quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Separatismo na Folha em 1992





DOMINGO, 19 DE JANEIRO DE 1992.

SEÇÃO COTIDIANO

Separatismo no Brasil cria ‘apartheid cover’
Antropólogo acha que fenômeno é resultado da decepção do brasileiro com seu país e teme ideologia racista

NOELY RUSSO
Da Reportagem Local

Como seria um país formado pelos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul? Almoço à base de sushi, churrasco e macarronada. À sobremesa, bolo de fubá. Na moda, nada de arroubos sensuais dos cariocas: tradição e sobriedade são a regra. Já no futebol, a seleção desse país hipotético é imbatível.
A secessão fantasiosa do Brasil não passa de “decepção com o país atual, incapaz de fazer parte do Primeiro Mundo”, na opinião do antropólogo e professor da Universidade Notre Dame, em Indiana (EUA), Roberto da Matta, 55. Diferentemente do que ocorre na Europa de hoje, o Brasil não é clivado por nacionalidades distintas, justapostas por caprichos geopolíticos: “Trata-se da mesma raça, mesma língua, mesma história, mesma nação”, afirma. Segundo o antropólogo, o Brasil deve se cuidar para não cair “em uma ideologia racista, nazista”, imposta pelas dificuldades econômicas atuais.
“Falataria tempero. Faltaria carioca e bom-humor. Esse país seria uma chatice”, sentencia da Matta. E prevê: no cardápio, a monotonia de pizza 365 dias por ano.
O gastrônomo Sílvio Lancellotti discorda: “A comida desse país hipotético seria universal. Uma refeição começaria com sushi. Teria macarronada e churrasco como pratos principais e terminaria com um bolo de fubá”, diz. Segundo Lancellotti, a comida uniria a gastronomia brasileira e uma grande variedade de cozinhas européias. Lancellotti diz ser totalmente contrário à secessão.
A empresária de moda Constanza Pascolatto acha que “as luheres do sul gostam e usam cores fortes, mas não aprovam estampas muito espantadas”. Segundo ela, o novo país seria incapaz de ditar qualquer moda. “O Brasil só dita moda-praia, biquínis e maiôs. Essa moda vem do Rio. Se o Rio estivesse fora, teríamos que atravessar a fronteira para ficar em dia com essa moda”. A empresária também descarta o separatismo.
Para o técnico de futebol do Palmeiras, Nelsinho, a seleção nacional não teria problemas. “O melhor futebol do país está em São Paulo. Temos grandes valores no sul. No Palmeiras, onde trabalho, só existe um jogador que nasceu em São Paulo ou no interior.” O time de Nelsinho não ganha um campeonato há 16 anos. O técnico revela que o único jogador com lugar garantido em sua seleção seria o atacante corintiano “neto: “Ele é jogador para qualquer seleção”. Apesar do entusiasmo, Nelsinho é a favor da unidade do Brasil.


