quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Separatismo na Folha em 1992





DOMINGO, 19 DE JANEIRO DE 1992.

SEÇÃO COTIDIANO

Separatismo no Brasil cria ‘apartheid cover’
Antropólogo acha que fenômeno é resultado da decepção do brasileiro com seu país e teme ideologia racista

NOELY RUSSO
Da Reportagem Local

Como seria um país formado pelos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul? Almoço à base de sushi, churrasco e macarronada. À sobremesa, bolo de fubá. Na moda, nada de arroubos sensuais dos cariocas: tradição e sobriedade são a regra. Já no futebol, a seleção desse país hipotético é imbatível.
A secessão fantasiosa do Brasil não passa de “decepção com o país atual, incapaz de fazer parte do Primeiro Mundo”, na opinião do antropólogo e professor da Universidade Notre Dame, em Indiana (EUA), Roberto da Matta, 55. Diferentemente do que ocorre na Europa de hoje, o Brasil não é clivado por nacionalidades distintas, justapostas por caprichos geopolíticos: “Trata-se da mesma raça, mesma língua, mesma história, mesma nação”, afirma. Segundo o antropólogo, o Brasil deve se cuidar para não cair “em uma ideologia racista, nazista”, imposta pelas dificuldades econômicas atuais.
“Falataria tempero. Faltaria carioca e bom-humor. Esse país seria uma chatice”, sentencia da Matta. E prevê: no cardápio, a monotonia de pizza 365 dias por ano.
O gastrônomo Sílvio Lancellotti discorda: “A comida desse país hipotético seria universal. Uma refeição começaria com sushi. Teria macarronada e churrasco como pratos principais e terminaria com um bolo de fubá”, diz. Segundo Lancellotti, a comida uniria a gastronomia brasileira e uma grande variedade de cozinhas européias. Lancellotti diz ser totalmente contrário à secessão.
A empresária de moda Constanza Pascolatto acha que “as luheres do sul gostam e usam cores fortes, mas não aprovam estampas muito espantadas”. Segundo ela, o novo país seria incapaz de ditar qualquer moda. “O Brasil só dita moda-praia, biquínis e maiôs. Essa moda vem do Rio. Se o Rio estivesse fora, teríamos que atravessar a fronteira para ficar em dia com essa moda”. A empresária também descarta o separatismo.
Para o técnico de futebol do Palmeiras, Nelsinho, a seleção nacional não teria problemas. “O melhor futebol do país está em São Paulo. Temos grandes valores no sul. No Palmeiras, onde trabalho, só existe um jogador que nasceu em São Paulo ou no interior.” O time de Nelsinho não ganha um campeonato há 16 anos. O técnico revela que o único jogador com lugar garantido em sua seleção seria o atacante corintiano “neto: “Ele é jogador para qualquer seleção”. Apesar do entusiasmo, Nelsinho é a favor da unidade do Brasil.


Presidente do Partido Nacional Nordestino se finge de italiano para vender macarrão
‘Giuseppe” volta às origens de vaqueiro de Caicó e sonha com o Nordeste-Nação
O nome de batismo é José Firmino Araújo. Mas se você perguntar, ele dirá que Giuseppe Gomes. Nascido em Natal (RN), ex-vaqueiro em Caicó e carregador do Mercado Central da Cantareira, hoje tem quatro cantinas em São Paulo, uma lavanderia industrial e vários imóveis. Mora numa casa em Alphaville e ainda sonha com a presidência. Não a do Brasil. Firmino, 42, quer ser presidente do Nordeste.
Para isso trabalha na criação do Partido Nacional Nordestino (PNN), no qual ele se “elegeu” presidente. A linha da legenda já está definida: “Nem muito social nem muito esquerdona. É mezzo a mezzo, centro.”
Firmino avisa que o programa também está pronto. Questionado ele detalha: “Saúde, escola.” A ideia original é uma divisão do país, proposta que inspira o logotipo do PNN:  um mapa do Brasil com a região nordeste destacada, desenhada no centro de uma bandeirinha azul.
“Acho que o Brasil é muito grande para um presidente só cuidar de tudo. A nação seria uma só, mas a Amazônia teria um presidente, o Nordeste outro governante”, esclarece.
Até o momento, o PNN é uma sigla-fantasma. Apesar de ter sede na rua Heitor Penteado, em São Paulo, não tem registro em Brasília. Cerca de 150 pessoas, segundo o “presidente”, estão trabalhando na sua formação, além de familiares em lugarejos do sertão. “Não vou ser outro Enéas. O partido vai nascer forte. O grosso será nordestino.”
Ex-malufista e candidato derrotado a deputado federal pelo Partido Republicano Paulista (PRP)  [Nota: procederá esse informação ? Acho que não, o PRP aqui é o do Adhemarzinho e já tinha o mesmo significado de hoje – Partido Republicano Progressista] , Firmino diz que agora, depois de bem sucedido no ramo da comida italiana, resolveu com o PNN “voltar às origens”. Ele estudou até a 4ª série e escondia seu verdadeiro nome desde os anos 70, quando começou a trabalhar em cantinas.
“O nordestino é massacrado nas grandes cidades. Se eu dissesse que era nordestino, para vender macarrão ficava meio chato, né? Quando eu era carregador, me diziam: sai daí cabeça-chata, pega aí pau-de-arara.” O nome Giuseppe foi uma sugestão do dono do restaurante Via Veneto, onde aprendeu a fazer massas. “O Eloy Suzigan é que dizia que eu precisava esquecer esse negócio de nordestino. Achei que seria bom. Mas sempre fiz isso para construir meu patrimônio.”
Foi o que ele fez me 1966 (quando chegou a São Paulo após “28 dias de “pau-de-arara) a 1980, ano em que abriu o Remo e Rômulo, seu primeiro restaurante, com “nome inspirado na história dos fundadores de Roma, que foram alimentados por uma loba” – revela, didático. Abriu com 13 mesas. Hoje tem 70.
Firmino contou com a colaboração da mulher na construção do patrimônio. Maria Irene, filha de um industrial português, o ajudou a abrir a casa onde o Giuseppe passa pelo menos 12 horas por dia. “O Japão deu certo por eles só dormem três horas. O brasileiro dorme demais”, diz.
O presidente do PNN, se fosse presidente da República mandaria fechar as fronteiras: “Hoje, a manga de cem gramas fica aqui e a de meio quilo vai pra fora”, justifica.


