Mostrando postagens com marcador História. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador História. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 31 de março de 2025

Uma historiografia das épocas

Cada período escreve a sua história dando ênfase na inquietação daquele momento. A observação é do professor Hilário Franco Júnior, no livro A Idade Média, nascimento do Ocidente. Ele aponta: a pólis grega marcou com o aparecimento da história política; a idade média em seus mosteiros preparou as biografias de santos, as hagiografias; a afirmação dos estados e monarquias nacionais no século XVIII trouxe a história dinástica e nacional (comento: e o século XIX, antevendo a crise dessas monarquias, com o romantismo, buscou reforçar essa identidade nacional); por fim, no século XX de esperanças utópicas (socialistas e liberais-democráticas) o estudo da história das mentalidades. 

E a história do tempo presente, da geração do novo milênio? Me parece ser a geração da história da loucura, da desorientação planejada e mesmo da história da indecência. 

A linha de pesquisa do historiador é uma afirmação do seu entendimento final de sua época sobre si mesma ou sobre outro período. Como vivemos tempos anarquicos e dementes, somente uma historiografia da indecência e da loucura poderia ter voz forte. 

sábado, 16 de dezembro de 2023

Anotações sobre o pensamento autoritário no Brasil

 E lembra que Benito Mussolini exprimiu uma vez, de modo lapidar, essa missão do estadista revolucionário, dizendo que "não bastava ter coragem para reformar, mas era preciso também a coragem de conservar".

O autoritarismo colocado em um local especial, divorciado do conservadorismo, pois, antes de tudo, carrega consigo um apelo francamente revolucionário. É uma posição que busca conciliar a preservação de aspectos do passado, impedindo a tomada do poder pela turba socialista e anarquista, ao mesmo tempo que propõe uma ruptura da dominação das estruturas do estado pelo grupos oligárquicos conservadores, que pretendem impedir mudanças modernizadoras, sobretudo na economia e nas relações de trabalho. Entendo que esse fenômeno é decorrente de uma sociedade industrial ou em industrialização, necessariamente urbana. É a resposta na tentativa de promover mudanças, conforme a nova realidade de proletários urbanos e industrialização, frente o desejo de imobilismo das classes conservadoras (agrárias e exportadoras) e a ânsia anárquica revolucionária dos comunistas, no século XX. Mudança com ordem, hierarquia e autoridade, provindas do estado, liderado por um chefe forte que encarne as necessidades pátrias. Essencialmente, me parece, um déspota esclarecido.

Um possível fato que me parece curioso e sobre o qual poderia ser feita uma pesquisa mais profunda, já na década de 1930 parecia que era algo asqueroso dizer-se simpático ou inspirado pelo fascismo italiano. Por mais que aproximações ou mesmo imitações de diversos aspectos do fascismo tenham ocorrido nos círculos de pensamento autoritário no Brasil via de regra não se lê que tal autor, abertamente, se dizia fascista. Isso entre os integralistas e também entre os demais autoritários não alinhados aos Camisas-Verdes, casos, por exemplo, de Afonso Arinos e Azevedo Amaral. O mesmo vai valer para os trabalhistas que daí acabam derivando, como Alberto Pasqualini. (Vide artigo)

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Oliveira Viana sobre a constituição de 1891. Alguns comentários.

 Francisco José de Oliveria Viana foi um jurista, sociólogo e pensador fluminense, cuja relevância na discussão sobre o caráter da formação e constituição do Brasil não pode jamais ser diminuída. Está no mesmo patamar, embora seja menos lido e menos estudado, do que Sérgio Buarque de Hollanda ou Gilberto Freyre, ou ainda do ilustre Alfredo Ellis Júnior, esse ainda menos conhecido, lido e estudado. 

"O Idealismo da Constituição" é apontado como um texto fundamental do autor para compreender sua análise sobre a república no Brasil. É um texto composto integralmente de críticas ao republicanismo no Brasil, à forma como ele foi adotado e, sem apontar para um modelo ideal, muito embora fosse O. Viana um monarquista. 

Inicia comparando a fortaleza da formação e do preparo dos titulares do império, cuja política reunida na representação dos Partidos Liberal e Conservador eram muito superiores aos homens que vieram a fazer a república e a compôr a sua classe dirigente. Se há fraqueza nos representantes da república há fraqueza também no próprio modelo republicano, liberal, constitucional e federal que foi importado e aplicado aqui. Os vícios da república, cristalizados na constituição de 1891, são as cópias do modelos prontos do democracismo francês, do liberalismo inglês e do federalismo americano. Não é preciso dizer mais nada a respeito, é nítida a posição de completa oposição do autor ao novo regime e suas inspirações.

Oliveira Viana é um autor que raciocina em termos de elite e a coloca como sendo a força única capaz de conduzir um processo histórico, nunca a obra coletiva de uma classe social, senão de uma elite, um grupo de escol. Compartilhamos com ele essa mesma opinião.

Trazer para o Brasil os modelos políticos estrangeiros, que não seriam adaptados aos hábitos e costumes da população brasileira, nem próprios para sua formação, teria sido um erro. Trazer a democracia republicana que pressupunha um regime assentado sobre a formação de uma opinião pública em um país de analfabetos sem instituições que possam consubstanciar essa opinião pública é formalizar um grande faz de contas. 




terça-feira, 18 de julho de 2023

Resenha: A Revolta dos Novos Farrapos, de Delmar Marques.





Um interessante livro. Um romance de história alternativa. Não conheço muitas obras desse feitio, tratando da realidade política, social e histórica do Brasil. Imagine que ali nos anos 80, na época da redemocratização, o clima político gerasse uma nova Farroupilha.

O cenário é bastante parecido com o que vivemos há mais de trinta anos. Aponto alguns elementos da paisagem que encontram total lastro na realidade. 

1. Greve de arrozeiros. 
2. Bloqueio de rodovias. 
3.Agitações militares. 
4. Greve de professores. 
5. Greve dos demais servidores.
6. Greve de celetistas. 
7. Invasão da assembleia legislativa e palácio do governo. 
8. Brigada militar aquartelada. 
9. Pessoas feridas por militares em manifestações. 
10. Mobilizações de sem terra. 
11. Inexistência de reforma agrária. 
12. Estações de rádio encampadas.
13. Discurso anti-mídia estrangeira. 
14. Formação de milícias civis. 
15. Empresário alemães gaúchos neonazistas!!! 
16. Cenas de flerte e lascívia entre um aspone e uma grevista. 
17. Falência das contas públicas. 
18. Explosão de bomba (ref. RioCentro).
19. O candidato da direita citado é um industrial Paulista. 
20. Expectativa por ação dos militares. 
21. Final com acordão político, embora com alterações no modelo legal/constitucional (ou seja, uma revolução que dá certo).

