz parte como também fazem parte todas as demais memórias que tenho de lugares, pessoas, momentos, ruas, viagens de ônibus, minutos em que passei sentado em uma determinada cadeira, relacionamentos da escola e da igreja. É uma pecinha do puzzle do meu passado.

Quando escreve isso, o tempo passa e no quarto ao lado, minha mãe assiste a TV, vendo notícias, como também no passado fazíamos. Eu sou refém das sensações passadas da minha vida.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O real progresso

Hoje poucos pensadores seriam tão audazes a ponto de identificar o avanço material da civilização europeia moderna com o Progresso em seu sentido absoluto, pois agora nos damos conta de que a civilização pode prosperar externamente e dia após dia crescer mais e mais barulhenta e mais rica e autoconfiante, enquanto ao mesmo tempo apequena-se em vitalidade social e perde contato com suas tradições culturais mais altas.

          Do livro Progresso e Religião, de Christopher Dawson.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

O que pode salvar o Brasil?


Uma intervenção militar? Não, a mentalidade do poder constituinte permanece a mesma.

Uma nova assembleia constituinte? Não, pois o mesmo problema persiste.

Alternativa: o Brasil é invadido e dominado por uma potência estrangeira, que lhe impõe um novo ordenamento jurídico. Chance de ocorrer: zero.

Alternativa 2: os estados do Brasil se separam e forma novas repúblicas independentes, cada uma por si e sem poder centralizado em Brasília. Chance de ocorrer: baixa, mas existente.

Ou seja, a secessão é a melhor das opções para o Brasil.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

JUDY COLLINS - "Send In The Clowns" with Boston Pops 1976





Linda canção. Conhecia ela assistindo Family Guy. E bela voz a da Judy Collins.

Monarquia, vocação europeia.

Lendo sobre a História europeia não consigo deixar de ficar triste em ver como o continente, responsável por fazer do mundo civilizado, hoje está prostrado diante de uma decadência generalizada. A Europa precisa reencontrar o seu caminho, olhando para si, para o seu passado. A crise que passa o velho continente, já faz algumas décadas, é uma crise tipicamente moderna. É a recusa em olhar para o passado e em aceitar que no passado estavam corretos, mas, em algum momento se desviaram do caminho e nele se perderam. Manter-se nesse caminho reto é o único objetivo, sem saber para onde realmente se deva ir, contudo, ao se desviar e buscar certos atalhos, acabou-se por cair em um poço, que é este de decadência moral, relativismo, ateísmo e multiculturalismo. Não se sabe para onde vai, mas ao sair do caminho se descobre onde não quereria ter ido. A crença no progresso indefinido é a razão desse desvio europeu.

Nesse sentido, acredito que a república não faz do espírito da Europa. A monarquia é a cara e a mente dos países europeus. Ao entrarem nas aventuras republicanas acabaram sempre em profunda crise política, como é o caso francês, português, italiano e outros. Nesses países, alguma estabilidade política somente foi restabelecida, graças ao parlamentarismo ou ao semi-presidencialismo, em se tratando aqui, particularmente, do caso francês. Tais modelos são republicanos, mas tem características que são típicas de países monárquicos, o mais claro deles é a divisão de atribuições entre o chefe de estado e o chefe de governo.

No Brasil, no entanto, sou republicano. A América é muito maior que a Europa. Todos os países aqui são grandes e lamentavelmente muito diversos, o que gera dificuldades enormes para se gerenciar tudo isso. A República e a Federação são os únicos remédios para os problemas políticos americanos (foi assim que os Estados Unidos se construíram como nação sã e é assim que os demais países do continente deveriam buscar seus rumos).

Ou seja, para concluir, não vejo o sistema monárquico como ultrapassado. Na Europa, a restauração das monarquias talvez possa vir a ser um passo muito importante para que este grande continente consiga se recuperar e fazer frente aos males que hoje tanto lhe assombram e que podem ser fatais. 

terça-feira, 4 de julho de 2017

Fernando Henrique Cardoso, o presidente globalista.

