sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Tudo estranho nesse atentado sofrido por Bolsonaro

Sai de casa um pouco depois do meio dia. Fui no mercado comprar algumas babujas: requeijão do norte, cerveja, linguiça, um docinho. Os dias tem se sucedido assim, mais ou menos. Um após outro, uma aflição por dia, um docinho por dia pra compensar.

Quando era por volta das duas e quebrados eu me deitei um pouco com o celular e ouvi umas entrevistas velhas do Jô Soares Onze e Meia no Youtube. Adormeci e me levantei pouco antes das seis para ir tomar uma chuveirada e pegar o carro pra ir pra escola. Quando saio do banheiro minha mãe comenta com meu irmão que haviam esfaqueado o Bolsonaro. Fiquei espantado com o que ouvi e minha reação foi pegar o celular pra ver as redes sociais.

Ora, passadas 24 horas do atentado muito já foi dito. O tema do atentado monopolizou a imprensa. Dizem que o Jornal Nacional praticamente só falou disso. A internet também só fala sobre. A direita está em total frenesi com o ocorrido, uns por comoção real com o fato outros pela emoção que o ocorrido traz ao pleito eleitoral. Pessoas normais que são de esquerda acham tudo o que ocorreu um grande risco. Nota-se que foram pegos de surpresa como todo mundo e que estão ainda digerindo todo o forfé.

Não há menor dúvida de que o criminoso era uma pessoa afinada com as pautas da extrema esquerda. Foi filiado ao PSOL. Seu Facebook está repleto de publicações com teor esquerdista. Contudo, chama também a atenção para o conteúdo anti-maçônico que se encontram em outras tantas postagens do sujeito.

A maçonaria, a partir do governo Dilma, passou a dar mais a cara a tapa, publicamente. Ninguém que não seja afetado mentalmente desmerece todo o poder que ao longo da história essa seita teve e permanece tendo. A maçonaria é, talvez, a principal rede de contatos políticos que existe no mundo. Mais forte em seus intentos do que a Igreja Católica. O número de maçons em cargos de eminência no mundo é incontável: governantes, ministros, executivos de grandes corporações, membros do poder judiciário e forças armadas, artistas, elementos do clero. A maçonaria realmente é quase onipresente, embora eu duvide muito da capacidade do coesa plena e total da mesma.

Mas aqui no Bananão os maçons, depois de controlarem total e diretamente, a política do país no Império e na Primeira República, parecem que se afastaram da política miúda, das disputas eleitorais periódicas. Coloco o período da década de 1960 até a atual década como o momento de reclusão da maçonaria brasileira. Ao ver a instabilidade geral e a falta de perspectiva política, a classe dos seguidores de GADU no Brasil aparente ter despertado, saído de sua dormência. É notório o papel desempenhado por relevantes setores e membros da maçonaria em nossa década, contra o governo petista, sobretudo. Um dos mais destacados movimentos de rua que participaram dos protestos contra Dilma Rousseff foi o Avança Brasil Maçons-BR. Nosso atual presidente é maçon adormecido e, rezam as lendas, que é dos graus mais elevados (não digo que ele seja grau 33, o mais alto da seita, por que este, normalmente, é reservado aos grãos mestres). Boa parte dos mais próximos assessores do candidato Jair Bolsonaro é formado por maçons: o princípe Luiz Phellippe de Orleans de Bragança, Major Sérgio Olímpio Gomes, o General Hamilton Mourão, o também General Augusto Heleno. Estas são figuras publicamente maçônicas. Certamente há outros homens da maçonaria no casting de Bolsonaro. Não seria equivocado dizer que, embora não oficialmente, Jair Bolsonaro é o candidato da maçonaria brasileira à presidência da república.

Adélio Bispo de Oliveira, obscuro personagem que apareceu de sopetão no dia de ontem, em seu Facebook se coloca como um anti-maçon. O que teria gerado esse anti-maçonismo dele? Teria ele não sido convidado a participar de alguma loja? Teria sido alvo de algum complô de bairro de maçons contra ele (parece que sim)? A verdade é que muitos podem achar estranho um sujeito que seja anti-maçon e de algum modo religioso ser membro de uma legenda de extrema esquerda, como é o PSOL. As tendências conspiratórias são fortes tanto na esquerda quanto na direita e mesmo fora delas.

Bom, nesse texto, a maior parte do que escrevi são conjecturas. A verdade, acho difícil que venhamos a conhece-la. A imprensa está desbaratinada e preocupada apenas com o alcance eleitoral do evento e com os pontos de audiência que a cobertura do caso podem lhe render. As informações são desencontradas e não irão investigar isso como se deve: não irão, por exemplo, atrás do dinheiro do tal Adélio (desempregado, morador de Santa Catarina, que passava temporada em Juiz de Fora), assim como não me parece que estão interessados em saber se ele agiu sozinho ou em conluio (o ministro Raul Jungmann, da segurança pública, disse em entrevista, que acredita ter sido ação de um lobo solitário). A versão do lobo solitário é aquela que tende a ganhar mais força, apesar da verdade.

Bolsonaro sai mais forte disso tudo. Sai vivo. Não sabemos ainda se ele poderá se dedicar a campanha. Se terá o seu restabelecimento a tempo de pegar a reta final da disputa. Por enquanto tudo está em compasso de espero. Penso que até segunda feira mais coisas devem se aclarar. Tanto sobre o estado físico de Jair Bolsonaro, quanto sobre a corrida eleitoral. O resto, porém, não se aclarará.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

A humilhação da Globo é sempre uma eterna alegria!

É sabido que no Brasil uma das questões que todo cidadão médio concorda, tenha ele a inclinação política que for, é que a Rede Globo de Televisão é uma organização criminosa. 

Entre aqueles um pouco mais esclarecidos essa consciência é ainda mais clara, por mais que não seja sempre externalizada. 

