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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Os rumores silenciosos

Entre aqueles que são envolvidos no meio eleitoral, seja trabalhando para partidos políticos ou candidatos, seja o pessoal dos institutos de pesquisas de opinião ou ainda a imprensa, há uma expressão que, volta e meia, retorna durante uma discussão. Trata-se do fenômeno do "voto envergonhado".

É possível definir o fenômeno do voto envergonhado como aquele em que o eleitor não se manifesta à favor do candidato durante o período de campanha, não dando sinais de que irá votar naquele candidato que não tem apreço de parte das pessoas do seu convívio, porém, no secreto da urna, o eleitor deposito o seu voto naquele candidato pouco apreciado pela opinião pública. 

Eu diria que o voto envergonhado é aquele praticado pela extensa maioria da população.

O histrionismo por parte do eleitor está longe de ser novidade e é quase um sinônimo de eleições feitas para o homem massa. Os histriônicos sempre tereis no meio de vós! Ainda assim, ele não é o responsável solitário por viradas de votos. O voto é algo, normalmente, bem consolidado, pelo menos para cargos do executivo. O eleitor matuta em silêncio a sua preferência, vai lá e deposita com certeza. O mesmo não ocorre para cargos legislativos, onde a escolha é geralmente bastante irrefletida, quando não aleatória. Como mesário e depois assistente da justiça eleitoral pude ver várias vezes homens e mulheres catando um santinho na calçada para definir em quem irá votar, dois passos antes de entrar na escola. E ainda querem dizer pra mim que o voto não devia ser facultativo. Eu defendo que ele seja facultativo e censitário, não pela grana, mas pelo estudo. Tem determinado grau? Vota para vereador. Tem determinado outro grau? Vota para o resto. Como eleger juízes ou xerifes com uma massa de eleitores que vota drogada, bêbada ou simplesmente ignorante e fraca da cabeça? O poder não pode estar nas mãos da ralé. E nossa elite é uma ralé também, assinale-se.

Hoje tive um sonho lúcido, bastante lúcido. 

Me vi em algum lugar do centro de São Paulo, como perto de algum beco no Brás ou nos Campos Elíseos, sendo acossado por uma turba de vadios insidiosos, uns com caras de drogados, outros de pilantras e golpistas. Me cercaram e, ao me desdobrar tinha em mãos um microfone e uma caixa de som. Eis que quando eu começava a proferir um incisivo discurso falando em resgatar São Paulo de volta aos paulistanos, limpando a cidade dos vagabundos que nos cercam, vi que os meus inimigos se dispersavam e algumas pessoas, idosos simples, pessoas humildes olhavam aquele bravo discurso, como se fosse do Ulisses Guimarães, do Franco Montoro ou do Mário Covas na campanha das Diretas Já, na Praça da Sé. Passado rapidamente o perigo eminente, uma e outra pessoa parava ao lado e cochichava: "olha, parabéns pelo seu discurso, nós precisamos mesmo resgatar São Paulo para nós". 

Tomo o desfecho desse sonho como uma analogia ao caso do voto envergonhado.

Todo discurso político que seja considerado reacionário e radical, no sentido da restauração de uma ordem preexistente, tem acolhida, ainda que sorrateira e escondida, entre boa parte da população. Aquela frase sobre o triunfo dos maus quando os bons não se manifestam passa a fazer ainda mais sentido. 

São Paulo foi invadida no século XX, especialmente a partir da década de 60, quando o tipo de migrante e imigrante que passamos a receber passou a ser a escória de outras partes, em grande parte (não na totalidade). Escória não em termos como os mais pobres ou mais simples, mas os piores, mesmo. Aqueles que tem os piores costumes, os piores hábitos, fugitivos não da seca, mas do trabalho firme, gente que procurava aqui um troquinho mais fácil para gastar em festas e bebidas ou drogas. E é assim que as favelas se tornam um tormento para o sujeito que é miserável materialmente e que precisa ali viver. Tormento dos tormentos deve ser para um trabalhador, uma mãe de família pobre que precisa conviver com a escória que se embebeda, se droga e faz farra todo o dia. Para esse trabalhador e trabalhadora decente, honesto e honrado eu desejo toda a sorte do mundo, independente de sua origem natalícia e que ele venha a prosperar materialmente e possa sumir do convívio grotesco dessa ralé, que por razões econômicas, ele é obrigado a conviver. 

A ralé precisa ser domada, adestrada, pelas duas mãos do poder. A mão do estado, cuja fiscalização sobre o descumprimento de normas de postura deve ser severo. Severo com o pichador pego, severo com quem joga lixo em local inadequado (não só o papel de bala ou a bituca de cigarro, mas os indecentes que largam sofás velhos em esquinas ou os jogam dentro de córregos), severo com quem ouve música alta e perturba o sossego alheio. Severidade no combate à violência de todo o tipo. A outra mão, a do mercado, que pode criar valor forçando hábitos de consumo que alterem determinados padrões entre essa massa. O estado e o mercado são criadores de valores. A primeira mão, a do estado, se quiser, é a mais forte nesse jogo, sobretudo se o cérebro que comanda a mão tiver clareza de propósito (coisa que hoje falta). 

