segunda-feira, 31 de março de 2025
Uma historiografia das épocas
sábado, 16 de dezembro de 2023
Anotações sobre o pensamento autoritário no Brasil
E lembra que Benito Mussolini exprimiu uma vez, de modo lapidar, essa missão do estadista revolucionário, dizendo que "não bastava ter coragem para reformar, mas era preciso também a coragem de conservar".
O autoritarismo colocado em um local especial, divorciado do conservadorismo, pois, antes de tudo, carrega consigo um apelo francamente revolucionário. É uma posição que busca conciliar a preservação de aspectos do passado, impedindo a tomada do poder pela turba socialista e anarquista, ao mesmo tempo que propõe uma ruptura da dominação das estruturas do estado pelo grupos oligárquicos conservadores, que pretendem impedir mudanças modernizadoras, sobretudo na economia e nas relações de trabalho. Entendo que esse fenômeno é decorrente de uma sociedade industrial ou em industrialização, necessariamente urbana. É a resposta na tentativa de promover mudanças, conforme a nova realidade de proletários urbanos e industrialização, frente o desejo de imobilismo das classes conservadoras (agrárias e exportadoras) e a ânsia anárquica revolucionária dos comunistas, no século XX. Mudança com ordem, hierarquia e autoridade, provindas do estado, liderado por um chefe forte que encarne as necessidades pátrias. Essencialmente, me parece, um déspota esclarecido.
Um possível fato que me parece curioso e sobre o qual poderia ser feita uma pesquisa mais profunda, já na década de 1930 parecia que era algo asqueroso dizer-se simpático ou inspirado pelo fascismo italiano. Por mais que aproximações ou mesmo imitações de diversos aspectos do fascismo tenham ocorrido nos círculos de pensamento autoritário no Brasil via de regra não se lê que tal autor, abertamente, se dizia fascista. Isso entre os integralistas e também entre os demais autoritários não alinhados aos Camisas-Verdes, casos, por exemplo, de Afonso Arinos e Azevedo Amaral. O mesmo vai valer para os trabalhistas que daí acabam derivando, como Alberto Pasqualini. (Vide artigo)
quarta-feira, 23 de agosto de 2023
Oliveira Viana sobre a constituição de 1891. Alguns comentários.
Francisco José de Oliveria Viana foi um jurista, sociólogo e pensador fluminense, cuja relevância na discussão sobre o caráter da formação e constituição do Brasil não pode jamais ser diminuída. Está no mesmo patamar, embora seja menos lido e menos estudado, do que Sérgio Buarque de Hollanda ou Gilberto Freyre, ou ainda do ilustre Alfredo Ellis Júnior, esse ainda menos conhecido, lido e estudado.
"O Idealismo da Constituição" é apontado como um texto fundamental do autor para compreender sua análise sobre a república no Brasil. É um texto composto integralmente de críticas ao republicanismo no Brasil, à forma como ele foi adotado e, sem apontar para um modelo ideal, muito embora fosse O. Viana um monarquista.
Inicia comparando a fortaleza da formação e do preparo dos titulares do império, cuja política reunida na representação dos Partidos Liberal e Conservador eram muito superiores aos homens que vieram a fazer a república e a compôr a sua classe dirigente. Se há fraqueza nos representantes da república há fraqueza também no próprio modelo republicano, liberal, constitucional e federal que foi importado e aplicado aqui. Os vícios da república, cristalizados na constituição de 1891, são as cópias do modelos prontos do democracismo francês, do liberalismo inglês e do federalismo americano. Não é preciso dizer mais nada a respeito, é nítida a posição de completa oposição do autor ao novo regime e suas inspirações.
Oliveira Viana é um autor que raciocina em termos de elite e a coloca como sendo a força única capaz de conduzir um processo histórico, nunca a obra coletiva de uma classe social, senão de uma elite, um grupo de escol. Compartilhamos com ele essa mesma opinião.