Não posso falar tanto. Não sou grande espectador dessa emissora. Assisto a um pouco do jornalismo da casa, de forma esporádica. Mais a primeira edição do SPTV e o Jornal da Globo e o Hoje. Os diários matutinos e o Jornal Nacional não estão no meu menu diário. Da teledramaturgia e a linha de shows da Vênus Platinada também tenho orgulho em afirmar com toda a verdade que não assisto, não vejo, não sei o que se passa. Se uma novela da Globo promove o homossexualismo, a pederastia, a traição, o ódio, a bruxaria ou qualquer outra coisa, isso não me afeta diretamente. Sei que a Globo promove tudo isso, mas sei indiretamente. Não preciso me expôr a tamanho toxidade todos os dias para saber disso.

Jair Bolsonaro hoje esteve na bancada do Jornal Nacional, sendo entrevistado como candidato à presidência da república. É totalmente conhecida a completa repulsa que o deputado Bolsonaro tem em todas as redações dos meios de comunicação nesse país. O seu estilo direto, franco, aberto, popularesco, que fala olho no olho com o cidadão comum é um ultraje para a classe jornalística, na maior parte composta de elementos de classe média, que saíram da pobreza ou vem de famílias igualmente de classe média e que tem por hábito colocar um sujeito comum como sendo uma pessoa desqualificada, despreparada, indigna de ter a sua opinião levada a séria. Na cabeça dessa turma, levar um Bolsonaro a sério é colocar em pé de igualdade consigo àquele parente que teve pouco estudo, um vizinho da infância que falava de boca cheia, peidava na sua frente ou de um colega de escola que não conseguiu avançar em direção à faculdade e que vive sua vidinha simples, preocupado com os resultados do futebol e que domingo a noite, antes de deitar para o início de mais uma semana de labor, gosta de dar risadas vendo as câmeras escondidas do Silvio Santos. Em parte, a ojeriza da imprensa é uma repulsa às próprias memórias afetivas da infância de muitos jornalistas.

Outra possibilidade para explicar o asco que a imprensa tem do candidato do PSL à presidência se deve ao fato dele ser um exemplo vivo de como é possível viver fora dos holofotes do jornalismo televisivo. Bolsonaro só é o fenômeno que é hoje graças a internet. Sem ela, não teria conseguido obter o mesmo sucesso que tem hoje. Um sujeito muito mais capaz e mais preparado para as funções da administração pública, como foi o saudoso doutor Enéas Ferreira Carneiro não teve a chance de chegar a presidência por que dispunha apenas de escassos segundos de propaganda eleitoral na TV. Se tivesse tido a chance de viver nos anos 2010, Enéas seria o grande fenômeno e o que vemos Bolsonaro fazer, colocando jornalistas de todos os veículos no bolso, dia após dia, seria ainda mais estrondoso e assustador. Querem um exemplo? Assistam no Youtube a clássica entrevista do doutor Enéas no Roda Viva, em 1994. Aquilo é um total massacre de um único sujeito frente ao tribunal da inquisição da imprensa. Rodeado de nomes famosos da imprensa, como Fernando Mitre, Clóvis Rossi, José Paulo Kupfer e Heródoto Barbeiro, simplesmente Enéas não deixa espaço para uma única virgula faltante, nenhuma ideia mal articulada, nenhuma resposta dada sem clareza. Vejam isso e tentem imaginar como seria se ele tivesse o Youtube a possibilidade de fazer streamings diários, publicar tweets e encaminhar newsleters. Nessa hipótese absurda, Enéas seria o verdadeiro mito e Bolsonaro só um histriônico deputado.

A Globo consegue ser ainda mais detestável do que qualquer outra emissora, sobretudo pela vida absolutamente maculada do senhor Roberto Marinho, que engordou seus cofres durante a ditadura militar prestando o serviço médico geral de anestesiar milhões de mentes. A Globo infringiu leis, roubou. Com o apoio dos militares. Não é totalmente surpreendente imaginar o porque Bolsonaro devota tanto respeito à figura do senhor Roberto Marinho, a quem citou, entusiasticamente, em sabatina na Globonews e hoje novamente no Jornal Nacional. Marinho, que negava suas origens africanas, passando pó de arroz na cara até seus últimos dias, contudo não abria mão de uma "macumbinha". Programas da Globo, em especial sua teledramaturgia, sempre foram as maiores promotoras do espiritismo e das crenças mágicas afrobrasileiras, como a Umbanda e o Candomblé. A bruxaria é promovida para donas de casa às 19 horas simplesmente por que o dono da emissora era um serva dessas práticas religiosas e crente delas e, portanto, o seu principal promotor público. Bolsonaro, como cristão, deveria parar de exaltar essa figura (mesmo que avise que, assim como quase todo mundo, saiba que a Globo é puro veneno e que irá cortar verbas publicitárias estatais se for vencedor do pleito de outubro -- esperamos que ele cumpra essa promessa!) até por que, dadas as ligações de Marinhos com o Regime Militar e a idolatria que os seguidores do candidato capitão do exército tem também com a milicada, muitos já estão quase querendo que o dono da Globo saiu do mundo mortos e retorne para colocar ordem em sua criação, que teria se rebelado e se tornado um antro de comunistas (como se a Globo não fosse, desde a sua criação, um covil de membros do partidão).

Em se tratando da Globo, vê-la humilhada é sempre uma alegria!

*Texto não revisado*

domingo, 26 de agosto de 2018

Divagações sobre o passado recente do Oriente Médio

Como praticamente ninguém lê este blogue me permito aqui publicar algum pensamento que não resultará em ações práticas jamais.

Me veio a cabeça: após a segunda guerra mundial, por que não se conseguiu chegar a uma pacificação do mundo, muito em especial da região do Oriente Médio? Minhas convicções apontam para o papel negativo que o Estado de Israel desempenhou nisso. 

