sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Republicano

Fazer apologia da República nos dias de hoje é absolutamente desnecessário. Sua opositora, a monarquia, só é levada a sério por um pequeno punhado de conservadores, pessoas sábias e prudentes, é verdade, mas que estão apegadas mais a um símbolo, vendo nele projetada apenas a imagem de um passado glorioso idealizado.

A defesa da República que deve ser feita não é a da forma de governo, mas a da sua correta instauração, sob o princípio nunca observado no Brasil, de ser um governo "do povo, pelo povo e para o povo".

Para defender a República se exige que, conjuntamente, também se defenda a Federação.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Renascença conservadora

Há uma renascença do pensamento conservador. Estou tomando a licença de aqui não usar a palavra conservador com um sentido unicamente político, partidário e eleitoral, antes acentuando-o como oposição ao progressismo e a liberalismo (as crenças no progresso infinito e na liberdade sem restrições).

Essa renascença conservadora é resultado de um esgotamento da sociedade com o modelo político instaurado com o fim do Regime Militar, em 1985. Nossa Constituição Federal, de 1988, que permitiu a existência de um estado provedor de bem-estar social (ao menos no papel, pois a execução do projeto social democrata foi extremamente vacilante). Somemos aqui o crescimento da intolerância da sociedade com a corrupção. As operações da Polícia Federal e da Justiça, muitíssimo em especial, a Lava Jato, só poderiam ter surgido nesse momento de nossa história institucional e cultural. Ela é sim parte da resposta conservadora.

Com esse quadro, é notável a leitura e o apreço, por minha geração, de autores como G.K. Chesterton, C.S. Lewis, Roger Scruton, Jordan B. Peterson, Nikolai Berdiaev, Oswald Spengler e vários outros, somados aos naturais da terra, como Olavo de Carvalho, J.O. de Oliveira Penna, Ricardo Vélez Rodrigues, Antônio Paim, João Camilo de Oliveira Torres e vários outros. Em comum entre todos os citados temos a profunda crítica ao marxismo e ao materialismo dialético. Todos também são ignorados pela academia.

Lendo autores brasileiro, que já haviam tido contato com alguns dos pensadores citados, hoje redescobertos, têm-se a sensação de que, no Brasil, o pensamento conservador sofreu um grande hiato, que se encontra entre as décadas de 1960 e o início dos anos 2000. Quatro décadas do mais puro progressismo hegemônico.

Vivemos, finalmente, uma nova era, amparados nos mestres que tiramos das tumbas, limpando-os da terra progressista que os cobria.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Resposta ao chanceler Ernesto Araújo

Resposta minha a esse texto do sr. chanceler: "Querer grandeza"


A interpretação nacionalista da história do Brasil é um erro do começo ao fim. O historiador paulista Alfredo Ellis Júnior, deputado constituinte em 1934 e filho do senador Alfredo Ellis, muito bem já disse (cito de cabeça) que "Não existe a história do Brasil. O que existe é a soma de capítulos de histórias regionais". Entender o Brasil como império e, por consequência, plurinacional, seria o correto. Não consigo compreender como pessoas de tão elevado gabarito intelectual, que, quero crer, devem ter lido a maior parte dos ensaios que ajudaram a formar a mentalidade unionista de nossas classes letradas, ainda assim permanecem a ver o Brasil como uma nação. O conceito de nação não serve ao Brasil e traçar políticas públicas tendo por base a concepção de que somos uma só nação e um só povo é equivocado! O Brasil está mais para Austria-Hungria do que para França. É Rússia tropical, não Portugal nos trópicos. Todo o fracasso do empreendimento civilizacional no Brasil não é culpa de uma esquerda marxista, antes de uma mentalidade centralista e unionista de nossas elites, muito em especial, as do nordeste e, sobretudo, do Rio de Janeiro. Ou se acaba com o governo federal ou ele acabará com os indivíduos. Confederação ou secessão!

