domingo, 11 de junho de 2023

Antígona

 O homem que governa bem a sua casa há de governar com justiça a cidade. Mas quem, por orgulho, menospreza as leis e pretende opor-se a quem tem o poder, esse não terá jamais o meu favor. Ao governador é devida obediência na pequena ou grande coisa, justa ou não. O homem que obedece, esse, eu tenho certeza, saberá mandar, pois sabe ser mandado, e, na confusão da peleja, estará firme em seu lugar, soldado bravo e Leal. A anarquia é o pior de todos os flagelos: é ela que destrói cidades, que subverte lares, que em batalha rompe, põe em fuga, desbarata tropas; enquanto onde há ordem salva-se por certo a maior parte das vidas. Eis por que é um dever respeitar sempre as leis, e não se deixar dominar por mulheres. "


*Tradução de Guilherme de Almeida 

sábado, 3 de junho de 2023

Uns vizinhos

 Já se contam mais de dez anos dessa fala.

Acho que é normal que se fala mal de vizinhos. Assim como é normal falar pelos cotovelos sobre colegas de trabalho, gente da igreja, parentes e de quaisquer outros círculos pessoais. 

Aqui em casa eu sempre estranhei alguns vizinhos. 

Um casal aposentado que não soube chutar pra fora seus dois filhos marmanjos e hoje já agregaram as notas. Nunca vi esse casal ir no mercado e trazer sacolas de compras, mesmo a casa deles ficando na frente da janela da minha sala. Como pode haver gente que não faz mercado? Bom, hoje, o amigo poderia dizer, isso é mais fácil com esses aplicativos de entrega. Mas não era o caso quinze anos atrás. Ou mesmo para dois velhos que não dominam a Internet. 

Uma senhora três casas pra frente. Morreu ano passado, aliás. Era divorciada ou viúva (ninguém sabia nem tinha coragem de perguntar) e morava com dois netos gêmeos que tinham a idade do meu irmão mais novo. Morava nessa casa também um filho dela que era maluco. Sempre o chamamos de monstrondonte. Ele tinha síndrome de pânico e realmente não saia de casa. Era a falecida velha que fazia tudo. Ela morreu e os netos se dividiram: um foi faculdade no interior, parece que em São Carlos e o outro aqui permaneceu, virando entregador de pizza.

Há uma moça japonesa, que mora com a mãe. As duas professoras. A mãe já aposentada e filha ainda na ativa. Roteiro de sempre do bairro. Casa antiga, quintal grande, pouca ou nenhuma visita. Pouco contato com os vizinhos (tem conosco). Acho que a moça deve ser uns três anos mais velha que eu. Uma vez ela me entrevistou e ao meu irmão mais novo, quando ele tinha uns dez anos. Era pra uma pesquisa de campo dela da USP. Umas perguntas bobinhas. Tenho alguma curiosidade por ela. E tenho também alguma pena, pois acho que ela não regula bem do juízo. Anda sozinha parando no meio do caminho, aparentemente sem motivo, como se tivesse tido uma pane seca. Ela namorava um senhor bem mais velho. Acho que eles ainda namoram. Mas são gente bastante fechada.

Na frente dessa mãe e filha mora um solteirão de meia idade. Quando nos mudamos pra cá ele já estava lá. Passados 23 anos nada mudou. Quer dizer, aquele rapaz que devia ter os seus vinte e poucos anos hoje deve beirar os cinquenta. A sua mãe, senhorinha espírita muito simpática mas fantasmagórica(só a vi umas dez vezes nessas mais de duas décadas).

Hoje eu me parei pensando em como os vizinhos devem ver a mim e a minha família. 23 anos na mesma casa. Não casei, não sai daqui. Engordei muito e fiquei careca. Pensarão que sou um sujeito com quais tipos de manias exóticas? Terão a mesma visão atravessada que posso ter deles? E o que é pior: podemos todos nós estamos certos... 

Os rumores silenciosos

Entre aqueles que são envolvidos no meio eleitoral, seja trabalhando para partidos políticos ou candidatos, seja o pessoal dos institutos de...