Primeiramente, desempenhou por meio do lobby e do controle que suas elites tinham sobre as elites políticas e econômicas dos países do Ocidente e também da URSS, que fez com que essa ideia tosca do sionismo político fosse plenamente executada como foi, com a ocupação da Palestina pelos judeus.

Segundo, essa mesma elite judaica trabalha contra o avanço do cristianismo pelo mundo, inclusive nos dias de hoje, dentro de Israel. Há mais liberdade para os cristãos no Egito ou até mesmo na Síria do que Israel. Em matéria de hostilidade ao cristianismo, o Estado de Israel é praticamente tão hostil quanto o Irã (que só reconhece os cristãos históricos de seu país e não missões evangelizadoras protestantes) e, sem dúvida, a Arábia Saudita, país wahhabita que é, curiosamente, o principal aliado israelense naquela região.

Pensem, o que teria sido da Líbia, ou do Iraque, se as lideranças que saíram para o domínio desses países, após a II Guerra tivessem sido convertidas ao cristianismo? Pensem no processo maciço de abertura desses países para que a liberdade e a tolerância religiosa total ali fosse implantada! O exemplo da Turquia aqui nos cabe: foi preciso um líder forte ocidentalizado, Atatürk, para que a Turquia saísse do decadente período Otomano e virasse um país mais livre e secular. Atatürk, contudo, fez esse processo não sob a influência do cristianismo, mas da maçonaria, da qual era um membro iniciado.

Pensem que o coronel Gaddafi e Saddam Hussein poderiam ter sido evitados, se as monarquias tradicionais ali estabelecidas após a II Guerra tivessem permanecido no poder com o apoio de uma crescente população cristã (no caso iraquiano isso seria ainda mais fácil, dada a grande presença de cristãos caldeus e assírios que ali até hoje existem).

A pacificação total não seria, algo certamente, alcançada , diante de um cenário como esse, até por que alguma hostilidade partindo de certas autoridades islâmicas, provavelmente, se levantariam contra a desislamização daquela região, mas, mesmo assim, teríamos um ambiente muito menos hostil, ainda mais se pensarmos na inexistência de um estado confessional e etnicamente uno como é o Estado de Israel.

Precisamos, enquanto cristãos, entender o que é Israel na prática, para além de visões teológicas que são amplamente discutíveis. Entender que o judaísmo não é aliado do cristianismo, por que a fé cristã, EM TUDO SUPERA AO JUDAÍSMO, por que o próprio Deus se fez carne e habitou entre nós para a salvação de todo aquele que Nele cresse, fosse judeu ou gentio. Ai foi abolida toda a distinção e todo o privilégio que os hebreus tiveram enquanto etnia desde Abraão. A Igreja (o corpo invisível de todos os eleitos) é o novo Israel! O martírio e o triunfo de Cristo nos fez todos iguais perante Deus.

Um judeu ortodoxo e um muçulmano fundamentalista podem chegar mais facilmente a um acordo teológico do que com um cristão, por que a nossa crença e fé se fundamenta na superação do judaísmo (e o Islã nada mais é do que uma perversão da fé judaica, associada com elementos marginais do cristianismo oriental e de fés pagãs de povos do deserto) e também do maometanismo. Se nós, cristãos, há 2000 anos já superamos o judaísmo EM TODOS OS ASPECTOS, por que achar que aqueles que se julgam descendentes de Abraão nos serão amigos e co-promotores de nossa fé? O judeu, enquanto fiel religioso da lei mosaica, dos profetas e sobretudo do perverso Talmude, jamais poderá ser, verdadeiramente, amigo do cristianismo. A barafunda que é o Médio Oriente tem por base esses problemas que aqui explicitei.

Precisamos fazer a lição de casa e reconverter primeiro as nossas próprias nações, entregues ao ateísmo e, na sequência, avançar para a expansão da fé cristã por meio de novas cruzadas evangelísticas.

Sugiro que assistam o documentário Marcha para Sião, que esclarece mais o porque o Estado de Israel é nocivo e por que o Talmud é a total perversão de uma religião superada.

terça-feira, 31 de julho de 2018

Bolsonaro no Roda Viva: a astúcia frente ao medíocre

A seletividade da imprensa é notória. Ela tem os seus interesses muito claros, sejam aqueles interesses dos patrões, sejam os das redações. Já não é de hoje eu penso que os interesses desses últimos tem sobressaído.

A cobertura política do Brasil favorece amplamente certos elementos e certos partidos. Exemplo claro é o espaço que o PSOL e representantes dessa legenda acabam por ocupar, inversamente proporcional à relevância que esta pequena legenda de esquerda tem. O mesmo se observa à Rede Sustentabilidade, partido-movimento ancorado em Marina Silva.

Fora esses dois casos ainda se deve destacar que há algum consenso, as vezes meio a fórceps, de que os melhores partidos para o Brasil são mesmo o PT e o PSDB. Gilmar Mendes, ministro do STF também acha e compartilhou esse pensamento em sua Twitter. O PT e o PSDB representariam o que ainda existe de moderno na política, enquanto os partidos pós-modernos ainda não obtém viabilidade eleitoral. A encarnação do mau se dá no MDB, no Centrão e nas bancadas ruralista e evangélica. 

O consenso social-democrata está formado no Brasil desde a redemocratização, mas ele está cansado e não sou roube, por enquanto, se renovar. PT e PSDB ocuparam o poder num consórcio desde 1994, interrompido, de jure, duas vezes, pelos governos interinos de Itamar Franco e agora de Michel Temer. Na política já há hoje mais vozes céticas em relação à social-democracia brasileira do que a vinte anos.

No meio acadêmico, porém, nada mudou. Talvez tenha mudado para pior. O domínio da esquerda é inconteste em todas as áreas. As perseguições do estamento universitário progressista aos dissidentes é enorme: falam de colegas, negam orientações em mestrado e doutorado, vetam bolsas e verbas de pesquisa, tudo isso para manter o status quo de esquerda dominante no meio universitário. Não tenho notado grande avanço e resistência nesse campo.