Todos esses 21 itens são factíveis com a realidade. É o que se vê acontecer na política desse país. Claro, há elementos aí que são absolutamente literários e servem para dar ares mais interessantes ao romance, como a presença de um espectro de industriais neonazistas gaúchos, que se reúnem de tempos em tempos para vestir suas velhas fardas pretas da época da II Guerra Mundial. Isso, claramente, é um elemento que não tem importância nenhuma na nossa política, mas, em se tratar da mente progressista, que vê fantasmas de fascistas e nazistas em toda a parte e que chama todos aqueles que são seus adversários políticos ou que apenas pensem diferente de fascistas, a presença desses personagens passageiros não chega a causar espanto. 

Se eu fosse da Rede Globo toparia filmar isso como minissérie. Teria apelo. Se bem que aqui o Brizola é personagem que passa discreto, mas está presente e a Globo odiava o "Brisa". Quer dizer, o Roberto Marinho. Essa Globo de hoje adora esquerdistas.

Há alusões em uma passagem que me lembram um livro que foi usado nas aulas de geografia da 7ª série, chamado A Invasão Cultural Norte Americana, da Júlia Falivene Alves. Aquele papo de Mcdonalds e Coca Cola, imperialismo cultural e etc. É a cara do discurso de quem frequentava o Fórum Social Mundial...

Mas, no fim, a nova Farroupilha consegue melhores condições para o Rio Grande num contexto constitucional de um federalismo político mais amplo ou de um estado autonômico. Não é recriada a República Rio-Grandense, como o leitor espera durante o livro. Seria um cenário divertido.

Eu gostaria de ver um desenlace como esse ocorrer. Uma revolta que proporcionasse um cenário de mais descentralização política e colocasse o governo federal de plantão de joelhos. Seria bom não só para o Rio Grande do Sul, mas para todos os estados da federação.


segunda-feira, 18 de abril de 2022

Paulo Mercadante

 "Ao invés de considerar a sociedade e o Estado como resultante de relações contratuais, o romantismo os vê como unidade espiritual; prefere as mudanças imperceptíveis que se acumulam silenciosamente, repelindo as transformações violentas, provocadas pelas rebeliões; coloca a superioridade dos costumes como sedimentação da consciência à jurídica de um povo e em lugar de um Direito Natural comum a todas as épocas e a todas as latitudes estatui que todas as normas de comportamento se vinculam necessária e historicamente a cada nação". 
                                                                        Paulo Mercadante, A Coerência das Incertezas.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Há quatro anos

Em novembro de 2014 eu vi o prenúncio de uma nova era. A nova era da direita que hoje, plenipotenciária, ocupa as manchetes dos telejornais, com seu comandante supremo e inquestionável, Jair Bolsonaro, começou faz quatro anos.

Quando Dilma Rousseff venceu o segundo turno contra Aécio Neves algo novo se descortinou na política do Brasil. A primeira vitória da Nova Direita brasileira foi sobre os separatistas de São Paulo. Foi uma vitória da organização contra a desorganização. Uma vitória dos contatos sobre os passos em falso. Foi também uma vitória de Pirro da traição.

Naquele momento o lema era "ou a Dilma cai ou São Paulo sai". Méritos por esse lema ao senhor Paulo Batista, corretor de imóveis no interior de São Paulo e, naquele ano, candidato liberal derrotado ao parlamento paulista. Ele criou um mega evento no Facebook, prenunciando o poder que as redes sociais viriam a desempenhar nos quatro anos seguintes, que reuniu mais de um milhão de pessoas. A conclamação para ir às ruas se assentava sobre a ideia, mesmo que remota, da independência de São Paulo, diante de mais uma vitória petista ter sido obtida graças ao voto de cabresto do nordeste subdesenvolvido.

No dia daquela manifestação os separatistas foram traídos. Fomos traídos por que eu mesmo havia falado, por telefone, com o "raio privatizador", alinhavando o apoio separatista. Chegando ao ápice, ao dia da manifestação, o carro de som estava repleto de nacionalistas brasileiros, como Eduardo Bolsonaro (sendo franco, Eduardo me pareceu a figura mais sensata e honesta naquele momento), Bene Barbosa (odiento anti separatista), além do cantor e ex-cocainômano Lobão, recém convertido, à época, as hostes do olavismo cultural. Os separatistas foram proibidos de subir ao carro de som. Durante, a manifestação fomos hostilizados, não pelos populares, mas pelos bodes patriotas que estavam em evidência no caminhão.

Naquele dia muitas pessoas passaram a apoiar a causa paulista e deixaram de ser apenas direitistas.

Naquele momento ainda havia muita expectativa pelo bom desempenho que o derrotado Aécio havia tido na eleição. Pouco tempo depois ele haveria de ser esmagado por sua própria sujeira.

Naquele tempo o jornalista Reinaldo Azevedo ainda era um ícone da direita reacionária e hidrófoba. Hoje, num canto da Rede TV, é uma sombra do símbolo que foi. Tornou-se um mostruário do jornalismo mais escroto que há, que sobrevive do puxassaquismo dos donos do poder, especialmente do MDB.

Jair Bolsonaro já era uma figura em total ascensão na internet, que gestava a niobosfera, que dita a nova era dos dias de hoje.

Olavo de Carvalho, ideólogo geral da nova direita, já era esse elemento controverso, inteligente, maquiavélico e prepotente que é até hoje. Quem começou a conhecer o sujeito nos anos iniciais do True Outspeak sabe ver bem a decadência moral do sujeito, que de analista cáustico e coerente passou a tratar a todos que discordavam dele como sendo inimigos mortais.

A inteligentsia neo direitista ainda não trabalhava em emissoras de rádio, em jornais de grande circulação e não dava pitacos em emissoras de TV.

Luiz Felipe Pondé só era admirado por uma pequena quantidade de leitores que liam sobre "jantares inteligentes" na Folha. Ele ainda não havia sido deglutido pela esquerda pós moderna, que não havia compreendido o liberalismo do filósofo judeu-baiano.

