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terça-feira, 18 de julho de 2023

Resenha: A Revolta dos Novos Farrapos, de Delmar Marques.





Um interessante livro. Um romance de história alternativa. Não conheço muitas obras desse feitio, tratando da realidade política, social e histórica do Brasil. Imagine que ali nos anos 80, na época da redemocratização, o clima político gerasse uma nova Farroupilha.

O cenário é bastante parecido com o que vivemos há mais de trinta anos. Aponto alguns elementos da paisagem que encontram total lastro na realidade. 

1. Greve de arrozeiros. 
2. Bloqueio de rodovias. 
3.Agitações militares. 
4. Greve de professores. 
5. Greve dos demais servidores.
6. Greve de celetistas. 
7. Invasão da assembleia legislativa e palácio do governo. 
8. Brigada militar aquartelada. 
9. Pessoas feridas por militares em manifestações. 
10. Mobilizações de sem terra. 
11. Inexistência de reforma agrária. 
12. Estações de rádio encampadas.
13. Discurso anti-mídia estrangeira. 
14. Formação de milícias civis. 
15. Empresário alemães gaúchos neonazistas!!! 
16. Cenas de flerte e lascívia entre um aspone e uma grevista. 
17. Falência das contas públicas. 
18. Explosão de bomba (ref. RioCentro).
19. O candidato da direita citado é um industrial Paulista. 
20. Expectativa por ação dos militares. 
21. Final com acordão político, embora com alterações no modelo legal/constitucional (ou seja, uma revolução que dá certo).

Todos esses 21 itens são factíveis com a realidade. É o que se vê acontecer na política desse país. Claro, há elementos aí que são absolutamente literários e servem para dar ares mais interessantes ao romance, como a presença de um espectro de industriais neonazistas gaúchos, que se reúnem de tempos em tempos para vestir suas velhas fardas pretas da época da II Guerra Mundial. Isso, claramente, é um elemento que não tem importância nenhuma na nossa política, mas, em se tratar da mente progressista, que vê fantasmas de fascistas e nazistas em toda a parte e que chama todos aqueles que são seus adversários políticos ou que apenas pensem diferente de fascistas, a presença desses personagens passageiros não chega a causar espanto. 

Se eu fosse da Rede Globo toparia filmar isso como minissérie. Teria apelo. Se bem que aqui o Brizola é personagem que passa discreto, mas está presente e a Globo odiava o "Brisa". Quer dizer, o Roberto Marinho. Essa Globo de hoje adora esquerdistas.

Há alusões em uma passagem que me lembram um livro que foi usado nas aulas de geografia da 7ª série, chamado A Invasão Cultural Norte Americana, da Júlia Falivene Alves. Aquele papo de Mcdonalds e Coca Cola, imperialismo cultural e etc. É a cara do discurso de quem frequentava o Fórum Social Mundial...

Mas, no fim, a nova Farroupilha consegue melhores condições para o Rio Grande num contexto constitucional de um federalismo político mais amplo ou de um estado autonômico. Não é recriada a República Rio-Grandense, como o leitor espera durante o livro. Seria um cenário divertido.

Eu gostaria de ver um desenlace como esse ocorrer. Uma revolta que proporcionasse um cenário de mais descentralização política e colocasse o governo federal de plantão de joelhos. Seria bom não só para o Rio Grande do Sul, mas para todos os estados da federação.


domingo, 30 de abril de 2023

Comentários sobre a obra VRIL - O poder da raça futura, de Bulwer-Lytton.

 A literatura está repleta de livros que dão asas à imaginação prodigiosa de autores que pensaram sociedades alternativas e utópicas, visões muitas vezes propositivas de seus ideários, mas ocultados e disfarçados sob o véu de obras de ficção. Reputo, por exemplo, A Máquina do Tempo, de H.G. Wells como um livro que se enquadra perfeitamente nesta categoria. São conhecidas as ligações do senhor Wells com sociedades políticas secretas socialistas, no caso a malfalada Sociedade Fabiana, que propunha um socialista reformista, lento e gradual. O símbolo dessa sociedade política era, aliás, uma tartaruga, para ilustrar que os seus membros não tinham pressa em alcançar os seus fins. Todo esse projeto de poder mundialista e globalista, que hoje é tema de discussões e chamado pela imprensa hegemônica de teoria da conspiração da ultra direita, no fundo, é a continuação das discussões iniciadas ainda no século XIX sobre alternativas socialistas para a construção de um mundo perfeito, que suplantasse a luta de classes por meio de reformas sociais-democratas.

