quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Minha decepção com Olavo de Carvalho

Se um dia esse meu relato chegar aos olhos e ouvidos do jornalista e filósofo Olavo de Carvalho, acredito que a reação dele será, como foi com vários outros que, em algum momento, resolveram peitá-lo, tirar uma farinha com o velho: ser qualificado como alguém sem preparo, sem formação, incapaz de compreender o que ele diz e por fim um filho da puta, com direito a receber algum apelido jocoso, baseado no seu nome (qual viria a ser o meu apelido?).

Olavo já está na história intelectual do Brasil. Ele é o responsável por dar força ao movimento de resistência ao pensamento de esquerda neste país e por tirá-lo da fossa, desde a década de 1990. 

Responsável maior ainda por popularizar o conceito de conservadorismo no nosso meio e por diferenciá-lo, finalmente, do liberalismo. Ao colocar uma ênfase especial sobre o papel da religião na sociedade ele realocou a direita no eixo moral, retirando o debate do campo material-econômico, que a esquerda domina e, por isso mesmo, acabou arrastando os liberais para este espaço, onde perdem, não por não terem razão, mas por não terem armas distintas das dos socialistas para poder enfrentá-los. No Brasil, colocar os problemas morais como centrais no debate político, é obra de Olavo de Carvalho. 

Nossa matriz religiosa é cristã. Originalmente católica, nossa sociedade está passando por transformações importantes e irreversíveis, onde, a cada dia, o protestantismo, sobretudo o carismático e pentecostal vem ocupando um vácuo deixado pela corrupção moral e de atitudes da maior parte dos setores da Igreja Católica.

O protestantismo no Brasil poderá vir a desempenhar um papel de reordenador da sociedade, mudando valores e sentimentos de nossa sociedade, revalorizando a ética do trabalho, da responsabilidade individual, da solidariedade entre irmãos, do espírito comunitário e gregário. O catolicismo brasileiro, por ser sincrético desde que por aqui chegou, quando os jesuítas começaram a adaptar o catecismo para ensiná-lo aos índios, foi o principal responsável por não termos nesta terra valores morais mais saudáveis. A decadência da ICAR no Brasil é inegável e Olavo não nega isso.

Contudo, a atitude do pensador e de seus alunos, convertidos em discípulos que espalham pela internet a sua palavra, é de total repulsa ao protestantismo, de difamação dos reformadores, como Lutero e Calvino e a pregação de um desrespeito e hostilidade para com os protestantes. 

Nunca esperei que ele, como católico, fosse abandonar as suas convicções religiosas, mas que, como intelectual público, agisse como C.S. Lewis, procurando o mínimo de comum que há nas tradições eclesiásticas cristãs, afinal, nosso inimigo é comum: o mundo moderno, o ateísmo, o socialismo, o humanismo, enfim, o Diabo.

Ao atacar o protestantismo e aprofundando a enorme divisão já existente entre evangélicos e católicos, Olavo faz o serviço do inimigo. Por essa atitude impróprio com relação à religião é que eu deixei de acompanhar o que ele publica em sites e em redes sociais. Isso não impede que livros como A Nova Era ou o Futuro do Pensamento Brasileiro não devam ser lidos. Devem! É preciso ler e DEBATER o que ele defende e propõe. Não importa se a reação dele será a mais grosseira possível. Um ser humano pode ser mal educado e mesmo assim falar coisas sensatas. Os homens sempre falam coisas sensatas num momento e mares de boçalidades em outro. Temos que separar o joio do trigo, mesmo que isso cause reações destemperadas.

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