Um dilema. Pois é, a análise política que fazemos normalmente não é baseada unicamente na razão simples, no puro pensamento abstrato ou então na lógica, mas está muito permeada por sentimentos e por irracionalidade que não é explicada. Ainda nesse sentido, as classificações político-ideológicas ordinárias não podem fazer nenhuma referência verdadeira à realidade. Basear toda a política no critério de esquerda e direita é a coisa mais falha possível! Consulte ao Homer Simpson ou ao Peter Griffin que se diz direitista se ele não acha que o estado deve promover saúde, educação, segurança e transporte de qualidade, ou ainda se o governo não deve controlar propaganda de tabaco, álcool ou publicidade infantil ou controlar a venda de drogas e o aborto. De igual forma, inverta ao polo e vá ao auto identificado esquerdista e pergunte se ele não crê que se deva abaixar os impostos, reforçar políticas de segurança pública, ou ter penas mais duras para crimes graves. Estão vendo a confusão e como as coisas se misturam muito?
Ponto, nesse sentido para os movimentos políticos autoritários da primeira metade do século XX que não se identificavam nem com a esquerda e nem com a direita. Isso os dava a liberdade necessária para poderem empreender medidas práticas que reforçassem o seu poder e atendessem à demandas nacionais. O fascismo italiano, o nacional socialismo na Alemanha, o estado novo de Salazar em Portugal, o Franquismo na Espanha e por ai vai. A terceira posição derrotada pela força das armas provou estar a frente em matéria de pragmatismo político. E, por favor, saiam dessa neura de querer qualificar os movimentos de terceira posição ou terceira via como sendo de esquerda ou de direita apenas para com isso desqualificar os seus oponentes. Isso é ridículo e irreal.
Dito isso, falo do meu dilema, de minha incongruência. Sou um admirador das artes e das virtudes militares. O papel das classes militares ainda não foi devidamente compreendido fora do mundo do estudos internos da caserna. Alguém da Escola Superior de Guerra tem real dimensão do poder simbólico e prático dos militares, mas a extensa maioria dos cientistas sociais da academia e da mídia simplesmente desconhecem esse poder e trabalham sobre eventos históricos isolados ou, o que é muito mais comum, com seus preconceitos sobre o mundo militar. Eu tenho o mínimo de compreensão sobre o papel civilizador da guerra e o que os militares tem de poder real, que é quase todo o poder, muito maior do que o econômico ou o político.
Sei também ler com linearidade o que são as Forças Armadas na história do Brasil: o maior instrumento de promoção da brasilidade e a maior defensora da integridade do território brasileiro. Defender a integridade do território nacional é a missão número um de Marinha, Exército e Aeronáutica. Em nome dessa integridade toda a força deve ser dispensada. Em nome dessa integridade nada deve permanecer no caminho. O regime militar tinha no combate ao comunismo apenas um verniz aplicado sobre a antiga doutrina da integridade e soberania do território nacional. Não preocupava verdadeiramente a liberdade mas só a integridade do país.
O discurso que pode ser chamado de soberanista tem obtido força na segunda década dos anos 2000. A ascensão de líderes auto identificados na esquerda e na direita em parte está explicada pela defesa da soberania nacional contra o fenômeno da globalização. Vimos isso de Hugo Chavez até Donald Trump. Não digo que isso esteja errado. O ataque às soberanias nacionais é um projeto muito bem articulado pelos grandes magnatas internacionais, os donos do poder econômico e investidores do caos em várias partes do mundo, que tem o objetivo de colocar os governos nacionais unicamente ao seu serviço. Eu também defendo a soberania nacional, mas como encará-la quando tratamos de um país que, embora seja formalmente soberano não constitui uma nação, sendo antes um país plurinacional?
Esse é o caso do Brasil. A República Federativa do Brasil não é uma nação. O processo histórico que temos passado desdo o Império vem, justamente, no sentido de se construir um senso de brasilidade. Se é preciso que um governo seja o arquiteto de uma nacionalidade então não temos uma nação, mas pessoas que se identificam de maneira forçada com um governo e com uma estrutura político-jurídica, um estado soberano.
Esse é o problema pelo qual todo nacionalismo no Brasil sempre deve ser encarado puramente como chacota e macaquice. O Integralismo de Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale, embora recheado de ideias interessantes, era por fora uma galinha adornada, sempre tosco e com um ar de pura cópia dos nacionalismos europeus (esses sim autênticos). O nacionalismo de esquerda, dos "generais nacionalistas" conseguia ser pior ainda: é um nacionalismo geográfico manco (culto ao tamanho do país), um nacionalismo de fronteira (coisa de gaúchos) e é também idólatra do estado e de empresas públicas que encarnam a soberania do estado frente ao mundo (idolatria da Petrobrás e da Cia Vale do Rio Doce, por exemplo). Como levar esse tipo de coisa a sério? Como ser nacionalista em país tão prenhe de incoerências como o Brasil?
Enquanto este for um país uno só vejo no liberalismo político e econômico como uma saída honesta para a promoção da dignidade e do bem comum possível. Nacionalismo no Brasil só o regionalismo! A divisão do país é uma meta que deve estar no horizonte, que não pode ser esquecida. Só assim poderemos ter algum soberanismo que faça sentido e tenha razão prática de existir. Essa tendência desagregadora só poderá se tornar mais visível se os maiores guardiões da integridade do território brasileiro forem enfraquecidos: as Forças Armadas.
Daí o meu dilema: adoraria ser cidadão de um país com um exército poderoso, uma marinha e uma aviação que colocassem pavor nos demais países, mas o meu país e minha nação não é o Brasil e não consigo ver senão as FFAA como sendo o grande entrave para a independência de todos os estados brasileiros e realização da plena liberdade política com a preservação das culturas tradicionais da América Portuguesa. Sinto, Forças Armadas, mas vocês nunca contarão com meu apoio.
Dois homens bons dessa finada res publica: Júlio Prestes e Washington Luís