2018 vai chegando ao fim e eu mesmo não acreditaria, se me contassem quatro anos atrás, que tudo isso iria acontecer. Como Chesterton falou, a única lei da história é o imprevisto. A direita hoje se prepara para assumir o controle do país. Será bom. Será bom por que, como separatista, sei que não há ideologia ou doutrina política que possa curar o Brasil. Quando os remédios da direita se provarem, não só ineficazes, como também nocivos, assim como os da esquerda, muita gente vai cair na real, vai aderir ao ceticismo que a causa paulista defende.

Ps.: Paulo Batista, que traiu os separatistas, de figura ascendente da política direitista de 2014, acabou sendo traído por seus pupilos, em especial Kim Kataguiri e cia, que fundaram naquele mesmo dia o MBL, chutando o traseiro de Batista para fora. Hoje Kim e seus parceiros estão eleitos, todos pelo DEM e Batista continua na internet, com menos importância do que tinha em 14. De traidor a traído, apenas um passo.

sábado, 9 de junho de 2018

Fundamentalismo político



A ideia de fundamentalismo foi colocada num limbo do vocabulário. Todo aquele que é classificado como fundamentalista passa a ser, automaticamente, um sujeito nocivo, violento, agressivo, retrógrado, reacionário, enfim, basicamente aquilo que o mundo moderno da política costuma classificar como um fascista. 

Contudo, o fundamentalista é aquele que busca agir com lealdade aos fundamentos que crê e defende. O antônimo de fundamentalismo seria, portanto, a maleabilidade, que deve ser entendida na política, em parte, não como uma virtude, mas antes como uma fraqueza. A história mostra também que os grupos políticos que ao longo do tempo foram vencedores sempre souberam se manter inamovíveis em seus ideais, abrindo mão de um ou outro ponto superficial em nome da defesa do que é essencial. São perfeitamente fundamentalistas nessa ótica. 

A política é feita com base em muitas técnicas de engenharia social, envolvendo a mídia, a educação pública, a intelectualidade, as instituições, enfim, a sociedade, sempre usando a manipulação como grande arma. Na esquerda e na direita, polos que na verdade não são opostos, antes complementares, temos exemplos para mostrar isso. 

O socialismo, colocado pela turba de vivandeiras alvoroçadas, como o grande satã a ser vencido, só pode existir por que contou antes com o trabalho frio de navio quebra-gelo do liberalismo, seu irmão um pouco mais velho, que fez o serviço sujo de limpar a estrada do antigo regime e das amarras da religião cristã que atrapalhavam o seguir do caminho da modernidade. Sem a religião e a hierarquia pela frente a tentação do super estado, da grande mente supra individual, capaz de tudo planejar e colocar cada coisa em seu lugar, criando o paraíso da equidade, se tornou muito mais palatável. 

O macarthismo foi a resposta mais grosseira e popular para um certo senso de repúdio que se via notar, no meio do século XX ao caminho progressivo ao socialismo e à centralização administrativa. Foi um fenômeno exclusivo dos EUA. No Brasil, os militares, que desde a segundo império passaram a seguir a doutrina positivista, onde se enxergavam como os máximos protetores do estado e da "unidade nacional", ocuparam o espaço que cabia para que naquele contexto se combatesse a ameaça comunista. 

Devemos ter cuidado com o que desejamos em matéria de política, pois na América o espírito de caça às bruxas do macarthismo permitiu que o estado violasse a privacidade de milhões de cidadãos, criando ainda uma paranoia social que ajudou a romper laços de sociabilidade históricos, já há muito sedimentados. Aqui nestas bandas o militarismo gerou gastos públicos e uma dívida impagável, além de inflação. Também enquanto, tanto aqui como nos EUA, se clamava por moralidade e bons costumes, a imoralidade cavalgava sem rédeas, ainda mais livremente, agora chancelada pelo estado de direito e pelas autoridades que juraram nos proteger dessa ameaça do comunismo ateu e imoral. A Educação pública fomentada pelos militares levou ideias artificias a frente, como o patriotismo e a brasilidade para milhões de pessoas, por meio de matérias como Organização Política e Social Brasileira, Educação Moral e Cívica e Estudos Sociais. A esquerda transformou esse culto a uma nação inexistente dos milicos em uma verdadeira idolatria do estado. A direita, no poder, faz tudo aquilo que a esquerda precisa para poder terminar seu serviço e para completar seu projeto anti civilização. 

O maior nome do socialismo no Brasil, Lula, sempre teceu comentários elogiosos ao presidente Médici e ao Regime Militar. Um dos maiores gurus econômicos do petismo foi o keynesiano e super ministro dos militares Delfim Neto. O PT foi fundado em um dos colégios mais chiques e elitizados de São Paulo, o Sion e teve o velado beneplácito de Golbery do Couto e Silva, que pretendia criar uma legenda de esquerda que jogasse o jogo da política sistêmica. O socialismo sempre foi uma doutrina de ricos querendo usar o estado a serviço de seus monopólios para poderem ficar ainda mais ricos. 

Existe a nação, a família e o indivíduo. Pátria e povo são conceitos ideológicos e artificiais para a manutenção do poder político e econômico. Todos os que agem, seja na academia, na midia, na política e nas instituições para preservar o estamento de poder atual agem no fundo com base em um fundamentalismo, na crença de que devem fazer quase tudo para estabelecer o vindouro reino de delícias infindas na terra, a que alguns chamam de comunismo, outros de economia de mercado, mas que no fundo é apenas um engano, pois é uma inversão das verdades eternas da religião revelada, que transferiu o Paraíso Celeste para a Terra. Para fugir dessa mentira bem contada não devemos olhar para a esquerda e nem para a direita, antes para cima.

Nossa república sempre será uma velha república

Não tenho medo de afirmar que desde os protestos de 2013 o Brasil não é o mesmo. Não estou aqui fazendo nenhum juízo de valor, antes atestando um fato. Não consigo, também, encontrar nenhum paralelo destes cinco anos com nenhum período da história republicana. Todavia, em grupos privados, tenho exposto o meu receio de que o momento que temos passado seja semelhante ao da Primeira República (1889-1930), quando chegava em seus estertores. Uma fração das elites brasileiras, naquele momento, achou por bem "fazer uma revolução antes que o povo a fizesse". 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, maior intelectual vivo dentro da esquerda nacional, já apontou para as circunstâncias em que passamos hoje serem aquelas típicas de momentos pré-revolucionários. Há que se lembrar ainda que o Brasil não passou por uma "revolução burguesa", como ocorreu na Europa e nos Estados Unidos. A Revolução (golpe) de 1930 foi tramado pelos militares em comunhão com uma elite dissidente, mas que compartilhava até então do poder e cujo projeto político em nada se diferenciava de seus adversários reais. Não havia uma burguesia para que uma revolução real ocorresse e, sendo assim, essa jamais de completou totalmente. 

