quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Democracia cristã

Tem muita gente realmente preocupada, realmente tensa com o seu futuro profissional. O medo é de que o novo governo liberal de Bolsonaro, Paulo Guedes e equipe acabe com a estabilidade do servidor público e comece programas de demissão voluntária e, por fim, demissões compulsórias.

Esse é um temor justificado. Tenho certeza que, do que dependesse do futuro ministro da economia, isso iria ocorrer.

A mentalidade do serviço público é típica das civilizações contemporâneas. Conforme a vida urbana avança, avança ao mesmo passo o estado e a necessidade dele gerenciar a vida nas grandes cidades. O idílico liberalismo do século XIX, as vezes quase anárquico, é impossível nas metrópoles modernas. Grandes cidades, grandes populações, grandes problemas e grande estado.

Esperar alguma mudança que passe pela quase extinção do serviço público não é despropositada, vinda de pessoas que estão acostumadas apenas com o mercado financeiro. Se verdade é que o presidente é também um servidor de carreira, e isso poderia servir como algum alento, também é verdade que o poder pode cegar e envergar nossa cerviz. Teremos em Bolsonaro alguém que sirva de freio ao liberalismo ortodoxo do Dr. Paulo Guedes?

Dito isso, eis que vejo a necessidade do surgimento de uma força política que consiga unir a esquerda do trabalho e a direita dos valores. Em países ocidentais, em tempos de paz, esse papel deveria ser desempenhado pela democracia cristã. Aqui em Banânia, os demo-cristianos simplesmente não existem como força política partidária faz muito tempo. O último lampejo forte nesse sentido esteve ancorado na ala liderada por Franco Montoro, no PSDB. Com sua morte e com a morte do PSDB, a democracia cristã está desaparecida do Brasil. Ela poderia ser uma força política relevante, verdadeiramente de centro, tendendo à direita, que equilibraria o jogo partidária, dando alguma racionalidade nesse teatro que vemos agora.

Não sei quanto tempo a onda liberal vai durar. O liberalismo de Reagan e Thatcher tiverem seus limites políticos, gerando novos governos democratas e trabalhistas. O consenso burocrático entre sociais democratas de esquerda e de direita permite esse tipo de situação. O liberalismo de Guedes deverá se esgotar em pouco tempo. Se bem sucedido, ajudará Bolsonaro a se reeleger daqui quatro anos e a fazer o seu sucessor. Daí em diante prefiro já não fazer conjecturas. De toda a forma, o liberalismo do século XIX já não pode existir. Ele é um pássaro Dodô. Ave extinta. Querer recria-lo hoje é uma aventura que resultará em grandioso fracasso.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Há quatro anos

Em novembro de 2014 eu vi o prenúncio de uma nova era. A nova era da direita que hoje, plenipotenciária, ocupa as manchetes dos telejornais, com seu comandante supremo e inquestionável, Jair Bolsonaro, começou faz quatro anos.

Quando Dilma Rousseff venceu o segundo turno contra Aécio Neves algo novo se descortinou na política do Brasil. A primeira vitória da Nova Direita brasileira foi sobre os separatistas de São Paulo. Foi uma vitória da organização contra a desorganização. Uma vitória dos contatos sobre os passos em falso. Foi também uma vitória de Pirro da traição.

Naquele momento o lema era "ou a Dilma cai ou São Paulo sai". Méritos por esse lema ao senhor Paulo Batista, corretor de imóveis no interior de São Paulo e, naquele ano, candidato liberal derrotado ao parlamento paulista. Ele criou um mega evento no Facebook, prenunciando o poder que as redes sociais viriam a desempenhar nos quatro anos seguintes, que reuniu mais de um milhão de pessoas. A conclamação para ir às ruas se assentava sobre a ideia, mesmo que remota, da independência de São Paulo, diante de mais uma vitória petista ter sido obtida graças ao voto de cabresto do nordeste subdesenvolvido.

No dia daquela manifestação os separatistas foram traídos. Fomos traídos por que eu mesmo havia falado, por telefone, com o "raio privatizador", alinhavando o apoio separatista. Chegando ao ápice, ao dia da manifestação, o carro de som estava repleto de nacionalistas brasileiros, como Eduardo Bolsonaro (sendo franco, Eduardo me pareceu a figura mais sensata e honesta naquele momento), Bene Barbosa (odiento anti separatista), além do cantor e ex-cocainômano Lobão, recém convertido, à época, as hostes do olavismo cultural. Os separatistas foram proibidos de subir ao carro de som. Durante, a manifestação fomos hostilizados, não pelos populares, mas pelos bodes patriotas que estavam em evidência no caminhão.

Naquele dia muitas pessoas passaram a apoiar a causa paulista e deixaram de ser apenas direitistas.