Trazer para o Brasil os modelos políticos estrangeiros, que não seriam adaptados aos hábitos e costumes da população brasileira, nem próprios para sua formação, teria sido um erro. Trazer a democracia republicana que pressupunha um regime assentado sobre a formação de uma opinião pública em um país de analfabetos sem instituições que possam consubstanciar essa opinião pública é formalizar um grande faz de contas.
terça-feira, 18 de julho de 2023
Resenha: A Revolta dos Novos Farrapos, de Delmar Marques.
segunda-feira, 18 de abril de 2022
Paulo Mercadante
"Ao invés de considerar a sociedade e o Estado como resultante de relações contratuais, o romantismo os vê como unidade espiritual; prefere as mudanças imperceptíveis que se acumulam silenciosamente, repelindo as transformações violentas, provocadas pelas rebeliões; coloca a superioridade dos costumes como sedimentação da consciência à jurídica de um povo e em lugar de um Direito Natural comum a todas as épocas e a todas as latitudes estatui que todas as normas de comportamento se vinculam necessária e historicamente a cada nação".Paulo Mercadante, A Coerência das Incertezas.
quarta-feira, 21 de novembro de 2018
Há quatro anos
Em novembro de 2014 eu vi o prenúncio de uma nova era. A nova era da direita que hoje, plenipotenciária, ocupa as manchetes dos telejornais, com seu comandante supremo e inquestionável, Jair Bolsonaro, começou faz quatro anos.
Quando Dilma Rousseff venceu o segundo turno contra Aécio Neves algo novo se descortinou na política do Brasil. A primeira vitória da Nova Direita brasileira foi sobre os separatistas de São Paulo. Foi uma vitória da organização contra a desorganização. Uma vitória dos contatos sobre os passos em falso. Foi também uma vitória de Pirro da traição.
Naquele momento o lema era "ou a Dilma cai ou São Paulo sai". Méritos por esse lema ao senhor Paulo Batista, corretor de imóveis no interior de São Paulo e, naquele ano, candidato liberal derrotado ao parlamento paulista. Ele criou um mega evento no Facebook, prenunciando o poder que as redes sociais viriam a desempenhar nos quatro anos seguintes, que reuniu mais de um milhão de pessoas. A conclamação para ir às ruas se assentava sobre a ideia, mesmo que remota, da independência de São Paulo, diante de mais uma vitória petista ter sido obtida graças ao voto de cabresto do nordeste subdesenvolvido.
No dia daquela manifestação os separatistas foram traídos. Fomos traídos por que eu mesmo havia falado, por telefone, com o "raio privatizador", alinhavando o apoio separatista. Chegando ao ápice, ao dia da manifestação, o carro de som estava repleto de nacionalistas brasileiros, como Eduardo Bolsonaro (sendo franco, Eduardo me pareceu a figura mais sensata e honesta naquele momento), Bene Barbosa (odiento anti separatista), além do cantor e ex-cocainômano Lobão, recém convertido, à época, as hostes do olavismo cultural. Os separatistas foram proibidos de subir ao carro de som. Durante, a manifestação fomos hostilizados, não pelos populares, mas pelos bodes patriotas que estavam em evidência no caminhão.
Naquele dia muitas pessoas passaram a apoiar a causa paulista e deixaram de ser apenas direitistas.
Naquele momento ainda havia muita expectativa pelo bom desempenho que o derrotado Aécio havia tido na eleição. Pouco tempo depois ele haveria de ser esmagado por sua própria sujeira.
Naquele tempo o jornalista Reinaldo Azevedo ainda era um ícone da direita reacionária e hidrófoba. Hoje, num canto da Rede TV, é uma sombra do símbolo que foi. Tornou-se um mostruário do jornalismo mais escroto que há, que sobrevive do puxassaquismo dos donos do poder, especialmente do MDB.
Jair Bolsonaro já era uma figura em total ascensão na internet, que gestava a niobosfera, que dita a nova era dos dias de hoje.
Olavo de Carvalho, ideólogo geral da nova direita, já era esse elemento controverso, inteligente, maquiavélico e prepotente que é até hoje. Quem começou a conhecer o sujeito nos anos iniciais do True Outspeak sabe ver bem a decadência moral do sujeito, que de analista cáustico e coerente passou a tratar a todos que discordavam dele como sendo inimigos mortais.
A inteligentsia neo direitista ainda não trabalhava em emissoras de rádio, em jornais de grande circulação e não dava pitacos em emissoras de TV.