Hoje, como na Primeira República, há suspeitas de fraudes eleitorais. Há também candidatos que procuram se mostrar como limpos e desligados das velhas e carcomidas elites tradicionais. Há também um certo histerismo com um fantasma sem contornos claros da esquerda. E, por fim, um senso de que é preciso "salvar a república". Essa é uma conversa antiga. A história se repetirá, mais uma vez, como farsa? Torço para que ela não se repita.

sexta-feira, 16 de março de 2018

1930, o Brasil aceitou o terceiro-mundismo

Em 1930, foi colocado fim na Primeira República, quando o dr. Júlio Prestes, eleito presidente foi impedido de assumir o cargo pelo golpe militar liderado por Getúlio Vargas.

A proposta peerrepista era modernizadora, uma modernização de tipo diferente daquela que queriam Getúlio e os tenentes (focado na ação do estado). O caminho do atraso que persiste até hoje.


segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Arqueofilia, o amor ao passado

Boa parte, de uns tempos para cá, eu passo boa parte do tempo no YouTube assistindo a entrevistas do programa do Jô Soares. Preferencialmente aquelas mais antigas, dos anos 1990 ainda no SBT.

Aquele cenário com a cidade ao fundo me é nostálgico. Minha memória está muito associada aos fins da noite, quando poucas vezes, quando criança assistia ao programa de entrevista do velho gordo. Poucas vezes por algumas razões, primeiro por que era exibido nas altas horas da noite, já adentrando a madrugada. Segundo, por que minha mãe, que é quem controlava a TV não simpatizava com o programa do Jô. Achava-o exibido. 

Mas aquele papo moderno, cosmopolita, que imitava o que se passava nos filmes e seriados americanos, me era muito atraente. 

Essas lembranças compõem o nosso imaginário, nossa memória visual e afetiva e auxiliam na construção de nossa própria personalidade. Penoso me seria perder a memória. Não saber quem se é seria a própria morte, a perda de toda a identidade e o completo deslocamento da existência material própria.

Por essas e por outras é que tenha tão acentuada tendência ao conservadorismo. É uma tentativa desesperada de poder parar o passar do tempo. É não querer, em pequena parte, encarar desafios desconhecidos, mas, sobretudo, do amor ao passado, o espírito de arqueofilia, que nos empurra para o passado, por que não podemos deixar de ser quem somos. No fundo, é a sobrevalorização do próprio ser.

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Hitler e Lênin

Foto de Hitler e Vladimir Lênin jogando xadrez.



Qual terá sido a razão desse encontro, além do jogo?

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O real progresso

Hoje poucos pensadores seriam tão audazes a ponto de identificar o avanço material da civilização europeia moderna com o Progresso em seu sentido absoluto, pois agora nos damos conta de que a civilização pode prosperar externamente e dia após dia crescer mais e mais barulhenta e mais rica e autoconfiante, enquanto ao mesmo tempo apequena-se em vitalidade social e perde contato com suas tradições culturais mais altas.

          Do livro Progresso e Religião, de Christopher Dawson.

sábado, 29 de dezembro de 2012

A Fraternidade Americana

A Ilusão Americana. Eduardo Prado, Editora Brasiliense, 1957.
"Pensamos que é tempo de reagir contra a insanidade da absoluta confraternização que se pretende impor entre o Brasil e a grande república anglo-saxônia, de que nos achamos separados, não só pela índole e pela língua como pela história e pelas tradições do nosso povo.
O fato de os Estados Unidos e o Brasil se acharem no mesmo continente é um acidente geográfico ao qual seria pueril atribuir uma exagerada importância.
Onde é que se foi descobrir na história que todas as nações de um mesmo continente devem ter o mesmo governo? E onde é que a história nos mostrou que essas nações têm por força de ser irmãs? Em plena Europa monárquica não existem a França e a Suíça republicanas? Que fraternidade há entre a França e a Alemanha, entre a Rússia e a Áustria, entre a Dinamarca e a Prússia? Não pertencem estas nações ao mesmo continente, não são próximas vizinhas, e deixam porventura de serem inimigas figadais?
Pretender identificar o Brasil e os Estados Unidos, pela razão de serem do mesmo continente, é o mesmo que querer dar a Portugal as instituições da Suíça. porque ambos os países estão na Europa!
A fraternidade é uma mentira.
Tomemos as nações ibéricas da América.
Há mais ódios, mais inimizades entre eles do que entre as nações da Europa.
O México deprime, oprime e tem por vezes, invadido Guatemala, que tem sangrentíssimas guerras com a república do Salvador, inimiga rancorosa da Nicarágua, feroz adversária de Honduras, que não morre de amores pela república de Costa Rica. A embrulhada e horrível história de todas estas nações é um rio de sangue, é um contínuo morticínio. E onde fica a solidariedade americana, onde a confraternização das repúblicas?
A Colômbia e Venezuela odeiam-se de morte. O Equador é vítima, nunca resignada, ora das violências colombianas, ora das pretensões do Peru. E o Peru? Já não assaltou a Bolívia, já não se uniu depois a ela numa guerra injustíssima ao Chile? E o Chile já não invadiu duas vezes a Bolívia e o Peru, não fez um horroroso morticínio de bolivianos e peruanos na última guerra, talvez a mais sangrenta deste século?
E o Chile não tem somente estes inimigos: o seu grande adversário é a República Argentina. Este país, que tem usurpado territórios à Bolívia, obriga o Chile a conservar um exército numeroso, e ninguém ignora que um conflito entre aqueles países é uma catástrofe que, de um momento para outro, poderá rebentar. O ditador Francia, o verdugo taciturno do Paraguai, que Augusto Comte coloca entre os santos da humanidade venerados no calendário positivista, por ódio aos argentinos e aos outros povos americanos, enclausurou o seu país durante dezenas de anos.
A República Argentina é a adversária nata do Paraguai. Lopez atacou-a, e ela secundou o Brasil na sua guerra contra o Paraguai. E que sentimento tem a República Argentina pelo Uruguai?
Não há um só homem de estado argentino que não confesse que a suprema ambição do seu país é a reconstituição do antigo vice-reinado de Buenos Aires, pela conquista do Paraguai e do Uruguai.
Eis aí a fraternidade Americana."

