domingo, 2 de agosto de 2020

A imaginação criativa

As redes sociais são sorvedouros de nosso excasso tempo. Ao contrário dos ansiosos de plantão, para mim os dias ainda voam como um conto ligeiro. O pior é que gasto muito tempo acompanhando nulidades na web.
Mas uma brincadeira boba que vi nesse fim de semana foi a de contar quais eram os sonhos profissionais das fases de sua vida.

Na infância eu queria ser comerciante. Brincava pegando alguns mantimentos no armário e colocava no balcão da janela do quarto, que virava assim o meu entreposto. Noutra ocasião comprei um lote de lapiseiras azuis clara (lembro bem) e cheguei a fazer uma plaquinha para vende-las que afixei no portão. Pelo menos uma vendi, mas acho hoje que foi algo combinado com algum colega do meu pai. Não sei como ainda não tive a coragem de montar alguma atividade comercial agora na vida adulta. Ainda tenho essa pretensão. Um mercado, bazar, lanchonete, padaria. Alguma coisa do gênero.

Quando eu estava já me achando um mocinho, inventei de ser político. Me encantava o mundo do horário eleitoral gratuito. Os santinhos, réguas, caixas de fósforo, chaveiros e porta títulos. Não aceito até hoje que tenham acabado com tudo isso. Hoje as campanhas eleitorais são um saco. Tudo feito com a pretensão de atrair o voto do eleitor pela razão. Era mais barato quando se distribuiam esses gracejos. O eleitor moderno deveria ser convencido pelo cérebro mas ainda se deixa levar pelo estômago. Eu ainda tenho um boné do Oscar Schmidt senador 98, pelo PPB do Maluf. Aqueles eram os meus modelos: Maluf, Quércia, Campos Machado, Antonio Carlos Cabreira (candidato a governador em 2002). Do Tuma, dos tucanos e da esquerda nunca gostei. Inexplicavelmente. Acho que vem dessa época a minha mente prodigiosa em imaginar o que poderia ser feito pelo poder público na cidade. Na minha cabeça muita coisa podia ser mudada: transporte público, obras, sistema educacional, número de subprefeituras, etc.

Já quando estava no ensino médio pensei que pudesse ser jornalista. Meus interesses rondavam em torno de transporte público e de futebol. Como trabalhar no ramo logístico nunca me pareceu atrativo, tampouco praticar o esporte bretão eu fazia, pensei que poderia ser um jornalista esportivo. Sem internet e computador na época, me contentava em passar horas vendo tv e buscando no rádio todo o tipo de programação esportiva, especialmente futebol. Gostava, entretanto, mesmo era do rádio, onde havia profusão de veículos que cobriam e transmitiam futebol. Era ouvinte da Jovem Pan mas gostava também da Eldorado, da CBN, da Gazeta, Record, Capital e Globo. Na Bandeirantes eu ouvia o Milton Neves (demorei umas semanas até saber que ele tinha deixado a Jovem Pan e ido pros 840) e alguns outros programas, como o Fanáticos por futebol, do Marcelo Duarte, das 22h00 às 22h30. Aprendi muito com aquele programa. Tantas influências no jornalismo esportivo me levaram a prestar o vestibular da Fuvest para comunicação social. Eu não tinha base nem nível de comparação. Achava que podia passar em jornalismo. Era 2007 e essa foi naquele ano a área mais concorrida da Fuvest. Mais que engenharias, direito ou medicina. Tomei bomba, é claro. No ano seguinte, já mais cioso dos trâmites e sistemáticas, prestei para geografia e fui aprovado para a segunda fase, embora não tenha conseguido entrar também naquele ano. Em 2009, finalmente ingressei no ensino superior, primeiro em geografia, mas depois e definitivamente em história.

Hoje, com três décadas de vida, continuo vendo a vida passar como um conto ligeiro. Os dias se vão e não tenho meu comércio. Não tenho um programa no rádio, nem virei prefeito de São Paulo. Resta me a sinecura do funcionalismo da educação. Sou muito bom no que faço. Ensino bem, mas não me sinto realizado. Sinto grande inutilidade no que faço. Parece que tudo o que eu imaginei não se fez. Tenho uma imaginação extremamente criativa e nada executiva. Queria eu ser prefeito de São Paulo.

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