Presidente do Partido Nacional Nordestino se finge de italiano para vender macarrão
‘Giuseppe” volta às origens de vaqueiro de Caicó e sonha com o Nordeste-Nação
O nome de batismo é José Firmino Araújo. Mas se você perguntar, ele dirá que Giuseppe Gomes. Nascido em Natal (RN), ex-vaqueiro em Caicó e carregador do Mercado Central da Cantareira, hoje tem quatro cantinas em São Paulo, uma lavanderia industrial e vários imóveis. Mora numa casa em Alphaville e ainda sonha com a presidência. Não a do Brasil. Firmino, 42, quer ser presidente do Nordeste.
Para isso trabalha na criação do Partido Nacional Nordestino (PNN), no qual ele se “elegeu” presidente. A linha da legenda já está definida: “Nem muito social nem muito esquerdona. É mezzo a mezzo, centro.”
Firmino avisa que o programa também está pronto. Questionado ele detalha: “Saúde, escola.” A ideia original é uma divisão do país, proposta que inspira o logotipo do PNN:  um mapa do Brasil com a região nordeste destacada, desenhada no centro de uma bandeirinha azul.
“Acho que o Brasil é muito grande para um presidente só cuidar de tudo. A nação seria uma só, mas a Amazônia teria um presidente, o Nordeste outro governante”, esclarece.
Até o momento, o PNN é uma sigla-fantasma. Apesar de ter sede na rua Heitor Penteado, em São Paulo, não tem registro em Brasília. Cerca de 150 pessoas, segundo o “presidente”, estão trabalhando na sua formação, além de familiares em lugarejos do sertão. “Não vou ser outro Enéas. O partido vai nascer forte. O grosso será nordestino.”
Ex-malufista e candidato derrotado a deputado federal pelo Partido Republicano Paulista (PRP)  [Nota: procederá esse informação ? Acho que não, o PRP aqui é o do Adhemarzinho e já tinha o mesmo significado de hoje – Partido Republicano Progressista] , Firmino diz que agora, depois de bem sucedido no ramo da comida italiana, resolveu com o PNN “voltar às origens”. Ele estudou até a 4ª série e escondia seu verdadeiro nome desde os anos 70, quando começou a trabalhar em cantinas.
“O nordestino é massacrado nas grandes cidades. Se eu dissesse que era nordestino, para vender macarrão ficava meio chato, né? Quando eu era carregador, me diziam: sai daí cabeça-chata, pega aí pau-de-arara.” O nome Giuseppe foi uma sugestão do dono do restaurante Via Veneto, onde aprendeu a fazer massas. “O Eloy Suzigan é que dizia que eu precisava esquecer esse negócio de nordestino. Achei que seria bom. Mas sempre fiz isso para construir meu patrimônio.”
Foi o que ele fez me 1966 (quando chegou a São Paulo após “28 dias de “pau-de-arara) a 1980, ano em que abriu o Remo e Rômulo, seu primeiro restaurante, com “nome inspirado na história dos fundadores de Roma, que foram alimentados por uma loba” – revela, didático. Abriu com 13 mesas. Hoje tem 70.
Firmino contou com a colaboração da mulher na construção do patrimônio. Maria Irene, filha de um industrial português, o ajudou a abrir a casa onde o Giuseppe passa pelo menos 12 horas por dia. “O Japão deu certo por eles só dormem três horas. O brasileiro dorme demais”, diz.
O presidente do PNN, se fosse presidente da República mandaria fechar as fronteiras: “Hoje, a manga de cem gramas fica aqui e a de meio quilo vai pra fora”, justifica.


Brizola quer cadeia para os separatistas
Da Reportagem Local
“Lugar de separatista é naquele lugar”, afirma o gaúcho governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Para ele, “só um louco, irresponsável ou vendido a interesses estrangeiros” poderia pretender “a desintegração nacional”. “Quem se apresentar com essas ideias é motivo de processo de lesa-pátria”, afirma.
Brizola diz se considerar um radical a respeito da unidade do país. “Conheço meu povo. Gaúcho é brasileiro por opção. Nas disputas entre Espanha e Portugal pela posse do território do sul, o povo gaúcho, que ali nasceu, acabou fazendo guerra para se integrar ao Brasil”. Brizola diz que a atual situação da representatividade dos Estados é “contingência da situação do país”. “Quem tem direito de formular um programa nacional, não somos nos do sul, mas nossos irmãos do nordeste”, afirmou o governador.
O governador de São Paulo, Luiz Antonio Fluey Filho também se mostra contrário à separação do Brasil. “São Paulo sempre recebeu os brasileiros de todas as origens, sem discriminação. Brasileiros que contribuem para seu progresso das mais variadas diversas formas, juntamente com imigrantes de diferentes países. Não é legítimo, nem justo, qualquer tipo de discriminação.”. (NR)