Comprei ontem este livro, edição de 1957 da Brasiliense, editora do comunista Caio Prado Jrº.O tema do antiamericanismo é recorrente em análises de vários autores brasileiros, como Vianna Moog e Gilberto Freire, que já observavam um sentimento esquizofrênico de antiamericanismo na intelectualidade brasileira. Em A Ilusão Americana, não é possível observar um componente de ódio oposicional aos Estados Unidos como vamos ver em outros livros e autores, como Nelson Werneck Sodré, Moniz Bandeira e vários, vários outros. Eduardo Prado pensava de forma objetiva quando analisava em panorama os fatos, de modo a amparar a tese da inexistência da fraternidade americana - entre os ibero-americanos - e pensava com tristeza por ter visto nos republicanos do Brasil procurarem em parte imitar o modelo constitucional americano - que segundo o autor, era inapropriada para este país.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Separatismo no Estadão em 1993

Opinião do militante e ideólogo da causa secessionista, o advogado e Constitucionalista João Nascimento Franco, que escreveu a principal "bíblia" do separatismo no Brasil: "Fundamentos do Separatismo", editora Pannartz.


  O ESTADO DE S. PAULO: PÁGINAS DA EDIÇÃO DE 09 DE Fevereiro DE 1993 - PAG. 3

Separatismo na Folha - II

09/05/1993 Primeiro Caderno - Página 4757907



Transcrição

Se separatismo fere a Carta, Itamar também
LUÍS FRANCISCO CARVALHO Fº
Da equipe de articulistas
Ao reprimir os separatistas do Sul do país, tentando enquadrá-los na Lei de Segurança Nacional, o governo Itamar revela desvio autoritário, desconhecimento da lei e falta de inteligência política.
Os separatistas, por enquanto, são militantes folclóricos e sem notoriedade – ainda que eventualmente possam se revelar racistas, contra todos nós do Norte brasileiro. Se o governo levar adiante essa ideia do processo pode transformá-los em “mártires”.
Mas isso é apenas um detalhe. É uma vergonha que a LSN ainda seja aplicada  no Brasil. É uma vergonha que , a mando do ministro da Justiça, a Polícia Federal (que deveria se ocupar de outros tipos de delito), confunda livre manifestação do pensamento político com uma tentativa real de desmembramento do território.
Por enquanto, são apenas bonés e faixas saudando um país formado pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Nada mais. Seria justo que por essa panfletagem ridícula e vesga, os militantes da “república dos Pampas” recebessem pena superior a que é prevista para quem se apoderar de aeronave “com emprego de violência”?
Pois a pena prevista na LSN para quem “tentar desmembrar parte do território nacional” é de quatro a 12 anos de prisão, a mesma para quem “praticar sabotagem contra instalações militares”, enquanto que a pena para quem se apodera de um avião repleto de passageiros é de dois a dez anos.
Se os separatistas ofendem a Constituição, o governo Itamar também, enquadrando-os na LSN. Em primeiro lugar, porque o dispositivo que pune a tentativa de desmembramento do território não é para quem manifesta a ideia, mas para quem tenta dividir o país à força.
Os separatistas têm direito de se associar, de defender a convocação de um plebiscito para decidir o desmembramento e difundir o projeto. Da mesma maneira que os monarquistas querem o fim da república e outros loucos poderiam se reunir com a finalidade de acabar com o pacto da federação. Ou faz sentido reprimir, agora, a propaganda monarquista já que ela pode ser vista como “incitação da ordem pública”?
O que se deve proibir é o ato de violência, é a organização paramilitar. Ao contrário do que pensa o ministro da Justiça, a Constituição assegura a plenitude de liberdade de manifestação do pensamento. E, com efeito, o país tem muitos problemas reais.
APREENSÃO PROVOCA PROTESTO
Da Agência Folha, em Porto Alegre
O presidente da ARI (Associação Riograndense de Imprensa), Antônio Firmo Gonzales, disse ontem tem entrevista à rádio Guaíba, de Porto Alegre (RS), que a ameaça do Ministério das Comunicações de cassar a concessão da rádio Liberdade FM é um atentado contra a liberdade de opinião e de imprensa.
Ontem o secretário de Fiscalização do Ministério das Comunicações, Hélio Matos, apreendeu fitas com a programação da rádio, acusa de promover o separatismo.
A rádio Liberdade FM, de Viamão – na região Metropolitana de porto Alegre – continuava funcionando normalmente ontem pela manhã. A rádio toca música do folclore gaúcho e transmite textos sobre a história da Revolução Farroupilha.

sábado, 13 de agosto de 2011

Livro "Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai" de Júlio José Chiavenatto

CHIAVENATTO, Júlio José. Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai. São Paulo/SP; Círculo do Livro, s/d.

O livro "Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai" do jornalista paulista Júlio José Chiavenatto trata, sobretudo, dos bastidores políticos e econômicos que envolveram este conflito (a Guerra do Paraguai) o maior já travado em todo o continente americano.

Publicado na década de 1970, onde no Brasil vigorava, em plena força, o regime militar, o livro traz também uma visão que não foi bem vista oficialmente por setores ditos "nacionalistas" do governo da época.

O Brasil viveu, desde a proclamação da República, alguns períodos de governos autoritários. Foi assim com os primeiros presidentes, do período chamado "República das Espadas"; posteriormente a uma fase de maior abertura e "democracia" até 1930, quando outro estilo de governo autoritário (mais duro e repressivo do que o primeiro modelo) tomou o poder, agora mais centrado na figura do presidente, papel ocupado então por Getúlio Vargas. Após idas e vindas e o definitivo fim da Era Vargas, um breve período de eleições minimamente livres se seguiu até o ano de 1964, quando os militares, frente a um quadro de completa, total instabilidade política, institucional, risco de ascensão de um governo socialista-populista, assumiram o poder. Eles, os militares, somente largariam o poder em 1984, vinte anos depois.

Em comum a todos o governos democráticos ou autoritários existe a forma de se lidar com a história oficial, ou seja, a versão oficial dos fatos. Vemos que até nossos últimos presidentes ainda se recusam a liberar para consulta pública vários documentos oficiais, que estão em sigilo, tolhendo parte do direito de informação garantido à população do Brasil.

O medo, parece-me, é de que o governo brasileiro tem receio de trazer a público documentos que mostrem papéis que o país já desempenhou e que hoje tenta esquecer e esconder, por não os considerar muito "limpos". Dentre esta gama de episódios históricos se encontra a Guerra do Paraguai.