Na mídia tradicional, como já começamos a tratar no início desses escritos, há alguma mudança, em razão da pressão que a internet tem feito e da concorrência que ela representa para a imprensa tradicional. A mídia oficial perdeu a sua exclusividade na produção de conteúdos e hoje um Youtuber pode ter mais influência do que um comentarista do Jornal da Globo.

É na internet que encontramos resistência ao modelo progressista de sociedade. Alguma resistência. Desorganizada e descentralizada. Se no www temos muitas vozes, muitos influenciadores, não há um que seja o absoluto categórico que domine absolutamente esse meio. A voz mais importante no combate teórico à esquerda no Brasil é o jornalista Olavo de Carvalho e sobre já nos referimos aqui em outros textos. Olavo coleciona amores e desafetos. Há uma torcida organizada a seu favor e outra contra, mas negar a sua relevância no atual momento de transição e de geração que passa o Brasil é mentir.

Na política aquele que com mais relevância irá repercutir as vozes da internet é Jair Messias Bolsonaro. Goste-se dele ou não, foi a durante um bom tempo o único parlamentar assumidamente de direita em Brasília (seja lá que cazzo de direita isso represente). Apanhou e apanha até hoje de todos os lados, mas parece ser como massa de bolo: quanto mais se bate, mais ele cresce. Cansou de ser entrevistado em programas boçais, como o Superpop de Luciana Gimenez ou a arapuca do finado CQC. Seus debates-entrevistas com travestis e atores pornôs, além de outras sub-celebridades na Redetv! são clássicos e lhe deram cancha de como lidar com uma malta de jornalistas raivosos sempre dispostos não a questioná-lo mas a confina-lo num canto e o espremer como se faz com uma barata e um sapato de bico-fino.

Bolsonaro não foi figurinha carimbada, em todos esses anos em que é um fenômeno dissidente na internet, na imprensa tradicional. Na Globonews ele nunca teve o espaço que deputados de esquerda (como Maurício Rands, Chico Alencar, Miro Teixeira, Alessandro Molon e o senador Randolfe Rodrigues) sempre tiveram ao seu dispor, como arautos do mais puro republicanismo. As primeiras entrevistas aos dois mais relevantes programas semanais de política da TV aberta só aconteceram nesse ano: no Canal Livre da Band e no Roda Viva, da TV Cultura, no dia de ontem.

Quem não assistiu essas entrevistas precisa vê-las não para discutir o candidato em si, mas para analisar e observar, com um olhar quase etnográfico, o comportamento dos experimentados jornalistas que ali estavam sabatinando Bolsonaro. O deputado que já esperava um comportamento agressivo e rancoroso se deparou com aquilo para o que já estava preparado, temas como a ditadura militar, racismo, homofobia, misoginia, enfim, aquilo que interessa ao mundinho histórico e social que só existe na cabeça de membros da imprensa, das artes e da academia. São as taras e fetiches que povoam as mentes dessas pessoas, que, não tem sua luxúria com pés, chicotes, tapas, xingamentos, posições ou acessórios, mas com a dívida histórica com a população negra, o genocídio de homossexuais ou a violência policial. Tanto as taras sexuais clássicas quanto essas são doentias. 

A astúcia do Bolsonaro não precisava ser muita, diante do quadro horrendo de sodomia moral dos inquiridores. A mediocridade da imprensa a faz pensar que com ataques já velhos a tudo aquilo que o candidato sempre defendeu e que até agora só o fez angariar um séquito fiel e disposto a seguir ele até o fim, o fará agora marchar para trás, aprisionando-o ao baixo clero eterno da câmara dos deputados. Isso não vai acontecer. O eleitor quer um Messias que o guie, que o conduza, que o leve a um novo jardim de delícias. Esse condutor precisa ser forte, valente, aguerrido. Bolsonaro encarna o que povo quer e o que as elites não podem ofertar.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

A imaginação realizadora

Não sei como classificar ou qualificar isso. Penso que o mais adequado seja dizer que tenho uma vocação para a imaginação realizadora. Leio ou me deparo com uma coisa qualquer e penso: "isso poderia ser assim, poderia ser assado, eu deveria fazer isso desse ou daquele jeito.".

Me encafifo e fico pensando em como a cidade deveria ser, em como muitos projetos urbanísticos deveriam ser tocados. Como montar uma rede de postos de gasolina, com tudo o que deve ter direito, com novos modelos de bombas, lojas de conveniência, logomarcas e tipos. Qual deve ser o nome do meu plano de saúde? O que a rede de supermercados deve ter de vantagens sobre seus concorrentes? O que fazer com os terrenos localizados na avenida tal e na rua Y?

Não sei quantas mais pessoas tem esse tipo de comportamento, de querer fazer um mundo de coisas segundo o que se passa em suas cabeças. Sei que eu trabalho dessa maneira. Não realizo, tais coisas, por ora, mas me contento em pensar nelas.

Agora mesmo estava lendo sobre o papel de Cláudio Abramo fez em O Estado de S. Paulo e na Folha de São Paulo. Eu lia e pensava: "devia comprar o falido Diário de São Paulo e transformá-lo em um periódico de referência, com esse colunista na segunda-feira semanalmente e esse no domingo, mensalmente, o formato do jornal deveria mudar, as fontes e a tipia do jornal também, fazer anúncios nessa e naquela rede de tv..."

Será que isso me faz mal ou é sintoma de alguma doença mental?

sábado, 9 de junho de 2018

Fundamentalismo político



A ideia de fundamentalismo foi colocada num limbo do vocabulário. Todo aquele que é classificado como fundamentalista passa a ser, automaticamente, um sujeito nocivo, violento, agressivo, retrógrado, reacionário, enfim, basicamente aquilo que o mundo moderno da política costuma classificar como um fascista. 

