quarta-feira, 28 de junho de 2017

Livro "Emil Cioran, a crítica à ideia de progresso histórico"

Li o livro escrito pelo reverendo luterano Daniel Branco sobre o pensador franco romeno Emil Cioran. Considero o livro uma boa introdução ao pensamento de Cioran.


"Cioran sabe que [...] cada civilização tem dentro de si o desejo de subsistir [...] ser grande como a areia do mar [...] Existe, entretanto, uma parte da realidade que não é lembrada: a decadência, a queda. O que as civilizações chamam de progresso é o seu tempo de colheita, parte da história onde ela ocupa um efêmero trono. Todo reinado, no entanto, acaba. A vida do rei não é eterna. Não existe também herdeiro que o traga de volta a vida. Toda a civilização entrega o seu trono a outra e, não havendo mudanças no ciclo da História, pois todo rei é humano e ocupará o trono somente durante os anos determinados para todo homem viver, dentro de pequenas variáveis, a História vence o intento de qualquer império de 'eterno'. "


domingo, 18 de junho de 2017

Uma telurocracia sul americana

A telurocracia é o poder geopolítico da terra, em predominância sobre o mar. É a força da autossuficiência sobre o comercialismo. Em termos mais modernos, são os países autárquicos (que buscam produzir a maior parte daquilo que consomem) contra a divisão internacional do trabalho (onde cada país produz basicamente aquilo que ele tem como sua especialidade).

A América do Sul possui o Mercosul (Mercado Comum do Sul) como principal espaço geopolítico do sub continente. Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela fazem parte dele. O Paraguai foi suspenso, anos atrás, por ação dos demais países na época participantes, alegando a rutura da institucionalidade paraguaia, embora se saiba que isto é totalmente infundado e só serviu como meio para que a Venezuela fosse inserida no bloco. Hoje o Paraguai já retornou ao Mercosul e a Venezuela em total convulsão social, nas mãos de Nicholas Maduro e Diosdado Cabello não foi suspensa.

Independente de qualquer disputa superficial entre esquerda e direita, a América do Sul deveria buscar fortalecer esse importante bloco comercial, que é o Mercosul, sem, contudo, deixar de reformá-lo, dinamizando-o, tornando-o mais ágil para dar as respostas necessárias no campo político e econômico. Nosso sub continente forma um todo geográfico, uma hinterland poderosa, que pode trazer muitos ganhos para o desenvolvimento de nossos países. Infelizmente tanto a esquerda quanto a direita dos países sul americanos não conseguem enxergar isso na sua devida dimensão, ficando amarrados em discussões verbais de baixo conteúdo substancial.

Uma integração geográfica foi o que os nossos países fizeram durante os anos 1960 e 1980, quando foram governados por regimes militares, mais cientes da necessidade de um real integração espacial da América do Sul. Não, isto não é um plano comunista nem uma ação neoliberal! A integração em um bloco comercial forte, que busque, prioritariamente, dentro de uma perspectiva de especialização e divisão do trabalho restrita ao espaço sul americano, fortalecer nossas economias, eliminando entraves e utilizando um mercado consumidor de mais de 400 milhões de pessoas para poder dinamizar nossas economias, reduzindo a dependência de grandes potências, como Estados Unidos, União Europeia e Rússia.

No Brasil sempre se refere a uma "síndrome de cachorro vira-lata". Penso que seria mais adequado expandir essa síndrome para praticamente toda a América Latina, que não consegue reunir forças sociais e políticas para poder criar uma civilização nova, embora tenha um enorme potencial para isso, tanto físico quanto humano. Poderíamos ser uma potência econômica e militar, autônoma dos problemas que tanto envolvem hoje o mundo e as grandes forças geopolíticas, com um poder telúrico, voltado para o comércio no mercado interno da América do Sul, mas nossas elites locais estão muito confortáveis com a subordinação e a venda de comodities de baixo valor agregado para os países industrializados. Como dizem os argentinos: cabeça de rato a cauda de leão. Poderiam ser tigres, mas serão sempre ratos.

sábado, 10 de junho de 2017

Uma reforma do Brasil não é suficiente

Desde a independência, ou seja, do nascimento do Brasil como país, diversas discussões tomaram conta do diálogo nacional, empreendido pelas chamadas classes falantes.

Nossas elites já debateram sobre a escravidão, sobre monarquia e república, sobre o estado laico e confessional, sobre a repartição dos poderes e sobre a organização da divisão do estado brasileiro. Sempre se discute e se chega a alguma conclusão, cujo resultado não costuma apresentar mudanças profundas nas velhas estruturas do país.

