domingo, 14 de maio de 2017

A Lava Jato e o messianismo

Acompanhar as conversas de muita gente nas redes sociais é um exercício que tem exigido muita paciência. No Twitter praticamente todos aqueles que se identificam de uma maneira ou outra com alguma coisa que pode ser considerada de direita, passam o dia todo a louvar e a torcer pela operação Lava Jato e pelo juiz Sérgio Moro, como quem reza uma ladainha em favor de um parente morto.

Além da torcida infindável, outro comportamento que observo, que, aliás, é a base para tudo isso, está na fé que o brasileiro tem na justiça, esperando que ela, com seus paladinos, consiga afastar do poder todos os corruptos que estupram o bom senso nesse país.

Não há consciência de sistema nesse país. Sim, de sistema. O brasileiro não consegue entender o que é o Estado de Direito, com as suas instituições, devido processo legal, garantias fundamentais, recursos, normas de processo penal e civil. Exceto os bons juristas, ninguém compreende a densidade disso tudo. Diante disso, a sensação que se tem é de que a justiça vai ser sempre rápida e fatal em lidar com aqueles que estão sendo investigados. Pra que processo, para que investigações, oitivas, depoimentos, pra que, afinal, toda esta infinidade de etapas, que atrasam aquilo que todo mundo sabe, que políticos são ladrões e devem apodrecer na cadeia?

Se não há consciência do que é um sistema e do que é um processo, de forma igual também se vê perpetuar por aqui a crença messiânica em quem possa libertar o país de seus males. A saída do Brasil virá de um grande homem, de um vingador, de um libertador. As instituições tem um papel mais do que secundário nessa mentalidade ou não tem, sequer, papel algum. A lei é um palavrório de sentido incerto, quando o que vale é a capacidade que o paladino e defensor mór de todos tem para defender a nós. É o festival do senso comum, no pior sentido que essa expressão possa ter.

Um dia os brasileiros simples viram nos seus grandes líderes políticos os seus salvadores: Pedro II, Getúlio Vargas, Jânio Quadros, João Goulart, Lula. Hoje, o povo espera da justiça que Sérgio Moro (assim como Joaquim Barbosa foi durante o Mensalão) seja aquele, que erguendo a espada e o escudo defenda os mais frágeis, liberte o país da roubalheira e coloque o eterno país do futuro nos trilhos. Sinto dizer que isso é pura bobagem. A Lava Jato é uma aspirina num corpo canceroso.


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