Luiz Felipe Pondé só era admirado por uma pequena quantidade de leitores que liam sobre "jantares inteligentes" na Folha. Ele ainda não havia sido deglutido pela esquerda pós moderna, que não havia compreendido o liberalismo do filósofo judeu-baiano.
2018 vai chegando ao fim e eu mesmo não acreditaria, se me contassem quatro anos atrás, que tudo isso iria acontecer. Como Chesterton falou, a única lei da história é o imprevisto. A direita hoje se prepara para assumir o controle do país. Será bom. Será bom por que, como separatista, sei que não há ideologia ou doutrina política que possa curar o Brasil. Quando os remédios da direita se provarem, não só ineficazes, como também nocivos, assim como os da esquerda, muita gente vai cair na real, vai aderir ao ceticismo que a causa paulista defende.
Ps.: Paulo Batista, que traiu os separatistas, de figura ascendente da política direitista de 2014, acabou sendo traído por seus pupilos, em especial Kim Kataguiri e cia, que fundaram naquele mesmo dia o MBL, chutando o traseiro de Batista para fora. Hoje Kim e seus parceiros estão eleitos, todos pelo DEM e Batista continua na internet, com menos importância do que tinha em 14. De traidor a traído, apenas um passo.
sábado, 9 de junho de 2018
Fundamentalismo político
Nossa república sempre será uma velha república
sexta-feira, 16 de março de 2018
1930, o Brasil aceitou o terceiro-mundismo
A proposta peerrepista era modernizadora, uma modernização de tipo diferente daquela que queriam Getúlio e os tenentes (focado na ação do estado). O caminho do atraso que persiste até hoje.
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
Arqueofilia, o amor ao passado
domingo, 11 de fevereiro de 2018
segunda-feira, 10 de julho de 2017
O real progresso
Hoje poucos pensadores seriam tão audazes a ponto de identificar o avanço material da civilização europeia moderna com o Progresso em seu sentido absoluto, pois agora nos damos conta de que a civilização pode prosperar externamente e dia após dia crescer mais e mais barulhenta e mais rica e autoconfiante, enquanto ao mesmo tempo apequena-se em vitalidade social e perde contato com suas tradições culturais mais altas.
sábado, 29 de dezembro de 2012
A Fraternidade Americana
A Ilusão Americana. Eduardo Prado, Editora Brasiliense, 1957.
"Pensamos que é tempo de reagir contra a insanidade da absoluta confraternização que se pretende impor entre o Brasil e a grande república anglo-saxônia, de que nos achamos separados, não só pela índole e pela língua como pela história e pelas tradições do nosso povo.O fato de os Estados Unidos e o Brasil se acharem no mesmo continente é um acidente geográfico ao qual seria pueril atribuir uma exagerada importância.Onde é que se foi descobrir na história que todas as nações de um mesmo continente devem ter o mesmo governo? E onde é que a história nos mostrou que essas nações têm por força de ser irmãs? Em plena Europa monárquica não existem a França e a Suíça republicanas? Que fraternidade há entre a França e a Alemanha, entre a Rússia e a Áustria, entre a Dinamarca e a Prússia? Não pertencem estas nações ao mesmo continente, não são próximas vizinhas, e deixam porventura de serem inimigas figadais?Pretender identificar o Brasil e os Estados Unidos, pela razão de serem do mesmo continente, é o mesmo que querer dar a Portugal as instituições da Suíça. porque ambos os países estão na Europa!A fraternidade é uma mentira.Tomemos as nações ibéricas da América.Há mais ódios, mais inimizades entre eles do que entre as nações da Europa.O México deprime, oprime e tem por vezes, invadido Guatemala, que tem sangrentíssimas guerras com a república do Salvador, inimiga rancorosa da Nicarágua, feroz adversária de Honduras, que não morre de amores pela república de Costa Rica. A embrulhada e horrível história de todas estas nações é um rio de sangue, é um contínuo morticínio. E onde fica a solidariedade americana, onde a confraternização das repúblicas?A Colômbia e Venezuela odeiam-se de morte. O Equador é vítima, nunca resignada, ora das violências colombianas, ora das pretensões do Peru. E o Peru? Já não assaltou a Bolívia, já não se uniu depois a ela numa guerra injustíssima ao Chile? E o Chile já não invadiu duas vezes a Bolívia e o Peru, não fez um horroroso morticínio de bolivianos e peruanos na última guerra, talvez a mais sangrenta deste século?E o Chile não tem somente estes inimigos: o seu grande adversário é a República Argentina. Este país, que tem usurpado territórios à Bolívia, obriga o Chile a conservar um exército numeroso, e ninguém ignora que um conflito entre aqueles países é uma catástrofe que, de um momento para outro, poderá rebentar. O ditador Francia, o verdugo taciturno do Paraguai, que Augusto Comte coloca entre os santos da humanidade venerados no calendário positivista, por ódio aos argentinos e aos outros povos americanos, enclausurou o seu país durante dezenas de anos.A República Argentina é a adversária nata do Paraguai. Lopez atacou-a, e ela secundou o Brasil na sua guerra contra o Paraguai. E que sentimento tem a República Argentina pelo Uruguai?Não há um só homem de estado argentino que não confesse que a suprema ambição do seu país é a reconstituição do antigo vice-reinado de Buenos Aires, pela conquista do Paraguai e do Uruguai.Eis aí a fraternidade Americana."
