domingo, 23 de abril de 2017

A fé socialista e a decadência moderna

Estou muito impressionado com o livro Uma Nova Idade Média, do russo Nikolai Berdiaev.

A sua capacidade descritiva dos problemas mais profundos da sociedade ocidental moderna é impressionante. A atribuição dos males do mundo contemporâneo à degeneração do espírito renascentista para o humanismo é certeira. O liberalismo e o socialismo são dois fenômenos que somente podem existir por esse passado que se inicia no renascimento, passa pela reforma, pelo iluminismo e decaí para o humanismo, onde, na raiz disto tudo, se encontra a revolta do homem contra Deus, querendo aí eliminar a verdade divina da vida humana, em particular da esfera pública. Quando se elimina Deus da história alguém vai assumir o papel de protagonista e claro é que será o homem. 

Ele aponta também o problema do liberalismo e mostra por que o socialismo triunfa sobre esta primeira posição ideológica.

Os liberais vão ver no homem um átomo, completamente desligado dos demais átomos, sem guardar com eles nenhuma relação, colocando como verdade única o direito do indivíduo a escolher, dentro do processo democrático. Ausente de verdade há total ausência de valor, logo, concluo, a democracia burguesa é, por excelência, a democracia do ateísmo, pois exclui Aquele que é a essência de todos os positivos valores.

O socialismo, contudo, constrói uma espécie de confissão, onde os elementos presentes em sua narrativa ocupam papéis que outrora se encontravam no judaísmo e no cristianismo. Israel não mais é a nação eleita, que agora é o proletariado. Deus não é mais Deus, mas a História. O paraíso, tal como para os Testemunhas de Jeová, se dará aqui na Terra, quando o povo eleito estiver preparado para tal. O socialismo, por não ser democrático, constitui uma fé, baseada em uma verdade, logo, mais forte e resistente aos tropeços do que a democracia, em última instância. Os socialistas viram que para ter o poder este precisava ter como fonte uma autoridade superior, um deus, que desse legitimação ao exercício do poder pelo partido.

Digo que a liberdade do povo deveria ser limitada, pois é essa liberdade completamente ausente de verdades que dá ao indivíduo atomizado a autonomia para negar tudo o que é bom, tudo o que é reto, tudo o que é justo e tudo o que vem do bom senso. A democracia conduz ao socialismo e o socialismo é a negação da próprio regime democrático.

Também destaco outra ideia, que ao analisar a revolução, enquanto fenômeno tipicamente moderno, Berdiaev nos diz e alenta, que aquilo que se perde com o fervor da ação revolucionária é apenas a espuma das estruturas, o que não é eterno, mas aquilo que é efêmero. Tudo o de perene que possa ter sido perdido, pode, também, ser recuperado, pois é uma verdade e, como tal, mesmo que negada não pode ser destruída.

Há, portanto, um clamor para que um retorno de Deus ao Estado aconteça. A saída para a decadência generalizada do mundo é substituir o paganismo instaurado na modernidade pela autêntica fé Cristã, enxergando no modelo de fins da Antiguidade (decadência da Roma pagã) e início da Idade Média (época Cristã regeneradora do espírito do homem dentro da linha do tempo da história - não falo aqui da regeneração da Graça que cai individualmente sobre cada eleito) um caminho para fazer com que o Ocidente confesse seus pecados, arrependa-se de seus erros e volte a estar abrigado, em uma comunhão orgânica, sobre o poder regenerador do Todo Poderoso.

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