Há literatura utópica que propõe um mundo, como um diagrama a ser seguido, como já citei "A Máquina do Tempo", mas poderia citar a Utopia, de Tomás Moro, livro ainda do século XVI, ou A Cidade do Sol, de Tomaso de Campanella. Há também livros que denunciam a degeneração da utopia, quando realizada, como é o famosíssimo caso de 1984, de George Orwell, que, sendo um socialista um pouco arrependido, após ver os caminhos que o socialismo real estava trilhando, denunciou a escravidão absoluta que o homem poderia estar submetido em um estado socialista totalitário. Precisamos reforçar sempre que todo estado totalitário moderno é sempre um estado socialista, por mais que venha a ter matizes diferentes. Há versões nacionais de socialismos. Há socialismos de empresários monopolistas, como é aquele proposto por grupos globalistas, que até apelidaram seu ideário mais recentemente de capitalismo (sic) de stakeholders. Aproveito para lembrar que a Revolução Russa foi totalmente financiada por banqueiros judeus americanos de Wall Street. Lembro também que todo desenvolvimento tecnológico feito pela União Soviética e pela China somente foi possível com a entrega de tecnologia por parte de países capitalistas ou o simples roubo dessas tecnologias. O socialismo não é criador nem multiplicador de riquezas e de tecnologias. Vejam a Cuba do século XXI, em que tal miséria vive, absolutamente isolada em seu socialismo autárquico, que mantém uma população completamente miserável e famélica. Cuba sem recursos doados pela URSS nunca conseguiu deixar de ser uma ilha-favela, pior e mais pobre do que muitas favelas brasileiras.

Contudo, me chamou a atenção uma obra de utopia não tão conhecida nem tão lida no Brasil, do autor esotérico Edward Bulwer-Lytton. Inglês do século XIX, lançou VRIL - O poder da raça futura sete anos após o livro mais famoso de Júlio Verne, Viagem ao Centro da Terra. Vril também se passa no centro do planeta Terra, que seria oco, fazendo referências claras à tradições religiosas e místicas orientais, como no budismo tibetano, que prega a existência de Agartha, uma cidade secreta no centro do planeta, somente acessada por pessoas especiais, a partir de caminhos ocultos e preservados por mestres tibetanos. Sobre Agartha, posso recomendar o livro do jornalista e escritor polaco Ferdynand Antoni Ossendovsky, Bestas, Homens e Deuses (traduzido e publicado em português). Ossendovsky nasceu em uma família polonesa abastada, tendo vivido na comunidade evangélica reformada polonesa (país majoritariamente católico) e viveu viajando pelo Oriente, onde entrou em contato com diversas narrativas e tradições religiosas e místicas. É considerado um dos grandes nomes da literatura de viagem. 

O personagem central da história, um humano que em algum local incerto e não sabido, no século XIX, adentrou uma antiga mina e perscrutando aquele ambiente acaba descobrindo uma fonte de luz muito incomum, nunca vista por ele, que lhe desperta a atenção, junto com um seu companheiro. Sendo atraídos pela curiosidade, atravessam em direção a essa luz dentro da caverna da mina e entram em um mundo novo, subterrâneo, mas iluminado e composto de paisagens naturais que, embora distintas das terráqueas, ainda assim lembram a superfície. Ao entrar em contato com os seres desse mundo, o personagem central descobre uma sociedade avançada, humanóide, que migrou para o centro da Terra após alguma catástrofe natural antediluviana, que fez com que progredissem muito e em ritmo diferente dos povos da superfície. (A imaginação do leitor que tem referências bíblicas não pode deixar de pensar que tais habitantes, bonitos, mais altos e alvos do que os homens da superfície, seriam néfilins, supostos híbridos entre as filhas dos homens e anjos caídos, como é citado no Antigo Testamento.)

Uma obra utópica serve precipuamente, ou deveria servir, para questionar a sociedade vigente. Pode servir como tema para discussão de qual caminho aquela sociedade pretende tomar e seguir ou ainda de quais decisões abortar, como é mais característicos em obras que denunciam o caráter totalitário de sociedades utópicas (as distopias, como 1984). No caso de Vril, a sociedade subterrânea é muito avançada tecnologicamente e também socialmente. É uma monarquia eletiva que elege um magistrado ilustrado que governo temporariamente aquela comunidade. A civilização subterrânea não padece de problemas sociais de nenhuma natureza. Não há problemas de natalidade, de desabastecimento de comida, de violência, de ocupação do território. Todas as comunidades são pequenas e quando o número de população de uma delas cresce em demasia, há um fluxo migratório para outras comunidades, de modo que as cidades são pequenas e perfeitamente se mantém em equilíbrio. Não há trabalho manual, no geral, pois as atividades do dia são realizadas por robôs autômatos. O próprio trabalho intelectual é basicamente desprezível, pois não há muito o que ser questionado ou repensado, já que há o domínio da energia do Vril, mais forte nas crianças e nas mulheres - em especial nas mulheres - afinal, essa sociedade perfeita do submundo é uma ginecocracia. Até a religião está pacificada. Todos creem em um ser supremo, uma divindade que dá a vida e a retira quando quer. Toda a crença religiosa é uniforme e pacificada. Não há discussão dogmática ou de natureza teológica, por absoluta falta de necessidade. Todo ordenamento socialmente está plenamente pacificado. Não há, essencialmente, discórdia.  Há ali paz e felicidades perpétuas. A compreensão e o entendimento são plenos, inclusive em temas como a morte ou o casamento e a reprodução. Entendo essa sociedade apresentada como uma representação idealizada do paraíso. É uma sociedade sem escassez. A economia é um detalhe administrativo, pois a energia do Vril e a tecnologia dão jeito de cuidar de tudo. Papéis etários e de gênero são diferentes. O casamento é no começo da adolescência e são as moças que escolhem os seus pares. Depois de casados, quando atingem a maturidade, a vida é só paciência e pacificação, na esperança do fim dos dias. O enrosco do personagem central se dá quando a jovem mais poderosa daquele reino decide escolher o forasteiro como o seu parceiro de casamento, algo que geraria um cruzamento genético espúrio e indesejado. 