Livro de Alfredo Ellis Júnior, historiador paulista quatrocentão (por lado materno), fundador da cátedra de História da USP e separatista paulista declarado

Objetos voadores não ideológicos


Objetos Voadores Não Ideológicos

A cultura pós-moderna em que vivemos padece de um terrível literalismo. Muitas pessoas vão perdendo a capacidade de compreender o símbolo ou a metáfora, a ironia ou a piada, não conseguem transitar entre diferentes níveis de discurso, não percebem as figuras de linguagem, consequentemente não discernem o senso de humor nem decifram o pensamento sugestivo. Tornam-se incapazes do raciocínio abstrato, baseado em conceitos ou em universais: limitam-se aos particulares, à repetição tautológica de casos específicos. Acham que toda elocução é descritiva, não distinguem a função evocativa da fala.

Assim, se eu fizer uma referência à história da cigarra e da formiga, amanhã algum jornal dirá que eu acredito em insetos falantes.

Em semelhante contexto, quero deixar claro o seguinte: não acredito em discos voadores, nem deixo de acreditar.

O uso da expressão “acreditar” com relação à existência ou inexistência de civilizações extraterrestres e seus aparatos afigura-se inadequado. Parece perfeitamente plausível que existam tais civilizações e sejam capazes de viagens interestelares – e uma hipótese plausível não é, a rigor, matéria de crença. Trata-se, no caso, de uma proposição verificável, e jamais falseável, segundo a epistemologia de Karl Popper, ou seja: é possível comprovar empiricamente que os discos voadores existem, basta que um dia um deles apareça à luz do dia e todo mundo o enxergue, mas é impossível comprovar empiricamente que os discos voadores não existem, pois teríamos de varrer todo o universo à sua procura até concluir por sua inexistência, tarefa inexequível.

Podemos dizer algo semelhante de outras entidades, por exemplo: corvos brancos. É plausível que haja corvos brancos, pois não há nenhuma impossibilidade intrínseca em sua existência, mesmo se nunca ninguém os viu. Os corvos brancos nisso diferem, por exemplo, dos marxistas intelectualmente honestos. A existência de um marxista intelectualmente honesto não é plausível, pois há uma contradição intrínseca entre a disciplina intelectual marxista, que nasce na mentira e obriga seus praticantes a mentir inclusive a si mesmos o tempo todo, e a honestidade intelectual. Desse modo, a proposição “existem marxistas intelectualmente honestos” difere das proposições “existem discos voadores” ou “existem corvos brancos”. Ela não é nem verificável nem falseável, ela é apenas logicamente insustentável, como seria a proposição “existe luz escura”.

Quem diz “em acredito em tal coisa” está abrindo um canal para a busca de significado para além ou para fora do terreno da lógica e da epistemologia. O fato de tratar os discos voadores como matéria de crença, e não de verificabilidade empírica, é muito revelador do vazio espiritual contemporâneo. Numa civilização que proíbe a transcendência, algumas pessoas começaram a agarrar-se a certas manifestações materiais ou “mitos contemporâneos” (mais ou menos como diz C.G. Jung em seu ensaio sobre os discos voadores, Um Mito Moderno) que funcionam como sucedâneo do transcendente, do numinoso, do sagrado que elas já não conseguem conceber direta e autonomamente.

Ora, já sabemos que a esquerda não tolera a transcendência, pois a abertura para a transcendência é, em última instância, o que constitui a humanidade do homem, e também já sabemos que a esquerda é anti-humanista. Desse modo, não espanta que todas ou quase todas as pessoas cuja sede de transcendência e numinosidade leva para a crença em discos voadores construam suas casas no bairro da direita. Do mesmo modo aqueles que buscam a transcendência no esoterismo, no ocultismo, nos mistérios das civilizações desaparecidas, na alquimia, normalmente se acomodam na direita, todos os heróis fascinados pela rosa distante, secretíssima e inviolada de que fala Yeats em seu poema “The Secret Rose”, essa rosa que não é senão a transcendência, e a buscam no Santo Sepulcro, ou na embriaguez, no amor, na aventura. Esse bairro colorido, esfuziante de desejo pelo além, pela verticalidade, nas formas mais diversas, esse bairro é a direita. Do outro lado do rio político está o bairro da esquerda, um bairro cinza, pesado, de pessoas cabisbaixas que caminham murmurando slogans vazios ou fazem fila para receber sua ração diária de materialismo e reducionismo (uma espécie de soylent green, uma pasta amorfa feita de pensamento decomposto). No bairro da esquerda não há transcendência, nem a transcendência original nem os seus sucedâneos. No bairro da esquerda não há lugar para o mistério, pois o mistério é constitutivo do ser humano. Quem busca o mistério atravessa para a direita, seja o mistério de quem construiu as pirâmides, seja o de como são feitos os crop circles, seja o mistério do logos incarnado.

