terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Uma década

A uma década eu escrevi essa postagem: http://lusosp.blogspot.com/2010/01/aflicoes.html

Ali eu dizia pra mim mesmo, para ver, lá em 2018 o que eu já havia conquistado.

Estamos em 2020 e a pergunta fica. O que eu conquistei. Moro na mesma casa. Durmo na mesma cama, com os mesmos travesseiros. A pintura da parede do meu quarto ainda é a mesma. O ambiente é exatamente o mesmo.

Dez anos e eu não tenho mais pai. 

Dez anos e ainda não me casei.

Dez anos passados e trinta anos, afinal, como completo pagão.

Dez anos passados e ganhei uma profissão e uma carreira.

Dez anos de vida onde li mais do que nos vinte anteriores. Aprendi a escrever melhor. Li muitos livros.

Fiz uma faculdade completa. Três incompletas. Três pós graduações começadas e não terminadas.

Ganhei a felicidade de ter hoje seis gatos.

Estou na mesma igreja, da mesma forma em que estava em 2010.

Tenho hoje um bom carro, que não podia ter naquela época.

Tenho mais maturidade, mas tenho a mesma tristeza.

Muitos sonhos ainda são os mesmos. Ainda não fui capaz de realizá-los. Outros tantos foram acrescentados. 

Conheci algumas pessoas com as quais estabeleci contato regular.

Não me casei. Não conquistei a única mulher que amei. 

Não há razão para ingratidão. Há motivos para agradecer. E há o desejo de ir a frente. Até onde ir? A tragédia de uma existência promissora, de fracassos retumbantes.

Ah, não posso me esquecer: fundei um movimento político separatista, dei entrevistas para a Veja, o Estadão, o Uol, IG, R7 e outros meio de comunicação. Apareci na Tv do metrô! Ajudei a fazer o separatismo um assunto nacional em 2010. Vi nascer uma corrente política que hoje manda no país. Dei palestras, viajei em quatro estados por causa do separatismo. Escrevi muito sobre isso. Hoje sobram histórias que um dia poderei contar a quem tiver interesse.

Em 2030 o que eu poderei registrar? Na beira dos trinta anos eu aprendi que o ritmo da minha existência é lento. É como uma esteira rolante entre as estações Paulista e Consolação. Muitos vão mais rápido, mas, parado, chego ao mesmo destino. Em 2030 ainda estarei aqui para escrever um novo texto? Estarei aqui mental e fisicamente? Terei avançado na esteira ou ela vai quebrar na metade do caminho?

Indo ao mercado de madrugada

Estive esses dias indo no mercado de madrugada. Pelo que eu saiba, hoje em São Paulo são poucos os mercados que não fecham em nenhum momento e todos são da bandeira Extra, do Grupo Pão de Açúcar.

Tenho uma relação de afetividade com um deles, no Panamby, na Marginal Pinheiros. Ali foi, até os anos 90, um Paes Mendonça. O Paes Mendonça foi comprado pelo GPA para ampliar as lojas dos hipermercados Extra. Me lembro que nosso primeiro microondas, um aparelho Sharp, foi comprado ali. Havia uma promoção: quem comprasse um microondas daquele modelo ganharia um vôo de helicóptero sobre o Morumbi. Só ficamos sabendo da promoção na hora em que saímos do mercado, já a noite, quando os vôos já haviam terminado. Foi uma frustração pra nós.

O Paes Mendonça era um mercado de bom porte, de boa qualidade. Aliás, o senso que tenho é que até os anos 90, antes da onda dos atacarejos, os mercados todos tinham mais qualidade, no atendimento, na organização das lojas e nos produtos. Tudo isso se perdeu com os atacarejos, em troca de preços um pouco melhores.

Mas, pensando bem, há um curto período intermediário, quando parecia que em pouco tempo todos os super e hipermercados seriam do Pão de Açúcar. Essa sensação se deu justamente ali pela virada do milênio. Em toda a parte havia um Compre Bem, um Extra ou um Pão de Açúcar. Não mais existiam o Paes Mendonça e o Sé. Lembro de concorrentes tentando enfrentar esse colosso que é o GPA, como o Cândia e o Big. O Big original foi vendido ao Walmart e o Cândia não sei o que virou (acho que suas lojas foram negociadas com o Carrefour). 

