sábado, 9 de junho de 2018

Fundamentalismo político



A ideia de fundamentalismo foi colocada num limbo do vocabulário. Todo aquele que é classificado como fundamentalista passa a ser, automaticamente, um sujeito nocivo, violento, agressivo, retrógrado, reacionário, enfim, basicamente aquilo que o mundo moderno da política costuma classificar como um fascista. 

Contudo, o fundamentalista é aquele que busca agir com lealdade aos fundamentos que crê e defende. O antônimo de fundamentalismo seria, portanto, a maleabilidade, que deve ser entendida na política, em parte, não como uma virtude, mas antes como uma fraqueza. A história mostra também que os grupos políticos que ao longo do tempo foram vencedores sempre souberam se manter inamovíveis em seus ideais, abrindo mão de um ou outro ponto superficial em nome da defesa do que é essencial. São perfeitamente fundamentalistas nessa ótica. 

A política é feita com base em muitas técnicas de engenharia social, envolvendo a mídia, a educação pública, a intelectualidade, as instituições, enfim, a sociedade, sempre usando a manipulação como grande arma. Na esquerda e na direita, polos que na verdade não são opostos, antes complementares, temos exemplos para mostrar isso. 

O socialismo, colocado pela turba de vivandeiras alvoroçadas, como o grande satã a ser vencido, só pode existir por que contou antes com o trabalho frio de navio quebra-gelo do liberalismo, seu irmão um pouco mais velho, que fez o serviço sujo de limpar a estrada do antigo regime e das amarras da religião cristã que atrapalhavam o seguir do caminho da modernidade. Sem a religião e a hierarquia pela frente a tentação do super estado, da grande mente supra individual, capaz de tudo planejar e colocar cada coisa em seu lugar, criando o paraíso da equidade, se tornou muito mais palatável. 

O macarthismo foi a resposta mais grosseira e popular para um certo senso de repúdio que se via notar, no meio do século XX ao caminho progressivo ao socialismo e à centralização administrativa. Foi um fenômeno exclusivo dos EUA. No Brasil, os militares, que desde a segundo império passaram a seguir a doutrina positivista, onde se enxergavam como os máximos protetores do estado e da "unidade nacional", ocuparam o espaço que cabia para que naquele contexto se combatesse a ameaça comunista. 

Devemos ter cuidado com o que desejamos em matéria de política, pois na América o espírito de caça às bruxas do macarthismo permitiu que o estado violasse a privacidade de milhões de cidadãos, criando ainda uma paranoia social que ajudou a romper laços de sociabilidade históricos, já há muito sedimentados. Aqui nestas bandas o militarismo gerou gastos públicos e uma dívida impagável, além de inflação. Também enquanto, tanto aqui como nos EUA, se clamava por moralidade e bons costumes, a imoralidade cavalgava sem rédeas, ainda mais livremente, agora chancelada pelo estado de direito e pelas autoridades que juraram nos proteger dessa ameaça do comunismo ateu e imoral. A Educação pública fomentada pelos militares levou ideias artificias a frente, como o patriotismo e a brasilidade para milhões de pessoas, por meio de matérias como Organização Política e Social Brasileira, Educação Moral e Cívica e Estudos Sociais. A esquerda transformou esse culto a uma nação inexistente dos milicos em uma verdadeira idolatria do estado. A direita, no poder, faz tudo aquilo que a esquerda precisa para poder terminar seu serviço e para completar seu projeto anti civilização. 

O maior nome do socialismo no Brasil, Lula, sempre teceu comentários elogiosos ao presidente Médici e ao Regime Militar. Um dos maiores gurus econômicos do petismo foi o keynesiano e super ministro dos militares Delfim Neto. O PT foi fundado em um dos colégios mais chiques e elitizados de São Paulo, o Sion e teve o velado beneplácito de Golbery do Couto e Silva, que pretendia criar uma legenda de esquerda que jogasse o jogo da política sistêmica. O socialismo sempre foi uma doutrina de ricos querendo usar o estado a serviço de seus monopólios para poderem ficar ainda mais ricos. 

Existe a nação, a família e o indivíduo. Pátria e povo são conceitos ideológicos e artificiais para a manutenção do poder político e econômico. Todos os que agem, seja na academia, na midia, na política e nas instituições para preservar o estamento de poder atual agem no fundo com base em um fundamentalismo, na crença de que devem fazer quase tudo para estabelecer o vindouro reino de delícias infindas na terra, a que alguns chamam de comunismo, outros de economia de mercado, mas que no fundo é apenas um engano, pois é uma inversão das verdades eternas da religião revelada, que transferiu o Paraíso Celeste para a Terra. Para fugir dessa mentira bem contada não devemos olhar para a esquerda e nem para a direita, antes para cima.

Nossa república sempre será uma velha república

Não tenho medo de afirmar que desde os protestos de 2013 o Brasil não é o mesmo. Não estou aqui fazendo nenhum juízo de valor, antes atestando um fato. Não consigo, também, encontrar nenhum paralelo destes cinco anos com nenhum período da história republicana. Todavia, em grupos privados, tenho exposto o meu receio de que o momento que temos passado seja semelhante ao da Primeira República (1889-1930), quando chegava em seus estertores. Uma fração das elites brasileiras, naquele momento, achou por bem "fazer uma revolução antes que o povo a fizesse". 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, maior intelectual vivo dentro da esquerda nacional, já apontou para as circunstâncias em que passamos hoje serem aquelas típicas de momentos pré-revolucionários. Há que se lembrar ainda que o Brasil não passou por uma "revolução burguesa", como ocorreu na Europa e nos Estados Unidos. A Revolução (golpe) de 1930 foi tramado pelos militares em comunhão com uma elite dissidente, mas que compartilhava até então do poder e cujo projeto político em nada se diferenciava de seus adversários reais. Não havia uma burguesia para que uma revolução real ocorresse e, sendo assim, essa jamais de completou totalmente. 

Hoje, como na Primeira República, há suspeitas de fraudes eleitorais. Há também candidatos que procuram se mostrar como limpos e desligados das velhas e carcomidas elites tradicionais. Há também um certo histerismo com um fantasma sem contornos claros da esquerda. E, por fim, um senso de que é preciso "salvar a república". Essa é uma conversa antiga. A história se repetirá, mais uma vez, como farsa? Torço para que ela não se repita.

Os rumores silenciosos

Entre aqueles que são envolvidos no meio eleitoral, seja trabalhando para partidos políticos ou candidatos, seja o pessoal dos institutos de...