terça-feira, 3 de outubro de 2017

Equações sentimentais

Em um diálogo, dias desses com um amigo, estava falando sobre uma teoria que desenvolvi, com base na experiência própria, a respeito do cálculo do amor.
Terminar um relacionamento é sempre algo muito complexo e circunstancial. Depende de uma série de fatores. Como se deu o rompimento, por que razões, se foi amistoso ou não, se se foi a parte ofendida ou não, se esse relacionamento envolveu amor real ou simples paixão e outros tantos elementos.
Sou da opinião que um amor não pode ser jamais apagado. Diria que ele é como uma tatuagem, que uma vez feita, dificilmente poderá ser removida sem que deixe marcas e cicatrizes, mas hoje já existem meios, usando lasers, de se remover uma tatuagem sem deixar uma só marca profunda. Se fosse possível encontrar uma forma de se esquecer um amor e removê-lo, definitivamente, do coração, eu estarei muito feliz, mas não faria hoje grandes esforços para me submeter a este "tratamento".
A alternativa não é buscar substituir o amor por outro sentimento. Quem já amou alguém, morrerá com esse mesmo sentimento. O que pode ser feito é esconder deliberadamente esse amor em algum compartimento recôndito do coração, de modo a fazer com que ele seja apenas uma caixa cheia de lembranças em um canto qualquer. Ela está lá. É um elemento incômodo na paisagem, mas ninguém tem coragem, nem condições de se livrar daquele entulho.
Para saber se aquilo que você sentiu por uma pessoa foi amor ou só paixão, é preciso levar alguns elementos em consideração, sempre colocando o objeto do cálculo em comparação com outro relacionamento.
Pense e considere: o que você sentiu por aquela pessoa foi mais ou menos intenso do que o que sentiu por outras pessoas? Leve em ponderação o tempos dos relacionamentos, o grau de intimidade e grau da confiança existente na relação. Equacione esses elementos e, POR COMPARAÇÃO, chegue a conclusão se você amou ou não alguém.
Veja, isso apenas serve para fazer o diagnóstico, mas não é a receita para a cura da dor do fim de um relacionamento (jamais do fim de um amor, por que amor não tem fim!).
Como lidar com esse processo é sempre difícil dizer e dar uma posologia e dizer qual o remédio. Mas, leve sempre em consideração que você não vai nunca eliminar o sentimento que você construiu. Ele vai permanecer lá. A saída principal é desenvolver um sentimento ainda mais intenso por uma nova pessoa, porém, deixo aqui o conselho: procure desenvolver esse sentimento apenas pela pessoa certa, por aquela que você vai passar o resto da vida junto, não por que seu amor seja o mais puro e imaculado que exista, mas por que simplesmente você precisa e quer permanecer junto. Com essa pessoa você deve ter o maior amor, o mais forte amor, o amor mais intenso. Esse amor nunca sumirá e ainda dará para ti o instrumento para poder fazer com que o primeiro amor fique ali, escondido, mas como um elemento que você dificilmente irá notar, na paisagem histórica da sua vida.