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Separatismo na Folha - II
09/05/1993 Primeiro Caderno - Página 4757907
TranscriçãoSe separatismo fere a Carta, Itamar tambémLUÍS FRANCISCO CARVALHO FºDa equipe de articulistasAo reprimir os separatistas do Sul do país, tentando enquadrá-los na Lei de Segurança Nacional, o governo Itamar revela desvio autoritário, desconhecimento da lei e falta de inteligência política.Os separatistas, por enquanto, são militantes folclóricos e sem notoriedade – ainda que eventualmente possam se revelar racistas, contra todos nós do Norte brasileiro. Se o governo levar adiante essa ideia do processo pode transformá-los em “mártires”.Mas isso é apenas um detalhe. É uma vergonha que a LSN ainda seja aplicada no Brasil. É uma vergonha que , a mando do ministro da Justiça, a Polícia Federal (que deveria se ocupar de outros tipos de delito), confunda livre manifestação do pensamento político com uma tentativa real de desmembramento do território.Por enquanto, são apenas bonés e faixas saudando um país formado pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Nada mais. Seria justo que por essa panfletagem ridícula e vesga, os militantes da “república dos Pampas” recebessem pena superior a que é prevista para quem se apoderar de aeronave “com emprego de violência”?Pois a pena prevista na LSN para quem “tentar desmembrar parte do território nacional” é de quatro a 12 anos de prisão, a mesma para quem “praticar sabotagem contra instalações militares”, enquanto que a pena para quem se apodera de um avião repleto de passageiros é de dois a dez anos.Se os separatistas ofendem a Constituição, o governo Itamar também, enquadrando-os na LSN. Em primeiro lugar, porque o dispositivo que pune a tentativa de desmembramento do território não é para quem manifesta a ideia, mas para quem tenta dividir o país à força.Os separatistas têm direito de se associar, de defender a convocação de um plebiscito para decidir o desmembramento e difundir o projeto. Da mesma maneira que os monarquistas querem o fim da república e outros loucos poderiam se reunir com a finalidade de acabar com o pacto da federação. Ou faz sentido reprimir, agora, a propaganda monarquista já que ela pode ser vista como “incitação da ordem pública”?O que se deve proibir é o ato de violência, é a organização paramilitar. Ao contrário do que pensa o ministro da Justiça, a Constituição assegura a plenitude de liberdade de manifestação do pensamento. E, com efeito, o país tem muitos problemas reais.APREENSÃO PROVOCA PROTESTODa Agência Folha, em Porto AlegreO presidente da ARI (Associação Riograndense de Imprensa), Antônio Firmo Gonzales, disse ontem tem entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre (RS), que a ameaça do Ministério das Comunicações de cassar a concessão da rádio Liberdade FM é um atentado contra a liberdade de opinião e de imprensa.Ontem o secretário de Fiscalização do Ministério das Comunicações, Hélio Matos, apreendeu fitas com a programação da rádio, acusa de promover o separatismo.A rádio Liberdade FM, de Viamão – na região Metropolitana de porto Alegre – continuava funcionando normalmente ontem pela manhã. A rádio toca música do folclore gaúcho e transmite textos sobre a história da Revolução Farroupilha.
sábado, 13 de agosto de 2011
Livro "Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai" de Júlio José Chiavenatto
sexta-feira, 25 de março de 2011
História: Paulista Tea Party
19 de março de 1964 - Marcha da Família com Deus pela Liberdade
A Marcha saiu da Praça da República ao som dos clarinetes dos Dragões da Força Pública, e chegou à Praça da Sé com os sinos de todas as igrejas repicando simultaneamente, enquanto a banda da Guarda Civil executava Paris Belfort, o hino da Revolução constitucionalista de 1932.