Talvez o que defina mais profundamentre a cisão entre esquerda e direita seja a rejeição e aceitação da transcendência, respectivamente.

Quem crê procura a direita. Mesmo quem crê em coisas que não seriam questão de crer, como os discos voadores. Muita gente acredita em discos voadores apenas porque acha que é proibido acreditar em Deus.

Não é proibido.

Texto do chanceler Ernesto Araújo https://www.metapoliticabrasil.com/blog/objetos-voadores-n%C3%A3o-ideol%C3%B3gicos

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Democracia cristã

Tem muita gente realmente preocupada, realmente tensa com o seu futuro profissional. O medo é de que o novo governo liberal de Bolsonaro, Paulo Guedes e equipe acabe com a estabilidade do servidor público e comece programas de demissão voluntária e, por fim, demissões compulsórias.

Esse é um temor justificado. Tenho certeza que, do que dependesse do futuro ministro da economia, isso iria ocorrer.

A mentalidade do serviço público é típica das civilizações contemporâneas. Conforme a vida urbana avança, avança ao mesmo passo o estado e a necessidade dele gerenciar a vida nas grandes cidades. O idílico liberalismo do século XIX, as vezes quase anárquico, é impossível nas metrópoles modernas. Grandes cidades, grandes populações, grandes problemas e grande estado.

Esperar alguma mudança que passe pela quase extinção do serviço público não é despropositada, vinda de pessoas que estão acostumadas apenas com o mercado financeiro. Se verdade é que o presidente é também um servidor de carreira, e isso poderia servir como algum alento, também é verdade que o poder pode cegar e envergar nossa cerviz. Teremos em Bolsonaro alguém que sirva de freio ao liberalismo ortodoxo do Dr. Paulo Guedes?

Dito isso, eis que vejo a necessidade do surgimento de uma força política que consiga unir a esquerda do trabalho e a direita dos valores. Em países ocidentais, em tempos de paz, esse papel deveria ser desempenhado pela democracia cristã. Aqui em Banânia, os demo-cristianos simplesmente não existem como força política partidária faz muito tempo. O último lampejo forte nesse sentido esteve ancorado na ala liderada por Franco Montoro, no PSDB. Com sua morte e com a morte do PSDB, a democracia cristã está desaparecida do Brasil. Ela poderia ser uma força política relevante, verdadeiramente de centro, tendendo à direita, que equilibraria o jogo partidária, dando alguma racionalidade nesse teatro que vemos agora.

Não sei quanto tempo a onda liberal vai durar. O liberalismo de Reagan e Thatcher tiverem seus limites políticos, gerando novos governos democratas e trabalhistas. O consenso burocrático entre sociais democratas de esquerda e de direita permite esse tipo de situação. O liberalismo de Guedes deverá se esgotar em pouco tempo. Se bem sucedido, ajudará Bolsonaro a se reeleger daqui quatro anos e a fazer o seu sucessor. Daí em diante prefiro já não fazer conjecturas. De toda a forma, o liberalismo do século XIX já não pode existir. Ele é um pássaro Dodô. Ave extinta. Querer recria-lo hoje é uma aventura que resultará em grandioso fracasso.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Há quatro anos

Em novembro de 2014 eu vi o prenúncio de uma nova era. A nova era da direita que hoje, plenipotenciária, ocupa as manchetes dos telejornais, com seu comandante supremo e inquestionável, Jair Bolsonaro, começou faz quatro anos.

