Em Pinheiros, 2020 em seus fins, estava parado dentro do carro, numa esquina, juntando forças para me levantar e caminhar uns poucos passos para entrar na igreja. Era uma época estranha. A rua que era sempre cheia de pessoas com vida externa, aparente, nos bares e botequins, estava naquele dia esvaziada. Bairro burguês, de gente que acredita na imprensa, muitos com medo paralisante do vírus. Não há cultos aos sábados na igreja de Pinheiros, mas, quando houve o retorno controlado aos cultos, após a reabertura dos templos, os dias passaram a ser uniforme. Quinta, sábado e domingo, se não me falha a curta memória.
Ali em Pinheiros a igreja é vazia. São poucas as famílias que frequentam, a maioria idosos já no quarto final de suas vidas terrenas. Outrora aquela igreja esteve cheia, mas a mudança no perfil do bairro, que passou a ser, em vinte anos, essencialmente um bairro chique e lotado de restaurantes, bares e baladas, afastou parte dos frequentadores comuns de igrejas. Eu gosto de ir lá justamente porque é uma igreja vazia. Vazia e antiga, de tons beges, ao contrário do azulejado branco que se tornou padrão na última década nas congregações.
Antes das nove da noite, quando o culto acabou, eu sai, sozinho e voltei para o meu carro. Fiquei reparando numa vilinha que tem ali na Padre Carvalho. Também em uns sobradinhos sem garagem que há na esquina com a Marcos de Azevedo. Olhei o movimento e senti um sentimento que não sei nem como chamar, se saudosismo de uma imagem idealizada e não vivida (ou pouco vivida). Quando eu tinha onze anos ia numa sorveteria com meu pai, para tomar um picolé de groselha por ali. Hoje não tem mais sorveteria ali.