Falaram durante a concentração em frente à Igreja da Sé o Senador Auro de Moura Andrade, o deputado Herbert Levi, o Senador Padre Calazans, a Deputada Conceição da Costa Neves e outros oradores. O governador Carlos Lacerda, que assistiu a parte da concentração, disse que "São Paulo começou a salvar o Brasil".
O movimento era uma clara resposta às recentes decisões anunciadas pelo presidente João Goulart. São Paulo mostrava mais uma vez possuir um voto conservador.
Milhares de faixas conduzidas pelos manifestantes faziam alusão à integridade da Constituição, à democracia e às reformas, e combatiam o comunismo.
Nos cartazes portados pelos manifestantes, críticas diretas ao governo federal e até mesmo pedidos de impeachment a João Goular.
As principais faixas diziam: "Deputados patriotas, o povo está com vocês"; "Brizola: playboy de Copacabana"; "Reformas só dentro da Constituição"; "Basta de palhaçada, queremos Governo honesto"; "A melhor reforma é o respeito à lei"; "Senhora Aparecida iluminai os reacionários".
Essa demonstração de massa foi, a olhos militares, o aval definitivo para o golpe de 1964.
O aval que os militares precisavam
A Marcha foi uma resposta ágil e direta ao comício feito por João Goulart e os seus partidários na estação Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro.
Ele havia acabado de assinar o primeiro passo para a reforma agrária e o projeto que previa a encampação das refinarias particulares de petróleo. No palanque de 13 de março de 64, Miguel Arraes e Leonel Brizola também discursaram. Brizola foi o mais aplaudido.
Após deixar o governo, Jango exilou-se no Uruguai, e morreu na Argentina em 1976. Com o golpe de estado, os militares tomaram o poder e só o deixaram 21 anos depois.
Do blog "Hoje na História" no JB Online
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Bons tempos do PRP
Fazendo, caro leitor, uma brevíssima análise da maioria dos políticos que já vi neste Estado de São Paulo, vejo muito bem como uma mentalidade quase nacionalista foi sensivelmente alterada.
Nos anos 1920 tínhamos o bom, velho e falecido PRP – Partido Republicano Paulista – que realmente fazia certo eco ao pensamento de nossa elite econômica e intelectual, não de modo absoluto, mas fazia. Todo partido em toda época não é uno, e se for é sinal de sua pequenês física, portanto, é claro que nem todos do PRP eram verdadeiros estadistas, muito pelo contrário, isso dificilmente acontece.
Mas, ao que me parece, o senso comum dentro do partido foi que a autonomia do Estado de São Paulo deveria sempre ser preservada e isso veio já como um dos fundamentais pontos de sustentação ideológica prática deste partido, que foi o principal grupo articulador da proclamação da república no Brasil.
Permeado pela pura lógica liberal que enxiam os olhos de muitos, uma totalidade dentro do PRP, a visão de que o modelo norte-americano, capitalista (e que capitalismo, se comparado a hoje!), liberal e federalista era o ideal a ser aplicado a um país de dimensões enormes como as do grande irmão do norte. O partido levou o Brasil a uma época de relativa prosperidade econômica e social, mas potencializado proporcionalmente em São Paulo.