Quando Dilma Rousseff venceu o segundo turno contra Aécio Neves algo novo se descortinou na política do Brasil. A primeira vitória da Nova Direita brasileira foi sobre os separatistas de São Paulo. Foi uma vitória da organização contra a desorganização. Uma vitória dos contatos sobre os passos em falso. Foi também uma vitória de Pirro da traição.

Naquele momento o lema era "ou a Dilma cai ou São Paulo sai". Méritos por esse lema ao senhor Paulo Batista, corretor de imóveis no interior de São Paulo e, naquele ano, candidato liberal derrotado ao parlamento paulista. Ele criou um mega evento no Facebook, prenunciando o poder que as redes sociais viriam a desempenhar nos quatro anos seguintes, que reuniu mais de um milhão de pessoas. A conclamação para ir às ruas se assentava sobre a ideia, mesmo que remota, da independência de São Paulo, diante de mais uma vitória petista ter sido obtida graças ao voto de cabresto do nordeste subdesenvolvido.

No dia daquela manifestação os separatistas foram traídos. Fomos traídos por que eu mesmo havia falado, por telefone, com o "raio privatizador", alinhavando o apoio separatista. Chegando ao ápice, ao dia da manifestação, o carro de som estava repleto de nacionalistas brasileiros, como Eduardo Bolsonaro (sendo franco, Eduardo me pareceu a figura mais sensata e honesta naquele momento), Bene Barbosa (odiento anti separatista), além do cantor e ex-cocainômano Lobão, recém convertido, à época, as hostes do olavismo cultural. Os separatistas foram proibidos de subir ao carro de som. Durante, a manifestação fomos hostilizados, não pelos populares, mas pelos bodes patriotas que estavam em evidência no caminhão.

Naquele dia muitas pessoas passaram a apoiar a causa paulista e deixaram de ser apenas direitistas.

Naquele momento ainda havia muita expectativa pelo bom desempenho que o derrotado Aécio havia tido na eleição. Pouco tempo depois ele haveria de ser esmagado por sua própria sujeira.

Naquele tempo o jornalista Reinaldo Azevedo ainda era um ícone da direita reacionária e hidrófoba. Hoje, num canto da Rede TV, é uma sombra do símbolo que foi. Tornou-se um mostruário do jornalismo mais escroto que há, que sobrevive do puxassaquismo dos donos do poder, especialmente do MDB.

Jair Bolsonaro já era uma figura em total ascensão na internet, que gestava a niobosfera, que dita a nova era dos dias de hoje.

Olavo de Carvalho, ideólogo geral da nova direita, já era esse elemento controverso, inteligente, maquiavélico e prepotente que é até hoje. Quem começou a conhecer o sujeito nos anos iniciais do True Outspeak sabe ver bem a decadência moral do sujeito, que de analista cáustico e coerente passou a tratar a todos que discordavam dele como sendo inimigos mortais.

A inteligentsia neo direitista ainda não trabalhava em emissoras de rádio, em jornais de grande circulação e não dava pitacos em emissoras de TV.

Luiz Felipe Pondé só era admirado por uma pequena quantidade de leitores que liam sobre "jantares inteligentes" na Folha. Ele ainda não havia sido deglutido pela esquerda pós moderna, que não havia compreendido o liberalismo do filósofo judeu-baiano.

2018 vai chegando ao fim e eu mesmo não acreditaria, se me contassem quatro anos atrás, que tudo isso iria acontecer. Como Chesterton falou, a única lei da história é o imprevisto. A direita hoje se prepara para assumir o controle do país. Será bom. Será bom por que, como separatista, sei que não há ideologia ou doutrina política que possa curar o Brasil. Quando os remédios da direita se provarem, não só ineficazes, como também nocivos, assim como os da esquerda, muita gente vai cair na real, vai aderir ao ceticismo que a causa paulista defende.