Aliás, houve um período, antes do Carrefour criar o conceitos de lojas chamadas de "Carrefour Bairro", em que essa rede francesa criou, ou importou para o Brasil, o supermercado Champion. Havia um entre a Avenida do Rio Bonito e a Avenida Interlagos. Teve vida curta e logo virou um Carrefour Bairro (e lá está até hoje). 

Na Veja São Paulo dessa semana saiu uma reportagem sobre qual é o mercado com maior faturamento de São Paulo. É o Andorinha, na Zona Norte, junto com o Bergamini. São redes com as quais eu nunca mantive contato, pois estão restritas a regiões bem distantes de mim. O Andorinha fez um shopping center em torno de sua única loja, na Cachoeirinha. Tem mais de 40 caixas para passar as compras.

Mas o que eu queria dizer mesmo é que estando de madrugada no Extra, local onde não ia (não nesse horário) já fazem uns bons anos, pude notar algumas coisas:

• O público é muito rarefeito. Manter uma loja daquele porte aberta não deve dar faixas de lucro muito satisfatórias. Durante uns quarenta minutos, notei no máximo dez pessoas andando por lá, quase todas fazendo compra de pouquíssimos ítens (eu, inclusive).

• Vi homens que pareciam taxistas ou motoristas de aplicativo zanzando como alguns dos poucos clientes. 

• Um casal, aparentemente estrangeiro, muito suspeito. Seriam encarnações perfeitas daquelas pessoas que sequestram e mantém em cárcere privado por trinta anos alguém no porão.

Pena foi ter comprado uma bandeja de pão de batata com parmesão que estava mofada. Eu não notei isso na hora (acho que já estava muito cansado) e meu irmão teve que ir lá trocar. O aspecto, apesar do bolor, era muito bom. Notei que o ar condicionado estava desligado na loja, isso talvez explique a má conservação de alguns produtos, que se deterioram mais cedo.

A impressão que passa é que um hipermercado daquele, às três da manhã, é o espaço perfeito para um pederasta, um maníaco, um depressivo ou pessoas que se sentem fracassadas possam ir às compras.

Até onde sei, além do Panamby, o Extra da Brigadeiro Luís Antônio e um, na Marginal Tietê ainda são 24hs. Antigamente haviam muitas outras lojas que operavam nesse regime. Foram sumindo. Parece que ainda existe algum Sonda que não fecha. Acho que unidades menores, se abertas nesse horário, poderiam ter serventia melhor aos consumidores.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Os supermercados da minha vida

Preciso esquadrinhar as minhas memórias para poder entender a razão que me leva a gostar tanto de mercados. Pois é, isso pode parecer uma bobagem, uma questão menor, sem qualquer importância, porém não é, ela fatalmente explica algum anseio meu e parte da minha história.

Um dos posts aqui nesse blog "Saudades dos supermercados noventinos" é o que sempre me faz lembrar da existência desse diário. Sempre que vou hoje em um supermercado ou num dos muitos atacarejos que se proliferaram por toda a urbe, me lembro da infância e dos mercados que nela frequentei. Os Batateiros, no Jardim Iporanga e em Santo Amaro (depois de comprado pelo Grupo Pão de Açúcar também os da Vila São José e da Avenida Nossa Senhora do Sabará). O Reimberg, na Vila São José, na Sabará, no Jardim São Bernardo, Embú Guaçu, na Piraporinha e no Casa Grande (todos os Reimberg foram comprados pelo Grupo Pão de Açúcar e viraram Batateiros e depois Compre Bem e, finalmente, Extras, como estão até hoje). O Sé, na rua dona Benta Vieira, em Santo Amaro, atrás do Teatro Paulo Eiró. O Paes Mendonça, na Marginal Pinheiros (onde compramos um microondas Sharp, que estava funcionando até alguns anos atrás). O Eldorado, onde minha mãe comprou um skate tubarão pra mim. O Futurama da Avenida Adolfo Pinheiro, onde antes era uma concessionária Volkswagen (isso já foi de 2000 para cá e o mercado teve que se mudar para o prédio da Praça Dom Francisco de Souza, junto ao Telhanorte, por causa das desapropriações das obras do metrô). O Big, na já citada Praça Dom Francisco de Souza, que depois de adquirido pelo Walmart foi fechado e dividido entre a Telhanorte e o Futurama. Posteriormente as instalações foram demolidas e deram origem a algumas torres residenciais no local (antes da virada da primeira década do novo milênio, eu creio). O Walmart da Avenida Washington Luiz eu fui umas poucas vezes também antes do meu pai adoecer, isso logo quando abriu (mas não sei a data, talvez 2006). Também a Cooperleve, que era o mercado dos funcionários da Metaleve, na rua Suzana Rodrigues, onde hoje é a Kalunga. No Shopping SP Market havia o Superbox (virou Ricoy).O Peralta, da Avenida Morumbi (hoje Pão de Açúcar). O Higuti, na Vila São José e em Embú Guaçu. Vários Extras (Iporanga, Shopping Fiesta, Jardim São Luiz). 