São Paulo precisa ser limpa, renovada, reurbanizada, requalificada. A preocupação ambiental urbana precisa ser levada à sério. Não pode ser aceitável que as nossas represas, rios, riachos e córregos sejam somente esgotos à céu aberto. Não se pode aceitar que nada seja feito porque temos favelas ou outras construções nas margens desses mananciais. O estado tem que planejar uma saída firme para isso, com respeito às pessoas, mas pensando na cidade. O invasor de terras, que foi beneficiário de programa público de moradia não pode ser tratado senão como pilantra, caso volte ao estado pretérito de onde foi tirado. É uma maneira de se aproveitar da coletividade. Inúmeros são os casos de pessoas que receberam um apartamento da CDHU ou COHAB e os venderam para então retornar para as favelas, torrando o dinheiro com futilidades. 

Ensinar educação financeira nas escolas é essencial. Não só sobre a virtude da poupança, o que é muito difícil em um país de baixíssima renda, como é o Brasil, mas também ensinar sobre o cumprimento das regras e posturas. Sem isso, não é possível fazer a reforma saneadora que São Paulo merece. Enquanto houver impunidade para invasor, São Paulo será terra sem dono. E, digo mais, os contrários que façam o favor de se botarem pra fora daqui.

Tudo o que aqui está dito ecoa pela cidade. Ainda que seja um eco inaudível. Mas haverá um dia em que esse rumor será ouvido em toda parte com forte alarido e São Paulo se reerguerá e será limpa em definitivo.

quarta-feira, 20 de julho de 2022

Conciliar esquerda e direita na política urbana.

 A esquerda contemporânea, essencialmente urbana, concorda com tais políticas públicas, como elenco abaixo:

  • Plante-se árvores.
  • Se construam bibliotecas públicas.
  • Invista-se na preservação e restauração do meio-ambiente.
  • Invista-se em música clássica.
  • Invista-se em museus.
  • Leis como a "Cidade Limpa" devem ser aplicadas com rigor.
  • Que se controle a construção de novos arranha-céus em bairros antigos.
  • Que regiões decadentes, como o Centro de São Paulo, sejam revitalizadas.
  • Que os prédios construídos hoje possam ser mais altos.
  • Que os novos edifícios "conversem" com o passeio público, tendo comércio no térreo.
  • Criem-se jardins verticais.
  • Criem-se parques e praças públicas.
  • Se ensine ecologia e agricultura nas escolas.
  • Apoie-se hortas e pomares urbanos.
  • Deixem a cidade bela.
Essas medidas não deveriam ser de esquerda ou de direita, porém, que fique registrado, esses temas são pautas que a direita não toca, não leva em consideração e sequer reflete sobre elas. É um erro completo. Deixam a pauta urbanística nas mãos dos meta-capitalistas das grandes construtoras, que lucram horrores com a destruição da cidade (para que eles possam reconstrui-la sempre). A direita deveria (como já fez antes) defender e cultuar o passado, mas não liga para o patrimônio histórico e arquitetônico. Fala de preservar a civilização ocidental, mas não move uma palha para propor projetos que ampliem o acesso das pessoas à cultura clássica. Para a direita que aí está mais vale Gustavo Lima do que Mozart. Depois não reclamem que está tudo perdido. A esquerda e a direita se parecem mais do que gostam de admitir. Stálin construiu as mais belas estações metroferroviárias do mundo. Aqui o regime militar construiu estações de metrô parecidas com enormes galerias de esgoto. 

Diante de tudo, apelo aos membros da esquerda sensata, lutem para fazer conservadores e liberais a adotarem uma pauta urbanística humana e restauradora. E a direita, que se esforce em trazer a esquerda sensata para o centro político, para que ela possa apoiar uma pauta pró vida, anti-ludopatia (lobby da legalização da jogatina) e descentralizadora. No mais, o que não puder se conciliado, que baste.

Esses dois outros textos me parecem que se relacionam que este aqui.


quinta-feira, 8 de julho de 2010

Urbano e não urbano

No último dia 18 de junho eu completei vinte anos de idade, talvez bem vividos, ou não, até hoje nunca parei para fazer uma reflexão deste tipo, mas nestas minhas duas décadas de vida eu sempre senti certa atração pelos costumes e pela graça metropolitana, atração que talvez se justifique por sempre ter morado na cidade de São Paulo, e em especial no extremo sul da mesma.

Entretanto, não posso negar que tive e ainda tenho uma certa queda pelas paisagens rurais. Jamais esquecerei uma imagem que vi, certa vez há uns sete anos atrás quando passei em uma estrada deserta que ficava exatamente no meio de uma plantação de girassóis, lá pelas bandas que levam ao oeste do Estado Bandeirante, região de Itapetininga, Capão Bonito et al. Vivo, esperançoso e divino são os adjetivos que posso classificar aquilo, e algo que só posso ver longe da cidade grande, logo ela que também tanto me agrada.

Gostaria de não ter de abdicar na prática das duas faces.

O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...