Ps.: Paulo Batista, que traiu os separatistas, de figura ascendente da política direitista de 2014, acabou sendo traído por seus pupilos, em especial Kim Kataguiri e cia, que fundaram naquele mesmo dia o MBL, chutando o traseiro de Batista para fora. Hoje Kim e seus parceiros estão eleitos, todos pelo DEM e Batista continua na internet, com menos importância do que tinha em 14. De traidor a traído, apenas um passo.

sábado, 17 de novembro de 2018

Farofa materialista

Verdade seja dita que de alguma forma os materialistas estão muito corretos. A influência de nossas condições econômicas e materiais são extremamente decisivas para a nossa psicologia, para explicar como reagimos a agimos diariamente.

Minha vida está associada, diretamente, com a criação que tive, e essa está totalmente ligada com as condições materiais que tive na infância, com o que me foi colocado a disposição, com os lugares que frequentei, com a cultura que absorvi da convivência nesses espaços e com tais objetos e pessoas.

Hoje fui ao Zaffari e fiquei pensando nas circunstâncias materiais das coisas. Comprei o que precisava e fui para o caixa. As atendentes ali costumam ser um pouco mais simpáticas do que as de outras redes do comércio em retalho. Pelo menos nos dão boa tarde ainda, coisa que anda ficando rara entre os atendentes de comércios em São Paulo, em nossos dias.

Pouco antes de terminar de passar minha compra que se resumiu em massa de pizza e bolinhos, a empacotadora do caixa ao lado derrubou uma sacola, com uma garrafa de azeite, que se espatifou pelo estreito espaço entre os caixas. Em um local de público seleto, olhava para a cara das atendentes e empacotadoras e via que ninguém sabia o que fazer. Acredito que eles esperavam que viesse uma bronca, alguma reação destemperada, grosseira. Felizmente nenhuma dessas hipóteses se concretizou. Pegaram a garrafa quebrada e a dispensaram no lixo e um gerente foi tomar outras medidas, fazendo aquilo que se espera de quem ocupa alguma função ou cargo de liderança.

A caixa que me atendia terminou de passar meus ítens, validei o ticket de estacionamento, paguei e, pouco antes de sair com as sacolas nas mãos, vejo que o gerente chega ao local do acidente, carregando um saco de meio quilo de FAROFA CONDIMENTADA! Abriu a embalagem e começou a jogar farofa sobre o azeite esparramado no corredor.

Não fiquei para ver o fim, mas sai falando com meus botões: "esse sujeito vai fazer uma macumba aí nesse lugar".

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Uma geração

Não consigo enxergar as pessoas da minha geração senão com tristeza, incluindo a mim nisso.

Não só pessoas da mesma geração, mas do mesmo extrato social.

Somos filhos da pequena classe média, cujos pais muito fizeram para nos ofertar somente o melhor, em matéria de estudos, preparo e de existência. Fomos todos criados com leite, pêra e Ovomaltine.

A expectativa era enorme. Seríamos uma geração que iria dar certo. A expectativa só se transformou em fracasso.

Comemos mal, vivemos mal, nos relacionamos mal. Temos empregos medíocres, formação de nível superior, estabilidade empregatícia, mas pouca felicidade real e duradoura.

Olhamos ao lado e vemos nossos pais indo embora. Eles nos olham com um ar ainda de esperança, da esperança de sermos felizes, bem sucedidos, ricos, plenos em saúde e bem casados. Nossos pais se foram e não viram isso sair da sua imaginação para a realidade.

Vamos ao mercado, compramos comida industrializada, congelados, comida pra cães e gatos. Olhamos preços, reparamos em embalagens. A compra parece ter saído de um filme americano, quando um personagem qualquer, também medíocre, vai ao 7 Eleven para pegar uns poucos ítens e cerveja e cigarros.

Saímos, voltamos aos nossos carros velhos e decrépitos. Comemos um chocolate. Olhamos aos jovens e pensamos "eu já fui inocente assim, já tive aspirações leves e puras dessa forma; por que virei isso?"