O mérito de Chiavenatto se dá pelo fato de ter trazido uma versão menos heroica e oficial da Guerra do Paraguai. Ele não foi o primeiro a fazer tal serviço, várias são as publicações que tratam do assunto, inclusive publicações de ex-combatentes, mas estas acabaram sendo postas de lado durante muito tempo, não pela falta de qualidade, mas pelo conteúdo não ser o mais "agradável" e plenamente sustentado pela versão brasileira. Mostrar algumas atrocidades cometidas pelas Forças Militares do Brasil, um país que sempre se gabou de ser extremamente pacífico, não era coisa do agrado, bem como, mostrar outras facetas de pessoas públicas que se tornaram heróis oficiais, "os grandes da nação" (Dom Pedro II, Duque de Caxias, General Osório). Outro, e talvez o principal serviço que este livro traz seja o de tentar mostrar uma visão que seria um pouco mais realista, onde, maniqueisticamente, o Paraguai não é visto como o grande vilão da história, mas exatamente o contrário.

Dividido em capítulos breves e em subcapítulos mais breves ainda – o que facilita a leitura – traz no começo uma apresentação do Paraguai, o que aliás é bastante reforçado pelo autor. O país até o momento em que se travou o sangrento conflito contra a Tríplice Aliança havia tido apenas três presidentes (Francia, Carlos Lopéz e Francisco Solano Lopéz) e todos dirigiram o país com punhos de aço, que caracterizaram no Paraguai um modelo ímpar de regime político nas Américas daquele tempo.

Todos os três presidentes tiveram, de forma geral, uma linha mestra de conduzir o país: perseguindo a mídia e a grande burguesia nacional, os grandes proprietários de terras até que estes praticamente se extinguissem. No Paraguai foi feita uma espécie de reforma agrária, onde os camponeses sem terra começaram a trabalhar nas chamadas "Estâncias da Pátria", fazendas estatais, que produziam grande parte dos produtos agrícolas do país. Também no Paraguai, a base de muito custo e sacrifício desenvolvia-se uma indústria que mostrava sinais de pujança, totalmente nacional, sem a presença maciça de capital estrangeiro, sobretudo o inglês.

No Paraguai havia então níveis de desenvolvimento humano muito superiores aos de todos os países sul-americanos, que, à época, se mantinham economicamente a base de exportações de matérias primas para a Europa e de comprar quase todos os produtos industrializados no exterior. Com mão de obra em grande parte sustentada pelos braços escravos dos negros, ainda se trazia para a América diversos serviços prestados pelas companhias europeias, como iluminação e calefação, gás e transportes. No Paraguai o cenário era muito diferente deste.

Francía, primeiro presidente paraguaio vislumbrava que seu país somente iria para frente caso tivesse uma política econômica voltada para o povo, contra os grandes fazendeiros e comerciantes, que constituíam uma elite predatória, não comprometida com o futuro e o desenvolvimento da nação guarani. Este ideal foi seguido pelos outros dois presidentes que se sucederam a Francía, o pai, Carlos Lopéz e o filho, Francisco Solano Lopéz.

O Paraguai, através de seus governantes, quando se sentia prejudicado em alguma negociação ou serviço adquirido de outra nação não pestanejava e lutava por seus direitos e pela legalidade nas negociações e contratos. Nessa lógica, a industrialização paraguaia começou a deixar temerosa a maior potência econômica e militar da época, a Inglaterra.

Chiavenatto mostra-nos que a Inglaterra tinha receio de que o exemplo de independência plena do Paraguai acabasse sendo seguido por outros países da região e com isso a "Terra da Rainha" perdesse mercados consumidores de seus serviços e produtos, além de, automaticamente, ganhar novos concorrentes. De fato o Paraguai não era o melhor exemplo de subserviência a interesses que não fossem aqueles imediatamente mais altos à nação.

Segundo o autor, a Inglaterra seria a grande incentivadora da guerra, sendo seus representantes países que lhe eram aliados e a ela ligados pelos vultuosos empréstimos que contraiam há tempos. Nesta lógica, Argentina, Brasil e de contrapeso o Uruguai seriam meras buchas de canhão do "imperialismo" inglês.

Alguns historiadores criticam este livro por ele, de certa forma, excluir dos motivos básicos para a Guerra os problemas que diziam respeito unicamente aos países diretamente beligerantes. De fato, isso é muito notório no livro, Júlio José Chiavenatto passa boa parte do livro tentando provar por A+B que a Inglaterra foi a grande responsável por tudo.

Ponto positivo a destacar é a relativização que o autor faz. O Paraguai, país governado por presidentes que, embora ditadores, fizeram o país alcançar altíssimos níveis sociais, ao contrário de todos os seus vizinhos. Parece-me, Chiavenatto não diz isso textualmente, que ele mesmo tem essa sensação, aliás da qual também partilho, de que não restam dúvidas de que o governo forte do Paraguai foi muito melhor para aquele país do qualquer outro que tenha vindo depois .

A desmistificação de Solano Lopéz, presidente paraguaio durante o período da guerra, que era apresentado à época no Brasil como um tirano assassino, conquistar implacável, o "Átila das Américas", mostrando que ele era um homem com virtudes e com defeitos, assim como todos nós, e não somente um monstro feito apenas de maldades, que não tinha em seus planos para o Paraguai nenhuma política expansionista, e que tão somente buscava o bem do Paraguai e o equilíbrio na Bacia do Prata, necessária ao desenvolvimento guarani.

Como disse também anteriormente, importante também é a desmistificação do papel de eterno "mocinho" da história que o Brasil acaba reivindicando e mesmo levando. Este país matou muita gente covardemente, e nisto se inclua velhos, mulheres e sobretudo crianças. Quase a totalidade (mais de 90% dos) dos homens paraguaios foram mortos neste conflito. Que nos diga Acosta Ñu!

O livro tem um estilo bastante corrido, ilustrativo, jornalístico simplesmente, mas é muitíssimo bem amparado em documentos e fontes de época. Muitos dos fatos em "Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai" tem provas documentais. O tamanho do livro (224 páginas) também ajuda a leitura, que poderia, sem nenhum problema, ser realizada por alunos do ensino médio.