Naquele momento ainda havia muita expectativa pelo bom desempenho que o derrotado Aécio havia tido na eleição. Pouco tempo depois ele haveria de ser esmagado por sua própria sujeira.

Naquele tempo o jornalista Reinaldo Azevedo ainda era um ícone da direita reacionária e hidrófoba. Hoje, num canto da Rede TV, é uma sombra do símbolo que foi. Tornou-se um mostruário do jornalismo mais escroto que há, que sobrevive do puxassaquismo dos donos do poder, especialmente do MDB.

Jair Bolsonaro já era uma figura em total ascensão na internet, que gestava a niobosfera, que dita a nova era dos dias de hoje.

Olavo de Carvalho, ideólogo geral da nova direita, já era esse elemento controverso, inteligente, maquiavélico e prepotente que é até hoje. Quem começou a conhecer o sujeito nos anos iniciais do True Outspeak sabe ver bem a decadência moral do sujeito, que de analista cáustico e coerente passou a tratar a todos que discordavam dele como sendo inimigos mortais.

A inteligentsia neo direitista ainda não trabalhava em emissoras de rádio, em jornais de grande circulação e não dava pitacos em emissoras de TV.

Luiz Felipe Pondé só era admirado por uma pequena quantidade de leitores que liam sobre "jantares inteligentes" na Folha. Ele ainda não havia sido deglutido pela esquerda pós moderna, que não havia compreendido o liberalismo do filósofo judeu-baiano.

2018 vai chegando ao fim e eu mesmo não acreditaria, se me contassem quatro anos atrás, que tudo isso iria acontecer. Como Chesterton falou, a única lei da história é o imprevisto. A direita hoje se prepara para assumir o controle do país. Será bom. Será bom por que, como separatista, sei que não há ideologia ou doutrina política que possa curar o Brasil. Quando os remédios da direita se provarem, não só ineficazes, como também nocivos, assim como os da esquerda, muita gente vai cair na real, vai aderir ao ceticismo que a causa paulista defende.

Ps.: Paulo Batista, que traiu os separatistas, de figura ascendente da política direitista de 2014, acabou sendo traído por seus pupilos, em especial Kim Kataguiri e cia, que fundaram naquele mesmo dia o MBL, chutando o traseiro de Batista para fora. Hoje Kim e seus parceiros estão eleitos, todos pelo DEM e Batista continua na internet, com menos importância do que tinha em 14. De traidor a traído, apenas um passo.

sábado, 17 de novembro de 2018

Farofa materialista

Verdade seja dita que de alguma forma os materialistas estão muito corretos. A influência de nossas condições econômicas e materiais são extremamente decisivas para a nossa psicologia, para explicar como reagimos a agimos diariamente.

Minha vida está associada, diretamente, com a criação que tive, e essa está totalmente ligada com as condições materiais que tive na infância, com o que me foi colocado a disposição, com os lugares que frequentei, com a cultura que absorvi da convivência nesses espaços e com tais objetos e pessoas.

Hoje fui ao Zaffari e fiquei pensando nas circunstâncias materiais das coisas. Comprei o que precisava e fui para o caixa. As atendentes ali costumam ser um pouco mais simpáticas do que as de outras redes do comércio em retalho. Pelo menos nos dão boa tarde ainda, coisa que anda ficando rara entre os atendentes de comércios em São Paulo, em nossos dias.

Pouco antes de terminar de passar minha compra que se resumiu em massa de pizza e bolinhos, a empacotadora do caixa ao lado derrubou uma sacola, com uma garrafa de azeite, que se espatifou pelo estreito espaço entre os caixas. Em um local de público seleto, olhava para a cara das atendentes e empacotadoras e via que ninguém sabia o que fazer. Acredito que eles esperavam que viesse uma bronca, alguma reação destemperada, grosseira. Felizmente nenhuma dessas hipóteses se concretizou. Pegaram a garrafa quebrada e a dispensaram no lixo e um gerente foi tomar outras medidas, fazendo aquilo que se espera de quem ocupa alguma função ou cargo de liderança.

A caixa que me atendia terminou de passar meus ítens, validei o ticket de estacionamento, paguei e, pouco antes de sair com as sacolas nas mãos, vejo que o gerente chega ao local do acidente, carregando um saco de meio quilo de FAROFA CONDIMENTADA! Abriu a embalagem e começou a jogar farofa sobre o azeite esparramado no corredor.

Não fiquei para ver o fim, mas sai falando com meus botões: "esse sujeito vai fazer uma macumba aí nesse lugar".

Os rumores silenciosos

Entre aqueles que são envolvidos no meio eleitoral, seja trabalhando para partidos políticos ou candidatos, seja o pessoal dos institutos de...