segunda-feira, 14 de julho de 2025

O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução.

É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma casa ou sobrado, hoje cercado de comércios, prédios envidraçados e milhares de transeuntes. 

É como alguém que resiste em morar numa casinha na Vila Olímpia. 

Ou mora no Largo 13.

Na avenida São João ainda resta uma casa.

Na mente tenho essas imagens. Desde sempre reparei nuns tipos assim. Um velho que envelhece com o imóvel. Ambos dois resistentes.

Eu sou também um resistente e minha casa também. Resistimos, pois somos eternos. 

A última casa da Avenida São João

Um desses resistentes, venceu a morte pela memória.


sábado, 12 de julho de 2025

O político humano

O melhor político que há é aquele que tem a sua história pequena rastreável: você sabe onde o sujeito toma cerveja, que padaria compra pão, em qual Drogasil vai quando precisa comprar um xarope pra tosse. Aqui em São Paulo há alguns assim. Vereadores, deputados e até mesmo o prefeito. Isso é um privilégio nesses tempos de distopia. É sinal que eles ainda são seres humanos. Brevemente, até isso será roubado de nós. 

sexta-feira, 11 de julho de 2025

Um pentecostalismo elegante.

 Faleceu no último fim de semana o pastor Gedelti Gueiros, fundador da Igreja Cristã Maranata. Aqui em São Paulo essa denominação evangélica não é tão relevante, numericamente, como é no seu estado de fundação, o Espírito Santo. Os Gueiros eram presbiterianos que se separaram do presbiterianismo e caminharam em direção ao pentecostalismo. O que me chamou sempre a atenção, observando o movimento pelo olhar sociológico, é que a família Gueiros era uma família bastante educada, com acesso à espaços de poder. O pastor Gedelti foi um importante dentista e uma figura extremamente respeitada na sociedade capixaba. O atual presidente da igreja, Alexandre Gueiros é jurista e diplomata. O destacado poeta Carlos Nejar, membro da Academia Brasileira de Letras é pastor maranata. 

Em um contexto de baixa escolarização, como é, normalmente, o meio pentecostal brasileiro, estejamos falando de lideranças ou de fiéis, a liderança presbiteral da Igreja Maranata tende a fugir da regra. Embora não pareça que seja dado destaque a essas figuras por suas formações profissionais e acadêmicas, ainda assim isso se destaca. Carlos Nejar talvez seja o protestante mais destacado nas letras brasileiras. Não me recordo agora de outro nome, ao menos vivo, que possa fazer-lhe sombra nesse quesito. Ao menos que tenha algum reconhecimento sobre si. Há inúmeros professores, acadêmicos que são evangélicos, mas não gozam do prestígio que o poeta tem. 

quarta-feira, 2 de julho de 2025

Uma sala, um sofá e uma poltrona.

Uma sala. Um sofá e uma poltrona. Um homem assiste atentamente ao noticiário internacional. Ao seu redor poucos elementos. Uma incrível ausência de cortina permite que meu olhar invada sua morada. Na garagem um Fiesta 98 e um jardim em sequidão. Em 2025, ver cena assim é um exercício de história comparada. É como em 95 assistir uma cena sobrevivente de 1965. Eu vi isso também. Casas com móveis azuis bebê, radiolas, enciclopédias nas estantes, tv de tubo com móvel de madeira. Via carros dos anos 50 e 60. Rural e Aero Willys. Impala, Dodges, Gordini, TL, Variant, "Zé do Caixão" e toneladas de Fuscas. O menino de hoje talvez me veja e pense: esse sujeito, entrando na igreja numa noite de quarta feira, com sua Bíblia de corte dourado, com tênis antigo, com cara de velho, um mané, um sujeito do passado, com seu carro também fora de linha. Mal sabe ele o que pode lhe esperar: ser julgado, avaliado e analisado por gente que ainda sequer foi parida. 

O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...