Se aqueles que hoje tem trinta anos, aos cinquenta tiverem mudado suas vidas eu ficaria muito surpreso. Não atoa somos a geração depressão. Não atoa tomamos antidepressivos, drogas, bebemos muito e fingimos muito uma sociabilidade que nos livra, momentaneamente, de nossa pequenez.

Escrevendo isso o meu coração só aponta pra um lugar, que nessa terra não se pode achar, mas aqui somos alcançados para em outra parte estar e gozar. À quem tiver a mesma sensação terá a sua desesperança diminuída.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Contra a obrigatoriedade da escolarização!

A escola hoje é ainda um local para o ensino. Para o ensino daquilo que de pior existe na sociedade: a burla, a desordem, o jeitinho. 

A decisão do Supremo Tribunal Federal em proibir o ensino doméstico (homeschooling) foi o maior pecado que essa corte já cometeu em sua história. Se alegam que pais não tem condições de ensinar devidamente seus filhos longe das salas de aulas e alegam também que as crianças e jovens devem estar matriculados para poderem socializar, bom, então está claríssimo que nossos digníssimos magistrados e também os não menos respeitáveis pedagogos que foram citados nas decisões do Supremo simplesmente não tem a mais mínima ideia do que seja a realidade de uma sala de aula de nossos dias.

Estar na escola é ser submetido ao aprendizado da imoralidade, da delinquência, da devassidão, da desordem, do desrespeito, do ódio total pelo saber e pelo conhecimento. A escola é a maior fraude do Brasil contemporâneo. A crença na ideia de que só a educação pode tirar esse país do atraso e do lodaçal de ignomínia é o maior falso deus que por aqui já existiu.

Querem o começo de uma melhora? Acabem já com a obrigatoriedade do ensino, ou melhor dizendo, da escolarização!

domingo, 16 de setembro de 2018

O dia do Senhor

Talvez tenha sido até hoje Max Weber o pensador que mais tenha me marcado. Não digo apenas pela densidade e pela clareza com que enfrentou a análise de problemas sociais, mas a sua visão permeada pela religião me ajudou a conhecer melhor os fundamentos de minha própria fé cristã protestante.

Li, creio que em 2011, o livro "A ética protestante e o espírito do capitalismo". Li depois disso mais algumas obras dele. Todas me impressionaram sobremaneira. 


Max Weber


Em A ética protestante quando é tratado sobre a ideia de vocação dentro do cristianismo reformado tive a nítida compreensão do tema com relação às Sagradas Escrituras. A ideia do trabalho como um castigo pelo pecado original e a ideia de que fazendo bem o nosso trabalho estamos assim louvando à Deus.

Cito aqui um pensamento do doutor Martinho Lutero:


Um sapateiro convertido perguntou a Lutero o que deveria fazer para servir bem a Deus. Ele talvez esperasse o conselho de fechar o seu negócio e tornar-se pregador do Evangelho. Lutero respondeu: "Faça um bom sapato e venda-o por um preço justo". Ele serviria a Deus sendo um profissional competente e honesto (Michael Horton – O Cristão e a Cultura [Fonte]).


O trabalho nos é razão do enfado, do cansaço, por vezes de tristeza e tribulação mas nos será muito mais leve se não insistirmos em estarmos fora de nossa vocação. O cristão, em obediência à vontade de Deus, deve procurar conhecer a sua real vocação. Eu tive consciência da minha direção vocacional no final do Ensino Médio, quando percebi a minha inclinação clara para a comunicação, para o falar e para o explicar. O intento, mais de dez anos atrás era o de ser jornalista, mas os caminhos se voltaram para a educação e desde então sou professor. Passaria toda a minha vida feliz com minha profissão se as condições de trabalho fossem menos aviltantes. Lidar com crianças e adolescentes de hoje é muito próximo à ter que lidar com criminosos ou internados de um hospício, mesmo assim, sigo naquilo que é a preparação de Deus. Prosperar na carreira é parte da compreensão da vontade divina.