Há como perceber na obra influências de ideias e correntes de pensamento da época, como do darwinismo (evolucionismo), diria eu também do positivismo comteano, conforme observamos essa sociedade harmoniosa, liderada por um magistrado absolutista e ilustrado, baseada em compreensão e em amor. Confesso que percebi menos referências esotéricas e ocultistas do que estava esperando, pela fama do livro e do autor. Sabemos que a palavra VRIL, entendida como uma energia vital, será tratada no decorrer do século XIX e começos do século XX com um sentido objetivo e real, não como fantasia. Max Heindel, um dos mais destacados líderes do Rosacrucianismo, enxergava o domínio da energia VRIL (ou desse-se a ela o nome que fosse) como a mais nova revolução científica que estaria no limiar. Suplantaria a revolução da energia mecânica, da máquina a vapor, da energia elétrica e do éter. 

Não pode deixar de comentar como a temática do VRIL me lembra de William Reich e do orgônio, suposta energia (de origem sexual) que ele conseguiria controlar por meio de técnicas e aparelhagem específica (caixas de Reich). Devo também lembrar que a canalização de energia sexual é tema recorrente em sociedades esotéricas, em círculos maçônicos e druídicos. Supostamente isso esteve presente nos círculos fechados do III Reich. Supostamente também Hitler teria lido esse livro de Bulwer-Lytton e se inspirado nela para pensar e formular determinados aspectos e políticas do estado alemão para o Reich de mil anos. Me parece bastante nebuloso determinar quais são os reais limites disso no campo real e no campo da fantasia e das ilações livres. Demandará uma pesquisa que talvez eu possa fazer futuramente, indo direto em fontes bibliográficas pouco exploradas no Brasil, traduzindo textos do alemão, sobretudo. 

A conclusão que chego é que muito ainda pode ser escrito sobre as utopias e as sociedades secretas e esotéricas. Considere-se sempre que toda a rápida mudança que nossa civilização tem atravessado desde o fim da II Guerra Mundial é o resultado de uma guerra oculta travada entre sociedades secretas e grupos de poder, no centro do capitalismo financeiro e do socialismo. A hibridização entre financeirismo, monopolismo e socialismo é o Godzilla que está para destruir o mundo. Há ainda o aspecto do milenarismo que deve sempre estar presente em todas as discussões e debates acerca desses temas. Acredito que as crenças heréticas milenaristas podem estar no centro do movimento histórico reformista e revolucionário, com uma matização nem sempre tão clara e nem sempre tão definitiva, mas, ainda que de maneira assessória, é um elemento que precisa sempre ser considerado na história dos movimentos políticos do Ocidente, desde a Baixa Idade Média, pelo menos.

Edward Bulwer-Lytton


sexta-feira, 14 de abril de 2023

Uma leitura pouco comum: resenha de "O Governo Mundial Secreto - A mão invisível".

 AUTOR: Conde Arthur Cherep-Spiridovich

TÍTULO COMPLETO: O Governo Mundial Secreto - A mão invisível: fatos não revelados na História. 100 "Mistérios" históricos explicados.

EDITORA: Adversum Editorial (de São Paulo).

ANO: 2016 (versão em português). Original: 1926 (USA).


