quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Memórias de Pinheiros

 Em Pinheiros, 2020 em seus fins, estava parado dentro do carro, numa esquina, juntando forças para me levantar e caminhar uns poucos passos para entrar na igreja. Era uma época estranha. A rua que era sempre cheia de pessoas com vida externa, aparente, nos bares e botequins, estava naquele dia esvaziada. Bairro burguês, de gente que acredita na imprensa, muitos com medo paralisante do vírus. Não há cultos aos sábados na igreja de Pinheiros, mas, quando houve o retorno controlado aos cultos, após a reabertura dos templos, os dias passaram a ser uniforme. Quinta, sábado e domingo, se não me falha a curta memória. 

Ali em Pinheiros a igreja é vazia. São poucas as famílias que frequentam, a maioria idosos já no quarto final de suas vidas terrenas. Outrora aquela igreja esteve cheia, mas a mudança no perfil do bairro, que passou a ser, em vinte anos, essencialmente um bairro chique e lotado de restaurantes, bares e baladas, afastou parte dos frequentadores comuns de igrejas. Eu gosto de ir lá justamente porque é uma igreja vazia. Vazia e antiga, de tons beges, ao contrário do azulejado branco que se tornou padrão na última década nas congregações. 

Antes das nove da noite, quando o culto acabou, eu sai, sozinho e voltei para o meu carro. Fiquei reparando numa vilinha que tem ali na Padre Carvalho. Também em uns sobradinhos sem garagem que há na esquina com a Marcos de Azevedo. Olhei o movimento e senti um sentimento que não sei nem como chamar, se saudosismo de uma imagem idealizada e não vivida (ou pouco vivida). Quando eu tinha onze anos ia numa sorveteria com meu pai, para tomar um picolé de groselha por ali. Hoje não tem mais sorveteria ali.


sábado, 16 de dezembro de 2023

Anotações sobre o pensamento autoritário no Brasil

 E lembra que Benito Mussolini exprimiu uma vez, de modo lapidar, essa missão do estadista revolucionário, dizendo que "não bastava ter coragem para reformar, mas era preciso também a coragem de conservar".

O autoritarismo colocado em um local especial, divorciado do conservadorismo, pois, antes de tudo, carrega consigo um apelo francamente revolucionário. É uma posição que busca conciliar a preservação de aspectos do passado, impedindo a tomada do poder pela turba socialista e anarquista, ao mesmo tempo que propõe uma ruptura da dominação das estruturas do estado pelo grupos oligárquicos conservadores, que pretendem impedir mudanças modernizadoras, sobretudo na economia e nas relações de trabalho. Entendo que esse fenômeno é decorrente de uma sociedade industrial ou em industrialização, necessariamente urbana. É a resposta na tentativa de promover mudanças, conforme a nova realidade de proletários urbanos e industrialização, frente o desejo de imobilismo das classes conservadoras (agrárias e exportadoras) e a ânsia anárquica revolucionária dos comunistas, no século XX. Mudança com ordem, hierarquia e autoridade, provindas do estado, liderado por um chefe forte que encarne as necessidades pátrias. Essencialmente, me parece, um déspota esclarecido.

Um possível fato que me parece curioso e sobre o qual poderia ser feita uma pesquisa mais profunda, já na década de 1930 parecia que era algo asqueroso dizer-se simpático ou inspirado pelo fascismo italiano. Por mais que aproximações ou mesmo imitações de diversos aspectos do fascismo tenham ocorrido nos círculos de pensamento autoritário no Brasil via de regra não se lê que tal autor, abertamente, se dizia fascista. Isso entre os integralistas e também entre os demais autoritários não alinhados aos Camisas-Verdes, casos, por exemplo, de Afonso Arinos e Azevedo Amaral. O mesmo vai valer para os trabalhistas que daí acabam derivando, como Alberto Pasqualini. (Vide artigo)

Os rumores silenciosos

Entre aqueles que são envolvidos no meio eleitoral, seja trabalhando para partidos políticos ou candidatos, seja o pessoal dos institutos de...