A primeira recordação que tenho sobre ir em uma livraria, já no caso uma megastore, foi em 2007, na Fnac do Shopping Morumbi. Naquele ano eu estava no 3º colegial e participei de um concurso de redação sobre meio ambiente, patrocinado pela Bayer do Brasil. A fábrica da Bayer era vizinha da nossa escola, no Socorro. Como prêmio pelo terceiro lugar no concurso ganhei um voucher da Fnac. Lembro que nunca tinha ido até o Shopping Morumbi e achei tudo ali um pouco classe média demais para o que eu estava acostumado até então. Os shoppings que eu estava mais habituado a frequentar eram mais simples e atendiam a um público menos seleto, como o Interlagos (em cujo cinema assisti meu primeiro filme, Gasparzinho), o SP Market (que tinha o ótimo Parque do Gugu), o Fiesta e o Center Sul (depois Boa Vista).
Com aquele voucher que ganhei eu comprei um dvd do Paul Mauriat e um cd de seleções de trechos de ópera para corais. Os dois reais que sobrariam foram usados para adquirir um conjunto de canetas Bic Crystal. Foi a primeira vez que eu fui ali naquele shopping e também em uma livraria moderna, como a Fnac. Me lembro que era tudo muito novo pra mim. Achava graça e algum espanto no ambiente todo com carpetes bege, pilhas de cd's em promoção, dvd's, livros de autoajuda, aquelas estações com fones de ouvido para ascultarmos demonstrações de cd's. Era algo muito interessante. Àquela altura não me chamavam tanto a atenção os livros. A leitura foi algo que a faculdade me obrigou a despertar, não tinha o hábito, mesmo morando a 1 km de uma biblioteca pública, onde fiz minha carteirinha com 12 anos.
A segunda megastore que me recordo ter ido foi justamente outra Fnac. A loja subterrânea da Avenida Paulista. A sensação de descobrimento foi a mesma. Depois, já de 2010 para frente eu comecei a ir mais lá. Cheguei a ir com um ou dois amigos da faculdade também. Me lembro que comprei muito barato lá os dois volumes do livro do Raymundo Faoro, Os donos do Poder, da Editora Globo. Comprei outros livros que não me recordo mais. Era um tempo de pouquíssimo dinheiro e pouca margem para comprar o que não fosse essencial, inclusive para leitura da graduação, que era mais recheada de xerox e textos digitalizados. Depois quando comecei a trabalhar e a ter salário é que iniciei a montagem da minha coleção de livros, hoje por volta dos 600 volumes (e que cresce vegetativamente). Quando a grana passou a ser um pouco mais liberal comigo aí já a internet reinava na aquisição de livros. Ainda assim comprei online muita coisa na Fnac e na Livraria da Folha. As duas marcas fazem falta no meio digital. Eram boas concorrentes e se podia achar coisa lá em promoções melhores do que as da Amazon, eventualmente.
A verdade é uma só, o público que consome livros é mais selecionado do que aquele que compra coxinha na promoção do Ragazzo e casquinha do McDonalds. O brasileiro lê pouco e lê mal, mas ainda assim é um brasileiro mais seleto do que a média do povo. Manter uma livraria custa caro. Ainda mais megastores que tinham de bosta a bomba atômica, como eram as lojas da Fnac.
Inclusive, o que me motivou a escrever esse texto foi o descobrimento por minha parte do Ática Shopping Cultural, em Pinheiros.
A falência da Livraria Cultura, outra queridinha dos leitores, trouxe à superfície o saudosismo de muitos leitores, que inclusive desenterraram uma foto da Ática Shopping Cultural. Eu sabia que existia a Fnac de Pinheiros (ou melhor, que ela havia existido), mas não sabia que ali havia tido este outro empreendimento primevo. Um local enorme, com três andares que prometia ter todo o tipo de literatura, multimídia e equipamentos de informática. Se eu tivesse meus trinta e poucos anos lá em 1996 (e não 6, como foi o caso) eu teria adorado frequentar aquele lugar.
Foto: Cristiano Mascaro - Fonte: Revista Projeto (2023) |
Aliás, legal ver nessa foto é também a fonte usada pela Editora Ática antes de ser engolida pela Abril e se concentrar apenas em livros didáticos e paradidáticos. Tenho alguns livros aqui dessa fase da Ática.
Agora, sobre a Livraria Cultura: sempre muito bonita, sortida e agradável, mas sempre muito cara, seja na loja, seja no site. Eu ia perscrutar autores e títulos lá, mas comprava na Saraiva ou na Fnac. A estratégia de não ser competitivo em preços era uma burrice, sobretudo em tempos em que o trovões anunciavam a chegada barulhenta da Amazon (e de outros marketplaces generalistas -- hoje é capaz de se achar preços melhores no Mercado Livre ou na Magalu -- os livreiros ainda não entenderam esse fenômeno).
Em tempo: leio que a Saraiva parece estar se dando muito bem em sua recuperação judicial. Menor, mas saudável. Que bom. É uma marca de respeito, a maior livraria que já tivemos. Que fique mais cem anos viva.