sábado, 23 de setembro de 2017

Memórias docentes

Certa vez, dava eu aula em uma determinada escola estadual. Esse colégio desfrutava de uma considerável fama positiva na região, como sendo uma escola muito rígida, onde imperavam certos padrões que hoje caíram em desuso na maior parte da rede estadual de ensino, como o uso de uniforme, fazer fila na hora da entrada, cantar o hino nacional ou rezar a oração do Pai Nosso. Centros de educação pública onde isso ainda ocorre não são a regra, mas completa exceção.
Dar aula em escola onde, pretensamente, impera um certo modelo tradicional, amarrado aos moldes da educação do passado, as vezes é bem mais difícil do que lecionar em colégios mais flexíveis, onde a direção da escola costuma fazer vistas grossas para todas essas tradições e dar mais liberdade para que o professor, dentro das quatro paredes que fazem uma sala de aula, tenha mais liberdade para dar da maneira que lhe aprouver. 
Tive essa experiência. Escolas públicas onde o tipo de aluno médio presente é o pobre com ares de classe média são as do pior tipo. Plínio Salgado disse uma vez que a burguesia, antes de constituir-se como classe social é um estado de espírito. Nada mais correto. O estado de espírito do jovem pobre (não miserável) ou de classe média baixa é o mais burguês possível. Hedonista, individualista, sem capacidade de olhar a sociedade e buscar compreende-la. Este jovem não liga para a politica, mas tem todos os velhos ranços burgueses, conseguindo ser, ao mesmo tempo, reacionário no que toca a sua vida privada mas progressista quando externa sua opinião e participa como eleitor numa eleição.
Numa determinada turma, desta determinada escola que dei aula e que não citarei o nome, eu tinha diante de mim uma classe que parecia ter saída direto do estúdio do PROJAC, da Rede Globo no Rio de Janeiro. Eu chamava naquela época, ao comentar com alguns outros colegas professores (aqueles professores pelo menos que não padeciam das mesmas moléstias de espírito dos alunos) que aquela sala é a "Classe Malhação", em alusão direta à novela juvenil da Vênus Platinada.
Eram alunos de uma capacidade intelectual pouco desenvolvida. Não conseguiam desenvolver em um patamar satisfatório as habilidades e competências que se pode esperar de um jovem de 14 anos. Grandes dificuldades para ler e compreender textos simples dos livros didáticos, tampouco produziam algo escrito que pudesse ter algum valor. Enfim, boçais.
Estes boçais, contudo, tinham pais e estes progenitores possuíam os mesmos defeitos de sua prole: a arrogância, a soberba, o egoísmo, o vazio cultural e espiritual. Uma pura nata pequeno burguesa, que ao mesmo tempo em que se sente superior aos demais por andar em um carro do ano, modelo 1.0 financiado em 72 vezes também se delicia vendo o programa do Luciano Huck, quando não tem por programa vadiar em shoppings centers.
Uma sala que nada produzia, mas por seu perfil, atraia especial atenção da direção da escola, que sabia que aquela turma, considerada letra "A" teria que ser a elite do colégio e responsável por alavancar os índices nas provas e avaliações que o governo faz (o saresp), que é aquela prova que faz com que os professores possam a vir ganhar um bônus em seus salários no ano seguinte. Um conjunto de crianças sobre a qual se depositava tamanha expectativa não poderia ter tantos defeitos como os que eu aqui relato. Isso era o que a diretora e sua vice pensavam. Nesses casos, a corda sempre acaba arrebentando para o lado mais fraco, o professor novato.
A conversa vai ser sempre a mesma: "o professor não consegue dominar a classe"! Quando não o diretor é mesmo capaz de falar que tem aluno que sabe mais do que o professor (há, mas é raríssimo, não por mérito dos pouco qualificados docentes, mas por deficiências ainda maiores dos alunos).
Foi um ano, com salas que me davam desespero. Não há outro sentimento a descrever senão o desespero diante de uma indagação, do que fazer com alunos tão ruins, imaturos e soberbos. A saída, por divina providência, foi não mais dar aula para estes indivíduos. Não guardo praticamente nenhuma memória positiva dos alunos que tive no ano de 2013, nem da escola onde trabalhei naquele ano. 

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Perspectivas eleitorais para o Governo de São Paulo


Mais do que a eleição para a presidência da República, o que me preocupa é saber quem haverá de ser o próximo governador do Estado de São Paulo. 2018 será uma eleição marcante e tem tudo para trazer um divisor de águas na política estadual, pois ao que tudo indica, nenhum nome "histórico" do PSDB deve disputar o posto: nem Serra, nem Aloysio Nunes.

Para entender esse jogo é preciso esperar, pois muita coisa está indefinida. Por exemplo, não creio que João Dória não disputará a presidência da República. No meu entender ele já está com a campanha nas ruas do Brasil, como também estão fazendo Lula, Bolsonaro, Ciro e Alckmin. Se o prefeito disputasse o governo do estado, creio que seria imbatível e levaria no primeiro turno.