Contudo, o fundamentalista é aquele que busca agir com lealdade aos fundamentos que crê e defende. O antônimo de fundamentalismo seria, portanto, a maleabilidade, que deve ser entendida na política, em parte, não como uma virtude, mas antes como uma fraqueza. A história mostra também que os grupos políticos que ao longo do tempo foram vencedores sempre souberam se manter inamovíveis em seus ideais, abrindo mão de um ou outro ponto superficial em nome da defesa do que é essencial. São perfeitamente fundamentalistas nessa ótica. 

A política é feita com base em muitas técnicas de engenharia social, envolvendo a mídia, a educação pública, a intelectualidade, as instituições, enfim, a sociedade, sempre usando a manipulação como grande arma. Na esquerda e na direita, polos que na verdade não são opostos, antes complementares, temos exemplos para mostrar isso. 

O socialismo, colocado pela turba de vivandeiras alvoroçadas, como o grande satã a ser vencido, só pode existir por que contou antes com o trabalho frio de navio quebra-gelo do liberalismo, seu irmão um pouco mais velho, que fez o serviço sujo de limpar a estrada do antigo regime e das amarras da religião cristã que atrapalhavam o seguir do caminho da modernidade. Sem a religião e a hierarquia pela frente a tentação do super estado, da grande mente supra individual, capaz de tudo planejar e colocar cada coisa em seu lugar, criando o paraíso da equidade, se tornou muito mais palatável. 

O macarthismo foi a resposta mais grosseira e popular para um certo senso de repúdio que se via notar, no meio do século XX ao caminho progressivo ao socialismo e à centralização administrativa. Foi um fenômeno exclusivo dos EUA. No Brasil, os militares, que desde a segundo império passaram a seguir a doutrina positivista, onde se enxergavam como os máximos protetores do estado e da "unidade nacional", ocuparam o espaço que cabia para que naquele contexto se combatesse a ameaça comunista. 

Devemos ter cuidado com o que desejamos em matéria de política, pois na América o espírito de caça às bruxas do macarthismo permitiu que o estado violasse a privacidade de milhões de cidadãos, criando ainda uma paranoia social que ajudou a romper laços de sociabilidade históricos, já há muito sedimentados. Aqui nestas bandas o militarismo gerou gastos públicos e uma dívida impagável, além de inflação. Também enquanto, tanto aqui como nos EUA, se clamava por moralidade e bons costumes, a imoralidade cavalgava sem rédeas, ainda mais livremente, agora chancelada pelo estado de direito e pelas autoridades que juraram nos proteger dessa ameaça do comunismo ateu e imoral. A Educação pública fomentada pelos militares levou ideias artificias a frente, como o patriotismo e a brasilidade para milhões de pessoas, por meio de matérias como Organização Política e Social Brasileira, Educação Moral e Cívica e Estudos Sociais. A esquerda transformou esse culto a uma nação inexistente dos milicos em uma verdadeira idolatria do estado. A direita, no poder, faz tudo aquilo que a esquerda precisa para poder terminar seu serviço e para completar seu projeto anti civilização. 

O maior nome do socialismo no Brasil, Lula, sempre teceu comentários elogiosos ao presidente Médici e ao Regime Militar. Um dos maiores gurus econômicos do petismo foi o keynesiano e super ministro dos militares Delfim Neto. O PT foi fundado em um dos colégios mais chiques e elitizados de São Paulo, o Sion e teve o velado beneplácito de Golbery do Couto e Silva, que pretendia criar uma legenda de esquerda que jogasse o jogo da política sistêmica. O socialismo sempre foi uma doutrina de ricos querendo usar o estado a serviço de seus monopólios para poderem ficar ainda mais ricos. 

Existe a nação, a família e o indivíduo. Pátria e povo são conceitos ideológicos e artificiais para a manutenção do poder político e econômico. Todos os que agem, seja na academia, na midia, na política e nas instituições para preservar o estamento de poder atual agem no fundo com base em um fundamentalismo, na crença de que devem fazer quase tudo para estabelecer o vindouro reino de delícias infindas na terra, a que alguns chamam de comunismo, outros de economia de mercado, mas que no fundo é apenas um engano, pois é uma inversão das verdades eternas da religião revelada, que transferiu o Paraíso Celeste para a Terra. Para fugir dessa mentira bem contada não devemos olhar para a esquerda e nem para a direita, antes para cima.

Nossa república sempre será uma velha república

Não tenho medo de afirmar que desde os protestos de 2013 o Brasil não é o mesmo. Não estou aqui fazendo nenhum juízo de valor, antes atestando um fato. Não consigo, também, encontrar nenhum paralelo destes cinco anos com nenhum período da história republicana. Todavia, em grupos privados, tenho exposto o meu receio de que o momento que temos passado seja semelhante ao da Primeira República (1889-1930), quando chegava em seus estertores. Uma fração das elites brasileiras, naquele momento, achou por bem "fazer uma revolução antes que o povo a fizesse". 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, maior intelectual vivo dentro da esquerda nacional, já apontou para as circunstâncias em que passamos hoje serem aquelas típicas de momentos pré-revolucionários. Há que se lembrar ainda que o Brasil não passou por uma "revolução burguesa", como ocorreu na Europa e nos Estados Unidos. A Revolução (golpe) de 1930 foi tramado pelos militares em comunhão com uma elite dissidente, mas que compartilhava até então do poder e cujo projeto político em nada se diferenciava de seus adversários reais. Não havia uma burguesia para que uma revolução real ocorresse e, sendo assim, essa jamais de completou totalmente. 

