terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Renascença conservadora

Há uma renascença do pensamento conservador. Estou tomando a licença de aqui não usar a palavra conservador com um sentido unicamente político, partidário e eleitoral, antes acentuando-o como oposição ao progressismo e a liberalismo (as crenças no progresso infinito e na liberdade sem restrições).

Essa renascença conservadora é resultado de um esgotamento da sociedade com o modelo político instaurado com o fim do Regime Militar, em 1985. Nossa Constituição Federal, de 1988, que permitiu a existência de um estado provedor de bem-estar social (ao menos no papel, pois a execução do projeto social democrata foi extremamente vacilante). Somemos aqui o crescimento da intolerância da sociedade com a corrupção. As operações da Polícia Federal e da Justiça, muitíssimo em especial, a Lava Jato, só poderiam ter surgido nesse momento de nossa história institucional e cultural. Ela é sim parte da resposta conservadora.

Com esse quadro, é notável a leitura e o apreço, por minha geração, de autores como G.K. Chesterton, C.S. Lewis, Roger Scruton, Jordan B. Peterson, Nikolai Berdiaev, Oswald Spengler e vários outros, somados aos naturais da terra, como Olavo de Carvalho, J.O. de Oliveira Penna, Ricardo Vélez Rodrigues, Antônio Paim, João Camilo de Oliveira Torres e vários outros. Em comum entre todos os citados temos a profunda crítica ao marxismo e ao materialismo dialético. Todos também são ignorados pela academia.

Lendo autores brasileiro, que já haviam tido contato com alguns dos pensadores citados, hoje redescobertos, têm-se a sensação de que, no Brasil, o pensamento conservador sofreu um grande hiato, que se encontra entre as décadas de 1960 e o início dos anos 2000. Quatro décadas do mais puro progressismo hegemônico.

Vivemos, finalmente, uma nova era, amparados nos mestres que tiramos das tumbas, limpando-os da terra progressista que os cobria.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Resposta ao chanceler Ernesto Araújo

Resposta minha a esse texto do sr. chanceler: "Querer grandeza"


A interpretação nacionalista da história do Brasil é um erro do começo ao fim. O historiador paulista Alfredo Ellis Júnior, deputado constituinte em 1934 e filho do senador Alfredo Ellis, muito bem já disse (cito de cabeça) que "Não existe a história do Brasil. O que existe é a soma de capítulos de histórias regionais". Entender o Brasil como império e, por consequência, plurinacional, seria o correto. Não consigo compreender como pessoas de tão elevado gabarito intelectual, que, quero crer, devem ter lido a maior parte dos ensaios que ajudaram a formar a mentalidade unionista de nossas classes letradas, ainda assim permanecem a ver o Brasil como uma nação. O conceito de nação não serve ao Brasil e traçar políticas públicas tendo por base a concepção de que somos uma só nação e um só povo é equivocado! O Brasil está mais para Austria-Hungria do que para França. É Rússia tropical, não Portugal nos trópicos. Todo o fracasso do empreendimento civilizacional no Brasil não é culpa de uma esquerda marxista, antes de uma mentalidade centralista e unionista de nossas elites, muito em especial, as do nordeste e, sobretudo, do Rio de Janeiro. Ou se acaba com o governo federal ou ele acabará com os indivíduos. Confederação ou secessão!

Livro de Alfredo Ellis Júnior, historiador paulista quatrocentão (por lado materno), fundador da cátedra de História da USP e separatista paulista declarado

Objetos voadores não ideológicos


Objetos Voadores Não Ideológicos

A cultura pós-moderna em que vivemos padece de um terrível literalismo. Muitas pessoas vão perdendo a capacidade de compreender o símbolo ou a metáfora, a ironia ou a piada, não conseguem transitar entre diferentes níveis de discurso, não percebem as figuras de linguagem, consequentemente não discernem o senso de humor nem decifram o pensamento sugestivo. Tornam-se incapazes do raciocínio abstrato, baseado em conceitos ou em universais: limitam-se aos particulares, à repetição tautológica de casos específicos. Acham que toda elocução é descritiva, não distinguem a função evocativa da fala.

Assim, se eu fizer uma referência à história da cigarra e da formiga, amanhã algum jornal dirá que eu acredito em insetos falantes.

Em semelhante contexto, quero deixar claro o seguinte: não acredito em discos voadores, nem deixo de acreditar.