Brizola quer cadeia para os separatistas
Da Reportagem Local
“Lugar de separatista é naquele lugar”, afirma o gaúcho governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola. Para ele, “só um louco, irresponsável ou vendido a interesses estrangeiros” poderia pretender “a desintegração nacional”. “Quem se apresentar com essas ideias é motivo de processo de lesa-pátria”, afirma.
Brizola diz se considerar um radical a respeito da unidade do país. “Conheço meu povo. Gaúcho é brasileiro por opção. Nas disputas entre Espanha e Portugal pela posse do território do sul, o povo gaúcho, que ali nasceu, acabou fazendo guerra para se integrar ao Brasil”. Brizola diz que a atual situação da representatividade dos Estados é “contingência da situação do país”. “Quem tem direito de formular um programa nacional, não somos nos do sul, mas nossos irmãos do nordeste”, afirmou o governador.
O governador de São Paulo, Luiz Antonio Fluey Filho também se mostra contrário à separação do Brasil. “São Paulo sempre recebeu os brasileiros de todas as origens, sem discriminação. Brasileiros que contribuem para seu progresso das mais variadas diversas formas, juntamente com imigrantes de diferentes países. Não é legítimo, nem justo, qualquer tipo de discriminação.”. (NR)


CONSTITUIÇÃO IMPEDE RACHA NA REPÚBLICA, DIZ JURISTA

Da Reportagem Local

O tributarista Ives Gandra Martins afirma que só uma revolução poderia cindir o Brasil em mais de um país, “A Constituição não permite sequer a apresentação de emendas com tal propósito”, diz.
Gandra acha que a economia do sul pode ser comparada à de países do primeiro Mundo. “Mas separar não é a solução. Deve-se brigar por uma nova regra na representatividade dos Estados do sul no Congresso Nacional. O problema no Brasil é que existe um governo de Terceiro Mundo mandando em país de Primeiro. É um absurdo que um terço do eleitorado do Brasil eleja dois terços do Congresso, afirma.
Segundo Gandra, 99,7% dos tributos arrecadados no Estado de São Paulo são repassados ao restante do país. “Não acho que a culpa seja dos nordestinos. Acho injusto que os marajás políticos do nordeste desfrutem do trabalho dos servos do sul”, afirma.
O economista Yoshiaki Nakano, 47, professor da Fundação Getúlio Vargas e ex-assessor do ex-ministro da Economia Bresser Pereira, não considera que o país dos sonhos dos sulistas possa vir a ser de Primeiro Mundo. “O PIB e a renda per capita não dão as dimensões da situação social do país. Há muita pobreza e desigualdade social em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Isso não existe em países desenvolvidos, onde a distribuição de renda é mais igual”, afirma. Nakano diz, porém, que o país seria viável. “Se o Brasil inteiro é viável e subsiste, porque parte dele, a mais rica, não sobreviveria?”
O economista afirma que o novo país perderia fontes de riqueza como minérios, madeira e produção agrícola e pecuária, fortes na região central do Brasil.
Segundo a diretora da Faculdade de Economia da Universidade federal do Rio Grande do Sul, Yeda Rorato Crusius, 47, os números da economia do país idealizado podem ser equiparados aos do Primeiro Mundo. “Esse país hipotético tem condições de subsistir e de melhorar seus padrões de vida. Tem indústria e agricultura para se manter. O sul do país produz alimentos para sua subsistência e ainda exporta excedentes para outras regiões.”
Apesar disso Yeda se diz contrária à separação. “Não são os nordestinos que nos atrapalham. É o sistema de governo que não cria regras capazes de coibir a corrupção e a desigualdade social. É a ignorância e falta de vontade política de fazer o Brasil se desenvolver”, afirma. (NR)

Um comentário:

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