Hoje, como na Primeira República, há suspeitas de fraudes eleitorais. Há também candidatos que procuram se mostrar como limpos e desligados das velhas e carcomidas elites tradicionais. Há também um certo histerismo com um fantasma sem contornos claros da esquerda. E, por fim, um senso de que é preciso "salvar a república". Essa é uma conversa antiga. A história se repetirá, mais uma vez, como farsa? Torço para que ela não se repita.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Há como prever o resultado das eleições?

Já tem bastante tempo que venho fazendo a análise de alguns cenários possíveis sobre as eleições deste ano. Insisti por muito tempo sobre a viabilidade eleitoral de Joaquim Barbosa, aliás, falei isso com bastante antecedência (basta olhar os posts do ano passado nesse blog para ver isso). Análise não é aposta e eu não apostei que ele já estava eleito, apenas apontei para o fato de se ele viesse mesmo disputar a eleição (algo que sempre coloquei em condicional, afinal, a imprensa e as informações de bastidores sempre apontaram para o fato da reticência de Joaquim Barbosa em participar do pleito) seria o candidato com mais chances de ser exitoso, dada a composição de candidaturas em 2018.

O ex-ministro do STF desistiu de sua candidatura. Era algo dentro do esperado. Barbosa não queria ser candidato. Queria (e quer ainda) ser presidente. Sua expectativa era a da unção. Imaginava que levantaria rapidamente um forte movimento de apoio das classes falantes em torno de si. Imaginava também que sua legenda, o PSB, pularia integralmente e prontamente em sua campanha. Tudo isso que em algum momento passou pela cabeça do retinto ex-ministro é algo fora das proporções. Não digo que fossem coisas irrealizáveis, longe disso, afinal, a imprensa já o estava colocando em patamares apolíneos, boa parte de nossa elite ilustrada demonstrava a possibilidade de empolgar-se com a candidatura JB e mesmo seu partido caminhava em direção à um apoio total à sua campanha. Eram questões que se encaminhavam com extrema rapidez e que estariam consolidadas antes mesmo do prazo final de inscrições de candidaturas.

Aventei também neste blog a hipótese de o PSB sair dessas eleições sendo a maior legenda do país. Sem a presença de Joaquim Barbosa encabeçando a disputa pela presidência da república essa possibilidade se torna residual. As candidaturas que estão por se consolidar, afinal, estamos com pouco mais de um mês para o início dos registros de candidaturas, são todas de políticos tradicionais, o que mostra que o Brasil não foi exitoso em buscar a figura de um outsider, com o perfil, preferencialmente, do francês Emmanuel Macron.

As inúmeras candidaturas que ainda sustentam os seus nomes até esse momento já dão claras demonstrações de que nada foram além de simples balões de ensaios. São os casos de Fernando Collor de Melo, Flávio Rocha, Michel Temer, Henrique Meirelles, Paulo Rabello de Castro, Rodrigo Maia, João Amoêdo, Valéria Monteiro, Cabo Daciolo e Guilherme Afif Domingos (provavelmente esqueci de mais algum candidato sem chances). Destes nomes citados, talvez venham a concretizar suas candidaturas, mas sem conquistar nenhum apelo eleitoral, Collor, Meirelles, Paulo Rabello, Amoêdo e Daciolo. Somem-se a esses os eternos candidatos Eymael, do PSDC, Levy Fidelix (PRTB) e alguém pelo PSTU. Independente dos nomes, cujo registro tem pouco importância histórica, nenhum deles possui chances de disputar a eleição com força (talvez, em condições muito específicas, Meirelles viesse a fazer algum barulho, mas duvido disso).

A verdade é que a eleição ficará em torno de Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, Marina Silva, Geraldo Alckmin, além, talvez de um nome do PT que conte com a cara do Lula estampada na sua. Esse nome pode ser Jacques Wagner ou Fernando Haddad. 

É preciso esperar mais, por que muitas articulações por ora estão sendo realizadas, como as que saíram como notas, da aproximação de Ciro Gomes com o "centrão", especialmente com o PP e o DEM. Se Ciro conseguir o apoio dessas legendas terá tido um acréscimo considerável de força política, tempo de TV e recursos para a campanha. Se consolidaria como o anti-Bolsonaro.

Apenas, para finalizar, registro que a imprensa, em particular a televisiva, continua ignorando e desprezando Jair Bolsonaro. Me parecem que não o convidam e não colocam para falar ao público com o receio de que ele cresça ainda mais. Não sei se esse temor é fundamentado ou se o Bolsonaro falando mais ao público pode fazer com que ele venha a perder uma fatia de possíveis eleitores por enquanto indecisos. Veremos com ele o mesmo fenômeno de Marine Le Pen, que na França liderou no primeiro turno e foi esmagada por Macron no segundo, com um discurso técnico e centrista, apoiado pela mídia e pelas grandes finanças? Talvez sim. Resta saber quem será esse Macron verde-amarelo.




segunda-feira, 16 de abril de 2018

Márcio França será reeleito governador de São Paulo

Desde 2006, quando o também vice de Alckmin, Cláudio Lembo, na época no ainda PFL, assumiu o governo com a renúncia do titular que iria naquele ano disputar a presidência pela primeira vez, São Paulo não era governado por alguém que não fosse do PSDB. Mesmo assim, o pequeno período de Lembro à frente do executivo paulista foi inexpressivo, sendo marcado, negativamente, apenas pelas séries de ataques terroristas realizados pelo PCC.

Agora, em 2018, Alckmin novamente renuncia no fim de seu mandato para disputar a presidência da república, deixando no comando do estado bandeirante o seu vice, Márcio França, ex-prefeito de São Vicente, filiado ao PSB. 

As diferenças entre Lembo e França são muitas. A idade, o estilo, o partido e a disposição em querer permanecer no cargo, inexistente no primeiro e firme no segundo. 

Com a quebra da hegemonia tucana em São Paulo em vista, França já constrói amplo arco de apoios partidários, com siglas pequenas e médias, ainda com chances de atrair siglas grandes como PP e DEM. 