O uso da expressão “acreditar” com relação à existência ou inexistência de civilizações extraterrestres e seus aparatos afigura-se inadequado. Parece perfeitamente plausível que existam tais civilizações e sejam capazes de viagens interestelares – e uma hipótese plausível não é, a rigor, matéria de crença. Trata-se, no caso, de uma proposição verificável, e jamais falseável, segundo a epistemologia de Karl Popper, ou seja: é possível comprovar empiricamente que os discos voadores existem, basta que um dia um deles apareça à luz do dia e todo mundo o enxergue, mas é impossível comprovar empiricamente que os discos voadores não existem, pois teríamos de varrer todo o universo à sua procura até concluir por sua inexistência, tarefa inexequível.

Podemos dizer algo semelhante de outras entidades, por exemplo: corvos brancos. É plausível que haja corvos brancos, pois não há nenhuma impossibilidade intrínseca em sua existência, mesmo se nunca ninguém os viu. Os corvos brancos nisso diferem, por exemplo, dos marxistas intelectualmente honestos. A existência de um marxista intelectualmente honesto não é plausível, pois há uma contradição intrínseca entre a disciplina intelectual marxista, que nasce na mentira e obriga seus praticantes a mentir inclusive a si mesmos o tempo todo, e a honestidade intelectual. Desse modo, a proposição “existem marxistas intelectualmente honestos” difere das proposições “existem discos voadores” ou “existem corvos brancos”. Ela não é nem verificável nem falseável, ela é apenas logicamente insustentável, como seria a proposição “existe luz escura”.

Quem diz “em acredito em tal coisa” está abrindo um canal para a busca de significado para além ou para fora do terreno da lógica e da epistemologia. O fato de tratar os discos voadores como matéria de crença, e não de verificabilidade empírica, é muito revelador do vazio espiritual contemporâneo. Numa civilização que proíbe a transcendência, algumas pessoas começaram a agarrar-se a certas manifestações materiais ou “mitos contemporâneos” (mais ou menos como diz C.G. Jung em seu ensaio sobre os discos voadores, Um Mito Moderno) que funcionam como sucedâneo do transcendente, do numinoso, do sagrado que elas já não conseguem conceber direta e autonomamente.

Ora, já sabemos que a esquerda não tolera a transcendência, pois a abertura para a transcendência é, em última instância, o que constitui a humanidade do homem, e também já sabemos que a esquerda é anti-humanista. Desse modo, não espanta que todas ou quase todas as pessoas cuja sede de transcendência e numinosidade leva para a crença em discos voadores construam suas casas no bairro da direita. Do mesmo modo aqueles que buscam a transcendência no esoterismo, no ocultismo, nos mistérios das civilizações desaparecidas, na alquimia, normalmente se acomodam na direita, todos os heróis fascinados pela rosa distante, secretíssima e inviolada de que fala Yeats em seu poema “The Secret Rose”, essa rosa que não é senão a transcendência, e a buscam no Santo Sepulcro, ou na embriaguez, no amor, na aventura. Esse bairro colorido, esfuziante de desejo pelo além, pela verticalidade, nas formas mais diversas, esse bairro é a direita. Do outro lado do rio político está o bairro da esquerda, um bairro cinza, pesado, de pessoas cabisbaixas que caminham murmurando slogans vazios ou fazem fila para receber sua ração diária de materialismo e reducionismo (uma espécie de soylent green, uma pasta amorfa feita de pensamento decomposto). No bairro da esquerda não há transcendência, nem a transcendência original nem os seus sucedâneos. No bairro da esquerda não há lugar para o mistério, pois o mistério é constitutivo do ser humano. Quem busca o mistério atravessa para a direita, seja o mistério de quem construiu as pirâmides, seja o de como são feitos os crop circles, seja o mistério do logos incarnado.

Talvez o que defina mais profundamentre a cisão entre esquerda e direita seja a rejeição e aceitação da transcendência, respectivamente.

Quem crê procura a direita. Mesmo quem crê em coisas que não seriam questão de crer, como os discos voadores. Muita gente acredita em discos voadores apenas porque acha que é proibido acreditar em Deus.

Não é proibido.

Texto do chanceler Ernesto Araújo https://www.metapoliticabrasil.com/blog/objetos-voadores-n%C3%A3o-ideol%C3%B3gicos

Novos estados na Federação Brasileira: alguns são necessários outros gerarão perigosos reflexos.

“A dimensão dramática da diferença é demonstrada no fato de que no início do século XIX a colônia espanhola dividia-se administrativamente e...