Arthur Cherep-Spiridovich era um militar da marinha imperial russa, que se exilou nos Estados Unidos e passou sua vida na América promovendo a divulgação de seu pensamento político, que não era um composto de ideias isoladas e sem respaldo na interpretação de outras pessoas, sobretudo na Europa. A obra foi lançada num contexto posterior ao fim da Primeira Guerra Mundial, para um mundo novo que estava surgindo sobre os escombros de uma velha ordem de impérios plurinacionais que tinham acabado de se fragmentar em nações menores, dando vazão às aspirações nacionalistas e separatistas, como o Império Austro Húngaro, o Império Otomano, o Império Alemão e o Império Russo. O único império europeu clássico a sair íntegro da Primeira Guerra Mundial foi o Império Britânico. Nas linhas de "O Governo Mundial Secreto" nós podemos ter uma ideia dos meandros políticos e econômicos que basearam parte dos motivos desse conflito que sepultou a velha Europa.

Havia então uma série de ideias e movimentos brotando com força em várias nações, como o Pan Eslavismo, o Pan Germanismo, o socialismo que ganhava muito mais forças com a Revolução Bolchevique de 1917. Notamos e concordamos com o autor que não deve ser minimizada a presença de judeus na movimentação política dessa época. Compreendemos que a afirmação nacional que viria ocorrer no período, com o fortalecimento de estados nação modernos, vários deles republicanos, organizados sobre um texto constitucional, parlamentares, com sufrágio universal e muito nacionalismo nos campos cultural e mesmo linguístico (para não dizer também no campo étnico) não poderia deixar de ter problemas com grupos raciais que não faziam parte do corpo nacional, como é a presença dos judeus nos países onde vivem. Nunca deixam de ser judeus-israelitas que não se integram à sociedade de cada país, antes mantém-se coesos e separados decisivamente. Essa é uma característica marcante e histórica do povo judeu desde pelo menos a diáspora imposta pelas Legiões Romanas, no ano 70 d.C. ainda que hoje exista um país exclusivo para a existência e o governo dos judeus, criado às custas da expulsão dos Palestinos. Mesmo o Israel terrenal sendo recriado espuriamente em 1948, ainda desse modo os judeus mantém o mesmo modos operandi.

O livro é dividido em mais de cem pequenos capítulos, sendo que cada capítulo é a reprodução de um pequeno artigo típico de jornal, embora não tenha sido possível encontrar informações se todos os artigos tenham sido antes publicados em jornais dos Estados Unidos e da Europa, exceto aqueles que estão indicados nas notas de rodapé como tendo sido publicados em jornais. A tradução do livro carece de uma boa revisão, pois há inúmeros erros gramaticais em português. O trabalho de um revisor para uma futura reedição é indispensável.

Mas voltando ao tema conspiratório do livro, nos chama a atenção alguns enfoques que o autor dá, por exemplo ao citar sempre o judeu como um mongol-asiático, ainda que saibamos que o judeu é um povo semita, que apesar de sua mistura racial posterior com povos europeus e do centro da Ásia, sobretudo, ainda assim nos parece impróprio classificar o judeu como mongol. Contudo, o autor pode ter querido utilizar uma referência às invasões mongóis de Gêngis Kahn, provindas da Ásia, como sinal de barbarismo. Imagino que as referência sejam nesse sentido. 

O autor era membro da nobreza papal e não da nobreza russa, não sendo seu título equiparado no Império Russo dos Romanovs. Defendia a reunião dos cristãos do mundo como uma resposta ao governo tirânico dos 300 homens de famílias judias poderosas, que operavam nas sombras para destruir o mundo cristão. Há mesmo nesse livro a ideia de reunificar o catolicismo romano e o catolicismo ortodoxo. Não há referências em quantidade elogiosas ao protestantismo no livro, ainda que estivesse exilado o autor em país, na época, predominantemente evangélico (os Estados Unidos). A reunificação do cristianismo seria uma dura resposta para o projeto de poder globalista exercido por essas 300 pessoas de estirpe judaica, que por meio de seus golpes e artes bancárias controlavam governos, empresas e instituições, como a maçonaria. A família destacada centralmente em "O Governo Mundial Secreto" é a família Rothschild, que, sabidamente criou sua fortuna por meios sujos.

Em um certo sentido concordamos com o autor que uma maior reunião eclesiástica dos cristãos do mundo seria um choque para os projetos políticos anti-cristãos que vemos controlar a política dos séculos XX e XXI, que por meio da ONU e do Fórum Econômico Mundial de Davos e de suas fundações de bilionários promovem uma agenda absolutamente anticivilizatória e super-liberal em matéria de individualismo e moral. Cherep-Spiridovich esperava conscientizar os povos brancos para que com a reunião do cristianismo e a recristianização da política os povos arianos não perecessem nas garras israelitas. É um discurso que não pode ser chamado de nazista, porque precede em quase uma década o surgimento do nacional socialismo como ator político de primeira grandeza. 