Sem dúvida trata-se de um livro polêmico, que contraria muitos interesses, mas cuja leitura é importante para que o reflexivo contraponto, extremamente necessários a todos os cidadãos e mais ainda a historiadores, seja realizado.
***
Júlio César Dos Santos Bueno. Aluno de história do 4º Semestre - Centro Universitário Sant' Anna. Agosto/2011. São Paulo/SP

sexta-feira, 25 de março de 2011

História: Paulista Tea Party

19 de março de 1964 - Marcha da Família com Deus pela Liberdade

Na capital paulista, 500 mil pessoas participaram da Marcha da Família com Deus pela Liberdade em defesa da Constituição e das instituições democráticas brasileiras e de repúdio ao comunismo.
A Marcha saiu da Praça da República ao som dos clarinetes dos Dragões da Força Pública, e chegou à Praça da Sé com os sinos de todas as igrejas repicando simultaneamente, enquanto a banda da Guarda Civil executava Paris Belfort, o hino da Revolução constitucionalista de 1932.

Falaram durante a concentração em frente à Igreja da Sé o Senador Auro de Moura Andrade, o deputado Herbert Levi, o Senador Padre Calazans, a Deputada Conceição da Costa Neves e outros oradores. O governador Carlos Lacerda, que assistiu a parte da concentração, disse que "São Paulo começou a salvar o Brasil".

O movimento era uma clara resposta às recentes decisões anunciadas pelo presidente João Goulart. São Paulo mostrava mais uma vez possuir um voto conservador.

Milhares de faixas conduzidas pelos manifestantes faziam alusão à integridade da Constituição, à democracia e às reformas, e combatiam o comunismo.

Nos cartazes portados pelos manifestantes, críticas diretas ao governo federal e até mesmo pedidos de impeachment a João Goular.

As principais faixas diziam: "Deputados patriotas, o povo está com vocês"; "Brizola: playboy de Copacabana"; "Reformas só dentro da Constituição"; "Basta de palhaçada, queremos Governo honesto"; "A melhor reforma é o respeito à lei"; "Senhora Aparecida iluminai os reacionários".

Essa demonstração de massa foi, a olhos militares, o aval definitivo para o golpe de 1964.


O aval que os militares precisavam

A Marcha foi uma resposta ágil e direta ao comício feito por João Goulart e os seus partidários na estação Central do Brasil, no centro do Rio de Janeiro.

Ele havia acabado de assinar o primeiro passo para a reforma agrária e o projeto que previa a encampação das refinarias particulares de petróleo. No palanque de 13 de março de 64, Miguel Arraes e Leonel Brizola também discursaram. Brizola foi o mais aplaudido.

Após deixar o governo, Jango exilou-se no Uruguai, e morreu na Argentina em 1976. Com o golpe de estado, os militares tomaram o poder e só o deixaram 21 anos depois.

Do blog "Hoje na História" no JB Online

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Bons tempos do PRP


Fazendo, caro leitor, uma brevíssima análise da maioria dos políticos que já vi neste Estado de São Paulo, vejo muito bem como uma mentalidade quase nacionalista foi sensivelmente alterada.

Nos anos 1920 tínhamos o bom, velho e falecido PRP – Partido Republicano Paulista – que realmente fazia certo eco ao pensamento de nossa elite econômica e intelectual, não de modo absoluto, mas fazia. Todo partido em toda época não é uno, e se for é sinal de sua pequenês física, portanto, é claro que nem todos do PRP eram verdadeiros estadistas, muito pelo contrário, isso dificilmente acontece.

Mas, ao que me parece, o senso comum dentro do partido foi que a autonomia do Estado de São Paulo deveria sempre ser preservada e isso veio já como um dos fundamentais pontos de sustentação ideológica prática deste partido, que foi o principal grupo articulador da proclamação da república no Brasil.

Permeado pela pura lógica liberal que enxiam os olhos de muitos, uma totalidade dentro do PRP, a visão de que o modelo norte-americano, capitalista (e que capitalismo, se comparado a hoje!), liberal e federalista era o ideal a ser aplicado a um país de dimensões enormes como as do grande irmão do norte. O partido levou o Brasil a uma época de relativa prosperidade econômica e social, mas potencializado proporcionalmente em São Paulo.

Quero me ater a um dos princípios citados: o federalismo. Sistema de organização das regiões de um país onde elas tem relativa autonomia em relação ao governo central do país (e não necessariamente nacional, pois nem todo país é constituido de uma só nação). O federalismo era e ainda é visto por muitos como o mais adequado modelo para o Brasil. Agora podes me perguntar: “O Brasil já é uma república federativa. Qual o motivo do choro então !?” A resposta é muito simples: o Brasil é uma federação somente no nome, pois na prática o país não passa de um rascunho ridículo da imagem ideal federalista. Aqui os estados estão totalmente amarrados a um exagero de leis que na prática encerram toda lógica federativa, como por exemplo a maior autonomia para a elaboração e execução de leis que se fazem necessárias a um estado e não a outro, a distribuição de recursos obrigatórios a certos setores da sociedade como a educação, que necessita ter no mínimo 25% do orçamento do ente (municipal, estadual ou federal), e a lei não prevê limite para cima, todavia menos do que os 25% nem pensar, mesmo que determinado estado não necessite aplicar 25% em educação.

Na época do PRP, o federalismo também não era pleno, mas tratava-se de uma aplicação muito mais fidedigna aos preceitos federalistas tradicionais, portanto a autonomia de São Paulo era muito maior do que é hoje. O atual sistema pseudo-federalista simplesmente acaba com a economia estadual, nos nivela por baixo com outros estados menores, com menor percentual de participação na economia do Brasil, fazendo assim que um habitante do Estado de São Paulo tenha o valor de seu trabalho reduzido a migalhas, e o pior de tudo: pouco se vê políticos que deveriam defender os interesses verdadeiros de São Paulo, dentre eles, ao meu ver, a autonomia do Estado dentro da federação, hoje pouco se lixam pela lamentável situação a qual fomos sistemáticamente submetidos desde o fim dos anos 1930. Não são todos mas a esmagadora maioria.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

As Cruzadas, a Jihad e certos professores

Ótimo texto.


