O programa investigativo Câmera Record de ontem apresentou reportagem exclusiva muito boa.
Uma realidade de pessoas extremamente simples, que não possuem aquilo que mais elementar se tem para que alguém seja considerado cidadão: documentos. Duas realidades que se ligam, sertanejos abaixo da linha pobreza, no Piauí, vivendo em casas de taipa de pilão, sem energia elétrica e muito menos saneamento básico. Água? Só quando o caminhão pipa passa para abastecer as sujas cisternas e essa água ainda precisa durar meses. Nem sempre é possível tomar banho ou cozinhar. Aliás, muitas vezes a impossibilidade de cozinhar não se deve pela escassez de água, mas também de comida.
É essa gente que precisa receber apoio governamental para auxiliar a sua subsistência. A renda que o Bolsa Família poderia proporcionar a uma família sertaneja como essas que a reportagem da Record mostrou mudaria a realidade deles, proporcionando alimentação diária básica e a certeza de alguma esperança ainda pode ser mantida. Curiosamente, o Piauí, um dos estados mais miseráveis do Brasil, é hoje governado pelo Partido dos Trabalhadores. A ajuda que essas pessoas precisam receber é urgente, é uma cesta básica mensal que alteraria totalmente a vida dessa gente. Onde está a sensibilidade dos senhores governadores e prefeitos?
A outra realidade mostrada é a de dependentes químicos que, em grandes cidades, como São Paulo ou Rio de Janeiro, por suas vidas errantes e pela completa falta de estrutura familiar, não tem sequer o registro de onde nasceram. Pessoas que não tem a menor ideia do dia, mês e mesmo o ano em que vieram ao mundo. É impensável que existam milhares de pessoas nessa situação.
Sempre fui muito crítico (e permaneço sendo) da forma como esses programas assistenciais de transferência de renda são executados. No meio urbano paulista, todo mundo tem o conhecimento de pessoas que recebem esses recursos indevidamente (por fraude) ou por não terem renda nem emprego formais, embora tenham bons rendimentos mensais. Nesses casos, o que está sendo feito é injusto e imoral e precisa ser extinto. Uma boa revisão, um verdadeiro pente fino em quem recebe tais provimentos é mais do que necessário. Uma atualização nas faixas de renda de quem precisa recebe-lo também é desejável. Se isso não for feito, o dinheiro público é, novamente, mal empregado, e pessoas realmente em situação de miséria, que precisam de algum valor do governo para que simplesmente não pereçam, acabam por não receberem. É uma política nefasta, no fim das contas. O Brasil, que desde a redemocratização, passou por um longo ciclo de políticas públicas sociais democratas, não conseguiu enxergar a todas as pessoas que habitam o país, não conseguiu chegar a todos os rincões mais afastados e completamente esquecidos. Enquanto isso, o neo coronelismo avançou bastante e as antigas estruturas de poder, sobretudo na região nordeste, permanecem as mesmas de um século atrás, com uma elite mandatária medíocre, que nem para governar serve, mantendo-se no poder, apenas por meio dos recursos transferidos pelo Governo Federal, as expensas dos estados ricos e produtores. O Brasil não muda mesmo é inocência continuar acreditando que algum governo vá conseguir mudar esse país.
A reportagem da Record merece um prêmio pelo excelente jornalismo praticado.
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