Observamos também um patriotismo russo muito forte no livro, evidenciado pela ênfase que é dada nas qualidades dos Romanovs, apresentados como monarcas amplamente virtuosos, odiados pela "Mão Invisível" e pelo papel sempre positivo desempenhado pela Rússia na geopolítica europeia e americana, enfatizando a ação de fiel da balança da Marinha Imperial Russa na Guerra de Secessão dos Estados Unidos, que teria impedido a participação maior de tropas europeias em favor da Confederação. Em todas as questões os russos estavam do lado certo da política europeia, até que os desditosos bolcheviques chegaram ao poder. 

Há hipóteses que não podem ser provadas facilmente, como aquelas que o autor apresenta sobre Otto Von Bismarck ser judeu e descendente lateral da família Rothschild ou ainda Napoleão Bonaporte só ter conseguido subir ao poder militar e político graças ao dedo dos judeus Rothschilds que queriam colocar um monarca para chamar de seu e consolidar o processo revolucionário francês. Porém, o mesmo não pode ser afirmado sobre o primeiro ministro Benjamin Disraeli, cuja ação pró-Sião foi declarada e escancarada. Há sempre os que negam a ação política dos Rothschilds, qualificando-a sempre com o rótulo de "teoria da conspiração" para que as pessoas automaticamente não levem os fatos em consideração, isso que os "negacionistas" nem sempre estão nas folhas de pagamento ou endowment dos donos do mundo. 

Pessoas que buscam fontes alternativas de leitura dos fatos e movimentos históricos irão encontrar em "O Governo Mundial Secreto" um rico alimento de fontes e de bibliografia estrangeira para o tema do sionismo e conspirações. Já aqueles que tem interesse em compreender o fenômeno literário e historiográfico negativamente alcunhado de conspiracionismo ou conspirologia terão um manancial para reforçar os seus estudos e teses.



sábado, 23 de julho de 2022

A opção pela espada, de Pedro Marangoni.

 Ao ler o livro de Pedro Marangoni eu fiquei, não sei por quanto tempo, mais anticomunista. Nesta obra acompanhamos o relato de um homem que procurou viver a aventura de um cavaleiro andante na segunda metade do século XX, seu entusiasmo e coragem em enfrentar dois demônios, a decadência da civilização incompleta levada pelo europeu para a África e o imperialismo comunista de soviéticos e cubanos. 

Essa coragem só se vê como iniciativa particular. Não há governo sobre esta terra que incentive ou viva para defender a sua honra com a coragem que este bravo soldado demonstrou nas selvas de Moçambique, Angola e Rodésia. 

Aliás, foi a falta de coragem e a alta traição dentro dos países ocidentais que fizeram com que a África fosse entregue para os negros e comunistas. Portugal foi quem mais bravamente resistiu, junto com a África do Sul. A Inglaterra e a França perderam o brio do tempo em que realmente eram impérios globais. Comidos vivos pelos socialistas dentro de seus quintais, não podiam querer que os comunistas não tomassem as suas possessões ultramarinas. O mesmo ocorreu com Portugal, embora pouco mais tardiamente. 

Quantos milhões de europeus que construíam a civilização na África foram aniquilados em suas propriedades e vidas, em razão da dubieza dos governos de suas metrópoles? Conheço quem foi obrigado a emigrar de Moçambique, quando a revolução dos comunistas tomou o poder em Lourenço Marques. Pessoas que vivem aqui em São Paulo até hoje, mas, parecem que não aprenderam as lições da sedição vermelha, pois aqui votam fervorosamente no PT!

O Comunismo é a encarnação máxima do mal na política. O totalitarismo até pode ser o fenômeno, mas, decisivamente, é um fenômeno que só um agente pode provocar, o comunismo internacional. Sem ele, nenhuma outra manifestação reacionária ou responsiva de autoritarismo se faz necessária. O fogo se combate com fogo, é assim que se diz. 

Os poucos comunistas honestos são ignorantes. Essas pessoas que creem na descentralização, no controle do capitalismo e da exploração da miséria do homem, deveriam buscar uma nova filosofia de vida. Eu lhes aconselharia, primeiramente, uma revisão geral de valores à partir da ótica do Cristianismo social. Sem o Cristianismo não poderíamos estar falando sobre direitos humanos e liberdades civis. Sem o cristianismo, toda a liberdade é ceifada por completo. Ainda digo, como sistema econômico, essas pessoas poderiam se voltar ao ordoliberalismo, à democracia cristã, ao distributismo, de Hillaire Belloc e a doutrina social da Igreja Católica. Encontrarão muito mais solidariedade e irmandade nesse meio do que no demônio sedutor do comunismo.