Quero me ater a um dos princípios citados: o federalismo. Sistema de organização das regiões de um país onde elas tem relativa autonomia em relação ao governo central do país (e não necessariamente nacional, pois nem todo país é constituido de uma só nação). O federalismo era e ainda é visto por muitos como o mais adequado modelo para o Brasil. Agora podes me perguntar: “O Brasil já é uma república federativa. Qual o motivo do choro então !?” A resposta é muito simples: o Brasil é uma federação somente no nome, pois na prática o país não passa de um rascunho ridículo da imagem ideal federalista. Aqui os estados estão totalmente amarrados a um exagero de leis que na prática encerram toda lógica federativa, como por exemplo a maior autonomia para a elaboração e execução de leis que se fazem necessárias a um estado e não a outro, a distribuição de recursos obrigatórios a certos setores da sociedade como a educação, que necessita ter no mínimo 25% do orçamento do ente (municipal, estadual ou federal), e a lei não prevê limite para cima, todavia menos do que os 25% nem pensar, mesmo que determinado estado não necessite aplicar 25% em educação.
Na época do PRP, o federalismo também não era pleno, mas tratava-se de uma aplicação muito mais fidedigna aos preceitos federalistas tradicionais, portanto a autonomia de São Paulo era muito maior do que é hoje. O atual sistema pseudo-federalista simplesmente acaba com a economia estadual, nos nivela por baixo com outros estados menores, com menor percentual de participação na economia do Brasil, fazendo assim que um habitante do Estado de São Paulo tenha o valor de seu trabalho reduzido a migalhas, e o pior de tudo: pouco se vê políticos que deveriam defender os interesses verdadeiros de São Paulo, dentre eles, ao meu ver, a autonomia do Estado dentro da federação, hoje pouco se lixam pela lamentável situação a qual fomos sistemáticamente submetidos desde o fim dos anos 1930. Não são todos mas a esmagadora maioria.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
As Cruzadas, a Jihad e certos professores
Percival Puggina
No email que me endereçou, a jovem estudante mostrava-se indignada com a Igreja por causa das Cruzadas. Fiquei pensando se respondia ou não. Afinal, de que adianta gastar meu latim com esse tipo de bobagem? Que poder teriam algumas palavras minhas contra a ação de um professor mal intencionado, o ano inteiro, dentro da sala de aulaDecidi por uma estratégia mais longa e retornei uma pergunta curta: "Teu professor, ao falar sobre as Cruzadas, mencionou alguma vez a palavra Jihad ou o expansionismo islâmico?" Ela me respondeu que nunca ouvira falar disso e se mostrou surpresa por eu saber que ela fora introduzida tema das Cruzadas por um professor. A menina deve ter me considerado um gênio...
Tem-se aí excelente exemplo de algo que já foi objeto de outros textos meus: a malícia de tantos professores que se valem da cadeira de História para seus fins ideológicos, usando o ataque insidioso à religião como meio para agir. Afastam os jovens da Igreja e da palavra de Deus e os introduzem, com gravíssimo prejuízo, nos ritos e devoções do materialismo, do marxismo e do relativismo. Daí para o hedonismo é um passo de dedo. Desmancham com os pés da mentira e da mistificação o que os pais tenham ensinado em casa. Espinafram a Igreja por causa das Cruzadas do século 12, mas jamais mencionam os cem milhões de mortos pelo comunismo no século passado. Decorrerão algumas décadas até que esses jovens, já maduros, percebam, na experiência da vida, o engodo a que foram conduzidos pelos falsos mestres. Quem não tem relatos semelhantes?
A primeira Cruzada iniciou no ano de 1096 e a nona terminou em 1272. A palavra refere, portanto, uma série de episódios que se encerraram há 738 anos, envolvendo a retomada de Jerusalém. Veja agora, leitor, se é possível falar honestamente sobre as Cruzadas sem mencionar a Jihad. Jerusalém, no início do século 7, integrava o Império Romano do Oriente, sob o domínio de Bizâncio. Era uma cidade cristã, portanto, até ser conquistada pelos sassânidas (persas) e, em seguida, pelos seguidores de Maomé. Este personagem surgira na cena histórica alguns anos antes, havia estabelecido as bases religiosas do Islã e dera início à Jihad e à Guerra Santa. Em apenas oito anos, formara um Estado árabe sob seu comando. Em 622, conquistara Iatrib (Medina), passando na espada os judeus da cidade. Em 630 retomara Meca, de onde fora expulso por suas ideias monoteístas. E morrera em 632. Seis anos mais tarde, seu sucessor Omar entrava em Jerusalém. Um século mais tarde, o Islã já estendia seus domínios sobre a Pérsia, a Palestina, boa parte do Império Bizantino, o norte da África, a Península Ibérica e atacava a Europa por vários flancos. É possível mencionar as Cruzadas, com seus episódios grotescos, e nada contar sobre isso?