Do ninho tucano qualquer arranjo pode sair. Hoje se fala que Alckmin tem a perspectiva de querer emplacar um nome novo, como fez com Dória ano passado. Esses nomes seriam do secretário de saúde, doutor David Uip e o recém filiado ao PSDB, o cientista político Luiz Felipe D'Ávila. Essas duas candidaturas viriam para defender o legado tucano. Representariam a continuidade do projeto de poder que ocupa o palácio dos Bandeirantes desde 1994 (se contarmos desde a época do Montoro, estaremos falando do ano de 1983! Só o PRP na Primeira República conseguiu tal façanha). Recomendo que assistam a entrevista que D'Ávila deu ao Roda Viva da TV Cultura cerca de um mês atrás. É um nome esclarecido. Tem ótimas ideias a respeito de uma reforma política e das instituições. Fala bem. Mas é um total desconhecido do público (nisso David Uip leva uma minúscula vantagem, pois está a frente de uma secretaria importante e seu nome sempre apareceu na imprensa, tratando de temas ligados à saúde).

Como disse, não creio que o PSDB vá lançar José Serra, que esteve com seu nome envolvido em esquemas de corrupção recentemente (sem falar naqueles outros esquemas da época em que foi ministro do Planejamento e da Saúde nos governos FHC) e seu nome também está de certa forma atrelado ao atual governo Michel Temer, o que pode ser usado pela oposição como um fator negativo.

Aloysio Nunes deve disputar a reeleição ao senado. Hoje é o chanceler do Brasil e um dos mais ardorosos defensores do governo de Temer. Não é tucano "raiz". Sua alma é comunista e seu chão político foi o MR8 e o Quercismo. Estar em um governo do MDB para ele é como estar em casa. Se disputar o senado deve levar uma das vagas novamente (em 2018, são duas as vagas em disputa ao senado).

Paralelo aos nomes do próprio PSDB temos outras alternativas, que são ligadas muito fortemente ao governador Geraldo Alckmin: Márcio França, do PSB e Gabriel Chalita, hoje no PDT.

Se Alckmin sair para disputar a presidência terá que se descompatibilizar do governo do estado, deixando o controle de São Paulo nas mãos do socialista Márcio França. Ex prefeito da cidade mais antiga da América Portuguesa, São Vicente, França é muito próximo de Alckmin e controla o PSB em São Paulo. Não é um socialista de fato, apesar da legenda. É mais um centrista. Tendo a máquina do governo nas mãos poderia ser um candidato muito forte, usando esse potencial para fazer costuras com vistas a aumentar o tempo de TV, por meio de coligações.

O outro nome, Chalita, poderia vir a ser um candidato muito forte. Ex secretário municipal e estadual da Educação, é ligado à Renovação Carismática da Igreja Católica. Também é um alckmista de primeira hora. Hoje no PDT, já foi do PSDB, PSB e PMDB. Legendas não parecem ser um problema para o moço de Cachoeira Paulista. Se sair candidato ao governo poderá vir a ter em seu palanque até possíveis presidenciáveis, a depender das configurações políticas que se derem, como Ciro, Alckmin ou mesmo Lula. É um coringa política. Agrada ao voto conservador do interior, por ser católico, agrada setores moderados da esquerda por ter sido um secretário considerado "progressista". Vejo ele com um forte potencial, caso venha disputar. O PDT que sempre teve em São Paulo o seu sepulcro, por que era o partido do malquisto Brizola, poderia ter o seu avanço mais substancial na história eleitoral do estado.

Por fim, um candidato do PT. Não se sabe se o PT realmente irá lançar um candidato ao governo do estado. Talvez hoje o nome mais forte desse partido seja o do ex prefeito de São Bernardo do Campo e ex ministro do Trabalho Luis Marinho. Marinho, sindicalista, representa um PT mais tradicional, "old school", típico do ABC. Outros nomes poderiam ser citados, como Alexandre Padilha ou Emídio de Souza. Outra possibilidade seria a de dar apoio à candidatura de Chalita. Está tudo em aberto. Mas certeza é que solo, o PT não consegue fazer o governador de São Paulo.