CONSTITUIÇÃO IMPEDE RACHA NA REPÚBLICA, DIZ JURISTA

Da Reportagem Local

O tributarista Ives Gandra Martins afirma que só uma revolução poderia cindir o Brasil em mais de um país, “A Constituição não permite sequer a apresentação de emendas com tal propósito”, diz.
Gandra acha que a economia do sul pode ser comparada à de países do primeiro Mundo. “Mas separar não é a solução. Deve-se brigar por uma nova regra na representatividade dos Estados do sul no Congresso Nacional. O problema no Brasil é que existe um governo de Terceiro Mundo mandando em país de Primeiro. É um absurdo que um terço do eleitorado do Brasil eleja dois terços do Congresso, afirma.
Segundo Gandra, 99,7% dos tributos arrecadados no Estado de São Paulo são repassados ao restante do país. “Não acho que a culpa seja dos nordestinos. Acho injusto que os marajás políticos do nordeste desfrutem do trabalho dos servos do sul”, afirma.
O economista Yoshiaki Nakano, 47, professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-assessor do ex-ministro da Economia Bresser Pereira, não considera que o país dos sonhos dos sulistas possa vir a ser de Primeiro Mundo. “O PIB e a renda per capita não dão as dimensões da situação social do país. Há muita pobreza e desigualdade social em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Isso não existe em países desenvolvidos, onde a distribuição de renda é mais igual”, afirma. Nakano diz, porém, que o país seria viável. “Se o Brasil inteiro é viável e subsiste, porque parte dele, a mais rica, não sobreviveria?”
O economista afirma que o novo país perderia fontes de riqueza como minérios, madeira e produção agrícola e pecuária, fortes na região central do Brasil.
Segundo a diretora da Faculdade de Economia da Universidade federal do Rio Grande do Sul, Yeda Rorato Crusius, 47, os números da economia do país idealizado podem ser equiparados aos do Primeiro Mundo. “Esse país hipotético tem condições de subsistir e de melhorar seus padrões de vida. Tem indústria e agricultura para se manter. O sul do país produz alimentos para sua subsistência e ainda exporta excedentes para outras regiões.”
Apesar disso Yeda se diz contrária à separação. “Não são os nordestinos que nos atrapalham. É o sistema de governo que não cria regras capazes de coibir a corrupção e a desigualdade social. É a ignorância e falta de vontade política de fazer o Brasil se desenvolver”, afirma. (NR)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Minha vontade

O ano de 2012 está terminando, e faltando menos de um mês para 2013 registro aqui algumas coisas que pretendo fazer ano que vem.

Ler alguns livros - Chesterton, Campanella, Hobsbawm, Aries, uma coleção de História da América, da Editora Paz e Terra, Proudhon (Filosofia da Miséria), e mais umas três ou quatro dezenas de artigos acadêmicos (preciso de um tablet urgente, urgentíssimo).

Fazer uma pós em EAD (provavelmente deva ser em filosofia ou História do Brasil).

Paralelamente: matricular-me em uma nova graduação: DIREITO. Isso mesmo, "doutor" Júlio. Que chique hein !? Além de professor, que de fato condiz com a realidade, "doutor" também. Se fosse honoris causa eu podia me candidatar a presidente e não ler mais nenhuma linha de nada, nem do Tio Patinhas...

Depois, no começo de 2014, se for da vontade de Deus (a minha já é...), por que não um mestradinho? Assunto: a permanência do separatismo paulista na Primeira República.

Vamos aguardar. Tão somente nos esforcemos e tenhamos bons ânimos!

sábado, 17 de novembro de 2012

A fé de Abraão

O filósofo dinamarquês Soren Kierkgaard.
"Movido pela fé abandonou Abraão a terra de seus antepassados e foi estrangeiro na terra prometida. Abandonou algo, a sua razão terrestre, por outra, a fé; se meditasse quão absurda era a viagem, jamais teria partido. Por causa da fé foi estrangeiro na terra prometida onde nada havia que evocasse o que ele amou, onde a novidade das coisas gravava em sua alma a tentação de um amargo arrependimento. Entretanto, era ele o eleito de Deus, aquele no qual o eterno se revia! Verdadeiramente, se fosse deserdado, destituído da Graça de Deus, compreenderia melhor esta situação que parecia ridicularizá-lo e à sua fé. Existiu também no mundo quem vivesse exilado da pátria amada. Não foi olvidada, como não foram esquecidas as suas queixas entretecidas ali onde ele, em sua melancolia, buscou e achou o que perdera. Abraão não nos deixou lamentos. Sentir-se apiedado de alguém e chorar com alguém que chore é humano, porém é maior aquele que acredita e mais reconfortante ainda é contemplar o crente." 

KIERKEGAARD, Soren. Temor e Tremor. SP.: Saraiva, 2012. pp.25.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Meia volta volver

Depois de quase um ano sem postar absolutamente nada neste blog, eu resolvi retornar. O motivo da parada foi para mim muito importante: a necessidade de buscar um foco um pouco maior no último e derradeiro ano de minha graduação em História.