Percival Puggina
No email que me endereçou, a jovem estudante mostrava-se indignada com a Igreja por causa das Cruzadas. Fiquei pensando se respondia ou não. Afinal, de que adianta gastar meu latim com esse tipo de bobagem? Que poder teriam algumas palavras minhas contra a ação de um professor mal intencionado, o ano inteiro, dentro da sala de aulaDecidi por uma estratégia mais longa e retornei uma pergunta curta: "Teu professor, ao falar sobre as Cruzadas, mencionou alguma vez a palavra Jihad ou o expansionismo islâmico?" Ela me respondeu que nunca ouvira falar disso e se mostrou surpresa por eu saber que ela fora introduzida  tema das Cruzadas por um professor. A menina deve ter me considerado um gênio...
Tem-se aí excelente exemplo de algo que já foi objeto de outros textos meus: a malícia de tantos professores que se valem da cadeira de História para seus fins ideológicos, usando o ataque insidioso à religião como meio para agir. Afastam os jovens da Igreja e da palavra de Deus e os introduzem, com gravíssimo prejuízo, nos ritos e devoções do materialismo, do marxismo e do relativismo. Daí para o hedonismo é um passo de dedo. Desmancham com os pés da mentira e da mistificação o que os pais tenham ensinado em casa. Espinafram a Igreja por causa das Cruzadas do século 12, mas jamais mencionam os cem milhões de mortos pelo comunismo no século passado. Decorrerão algumas décadas até que esses jovens, já maduros, percebam, na experiência da vida, o engodo a que foram conduzidos pelos falsos mestres. Quem não tem relatos semelhantes?

A primeira Cruzada iniciou no ano de 1096 e a nona terminou em 1272. A palavra refere, portanto, uma série de episódios que se encerraram há 738 anos, envolvendo a retomada de Jerusalém. Veja agora, leitor, se é possível falar honestamente sobre as Cruzadas sem mencionar a Jihad. Jerusalém, no início do século 7, integrava o Império Romano do Oriente, sob o domínio de Bizâncio. Era uma cidade cristã, portanto, até ser conquistada pelos sassânidas (persas) e, em seguida, pelos seguidores de Maomé. Este personagem surgira na cena histórica alguns anos antes, havia estabelecido as bases religiosas do Islã e dera início à Jihad e à Guerra Santa. Em apenas oito anos, formara um Estado árabe sob seu comando. Em 622, conquistara Iatrib (Medina), passando na espada os judeus da cidade. Em 630 retomara Meca, de onde fora expulso por suas ideias monoteístas. E morrera em 632. Seis anos mais tarde, seu sucessor Omar entrava em Jerusalém. Um século mais tarde, o Islã já estendia seus domínios sobre a Pérsia, a Palestina, boa parte do Império Bizantino, o norte da África, a Península Ibérica e atacava a Europa por vários flancos. É possível mencionar as Cruzadas, com seus episódios grotescos, e nada contar sobre isso?

Mas as coisas não pararam aí. Quando o Papa Urbano II, no concílio de Clermont-Ferrand (1095) convocou a Primeira Cruzada, Jerusalém havia sido tomada pelos otomanos, que instalaram um regime de intolerância à presença dos cristãos, até então respeitada nos termos ajustados com Bizâncio durante a conquista da cidade em 636. Clermont-Ferrand fica próxima ao centro geográfico da França. Pois enquanto ali se realizava o concílio, ainda fumegavam, no centro da atual Espanha, os destroços deixados pela guerra que retomara a região de Toledo para os cristãos e para o reino de Castela. Os muçulmanos estavam ali havia três séculos e levariam outros 400 anos para abandonar toda a península. Mas disso, nas aulas de história, fala-se pouco, muito pouco, quase nada. E quando se menciona a Tomada de Constantinopla, em 1453, o assunto é tratado como fato isolado, perfeitamente normal, e não como um ato de suprema violência e ganância imperial, geradora de um massacre que durou três dias e três noites, que coroou investidas iniciadas 800 anos antes e que encerrou mil anos de esplendor cristão naquela que foi a mais impressionante cidade de seu tempo! E nada, absolutamente nada se diz sobre o fato de que esse expansionismo, ainda insatisfeito, prosseguiu na direção oeste, sob o mesmo impulso, até a derrota final dos otomanos, diante dos muros de Viena, na batalha de 1683. Mas insistentes, violentas, conquistadoras e descabidas foram as Cruzadas...

Agora me responda o leitor: a derrota do grão-vizir Kara Mustafa Pasha em Viena decretou o fim das guerras santas? Encerravam-se, ali, as campanhas militares empreendidas pelos muitos impérios, dinastias, governos e províncias muçulmanas, ao longo desses mil anos iniciados com a Hégira e a tomada de Iatrib? Não, claro que não! O que são Al Qaeda, Hamas, Hizbolah, Fraternidade Islâmica e o amigo de Lula, Ahmadinejad, se não jihadistas que afirmam seguir as determinações de sua fé? Não eram jihadistas os tresloucados que se arremessaram contra as Torres Gêmeas? E se alguém, leitor, lhe opuser que Jihad, no sentido religioso, é coisa diversa, que designa uma conquista pessoal interior, de natureza espiritual, saiba que isso é sublime e verdadeiro. Como também é verdadeiro, sem ser sublime, que Maomé II estava tão a serviço de sua Jihad em versão violenta quanto quem, hoje, veste um colete de bombas ou faz explodir uma estação de metrô em Londres. A imensa maioria dos muçulmanos são amantes da paz e vivem sua religiosidade de um modo sereno e harmonioso com as demais crenças e religiões em seu entorno. No entanto, é a pequena minoria violenta que mais uma vez, neste momento, se expressa de modo assustador nas páginas da história.

Escrevo todas estas linhas, bem além do habitual nestes textos semanais, para destapar a imensa fraude praticada por tantos professores de história. Para desmerecer o Cristianismo e a Igreja, eles se fixam nos episódios das Cruzadas, como algo sem causa e com as terríveis consequências que apontam. Algumas aulas mais tarde, porém, tratam da Tomada de Constantinopla como fato isolado, sem origem que mereça menção e tendo como consequência as Grandes Navegações. Convenhamos!
Nota do autor: esta é a mensagem que estou enviando à jovem estudante mencionada nas primeiras linhas deste texto.
 Mídia a mais

sábado, 17 de julho de 2010

Dando seguimento ao fetichismo

Prosseguindo com suas taras e fetichismos para com Simón Bolivar, o ditador Hugo Chavez tenta esclarecer um ponto polêmico da história: provar que Bolivar não morreu de tuberculose, como hoje se crê, mas sim vítima de uma conspiração política que mandou assassiná-lo.

Já que gosta tanto de Simón Bolivar, bem que ele poderia se inspirar nesta frase de "El libertador" : "Somente a democracia, no meu conceito, é suscetível de uma liberdade absoluta"

É bom, de vez em quando, ver somente o lado bom das pessoas e tomar cuidado para não se idolatrar e adorar a quem não merece.

O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...