Nome que não consta na imagem e que não sabemos se irá ou não disputar o governo é o do presidente da FIESP, Paulo Skaf, do PMDB, que já disputou o cargo em 2010 e em 2014. Skaf teria a vantagem de já ser relativamente conhecido. É um nome que não podemos dizer estar fora da política, afinal, tudo o que ele faz na FIESP é política, mas talvez conseguisse deslanchar sem um nome tucano tradicional. Não sei se disputará o governo. O partido não ajuda muito a alavancar sua candidatura.

Outras possibilidades não podem ser descartadas. Somente torço para que São Paulo possa ser governado por um homem justo e comprometido, unicamente, com o interesse do nosso povo. Que se preocupe menos com Brasília e menos com a presidência da república e mais com os Paulistas. Que tenha coragem de falar de igual para igual com o presidente e buscar mais recursos e investimentos para nossa terra. Não quero um governador separatista, mas quero, pelo menos, alguém que tenha coragem, coisa que falta ao atual ocupante do Palácio dos Bandeirantes.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Quem será o próximo presidente do Brasil?

Há mais de um ano para as próximas eleições e tudo o que nós podemos fazer são conjecturas. Quais serão os candidatos à presidência do Bananão? Quais serão os nomes dos partidos políticos? Qual o sistema eleitoral? Haverão coligações? Tudo daqui em diante pode mudar.

Há, contudo, algumas perspectivas. Vários analistas tem apontado que uma tendência do eleitorado seria buscar um nome que oferecesse segurança institucional e estabilidade. O nome dos sonhos para esse pessoal seria Geraldo Alckmin. Nada menos empolgante pode existir do que um governo do senhor Picolé de Chuchu. Mentira, tem sim. Imaginem uma palestra do Eduardo Suplicy sobre a renda básica de cidadania. Isso sim é chato pra caramba, mas voltemos a 2018.

Se o eleitorado está realmente querendo fugir das radicalizações políticas, por que raios os dois candidatos que hoje ocupam a dianteira em todas as pesquisas, são candidatos radicais, Lula e Bolsonaro?

Lula tem feito um discurso para agradar um amplo espectro de esquerdas. Parte diminuta do esquerdismo pátrio, refugiado no irrelevante PSTU e em setores do PSOL, não aceitam o lulismo, mas no resto, há um entusiasmo sobre o retorno do sapo barbudo, quase como havia em 1989.

Bolsonaro é um fenômeno de mídias sociais e vamos ver nas próximas eleições se ele conseguirá se transformar em um fenômeno eleitoral, elevando seu patamar de chefe de militantes web para o de comandante de um país.

Só coloco hoje na disputa dois outros nomes que podem embaralhar essa polarização de Lula vs Bolsonaro: Dória e Joaquim Barbosa.

O atual alcaide paulistano também vem tendo um bom desempenho nas redes sociais, tem obtido o apoio de um bom séquito de entusiastas, é político, ao contrário do que prega em público, está em um partido grande e se lhe for negada a vaga para disputar a presidência pelo PSDB, pode ir para o MDB ou o novo DEM, que lhe abririam as portas e garantiriam espaço para tentar chegar ao Palácio do Planalto. Ele seria um nome, à "direita" para ser a alternativa mais palatável e do establishment ao nome de Jair Bolsonaro. Dória também é único presidenciável tucano cujo nome consegue chegar aos dois dígitos nas pesquisas eleitorais.

Joaquim Barbosa está fazendo manha para ingressar na carreira política. Não sei se ele quer mesmo embarcar nessa. Sinto que sim. Seu destino político seria a REDE da ex-senadora Marina Silva que, nessa situação acabaria sendo sua vice (como era para ter ocorrido em 2014 com Eduardo Campos). Barbosa seria o grande abalo político. Ele conseguiria obter apoio de grande parte de nossas classes falantes, da esquerda ao centro, e também teria um apoio popular significativo, pois a sua associação com o papel que desempenhou no judiciário, no processo do Mensalão, ainda tem forte apelo entre a sociedade.