Avanço esse texto noutra direção. O dia, historicamente, que os cristãos reservaram para buscar maior intimidade com a sua fé foi o domingo. O primeiro dia da semana começa não como descanso, mas como tempo especial para dedicação exclusiva ao Senhor. Hodiernamente, a maior parte dos cristãos não observa essa dinâmica.


O domingo, sem que se volte o rosto e o coração à Deus é o mais triste e melancólico dos dias da semana. Quando estamos inclinados, totalmente, à religião nesse dia, obtemos refrigério para poder iniciar mais uma semana de labor. O labor é mais leve se o domingo é passado na igreja. É o tempo de limpeza. É o tempo de renovo. É o tempo de depositar com força as nossas assolações nas mãos de Deus e Dele obter uma resposta que nos permita seguir adiante.


Melhor seria se pudéssemos estar todos os dias dentro da casa de Deus:


1. Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos!
2. A minha alma está desejosa, e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo.
3. Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde ponha seus filhos, até mesmo nos teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu.
4. Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvar-te-ão continuamente. (Selá.)
5. Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados.
6. Que, passando pelo vale de Baca, faz dele uma fonte; a chuva também enche os tanques.
7. Vão indo de força em força; cada um deles em Sião aparece perante Deus.
8. Senhor Deus dos Exércitos, escuta a minha oração; inclina os ouvidos, ó Deus de Jacó! (Selá.)
9. Olha, ó Deus, escudo nosso, e contempla o rosto do teu ungido.
10. Porque vale mais um dia nos teus átrios do que mil. Preferiria estar à porta da casa do meu Deus, a habitar nas tendas dos ímpios.
11. Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.
12. Senhor dos Exércitos, bem-aventurado o homem que em ti põe a sua confiança.


Salmos 84:1-12

Se não for possível estar todos os dias dentro dos átrios da Casa de Deus, o cristão deve fazer todos os esforços para estar no domingo dentro da igreja, em plena comunhão com a Esposa de Cristo. Um domingo de louvor ao Altíssimo é a promessa renovada de que o labor será menos pesado. 

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Separatismo e Forças Armadas no Brasil

Um dilema. Pois é, a análise política que fazemos normalmente não é baseada unicamente na razão simples, no puro pensamento abstrato ou então na lógica, mas está muito permeada por sentimentos e por irracionalidade que não é explicada. Ainda nesse sentido, as classificações político-ideológicas ordinárias não podem fazer nenhuma referência verdadeira à realidade. Basear toda a política no critério de esquerda e direita é a coisa mais falha possível! Consulte ao Homer Simpson ou ao Peter Griffin que se diz direitista se ele não acha que o estado deve promover saúde, educação, segurança e transporte de qualidade, ou ainda se o governo não deve controlar propaganda de tabaco, álcool ou publicidade infantil ou controlar a venda de drogas e o aborto. De igual forma, inverta ao polo e vá ao auto identificado esquerdista e pergunte se ele não crê que se deva abaixar os impostos, reforçar políticas de segurança pública, ou ter penas mais duras para crimes graves. Estão vendo a confusão e como as coisas se misturam muito?

Ponto, nesse sentido para os movimentos políticos autoritários da primeira metade do século XX que não se identificavam nem com a esquerda e nem com a direita. Isso os dava a liberdade necessária para poderem empreender medidas práticas que reforçassem o seu poder e atendessem à demandas nacionais. O fascismo italiano, o nacional socialismo na Alemanha, o estado novo de Salazar em Portugal, o Franquismo na Espanha e por ai vai. A terceira posição derrotada pela força das armas provou estar a frente em matéria de pragmatismo político. E, por favor, saiam dessa neura de querer qualificar os movimentos de terceira posição ou terceira via como sendo de esquerda ou de direita apenas para com isso desqualificar os seus oponentes. Isso é ridículo e irreal.