Neste último ano muita coisa mudou, e tenho a certeza de que muitas outras ainda hão de mudar até o fim de 2012 e com certeza em 2013. Nem toda a mudança é positiva, mas as que espero são amplamente positiva.

Quanto ao futuro desse blog, cheguei a conclusão de que ele me é extremamente necessário. Ele é bem visitado, não sei exatamente por que cargas d'água, mas é. Nos veremos muitas vezes. Um fraterno abraço aos bons leitores desse blog.

Lidos

De Outubro de 2011 até 26 de outubro de 2012.
  • Rumo a Estação Finlândia (Edmund Wilson) – Cia das Letras
  • Aventura, Corrupção e Terrorismo: a sombra da impunidade (Dickson Melges Grael) – Editora Vozes
  • Carta ao Papa (Leon De Grelle) – Editora Revisão
  • O Campo da História (José d’Assumpção Barros) – Editora Vozes
  • O Espetáculo das Raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1879/1930 (Lilia Katri Moritz Schwarcz) – Cia das Letras
  • Desobediência Civil (Henry David Thoreau) –  e-book
  • O Século XX de 1914 aos nossos dias (René Rémond) – Cultrix
  • Geopolítica e Projeções de Poder (General Meira Mattos) – Biblioteca do Exército
  • O Século de Luís XIV – Col. História Universal (Carl Grimberg) – Segmento
  • O Queijo e os Vermes (Carlo Ginzburg) – Cia das Letras
  • A Revolução de 1930: História e Historiografia (Bóris Fausto) – Brasiliense
  • Hayek na UNB (Transcrição) – Editora UNB
  • A Era das Revoluções (Eric Hobsbawm) – Paz e terra
  • Ciência e Política: duas Vocações (Max Weber) – Martin Claret
  • Bandeirantes e Pioneiros (Vianna Moog) – Cia Editora Nacional
  • Saddam, o amigo do Brasil (Leonardo Attuch)
  • Novo Mundo nos trópicos (Gilberto Freyre) – Topbooks
  • Tristão e Isolda (lenda) – Martin Claret
  • Mil Anos de Felicidade: uma História do Paraíso (Jean Delumeau) – Cia das Letras
  • A Paixão de Cristo: Mel Gibson e a filosofia (Jorge J.E. Garcia, org.) – Madras
  • Da República (Cícero) – Escala
  • A Itália de Mussolini e a Origem do Fascismo – Ícone Editora
PRONTOS PARA A LEITURA
  1. Interpretação da realidade brasileira – João Camilo de Oliveira Torres
  2. Nações e Nacionalismo desde 1780 – Eric Hobsbawm
  3. A Invenção das Tradições – Eric Hobsbawm
  4. 1932: Imagens construindo a História – Jeziel de Paula
  5. São Paulo 1932: memória, mito e identidade – Marco Cabral dos Santos & André Mota
  6. A Lenda de uma quinta senhorial – Selma Lagerlöf
  7. Filosofia da Miséria – Tomos I e II - Pierre-Joseph Proudhon

Tu elevaste nossa pequenez

Nós te louvamos, Senhor,
porque nos concedeste uma graça imensa,
a qual devemos agradecer-te.
Tu te revestiste de nossa humanidade,
desceste com tua divindade, 
elevaste nossa baixeza,
ergueste-nos de nossa queda,
ressuscitaste nossa inteligência,
venceste nossos inimigos
e honraste nossa pequenez.
Senhor, nosso Deus,
por causa da superabundância de tua graça, 
nós te respondemos com cânticos, com glorificação
e com adoração agora e sempre.
(Meditação tirada das partes mais antigas da liturgia caldeia, Século II-III.  In.: DURCASE. Jean. Palavras para rezar – orações dos grandes orantes.  SP.: Paulinas, 1993.)

sábado, 13 de agosto de 2011

Estranhezas do senhor prefeito

Eu votei em 2008, no segundo turno, no atual prefeito Gilberto Kassab. O período que ele havia gerido a cidade depois de que José Serra saiu para concorer a presidência pareceu-me a época ser bastante satisfatório, por suas ações, entre as mais destacadas, a chamada lei "Cidade Limpa".