Como disse, é cedo ainda para dar um veredicto. Não sabemos mesmo se Lula vai ou não disputar a eleição. Se vier a disputá-la, será aquele que tem as maiores chances de vencê-la. O seu peso entre o eleitorado mais humilde do nordeste será decisivo. Não é o pobre que vai eleger ele. Os pobres do centro-sul, os favelados de São Paulo, não votam nele hoje, pois não enxergam em sua figura alguém com os mesmos valores que si, de gente que quer emergir socialmente e sair da pobreza (embora durante a era Lula tenha existido grande mobilidade social). No fundo, é o messianismo o fenômeno que lhe concede forças. Só outra figura que vista a capa de Dom Sebastião é que poderá enfrentar o lulismo. Dória, Bolsonaro ou Joaquim Barbosa terão que dar ao populacho mais atrasado aquilo que sonham: o grande líder, o grande pai.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Esoterismo e pensamento moderno

Estudando sobre o movimento da Escola Nova, muito famoso no Brasil por meio de Anisio Teixeira, responsável por uma série de reformas educacionais nas primeiras décadas do século passado, chego a Adolphe Ferriere. Este pedagogo suíço é considerado o principal pensador dessa corrente da educação no período e até hoje é uma referência nos cursos de formação de professores. Para minha surpresa, Ferriere foi amigo próximo de Karl Ernst Krafft, matemático e astrólogo também suíço. Kraft, por sua vez, ficou famoso por ser o "astrólogo de Hitler". 

É curiosa a aproximação que existe de vários campos do pensamento moderno e contemporâneo, com os diversos ramos e escolas do esoterismo. Muito mais eu poderia escrever aqui sobre isso, mas deixo esse apontamento como registro.

http://astrologianapratica.com.br/blog/krafft-o-astrologo-de-hitler/
https://fr.wikipedia.org/wiki/Adolphe_Ferri%C3%A8re

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Nunca assisti Kiarostami

Quando jovem sempre lia algum encarte de jornalões que me parava nas mãos. O guia cultural da Folha ou do Estadão. Era uma espécie de revistinha, impressão também em papel jornal, que trazia as principais novidades da agenda cultural de São Paulo: novos restaurantes e botecos, peças de teatro em cartaz, musicais, concertos e shows e filmes em exibição nas salas de cinema de rua e dos shoppings centers. 

Na parte dos filmes, me recordo que uma presença sempre constante era a do diretor persa-iraniano Abbas Kiarostami. Via frames de seus filmes, sempre trazendo imagens belas e dramáticas do Oriente Médio, em uma época em que os Estados Unidos estavam encrencados tanto no Afeganistão quanto no Iraque. Eu, 14 ou 15 anos (talvez um pouco menos), conseguia fazer relações entre os filmes, que nunca assisti, desse diretor, com a situação geopolítica do Médio Oriente.

Ontem assistindo um filme dinamarquês de suspense policial (nada demais, mas gostei do silêncio nórdico, Departamento Q - Uma conspiração de fé) me recordei de buscar filmes cult, que apreciem o silêncio como recurso técnico e me lembrei de Ingmar Bergman e Persona, recomendado por meu irmão mas que não tive paciência para assistir e, na sequência, me lembrei também de Abbas Kiarostami. Fui ver sua filmografia e descobri que ele morreu no ano passado.

Não fiquei sabendo de sua morte. Ele era uma espécie de figura cult de intelectuais, que eu sabia que existia, que era comentado e assistido, como são lidos e comentados certos pensadores (Derrida, Foucault, Guatari e Deleuze). Nunca o assisti seus filmes assim como nunca li obra alguma dos filósofos citados. 

Escrevo sobre Kiarostami por que seu nome, de certa forma, faz parte da minha juventude. Faz parte como também fazem parte todas as demais memórias que tenho de lugares, pessoas, momentos, ruas, viagens de ônibus, minutos em que passei sentado em uma determinada cadeira, relacionamentos da escola e da igreja. É uma pecinha do puzzle do meu passado.