Dito isso, falo do meu dilema, de minha incongruência. Sou um admirador das artes e das virtudes militares. O papel das classes militares ainda não foi devidamente compreendido fora do mundo do estudos internos da caserna. Alguém da Escola Superior de Guerra tem real dimensão do poder simbólico e prático dos militares, mas a extensa maioria dos cientistas sociais da academia e da mídia simplesmente desconhecem esse poder e trabalham sobre eventos históricos isolados ou, o que é muito mais comum, com seus preconceitos sobre o mundo militar. Eu tenho o mínimo de compreensão sobre o papel civilizador da guerra e o que os militares tem de poder real, que é quase todo o poder, muito maior do que o econômico ou o político.

Sei também ler com linearidade o que são as Forças Armadas na história do Brasil: o maior instrumento de promoção da brasilidade e a maior defensora da integridade do território brasileiro. Defender a integridade do território nacional é a missão número um de Marinha, Exército e Aeronáutica. Em nome dessa integridade toda a força deve ser dispensada. Em nome dessa integridade nada deve permanecer no caminho. O regime militar tinha no combate ao comunismo apenas um verniz aplicado sobre a antiga doutrina da integridade e soberania do território nacional. Não preocupava verdadeiramente a liberdade mas só a integridade do país. 

O discurso que pode ser chamado de soberanista tem obtido força na segunda década dos anos 2000. A ascensão de líderes auto identificados na esquerda e na direita em parte está explicada pela defesa da soberania nacional contra o fenômeno da globalização. Vimos isso de Hugo Chavez até Donald Trump. Não digo que isso esteja errado. O ataque às soberanias nacionais é um projeto muito bem articulado pelos grandes magnatas internacionais, os donos do poder econômico e investidores do caos em várias partes do mundo, que tem o objetivo de colocar os governos nacionais unicamente ao seu serviço. Eu também defendo a soberania nacional, mas como encará-la quando tratamos de um país que, embora seja formalmente soberano não constitui uma nação, sendo antes um país plurinacional?

Esse é o caso do Brasil. A República Federativa do Brasil não é uma nação. O processo histórico que temos passado desdo o Império vem, justamente, no sentido de se construir um senso de brasilidade. Se é preciso que um governo seja o arquiteto de uma nacionalidade então não temos uma nação, mas pessoas que se identificam de maneira forçada com um governo e com uma estrutura político-jurídica, um estado soberano. 

Esse é o problema pelo qual todo nacionalismo no Brasil sempre deve ser encarado puramente como chacota e macaquice. O Integralismo de Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale, embora recheado de ideias interessantes, era por fora uma galinha adornada, sempre tosco e com um ar de pura cópia dos nacionalismos europeus (esses sim autênticos). O nacionalismo de esquerda, dos "generais nacionalistas" conseguia ser pior ainda: é um nacionalismo geográfico manco (culto ao tamanho do país), um nacionalismo de fronteira (coisa de gaúchos) e é também idólatra do estado e de empresas públicas que encarnam a soberania do estado frente ao mundo (idolatria da Petrobrás e da Cia Vale do Rio Doce, por exemplo). Como levar esse tipo de coisa a sério? Como ser nacionalista em país tão prenhe de incoerências como o Brasil?

Enquanto este for um país uno só vejo no liberalismo político e econômico como uma saída honesta para a promoção da dignidade e do bem comum possível. Nacionalismo no Brasil só o regionalismo! A divisão do país é uma meta que deve estar no horizonte, que não pode ser esquecida. Só assim poderemos ter algum soberanismo que faça sentido e tenha razão prática de existir. Essa tendência desagregadora só poderá se tornar mais visível se os maiores guardiões da integridade do território brasileiro forem enfraquecidos: as Forças Armadas.

Daí o meu dilema: adoraria ser cidadão de um país com um exército poderoso, uma marinha e uma aviação que colocassem pavor nos demais países, mas o meu país e minha nação não é o Brasil e não consigo ver senão as FFAA como sendo o grande entrave para a independência de todos os estados brasileiros e realização da plena liberdade política com a preservação das culturas tradicionais da América Portuguesa. Sinto, Forças Armadas, mas vocês nunca contarão com meu apoio.


Dois homens bons dessa finada res publica: Júlio Prestes e Washington Luís

O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...