Nos primeiros anos 2000 íamos muito ao Futurama, ao Sé, ao Big e no Extra do Fiesta. Depois que o Tenda Atacado abriu na Avenida Robert Kennedy, próximo de casa, passamos a ter esse atacarejo como nosso centro de consumo número 1 ( e assim permanece até hoje).

Poucas vezes me lembro de ter no Sonda do Shopping Center Sul, sobretudo por que na Rua Carlos Gomes e na João Alfredo não passavam ônibus que iam pelo Veleiros. Na Cidade Dutra só passei a frequentar o Sonda depois de adulto, quando comecei a trabalhar naquele bairro. Antes, ali havia um Supermercado chamado Tulha. 

Na minha tenra mocidade sempre ia ao mercado com meu pai. Até hoje eu suspeito que o Mal de Parkinson que ele desenvolveu foi em decorrência de uma paulada que ele levou na Avenida das Nações Unidas, de um homem que levava no ombro um caibro e que se virou, acertando a nuca do velho. Estávamos indo ao Assaí, um dos mais antigos atacadistas de São Paulo.

Na época do prefeito Celso Pitta, me recordo de ter ficado preso dentro um supermercado Yokoi, na Belmira Marin (próximo do Circo Escola), quando uma greve de perueiros estourou, fazendo com que o estabelecimento baixasse as portas com os clientes dentro, por motivo de segurança.

Hoje os supermercados de redes estão sumindo. O Sonda ainda está em expansão. Há o Pão de Açúcar, normalmente em lojas um pouco menores que cobram um valor um pouco acima de grandes Hipermercados, como o Extra (do próprio Grupo Pão de Açúcar) e o Carrefour. Vários Extras hoje duvidaram o espaço de suas lojas ou simplesmente viraram atacadistas Assaí. Dizem que o Assaí é uma mina de dinheiro para o Grupo Pão de Açúcar. Esse ramo dos atacarejos (atacados + varejo) cresce a plenos pulmões. Há muitas redes novas: Tenda, Akki, Vencedor, Giga, Maxi, Roldão, além dos já veteranos Makro, Atacadão e é claro, o Assaí. O público quer preço e produtos básicos. É isso que as pessoas buscam nesses atacarejos. Não há muita variedade de produtos, o antendimento não é personalizado, há empilhadeiras e pallets pelos corredores, coisas que você nunca vai ver no Pão de Açúcar ou no Zaffari.

Hoje, além de atacarejos como Tenda e Akki, vou com frequência no Sonda da Cidade Dutra, no Zaffari, do Morumbi, no Peg e Pese e no Sacolão São Jorge. Busco aquilo que nos atacados não se encontra: variedades e produtos frescos da padaria. Talvez aí esteja um caminho para essa criação brasileira, os atacarejos: dispôr de padarias e mais variedades de marcas.

Vivo sempre sonhando com o dia em que teria a minha rede de supermercados. É um sonho. E é uma boa coisa pra se sonhar.

Os rumores silenciosos

Entre aqueles que são envolvidos no meio eleitoral, seja trabalhando para partidos políticos ou candidatos, seja o pessoal dos institutos de...