Reputo a proclamação da república como o maior fato da história do Brasil país. A perspectiva que se abriu com o fim da monarquia foi a de que alguma mudança real poderia vir a ser empreendida. Não que essas mudanças realmente acontecessem, mas com a mudança da forma de governo uma abertura ocorria para que mais transformações pudessem ocorrer.

Bons tempos aqueles do fim do século XIX onde os cafeicultores Paulistas, os estancieiros gaúchos e os militares discutiam sobre a forma de governo do país e também sobre a melhor forma de estado.

Vejo que o debate que falta ser levado, no mesmo ritmo, na mesma toada que era feito na época em que a república foi proclamada, é a respeito da forma de estado no Brasil. Vivemos um modelo de federalismo absolutamente truncado, cuja base da pirâmide está invertida e o poder total concentrado no poder central.

A reformatação do país é a mãe de todas as reformas e a única que seria capaz de parir um ciclo longevo de estabilidade. Dizer que o Brasil de hoje não é federalista me parece equivocado. Temos um tipo peculiar de federação, misto de modelos copiados de alhures. Não nos basta. Precisamos de um federalismo liberal de tipo americano, na pior da hipóteses, ou de uma confederação no mais ideal dos cenários.

Descentralizar totalmente o poder político e econômico. Dar peso e significado real à palavra cidadania, como verdadeira participação do indivíduo das decisões importantes de sua terra. 

O Brasil é um país plurinacional e não há saída para que ele se mantenha unido a não ser que se dê liberdade plena para que as nações que o constituem possam, cada uma, de maneira democrática, definir qual é o melhor rumo que deva seguir. Cada estado uma nação e cada nação uma solução. As reformas que emperram hoje o desenvolvimento dessa grande América Portuguesa só podem ser feitas no âmbito dos estados. Brasília é incapaz de conduzir reformas que sejam agradáveis a todos. Primeiro se reformata o país e a seguir parte-se para as reformas, uma a uma, como se faz com os cômodos de uma grande casa.

O intelectual petista

Não sei dimensionar qual é o papel profundo que a intelectualidade presente dentro do Partido dos Trabalhadores realmente representa para essa instituição e para o debate público nacional. Não consigo compreender como um partido como esse tem nomes como Fernando Haddad, Marco Aurélio Garcia e os finados Antônio Cândido, Florestan Fernandes, Raymundo Faoro e Sérgio Buarque de Holanda, pode conviver com a liderança de um enganador mór, como é Lula. O ex-presidente tem a lábia de um caixeiro viajante ou de um corretor de imóveis. Despreza deliberadamente o conhecimento em favor da esperteza. Lula é uma perfeita encarnação de um líder político cuja ideologia é a brasileiríssima "Lei de Gerson".

Haddad escreveu um textão na Revista Piauí sobre sua gestão a frente da prefeitura de São Paulo e analisando a situação do país desde 2012 até o presente momento. Eu ressalto dois pontos. Em primeiro lugar ele consegue falar abertamente como o PT, especialmente Dilma e Lula se mostram como inimigos dos Paulistas, por agirem com preconceito (da parte de Lula) ao achar que São Paulo não precisa de mais serviços públicos e com desprezo total (vindo de Dilma) ao perguntar ao prefeito o que São Paulo poderia fazer ao governo federal, como se a cidade fosse serviçal da burocracia brasiliense.

Mesmo vendo essa humilhante situação e sendo representante de mais de 10 milhões de pessoas, na figura de alcaide paulistano, Haddad resignou-se à fidelidade partidária e ideológica do projeto de poder petista. Saiu chorando de Brasília sabendo que São Paulo estava sendo lesada pelo governo de dona Dilma, mas nada fez para mudar isso. Omitiu-se. Ainda hoje não mostra arrependimento de sua ação pusilânime.

Contudo, o ex-prefeito me parece bastante lúcido ao buscar interpretar a conjuntura que hoje vem passando o Brasil, enxergando, mais uma vez, uma crise do estado patrimonial brasileiro e mostrando, puxando como inspiração a interpretação dos founding fathers americanos de que democracia não é sinônimo de república e que esta primeira pode muito facilmente degenerar-se em tirania se não for acompanhada de seu par institucional.

Leiam o texto de Haddad. Apesar de todos os senões e óbices que eu possa colocar o que posso dizer é que me pareceu um relato honesto do que realmente o filisteu prefeito pensa.

Novos estados na Federação Brasileira: alguns são necessários outros gerarão perigosos reflexos.

“A dimensão dramática da diferença é demonstrada no fato de que no início do século XIX a colônia espanhola dividia-se administrativamente e...