Já com a esquerda puramente pragmática, que somente busca o poder pelo poder, maquiavélica, sádica, essa precisa ser dizimada e não pode haver com eles nenhum diálogo. No Brasil, a quase totalidade da esquerda se encontra nesse campo. Quem não cerra fileiras com eles, acaba no ostracismo. Alguém se lembra da meteórica senadora Heloísa Helena? Foi colocada de lado pela esquerda. De certa forma isso também é observado com Marina Silva. Elas abandonaram o que entendem ser a esquerda? Não creio, mas ainda assim hoje são inúteis ao bloco lulopetista que hegemoniza e hipinotiza a esquerda brazuca, já fazem muitas décadas.

Pedro Marangoni, que não sei se vive e como vive, o que pensará do que vê do mundo de hoje? Me parece que nos campos e selvas africanas o inimigo era mais nítido. Na vida em que temos hoje, no ocidente, o inimigo é turvo e difícil de ser identificado. É a Rússia e a China, o Islã ou o decadente moralmente Ocidente? Não sei se ele tem uma resposta mais decisiva para isso, pois eu não tenho.

domingo, 19 de novembro de 2017

RESENHA: J.J. Veiga "Sombras de Reis Barbudos"

Capa de uma edição antiga, do Círculo do Livro, de Sombras de Reis Barbudos. Na infância tivemos em casa um exemplar como esse por mutos anos, até que ele acabou sendo alvo de cupins e da chuva, se não me falha a memória. Foi para a doação ou para o lixo, não me recordo bem. Recentemente li esse livro, após encontra-lo em um espaço de compartilhamento de leitura de um parque público paulistano. Outra versão, também velhinha, sem capa, do Círculo do Livro. Vemos ai os muros e os urubus.

Diversos autores, ao longo da história, escreveram obras que tiveram como enfoque imediato a defesa da liberdade humana como valor fundamental e como princípio, que quando se faz ausente, mostra toda a sua necessidade para aqueles que passam a sofrer as privações advindas da tirania. José J. Veiga em "Sombras de Reis Barbudos" nos vem dar uma excelente demonstração de como a vida humana pode se tornar trágica em um ambiente onde a liberdade passa a ser constrangida.

Ambientada em alguma cidade do interior durante o período do Regime Militar, embora no livro não sejam citados nem o nome real da cidade (na ficção é Taitara) nem mesmo uma referência expressa sobre o período 1964-1985, podemos, no entanto, entender que a história se encaixa perfeitamente nesse contexto.

Lucas, um menino é o principal personagem e o narrador da história. Tudo ocorre quando uma grande firma chega na cidadezinha, trazida pela tio do garoto. Pela narração vemos o tipo do sujeito que saiu do rincão e foi pra cidade, onde prosperou no setor privado, voltando triunfante para sua terra, agora com os ares de novo e aclamado rei, atraindo a boa vontade e o entusiasmo de todos. A chegada da Companhia é acompanhada de entusiasmo geral, de uma perspectiva de crescimento e de prosperidade para todos, como podemos dizer que foi o período exatamente imediato ao golpe de 31 de Março de 1964, quando grande parte da população aplaudiu a ação tomada, a partir da cidade mineira de Juiz de Fora, pelo general Olympio Mourão Filho.

Passa-se um pouco de tempo e esse tio de sucesso, repentinamente, deixa a empresa e o interior, retornando para a capital, com a sua esposa. Nesse meio tempo, o pai do nosso protagonista e cunhado do executivo da empresa acaba sendo empregado pela firma e a expectativa na família é que assim como o tio que foi demitido que o patriarca também seria, mas, surpreendentemente, isso não ocorre e ele não só permanece empregado como também acaba ascendendo profissionalmente e se torna fiscal da companhia.

Durante a narrativa do livro fica demonstrado o papel especial que os fiscais da empresa tem na cidade. A alusão aos agentes fiscalizantes da lei, do mundo real, é visível. São aqueles que se põem em um pedestal para poderem, por meio da intimidação e da atemorização, obterem vantagens e favores sobre todos os demais. É o guarda, o bedel, o agente que recebe suborno, o policial que obtém facilidades de comerciantes ilicitamente. O pai do menino é o arquétipo disso tudo.

O tio exitoso sai de cena, doente, e a história passa a ficar centrada na família, com o pai fiscal, com o menino e com a mãe, preocupada com tudo o que se passa e hesitante com o futuro, mas que parece, durante toda a trama, sem autonomia, sem capacidade de ter ação própria.

Passa-se o tempo, o menino se torna mocinho e seu pai, após alcançar bons postos profissionais na firma acaba deixando o emprego por vontade própria, com o desejo manifesto de se tornar comerciante. Contudo, aquele que havia deixado o estamento burocrático passou a encontrar uma série de dificuldades para restabelecer a sua vida em uma nova dinâmica, afinal, a desconfiança da comunidade é visível com aquele que durante tantos anos foi o seu achacador-mór.