Eu estou lendo os Diários da Presidência, do Fernando Henrique Cardoso. Considero que FHC foi o único presidente brasileiro tolerável desde o fim da Primeira República. Apesar de todas as críticas que possam ser feitas a ele (e não são poucas, aliás) ele é único que ocupou o posto presidencial em que eu consigo enxergar elementos dignos de elogios.

É interessante estudar e buscar compreender como o PSDB se formou e o espaço que esse partido veio desempenhar na política brasileira no período pós redemocratização. Dentro dos hábitos partidários que temos como tradição, os tucanos carregam diversos vícios, como dar muito peso aos estados do nordeste e ao caciquismo, todavia é o único partido que não pertence a esquerda radical que possui intelectuais capazes de fazer uma leitura histórica, sociológica e econômica do país. Um mérito do primeiro governo Fernando Henrique foi o de estar sempre ouvindo o que importantes intelectuais tinham a dizer e é claro, estes pensadores dialogavam com um comandante que lhes dava ouvidos, que compreendia a profundidade de suas ideias e pensamentos. O PT está cheio de intelectuais (uns bons e respeitáveis - apesar de discordâncias que qualquer um possa ter com eles - e outros nem tão) mas a Marilena Chauí, o Marco Aurélio Garcia, o Márcio Porchmann, ou qualquer nome da academia que venha tratar com o Lula terá que lhe dirigir os temas por parábolas, já que a formação de sua ex-excelência é mais do que sofrível. Eis uma sensível diferença que pode ser colocada entre os governos de FHC e de Lula.

Também creio que não seja fácil colocar sobre as costas de Fernando um peso tão grande como o que hoje Lula carrega, de ter ciência de esquemas de corrupção de proporções monumentais. Sempre vi o Fernando Henrique como uma pessoa um pouco alheia a tudo isso. Sim, eu sei dos escândalos que tivemos durante o seu governo e aqueles que ele foi associado, após deixar a presidência, mas nenhum deles pode sequer estar perto de ser comparado com o assalto patrocinado pelo PT no período em que esteve na presidência, que deu salvo conduto para que todas as demais legendas e grupos políticos instalados no poder se sentissem abonados para realizar acordos espúrios a luz do dia, sabendo que o estado todo estava aparelhado tendo a corrupção como razão principal. Isso não se viu nem no primeiro e nem no segundo mandato (1995-2003). 

FHC sabe que fez um bom governo, dentro daquilo em que ele crê que fosse o correto a se fazer e diante daquilo que o intelectuais que mantém um diálogo liberal-social e social-democrata no Ocidente também creem que seja o correto a ser feito em relação ao governo e administração pública. Esse diálogo do qual o ex-presidente é uma voz muito ativa defende medidas que não concordo: são privatizadores, mas não querem que o mercado seja aberto para ampla concorrência; são liberais radicais (jacobinos) em relação ao entendimento do estado com as religiões (nesse sentido são espiritualmente tão ateus e antirreligiosos quanto o mais vulgar marxismo, embora a maneira como encarem isso não seja sempre tão ostensiva como foi a do comunismo durante o século passado); são radicalmente favoráveis ao entendimento contemporâneo de globalização e divisão internacional do trabalho. Quem lê e conhece os estudos de historiadores independentes sabe que há por trás de todas essas políticas, que de maneira ampla denomioa de política pós contemporânea, há um projeto de um mega estado gerente, em proporções globais, se formando. 

Não tenho nenhuma dúvida de que Fernando Henrique Cardoso é hoje uma das maiores referências internacionais em matéria de globalismo. Ele constroi esse papel de dentro do processo de ação política, de maneira consciente. Com certeza ele não chama o crê de globalismo, mas é consciente do que faz. Em seus governos teve atitudes, sempre paliativas, bastante importantes, como a reforma do estado, uma tendência a descentralização, estabilização econômica. Tudo isso é elogiável, mas temos que sempre levar em consideração que isso que está sendo elogiado por mim é bem visto pelo ex-presidente como sendo coisas positivas por outras razões, pelas razões que fazem de FHC um globalista.

Novos estados na Federação Brasileira: alguns são necessários outros gerarão perigosos reflexos.

“A dimensão dramática da diferença é demonstrada no fato de que no início do século XIX a colônia espanhola dividia-se administrativamente e...