domingo, 16 de abril de 2017

Mais um passo para o fim do mundo: o retorno do Império Turco Otomano

No último texto que apresentei neste blog falei a respeito da Guerra da Síria e de quem são os interessados reais em ver esse país sumir do mapa.

Eu já havia mostrado que a Turquia é um agente que tem o seu verdadeiro papel nesse conflito e no Oriente Médio minimizado. Fala-se sempre em um primeiro momento da disputa entre Estados Unidos e Rússia na região e, logo após, de Irã e de Israel, também inimigos, tendo os persas o auxílio russo e os judeus a ajuda norte-americana.

Mas e a Turquia, aquele país que foi por décadas a única democracia islâmica verdadeira? Quais as suas ambições?

Voltemos cem anos no tempo. Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, os velhos impérios tiveram sua crise final: Império Alemão virou a República de Weimar, o Império Russo virou União Soviética (em 1922), o Império Austro-Húngaro se dividiu e o Império Turco Otomano virou a Turquia e perdeu outros territórios que estavam sobre o seu controle.

Os turcos foram os grandes inimigos da Europa cristã durante muito tempo, mas, na altura da Primeira Guerra Mundial, os velhos rancores foram esquecidos por parte de alemães e austro-húngaros que agora estavão unidos na Aliança para vencer a Entente nesse conflito. Turcos, Alemães e Austro-Húngaros tinham dois inimigos preferenciais do outro lado: A Rússia e a Inglaterra.

Turquia e Rússia são dois estados historicamente beligerantes. A tradição ortodoxa russa narra que o país dos czares é o herdeiro legítimo da tradição do Império Bizantino e que, em um dia no futuro da História, os moscovitas irão partir em uma Cruzada para reconquistar Bizâncio e depois Jerusalém. Pode se pensar que isso é apenas um vestígio de um pensamento medieval, mas não podemos e nem devemos diminuir a influência que a Igreja Ortodoxa tem sobre a mentalidade de Vladimir Putin.

Notícia fresca deste domingo aponta que Recep Tayyp Erdogan venceu o plebiscito onde a população turca foi consultada se queria abolir ou não o parlamentarismo. Com essa vitória, legalmente, ele poderá se manter no poder até 2029.

Erdogan é, como todo tirano sábio, um pragmático. Tem muita cautela em suas ações e sabe aproveitar o timing para impor as mudanças necessárias para aumentar o seu poder. Ao passo que mantém uma política econômica austera, defende uma ação geopolítica ativa e expansionista. O atual presidente turco é a encarnação daquilo que é chamado de neo-otomanismo, doutrina que defende um amplo protagonismo da Turquia em áreas que pertenceram no passado ao Império Turco Otomano, como o norte da África, Bálcãs e Cáucaso.

O sonho turco é reaver essa áreas, recriando o velho império Otomano, destruindo todo o secularismo e o republicanismo da República Turca, criada por Attaturk.

Na perspectiva turca, os estados que existem hoje na região como Líbano, Síria, Iraque, Jordânia devem deixar de existir e são os alvos preferenciais das investidas de Erdogan. Num segundo momento o Irã deverá também ser alvo do interesse turco.

Por que a Síria é tão importante para Moscou?

A Europa é dependente hoje do gás natural que os russos vendem. Há um interesse mútuo e a economia russa, sobretudo, é hoje dependente das vendas desse gás para o velho continente. Existem, contudo, alternativas sendo cogitadas para poder dar aos países europeus novos fornecedores dessa comodite tão importante e uma delas é trazer gás diretamente do Iraque, com um gasoduto passando pela Síria. Evidentemente a Rússia não apoia isso.

Assad é contra a passagem de gasoduto europeu-iraquiano pelo seu território e, enquanto estiver no poder, não há perspectiva de mudança nesse cenário, o que mantém a Europa quase como refém energética dos russos.

Erdogan

A Turquia tem uma perspectiva política europeia. Espera ganhar economicamente com o comércio de gás natural e pode dar a solução que a Europa quer, tirando a Síria e Assad do caminho. O que os turcos querem na verdade é agregar a quase totalidade do território sírio. Ganharia nisso a Europa e a Turquia, mas perdem a Rússia e Israel, que não pode tolerar uma ação expansionista de qualquer território na região (isso por que o movimento sionista tem o seu próprio projeto de expansão imperialista, o Eretz Israel).

Erdogan será um novo sultão? Isso a história brevemente confirmará ou desmentirá, mas que essea perspectiva narrada aponta para um futuro tenebroso é algo que não pode ser negado. Podemos é apenas torcer para que as forças de Assad e da Rússia consigam varrer o radicalismo islâmico e que a Síria possa se reconstruir e se fortalecer como estado nacional tampão, capaz de frear o expansionismo otomano e hebreu.

Verdade turca: quando você, democraticamente, remove a democracia do seu país.


Um comentário:

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