Temos aqui uma alusão clara daqueles que em tantas ocasiões, nos regimes autoritários do século XX, colaboraram com regimes de força, mas que em algum momento desertaram e tentaram encontrar um ponto de inflexão em suas vidas, abandonando as práticas violentas para buscar a realizar em uma vida simples e modesta. O escritor Flávio Gordon, em seu recente best-seller "A Corrupção da Inteligência" chamou isso de "Momento Kronstadt", apontando para uma importante revolta anti-bolchevique (a ideia de se remar contra a corrente da mentalidade revolucionária). Não mais tendo a força dos tempos em que era fiscal plenipotenciário da empresa, o Pai agora não tem a quem recorrer, até que é tragado pela mesma estrutura autoritária da qual fez parte e que ajudou a construir.

O cenário da cidade, com a chegada da Companhia, se transforma drasticamente, sendo cercada e dividida por altos muros, sobre os quais passam a se assentar urubus, que então se tornam elemento do convívio das famílias. Aquele que foi o sinal de mau agouro durante tantos anos passou a ser enquadrado nos moldes dos animais domésticos, como cães, gatos ou aves de gaiola. A presença dos muros, que passam a estabelecer limites claros na cidade, podem ser entendidos não apenas como uma referência à separação das pessoas, promovida pelo aparato tirânico, mas também como um instrumento da realidade de um mundo em processo de modernização, de individualismo, onde tudo passa a ser compartimentado e separado e o velho senso de comunidade acaba sendo perdido, incluindo o enfraquecimento das relações de vizinhança, tradicionalmente sempre muito presentes em todo o Brasil. Lembremos que o período em que, aparentemente, a obra se passa, é a época de modernização e grande surto de urbanização do país. Urbanização é modernidade e modernidade é separação, organização e individualização. Até os urubus, que haviam se convertido em bichos de estimação do povo, foram alvo da sanha burocratizadora dos fiscais da Companhia, que passaram a fiscalizar todos os animais que não fossem registrados e que não dispusessem de uma chapinha de identificação no pescoço.

O autor ainda, subliminarmente, denuncia a atividade restritiva do comércio, por parte das tiranias, que impedem que o Pai compre madeira em outra cidade, pois após retornar para o seu armazém em construção com as madeiras recém adquiridas fora do município, teve o seu carregamento apreendido pela Companhia, acabando por ser denunciado por contrabando sendo levado encarcerado pelos fiscais. Um fim sarcástico para alguém que por longos anos fez exatamente a mesma coisa com outras pessoas que ousavam viver livremente, mas sem se darem conta de que a sua liberdade ameaçava à tirania da Companhia.

Ao fim do livro um surpreendente desfecho: as pessoas começam a voar, para o total desespero da Companhia. A alegoria do voo faz alusão ao voo da imaginação e da individualidade, que não podem ser presas nem contidas por nenhuma autoridade desse mundo, a não ser que os indivíduos se deixem aprisionar pelos tiranos.

Acervo Estadão


REFERÊNCIAS: 

GOMES, Gínia Maria. Sombras dos reis barbudos: a representação alegórica da realidade. Porto Alegre: Revista eletrônica de crítica e teoria de literaturas - Nau literária. Vol. 01 N. 01 – jul/dez 2005 <acessado em 19/11/2017 http://seer.ufrgs.br/index.php/NauLiteraria/article/view/4830/2746>

GORDON, Flávio. A Corrupção da Inteligência. Rio de Janeiro: Editora Record, 2017.

VEIGA, José J. Sombras de Reis Barbudos. São Paulo: Círculo do Livro, 1973. 144 págs.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

A RENÚNCIA DE JÂNIO QUADROS E A CRISE PRÉ 64 – MONIZ BANDEIRA

Luiz Alberto Dias Lima de Vianna Moniz Bandeira, 2º Barão de São Marcos, o "nobre comunista".


A política brasileira até hoje ainda não ultrapassou a fase, onde nossos principais dirigentes públicos eleitos, são descendentes diretos da política que se formou durante o regime militar, cujo início data de 1964. Para compreender determinadas tomadas de posição de nossos políticos é necessário buscar na história desse período as determinações para esses posicionamentos.

A Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio foi um paradigma de grande vulto na história deste país. Após Getúlio, as políticas de assistencialismo e de paternalismo fizeram com que parte dos cidadãos, do eleitorado, tendessem a se voltar a um político de feitio populista, que com algum carisma, concedia alguns benefícios aos trabalhadores urbanos. Não necessariamente, essas políticas estavam associadas aos grupos que costumam a querer ser os monopolizadores da capacidade de se fazer ações que favoreçam a população, a esquerda política. Getúlio Vargas, por exemplo, não era um líder esquerdista, e nem mesmo costumou abrir muitas brechas para a ação desses grupos políticos, todavia, outros que se disseram continuadores das políticas varguistas, tais como Brizola ou João Goulart, não tivessem o mesmo comportamento.