Seu discurso de posse, feito poucos dias atrás, foi também comovente, pela forma e pelo teor. O grande enfoque na lealdade foi, ao mesmo tempo, uma declaração de total respeito e confiança à Alckmin e um ataque à João Dória, que traiu o eleitor paulistano, deixando a prefeitura para disputar o cargo de governador esse ano. 

França será reeleito esse ano e romperá o domínio do grupo tucano em décadas. Vencerá as eleições por que sabe fazer política de bastidor, por que é político, não nega isso e ao contrário, reafirma com veemência. Comenta-se à boca miúda que segue uma máxima antiga: "palavra dada é como seta lançada, quando se solta, ela não volta atrás."

Tem ele também o jeito, o falar e o aspecto de político caipira, de velho cacique do PRP. Em sua posse, fez referência à saudosa memória do itapetiningano Júlio Prestes, impedido de tomar posse como presidente pelo golpe de 1930. Lembrou de grandes Paulistas de todos os tempos: Bartyra, João Ramalho, Osvald de Andrade, Monteiro Lobato. 

França também é irmão e é figura de grande exposição na potência Paulista. É pedreiro de loja. 

A pesquisa do Datafolha divulgada hoje mostra ele com um índice muito bom: 8%. São 8% de apenas 9% dos entrevistados que o conhecem. O atual governador ainda é um ilustre desconhecido. Dória e Skaf estão na frente pelo recall que possuem. Seus índices desvanecerão. Ainda terá o apoio tácito de Alckmin que o tem por seu candidato, mesmo o PSDB lançando Dória na disputa. Corre ainda muito risco de ter o apoio de Joaquim Barbosa, que pode ser o campeão de votos da eleição presidencial e ajudar a alavancar ainda mais a candidatura do ex-prefeito de São Vicente.



Dória já está usando uma retórica abertamente macarthista, dizendo que o atual governador deveria ser chamado não de Márcio França, mas de Márcio "Cuba" dada a sua inclinação social-democrata. Dória será desmascarado pela própria direita, que já viu nele apenas um oportunista, pois elegeu-se com parte do voto conservador e liberal mas tomou medidas em sua gestão à frente da capital Paulistana que não agradaram ao seu eleitor, como a taxação de serviços digitais (Netflix e Spotfy) e o embróglio mal resolvido envolvendo o Uber e os taxistas. Não creio que terá fôlego para ganhar. Se nada de novo não aparecer, todos os caminhos que levam ao Palácio dos Bandeirantes estarão nas mãos de Márcio França. 

E quem diria? O Brasil pode iniciar 2019 tendo o PSB como a sua maior legenda.


quarta-feira, 11 de abril de 2018

A direita e o federalismo

Lula está preso e não sabemos por quanto tempo ele ficará detido. Creio que mesmo que ele venha a sair da cadeia brevemente essa sua saída será temporária, por que ainda há vários outros processos em que ele é réu e deverá ser condenado. 

Porém, o grotesco espetáculo que ele protagonizou no último fim de semana mostra ainda que lhe resta alguma força política e muita força simbólica. Já afirmamos, ano passado, neste blog que caso ficasse livre e pudesse disputar a eleição, os brasileiros, fatalmente, acabariam elegendo o sapo de Garanhuns. É difícil falar de maneira hegemônica e reducionista, mas, a grosso modo, os nordestinos tendem a votar no assistencialismo. Além do eleitorado nordestino, Lula ainda tem muito voto em vários estratos e classes sociais. Seu governo não foi de ruptura política nem econômica. Se seguiu a risca a cartilha demagógica e populista de Getúlio Vargas, sendo considerado um novo "pai dos pobres" também é justo qualificá-lo como sendo a grande mãe dos ricos, vide a política de campeões nacionais e as altíssimas taxas de juros que só interessam aos banqueiros (que nunca lucraram tanto em um mercado hiper concentrado) produzidas pelo petismo.

A força simbólica de Lula é ainda mais forte e não sei dimensionar apropriadamente o seu tamanho. A exceção do PSTU e de setores muito minoritários de correntes dentro de outras legendas, Luis Inácio conseguiu unir a esquerda em torno de sua narrativa de que é um perseguido político nas mãos de um juiz vendilhão. Nesse sentido ele, Lula, seria o bode expiatório colocado em holocausto para o sacrifício de todo um projeto de país por ele conduzido que teria tirado milhões de pessoas da pobreza e tudo mais que já estamos cansados de ver a esquerda repetir.

Todavia, o mais importante que precisamos destacar aqui é que o PT foi o responsável por uma extrema ideologização do país. Creio que a discussão política que é feita hoje em todos os ambientes: escolas, universidades, mídia, igrejas, botecos, zonas, enfim, em toda a parte, é inédito no Brasil. Nem durante a época do Getulismo e da chamada República Populista (1946-1964) tivemos algo igual. Os tempos são outros e a onipresença da mídia (hoje quase que completamente dominada por uma esquerda vociferante) e das redes sociais tem bombardeado o cidadão médio com memes, imagens, textões em caps lock sempre rondando assuntos políticos. Na internet, a força da direita é bem maior do que a da esquerda, em alcance e em capacidade de construir narrativas e vendê-las ao público. Na imprensa tradicional, contudo, permanece a força do ideal esquerdista (uma vulgarização de manual promovida por professores universitários, que ronda em temas como o problema da desigualdade de renda, de raça, de sexo além é claro, de constantemente alertar para os perigos de um inexistente fascismo).

Mas nem tudo se resume ao domínio da esquerda. Na internet, como já dissemos, a direita é dominante. O discurso anti petista é a tônica, tendo como pano de fundo algum senso mais ou menos vago de um liberalismo conservador, que pede "menos estado" sem indicar, contudo, com alguma clareza, onde a presença do estado deve ser diminuída. 