A ideia dessa lei realmente é muito boa. A Cidade de São Paulo estava com sua paisagem urbana muito suja, cheia de outdoors e afins por toda a parte. Todavia, esta lei, do jeito que foi planejada e eecutada mostrou-se ser no mínimo recheada de um certo exagero.


A Prefeitura deveria, ao meu ver, regular algumas modalidades de propaganda, como, por exemplo, aquelas que existiam nos vidros traseiros dos ônibus, bem como nos abrigos dos pontos de ônibus e no interior mesmo dos próprios coletivos, onde até hoje há alguma propaganda, mas não sei se a municipalidade ganha algum com aquilo. O valor arrecadado com essas propagandas, poderia, muito bem ser utilizado para turbinar a verba da secretaria de transportes ou a SPTrans, mas o radicalismo da lei impediu isto.


Outra coisa em que o prefeito Kassab realmente deixou a desejar foi, ainda dentro da área dos transportes, a construções de vários quilômetros de corredores de ônibus urbanos, bem como a revitalização de partes de alguns deles, como é o caso de parte do corredor existente na Avenida Santo Amaro. Pois bem, a prefeitura alega que, parte desses projetos de corredores foram alterados para projetos de monotrilho, que também não sairam do papel, diga-se de passagem.

A ideia do monotrilho me agrada. Acho que realmente em alguns casos este modal de transportes é mais eficiente, mediante as necessidades atuais da cidade (esse tema monotrilho da uma postagem sozinha), e louve-se o prefeito por trazer a tona projetos desse tipo, entretanto, os prazos estão mais do que vencidos, fazendo o cidadão paulistano padecer mais e mais.


Ponto que muito me agradou nesta gestão foi a proibição da circulação de caminhões em várias vias da cidade durante o dia, medida que realmente deu alguma ajudinha na melhora do trânsito.


Outra proibição muito polêmica foi a dos chamados ônibus fretados. O prefeito restringiu que essa modalidade de transporte fosse usada por parte da população, aliás, uma parcela da população que com certeza não é a mais pobre e miserável desta cidade, mas também não é com absoluta certeza formada por moradores exclusivos do Morumbi. O grosso dos usuários desses ônibus era a classe média baixa. Este medida não agradou nadica de nada esse pessoal que usava os fretados, e para mim, o prefeito mostra coragem, assim como também teve para restringir os caminhões pesados e para fazer a lei Cidade Limpa, mas o caso dos fretados também poderia ter outra solução.


Acredito que você já deve ter percebido pela cidade alguns ônibus acinzentados, geridos pela EMTU, que fazem trajetos de cidades da região metropolitana de SP para algumas regiões da capital. Pois bem, o que são esses ônibus se não a mesma modalidade de ônibus fretados que a prefeitura proibiu ? Custava a prefeitra ter regulado melhor essas empresas que prestavam os serviços de fretados de modo que esses não viessem a atrapalhar o trânsito ? Parece que o prefeito acha que boa parte dessas pessoa que andavam de  fretados mudaram de uma hora para outra para os busões convencionais super lotados, sujos e quentes, sobretudo nos dias quentes. Evidente que grande parte dos usuários de fretados voltaram para o pleno conforto de seus carros..


Outro catatau de coisas eu poderia facilmente aqui citar sobre outras obras e medidas que esta atual gestão da cidade fez, mas penso que os exemplos aqui citados já são suficientes para provar que o prefeito Kassab faz uma administração no mínimo confusa. Ele poderia ter se consagrado como um dos melhores prefeitos dos últimos tempos nessa cidade, mas pecou por excessos.

Livro "Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai" de Júlio José Chiavenatto

CHIAVENATTO, Júlio José. Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai. São Paulo/SP; Círculo do Livro, s/d.

O livro "Genocídio Americano: A Guerra do Paraguai" do jornalista paulista Júlio José Chiavenatto trata, sobretudo, dos bastidores políticos e econômicos que envolveram este conflito (a Guerra do Paraguai) o maior já travado em todo o continente americano.