Jânio da Silva Quadros, nascido no Mato Grosso do Sul, mas radicado em São Paulo, era um líder que tendia, em vários aspectos a se diferenciar do estilo getulista clássico, em suas políticas econômicas, sobretudo. Jânio tendia a ser, sob o ponto de vista da moralidade pública, mais conservador do que os grupos ligados ao PTB de Vargas e também do PSD. Embora sendo filiado ao PDC – Partido Democrata Cristão, uma pequena agremiação, Jânio possui forte ligação com a UDN – União Democrática Nacional, principal agrupamento político liberal-conservador anti-Getúlio, cuja figura de supremo destaque era o governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda. Com a vitória de Jânio em 1960, a UDN consegue uma vitória histórica.

Segundo a legislação vigente naquela época, a eleição do presidente e a do vice eram separadas, de modo que era possível eleger o presidente de uma legenda e o vice de outra. Jânio foi eleito presidente e João Goulart, ex-ministro do Trabalho de Getúlio Vargas, candidato do PTB, foi eleito vice. Era a dupla Jan-Jan. 

O livro de Moniz Bandeira parte do pressuposto, segundo aquilo que afirma o autor, de que o governo já nasceu sob as brumas da conspiração golpista, a ser dada por Jânio junto com as Forças Armadas e setores nacionais ligados ao capital estrangeiro e aos produtores rurais exportadores. 

João Goulart e o seu partido, o PTB, propugnavam a implantação das chamadas Reformas de Base, sendo as principais, a agrária, a da educação, a fiscal e a política. Segundo o que Bandeira afirma, as elites se preocupavam muito com esse discurso de Goulart e do PTB e por isso mesmo tenderam a apoiar Jânio. Se essas reformas de base fossem colocadas em prática, a questão da remessa de lucros das empresas multinacionais instaladas no Brasil seriam revistas, de modo que houvesse uma contenção no envio dessas divisas às sedes dessas multinacionais no exterior. A reforma agrária também, outro ponto nevrálgico das reformas janguistas-petebistas, atentaria diretamente contra a quase sacralidade existente em torno do direito à propriedade privada. Esses discursos apavoravam a grande parte das elites (como se dizia na época "as elites conservadoras").

Jânio, por sua vez, sob o ponto de vista econômico colocou em prática uma política de austeridade, sugerida pelo Fundo Monetário Internacional. Na política externa, tentou uma aproximação do Brasil com os países comunistas, como a China, Cuba e a União Soviética.  Uma de suas ações mais polêmicas foi a condecoração do líder revolucionário Ernesto Che Guevara. De acordo com Moniz Bandeira, essas atitudes de Jânio na política externa, visavam a tentar atrair para si, dentro do país, o apoio das forças políticas de esquerda, ao mesmo tempo em que economicamente cumpria a cartilha do FMI, o que agradava aos Estados Unidos e aos países a ele coligados, no âmbito da Guerra Fria.

Jânio também tinha a intenção de promover reformas no Brasil, sobretudo visando dar ao país mais competitividade, reduzindo a burocracia e a ineficiência estatal, mas essas políticas, por sua vez, não eram do agrado de políticos de esquerda, ligados ao PTB. Dessa forma, Jânio Quadros também se sentia amarrado para implantar essas reformas. Segundo o autor, Jânio almejava promover um golpe de estado, de modo a assumir com poderes extraordinários e então fazer as reformas desejadas. O tiro saiu pela culatra.
Jânio esperava sair como uma herói dessa jogada política, esperando ser conclamado pelos braços do povo a assumir de volta a presidência, tendo já os militares quebrando a ordem constitucional, entretanto a articulação que ele fez com os militares não foi feita de um modo favorável a Jânio. Os militares aquietaram-se e o presidente da Câmara Federal, Ranieri Mazzili tomou posse, até João Goulart que estava em viagem diplomática na China retornasse ao país e tomasse posse.

A Jânio restou voltar a São Paulo, sua terra, onde buscou forças para poder literalmente dar a volta por cima, mas com a instauração do Regime Militar em 31 de Março de 1964, políticos tradicionais foram enxotados pelos militares. Jânio, Juscelino, Adhemar de Barros, Carlos Lacerda e muitos outros tiveram que se aquietar de modo a evitar maiores problemas. Setores militares os enxergavam como parte do problema ao qual o Brasil havia chegado: a radicalização de discursos e práticas entre a esquerda e a direita, além do caos na vida pública nacional. Os militares se investiram a função de libertadores nacionais. Acho que não foram muito bem sucedidos nisso.

BANDEIRA, Moniz. A Renúncia de Jânio Quadros e a Crise pré-1964. São Paulo: Editora Brasiliense, 2ª edição, 1979.

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