Concordamos e reafirmamos que a onipresença do estado em todas as mínimas relações sociais neste país é sufocante, além de uma carga tributária de mais de 30% do PIB, somada a um défice de 9% nos gastos públicos, que nos qualificam como sendo um país de estrutura social democrata, sem contudo oferecer os benefícios públicos que os países nórdicos (os sociais democratas por excelência) oferecem aos seus cidadãos.

A necessidade de se reduzir a intromissão do estado no Brasil passa necessariamente não apenas pela venda ou extinção de empresas estatais, mas pela redução de leis, normas, portarias, atos normativos e administrativos e regulações, pela redução de oferta de certos serviços públicos que devem ser colocados integralmente sob o guarda chuva de um mercado com mais concorrência e sobretudo pela descentralização do poder político aos estados, eliminando o modelo de federalismo truncado que a Constituição de 1988 fez, construindo um federalismo real, que aproxime o cidadão dos centros de participação e decisão política, criando um senso maior e mais forte de cidadania e exercício do poder.

A esquerda continuará prosperando aqui neste país por que a direita brasileira é pouco articulada e não tem se dedicado a compreender esse fenômeno do federalismo, que eu reputo como sendo o principal problema do Brasil e aquele que nos leva, inexoravelmente, se ele não for resolvido, ao caminho do socialismo. De tempos em tempos a imprensa dá algum destaque aos movimentos separatistas que existem na região sul do Brasil, em São Paulo e em estados do nordeste, sempre com tom pejorativo, mas são poucos aqueles que compreendem que a força que o discurso separatista vem adquirindo está justamente em ser um alerta e ao mesmo tempo uma resposta forte ao excesso de centralização administrativa e política que temos, cujo artífice construtor foi o caudilho Getúlio Vargas.

Enfrentar o problema do federalismo é urgente. Quando tomou posse, o presidente Michel Temer alertou que seu desejo era fazer uma reforma que encarasse e buscasse resolver esse problema. Já nos encaminhamos para o fim de seu mandato e nada no sentido da descentralização do poder foi feito. Temer, assim como outros presidentes que tiveram consciência do problema federativo não tiveram a coragem para enfrentar politicamente a questão (FHC e Figueiredo, por exemplo, apoiavam, idealmente, a descentralização, mas pouco fizeram no sentido de promovê-la). 

Essa questão não é enfrentada por que existe uma super representação congressual dos estados mais atrasados do país, das regiões norte e nordeste, em detrimento das regiões mais avançadas e desenvolvidas, o sudeste, o sul e também o centro-oeste. Um bom começo para tentar mudar esse problema da representação talvez fosse a implantação do voto distrital, porém vejo-o como insuficiente para resolver o problema, mas já seria um bom avanço no sentido da descentralização. Enfrentar a força do estados nordestinos e nortistas é uma necessidade urgente. A direita brasileira não entende que são esses estados que dão sustentação a todos os presidentes que implantaram agendas intervencionistas e extremamente estatistas no país. A direita brasileira compreende que o problema do Brasil é basicamente o PT e seus demais partidos satélites, mas não atenta para a oligarquia nordestina que comanda a política nacional nos bastidores, apoiando todo o tipo de política que venha inchar ainda mais o estado. Não adianta apenas gozar com a prisão do Lula se Renan Calheiros, José Sarney, Jader Barbalho, Eunício Oliveira, Ciro Gomes, Tasso Jereissatti, ACM Neto, Fernando Collor de Melo, Ronaldo Lessa, Agripino Maia, Marcondes Gadelha, Teotônio Vilela, Cunha Lima e tantos outros coronéis e suas famílias continuarem mandando nos bastidores políticos, perpetuando esse estamento burocrático parasitário e perdulário, que somente draga a energia moral e social do país. 

A extrema desigualdade regional que existe no Brasil terá difícil resolução e não será um homem como Jair Bolsonaro ou qualquer outro líder político messiânico que queira repartir o espólio eleitoral pós lulismo com os velhos caciques nordestinos que irá mudar alguma coisa. Vejo que a saída está em algumas possibilidades: um federalismo hegemônico centrado no estado de São Paulo (como estava a se construir na Primeira República, até o advento do Varguismo), a confederação ou a separação de todos os estados brasileiros. Sou um entusiasta e fiel defensor da última proposta. Acredito que a melhor saída para todos os estados brasileiros seria a secessão. Confio e trabalho por isso, todavia, não descarto a importância processual das outras duas alternativas.

Lula e Dilma governaram com o apoio dos políticos do PMDB, PP, PR, PDT, PTB, PSC, PSB e outros sempre com o forte apoio dos nordestinos e nortistas dessas legendas. Enquanto a economia mundial caminhou bem e o Brasil foi puxado por esse movimento externo o país viveu em superávit e isso significava vultosos repasses de verbas do governo federal para os políticos dessas regiões. Quando a crise chegou pra valer no governo Dilma os repasses diminuíram as cisões na base de apoio desses mesmos partidos ao petismo começaram a ganhar força, até o fim com o impeachment e agora com a prisão de Lula. Porém, o que os senhores auto identificados como direitistas precisam entender é que caso a esquerda volte à presidência novamente esse ano (ou mesmo esquerdistas soft como Alckmin, Joaquim Barbosa ou Marina) e a economia torne a se recuperar, esses mesmos políticos fisiológicos (notadamente os nortistas e os nordestinos) apoiarão integralmente políticas de esquerda, como as que o PT implantou. É necessário quebrar a estrutura de poder político que existe e que foi criada não pelo PT mas por todos os partidos na Assembleia Constituinte de 1988. Ou se rompe com essas estruturas ou o júbilo direitista será sempre provisório.


O paulistano eterno

 Me identifico com o paulistano que mora na casa que restou numa rua em dissolução. É como o velho morador de Pinheiros, que habitava uma ca...