Quando escreve isso, o tempo passa e no quarto ao lado, minha mãe assiste a TV, vendo notícias, como também no passado fazíamos. Eu sou refém das sensações passadas da minha vida.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

O real progresso

Hoje poucos pensadores seriam tão audazes a ponto de identificar o avanço material da civilização europeia moderna com o Progresso em seu sentido absoluto, pois agora nos damos conta de que a civilização pode prosperar externamente e dia após dia crescer mais e mais barulhenta e mais rica e autoconfiante, enquanto ao mesmo tempo apequena-se em vitalidade social e perde contato com suas tradições culturais mais altas.

          Do livro Progresso e Religião, de Christopher Dawson.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

O que pode salvar o Brasil?


Uma intervenção militar? Não, a mentalidade do poder constituinte permanece a mesma.

Uma nova assembleia constituinte? Não, pois o mesmo problema persiste.

Alternativa: o Brasil é invadido e dominado por uma potência estrangeira, que lhe impõe um novo ordenamento jurídico. Chance de ocorrer: zero.

Alternativa 2: os estados do Brasil se separam e forma novas repúblicas independentes, cada uma por si e sem poder centralizado em Brasília. Chance de ocorrer: baixa, mas existente.

Ou seja, a secessão é a melhor das opções para o Brasil.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

JUDY COLLINS - "Send In The Clowns" with Boston Pops 1976





Linda canção. Conhecia ela assistindo Family Guy. E bela voz a da Judy Collins.

Monarquia, vocação europeia.

Lendo sobre a História europeia não consigo deixar de ficar triste em ver como o continente, responsável por fazer do mundo civilizado, hoje está prostrado diante de uma decadência generalizada. A Europa precisa reencontrar o seu caminho, olhando para si, para o seu passado. A crise que passa o velho continente, já faz algumas décadas, é uma crise tipicamente moderna. É a recusa em olhar para o passado e em aceitar que no passado estavam corretos, mas, em algum momento se desviaram do caminho e nele se perderam. Manter-se nesse caminho reto é o único objetivo, sem saber para onde realmente se deva ir, contudo, ao se desviar e buscar certos atalhos, acabou-se por cair em um poço, que é este de decadência moral, relativismo, ateísmo e multiculturalismo. Não se sabe para onde vai, mas ao sair do caminho se descobre onde não quereria ter ido. A crença no progresso indefinido é a razão desse desvio europeu.

Nesse sentido, acredito que a república não faz do espírito da Europa. A monarquia é a cara e a mente dos países europeus. Ao entrarem nas aventuras republicanas acabaram sempre em profunda crise política, como é o caso francês, português, italiano e outros. Nesses países, alguma estabilidade política somente foi restabelecida, graças ao parlamentarismo ou ao semi-presidencialismo, em se tratando aqui, particularmente, do caso francês. Tais modelos são republicanos, mas tem características que são típicas de países monárquicos, o mais claro deles é a divisão de atribuições entre o chefe de estado e o chefe de governo.

No Brasil, no entanto, sou republicano. A América é muito maior que a Europa. Todos os países aqui são grandes e lamentavelmente muito diversos, o que gera dificuldades enormes para se gerenciar tudo isso. A República e a Federação são os únicos remédios para os problemas políticos americanos (foi assim que os Estados Unidos se construíram como nação sã e é assim que os demais países do continente deveriam buscar seus rumos).

Ou seja, para concluir, não vejo o sistema monárquico como ultrapassado. Na Europa, a restauração das monarquias talvez possa vir a ser um passo muito importante para que este grande continente consiga se recuperar e fazer frente aos males que hoje tanto lhe assombram e que podem ser fatais. 

terça-feira, 4 de julho de 2017

Fernando Henrique Cardoso, o presidente globalista.