Publicado na década de 1970, onde no Brasil vigorava, em plena força, o regime militar, o livro traz também uma visão que não foi bem vista oficialmente por setores ditos "nacionalistas" do governo da época.

O Brasil viveu, desde a proclamação da República, alguns períodos de governos autoritários. Foi assim com os primeiros presidentes, do período chamado "República das Espadas"; posteriormente a uma fase de maior abertura e "democracia" até 1930, quando outro estilo de governo autoritário (mais duro e repressivo do que o primeiro modelo) tomou o poder, agora mais centrado na figura do presidente, papel ocupado então por Getúlio Vargas. Após idas e vindas e o definitivo fim da Era Vargas, um breve período de eleições minimamente livres se seguiu até o ano de 1964, quando os militares, frente a um quadro de completa, total instabilidade política, institucional, risco de ascensão de um governo socialista-populista, assumiram o poder. Eles, os militares, somente largariam o poder em 1984, vinte anos depois.

Em comum a todos o governos democráticos ou autoritários existe a forma de se lidar com a história oficial, ou seja, a versão oficial dos fatos. Vemos que até nossos últimos presidentes ainda se recusam a liberar para consulta pública vários documentos oficiais, que estão em sigilo, tolhendo parte do direito de informação garantido à população do Brasil.

O medo, parece-me, é de que o governo brasileiro tem receio de trazer a público documentos que mostrem papéis que o país já desempenhou e que hoje tenta esquecer e esconder, por não os considerar muito "limpos". Dentre esta gama de episódios históricos se encontra a Guerra do Paraguai.

O mérito de Chiavenatto se dá pelo fato de ter trazido uma versão menos heroica e oficial da Guerra do Paraguai. Ele não foi o primeiro a fazer tal serviço, várias são as publicações que tratam do assunto, inclusive publicações de ex-combatentes, mas estas acabaram sendo postas de lado durante muito tempo, não pela falta de qualidade, mas pelo conteúdo não ser o mais "agradável" e plenamente sustentado pela versão brasileira. Mostrar algumas atrocidades cometidas pelas Forças Militares do Brasil, um país que sempre se gabou de ser extremamente pacífico, não era coisa do agrado, bem como, mostrar outras facetas de pessoas públicas que se tornaram heróis oficiais, "os grandes da nação" (Dom Pedro II, Duque de Caxias, General Osório). Outro, e talvez o principal serviço que este livro traz seja o de tentar mostrar uma visão que seria um pouco mais realista, onde, maniqueisticamente, o Paraguai não é visto como o grande vilão da história, mas exatamente o contrário.

Dividido em capítulos breves e em subcapítulos mais breves ainda – o que facilita a leitura – traz no começo uma apresentação do Paraguai, o que aliás é bastante reforçado pelo autor. O país até o momento em que se travou o sangrento conflito contra a Tríplice Aliança havia tido apenas três presidentes (Francia, Carlos Lopéz e Francisco Solano Lopéz) e todos dirigiram o país com punhos de aço, que caracterizaram no Paraguai um modelo ímpar de regime político nas Américas daquele tempo.

Todos os três presidentes tiveram, de forma geral, uma linha mestra de conduzir o país: perseguindo a mídia e a grande burguesia nacional, os grandes proprietários de terras até que estes praticamente se extinguissem. No Paraguai foi feita uma espécie de reforma agrária, onde os camponeses sem terra começaram a trabalhar nas chamadas "Estâncias da Pátria", fazendas estatais, que produziam grande parte dos produtos agrícolas do país. Também no Paraguai, a base de muito custo e sacrifício desenvolvia-se uma indústria que mostrava sinais de pujança, totalmente nacional, sem a presença maciça de capital estrangeiro, sobretudo o inglês.

No Paraguai havia então níveis de desenvolvimento humano muito superiores aos de todos os países sul-americanos, que, à época, se mantinham economicamente a base de exportações de matérias primas para a Europa e de comprar quase todos os produtos industrializados no exterior. Com mão de obra em grande parte sustentada pelos braços escravos dos negros, ainda se trazia para a América diversos serviços prestados pelas companhias europeias, como iluminação e calefação, gás e transportes. No Paraguai o cenário era muito diferente deste.