Mas as coisas não pararam aí. Quando o Papa Urbano II, no concílio de Clermont-Ferrand (1095) convocou a Primeira Cruzada, Jerusalém havia sido tomada pelos otomanos, que instalaram um regime de intolerância à presença dos cristãos, até então respeitada nos termos ajustados com Bizâncio durante a conquista da cidade em 636. Clermont-Ferrand fica próxima ao centro geográfico da França. Pois enquanto ali se realizava o concílio, ainda fumegavam, no centro da atual Espanha, os destroços deixados pela guerra que retomara a região de Toledo para os cristãos e para o reino de Castela. Os muçulmanos estavam ali havia três séculos e levariam outros 400 anos para abandonar toda a península. Mas disso, nas aulas de história, fala-se pouco, muito pouco, quase nada. E quando se menciona a Tomada de Constantinopla, em 1453, o assunto é tratado como fato isolado, perfeitamente normal, e não como um ato de suprema violência e ganância imperial, geradora de um massacre que durou três dias e três noites, que coroou investidas iniciadas 800 anos antes e que encerrou mil anos de esplendor cristão naquela que foi a mais impressionante cidade de seu tempo! E nada, absolutamente nada se diz sobre o fato de que esse expansionismo, ainda insatisfeito, prosseguiu na direção oeste, sob o mesmo impulso, até a derrota final dos otomanos, diante dos muros de Viena, na batalha de 1683. Mas insistentes, violentas, conquistadoras e descabidas foram as Cruzadas...
Agora me responda o leitor: a derrota do grão-vizir Kara Mustafa Pasha em Viena decretou o fim das guerras santas? Encerravam-se, ali, as campanhas militares empreendidas pelos muitos impérios, dinastias, governos e províncias muçulmanas, ao longo desses mil anos iniciados com a Hégira e a tomada de Iatrib? Não, claro que não! O que são Al Qaeda, Hamas, Hizbolah, Fraternidade Islâmica e o amigo de Lula, Ahmadinejad, se não jihadistas que afirmam seguir as determinações de sua fé? Não eram jihadistas os tresloucados que se arremessaram contra as Torres Gêmeas? E se alguém, leitor, lhe opuser que Jihad, no sentido religioso, é coisa diversa, que designa uma conquista pessoal interior, de natureza espiritual, saiba que isso é sublime e verdadeiro. Como também é verdadeiro, sem ser sublime, que Maomé II estava tão a serviço de sua Jihad em versão violenta quanto quem, hoje, veste um colete de bombas ou faz explodir uma estação de metrô em Londres. A imensa maioria dos muçulmanos são amantes da paz e vivem sua religiosidade de um modo sereno e harmonioso com as demais crenças e religiões em seu entorno. No entanto, é a pequena minoria violenta que mais uma vez, neste momento, se expressa de modo assustador nas páginas da história.
Escrevo todas estas linhas, bem além do habitual nestes textos semanais, para destapar a imensa fraude praticada por tantos professores de história. Para desmerecer o Cristianismo e a Igreja, eles se fixam nos episódios das Cruzadas, como algo sem causa e com as terríveis consequências que apontam. Algumas aulas mais tarde, porém, tratam da Tomada de Constantinopla como fato isolado, sem origem que mereça menção e tendo como consequência as Grandes Navegações. Convenhamos!
Nota do autor: esta é a mensagem que estou enviando à jovem estudante mencionada nas primeiras linhas deste texto.
Mídia a mais
sábado, 17 de julho de 2010
Dando seguimento ao fetichismo
Já que gosta tanto de Simón Bolivar, bem que ele poderia se inspirar nesta frase de "El libertador" : "Somente a democracia, no meu conceito, é suscetível de uma liberdade absoluta"
É bom, de vez em quando, ver somente o lado bom das pessoas e tomar cuidado para não se idolatrar e adorar a quem não merece.
O paulistano eterno
Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...
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“A dimensão dramática da diferença é demonstrada no fato de que no início do século XIX a colônia espanhola dividia-se administrativamente e...