Eu estou lendo os Diários da Presidência, do Fernando Henrique Cardoso. Considero que FHC foi o único presidente brasileiro tolerável desde o fim da Primeira República. Apesar de todas as críticas que possam ser feitas a ele (e não são poucas, aliás) ele é único que ocupou o posto presidencial em que eu consigo enxergar elementos dignos de elogios.

É interessante estudar e buscar compreender como o PSDB se formou e o espaço que esse partido veio desempenhar na política brasileira no período pós redemocratização. Dentro dos hábitos partidários que temos como tradição, os tucanos carregam diversos vícios, como dar muito peso aos estados do nordeste e ao caciquismo, todavia é o único partido que não pertence a esquerda radical que possui intelectuais capazes de fazer uma leitura histórica, sociológica e econômica do país. Um mérito do primeiro governo Fernando Henrique foi o de estar sempre ouvindo o que importantes intelectuais tinham a dizer e é claro, estes pensadores dialogavam com um comandante que lhes dava ouvidos, que compreendia a profundidade de suas ideias e pensamentos. O PT está cheio de intelectuais (uns bons e respeitáveis - apesar de discordâncias que qualquer um possa ter com eles - e outros nem tão) mas a Marilena Chauí, o Marco Aurélio Garcia, o Márcio Porchmann, ou qualquer nome da academia que venha tratar com o Lula terá que lhe dirigir os temas por parábolas, já que a formação de sua ex-excelência é mais do que sofrível. Eis uma sensível diferença que pode ser colocada entre os governos de FHC e de Lula.

Também creio que não seja fácil colocar sobre as costas de Fernando um peso tão grande como o que hoje Lula carrega, de ter ciência de esquemas de corrupção de proporções monumentais. Sempre vi o Fernando Henrique como uma pessoa um pouco alheia a tudo isso. Sim, eu sei dos escândalos que tivemos durante o seu governo e aqueles que ele foi associado, após deixar a presidência, mas nenhum deles pode sequer estar perto de ser comparado com o assalto patrocinado pelo PT no período em que esteve na presidência, que deu salvo conduto para que todas as demais legendas e grupos políticos instalados no poder se sentissem abonados para realizar acordos espúrios a luz do dia, sabendo que o estado todo estava aparelhado tendo a corrupção como razão principal. Isso não se viu nem no primeiro e nem no segundo mandato (1995-2003). 

FHC sabe que fez um bom governo, dentro daquilo em que ele crê que fosse o correto a se fazer e diante daquilo que o intelectuais que mantém um diálogo liberal-social e social-democrata no Ocidente também creem que seja o correto a ser feito em relação ao governo e administração pública. Esse diálogo do qual o ex-presidente é uma voz muito ativa defende medidas que não concordo: são privatizadores, mas não querem que o mercado seja aberto para ampla concorrência; são liberais radicais (jacobinos) em relação ao entendimento do estado com as religiões (nesse sentido são espiritualmente tão ateus e antirreligiosos quanto o mais vulgar marxismo, embora a maneira como encarem isso não seja sempre tão ostensiva como foi a do comunismo durante o século passado); são radicalmente favoráveis ao entendimento contemporâneo de globalização e divisão internacional do trabalho. Quem lê e conhece os estudos de historiadores independentes sabe que há por trás de todas essas políticas, que de maneira ampla denomioa de política pós contemporânea, há um projeto de um mega estado gerente, em proporções globais, se formando. 

Não tenho nenhuma dúvida de que Fernando Henrique Cardoso é hoje uma das maiores referências internacionais em matéria de globalismo. Ele constroi esse papel de dentro do processo de ação política, de maneira consciente. Com certeza ele não chama o crê de globalismo, mas é consciente do que faz. Em seus governos teve atitudes, sempre paliativas, bastante importantes, como a reforma do estado, uma tendência a descentralização, estabilização econômica. Tudo isso é elogiável, mas temos que sempre levar em consideração que isso que está sendo elogiado por mim é bem visto pelo ex-presidente como sendo coisas positivas por outras razões, pelas razões que fazem de FHC um globalista.

O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...