Francía, primeiro presidente paraguaio vislumbrava que seu país somente iria para frente caso tivesse uma política econômica voltada para o povo, contra os grandes fazendeiros e comerciantes, que constituíam uma elite predatória, não comprometida com o futuro e o desenvolvimento da nação guarani. Este ideal foi seguido pelos outros dois presidentes que se sucederam a Francía, o pai, Carlos Lopéz e o filho, Francisco Solano Lopéz.

O Paraguai, através de seus governantes, quando se sentia prejudicado em alguma negociação ou serviço adquirido de outra nação não pestanejava e lutava por seus direitos e pela legalidade nas negociações e contratos. Nessa lógica, a industrialização paraguaia começou a deixar temerosa a maior potência econômica e militar da época, a Inglaterra.

Chiavenatto mostra-nos que a Inglaterra tinha receio de que o exemplo de independência plena do Paraguai acabasse sendo seguido por outros países da região e com isso a "Terra da Rainha" perdesse mercados consumidores de seus serviços e produtos, além de, automaticamente, ganhar novos concorrentes. De fato o Paraguai não era o melhor exemplo de subserviência a interesses que não fossem aqueles imediatamente mais altos à nação.

Segundo o autor, a Inglaterra seria a grande incentivadora da guerra, sendo seus representantes países que lhe eram aliados e a ela ligados pelos vultuosos empréstimos que contraiam há tempos. Nesta lógica, Argentina, Brasil e de contrapeso o Uruguai seriam meras buchas de canhão do "imperialismo" inglês.

Alguns historiadores criticam este livro por ele, de certa forma, excluir dos motivos básicos para a Guerra os problemas que diziam respeito unicamente aos países diretamente beligerantes. De fato, isso é muito notório no livro, Júlio José Chiavenatto passa boa parte do livro tentando provar por A+B que a Inglaterra foi a grande responsável por tudo.

Ponto positivo a destacar é a relativização que o autor faz. O Paraguai, país governado por presidentes que, embora ditadores, fizeram o país alcançar altíssimos níveis sociais, ao contrário de todos os seus vizinhos. Parece-me, Chiavenatto não diz isso textualmente, que ele mesmo tem essa sensação, aliás da qual também partilho, de que não restam dúvidas de que o governo forte do Paraguai foi muito melhor para aquele país do qualquer outro que tenha vindo depois .

A desmistificação de Solano Lopéz, presidente paraguaio durante o período da guerra, que era apresentado à época no Brasil como um tirano assassino, conquistar implacável, o "Átila das Américas", mostrando que ele era um homem com virtudes e com defeitos, assim como todos nós, e não somente um monstro feito apenas de maldades, que não tinha em seus planos para o Paraguai nenhuma política expansionista, e que tão somente buscava o bem do Paraguai e o equilíbrio na Bacia do Prata, necessária ao desenvolvimento guarani.

Como disse também anteriormente, importante também é a desmistificação do papel de eterno "mocinho" da história que o Brasil acaba reivindicando e mesmo levando. Este país matou muita gente covardemente, e nisto se inclua velhos, mulheres e sobretudo crianças. Quase a totalidade (mais de 90% dos) dos homens paraguaios foram mortos neste conflito. Que nos diga Acosta Ñu!

O livro tem um estilo bastante corrido, ilustrativo, jornalístico simplesmente, mas é muitíssimo bem amparado em documentos e fontes de época. Muitos dos fatos em "Genocídio Americano: a Guerra do Paraguai" tem provas documentais. O tamanho do livro (224 páginas) também ajuda a leitura, que poderia, sem nenhum problema, ser realizada por alunos do ensino médio.

Sem dúvida trata-se de um livro polêmico, que contraria muitos interesses, mas cuja leitura é importante para que o reflexivo contraponto, extremamente necessários a todos os cidadãos e mais ainda a historiadores, seja realizado.
***
Júlio César Dos Santos Bueno. Aluno de história do 4º Semestre - Centro Universitário Sant' Anna. Agosto/2011. São Paulo/SP

403

Du hast mich als Dein Kind durch Deine Macht adoptiert.
Für das Erbe im Himmel bin ich prädestiniert.
Wie kann ich Dir nun danken? Sehr hoch ist dieser Wert.
Denn Du hast mich mit Glauben und viel Hoffnung beschert.

O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...