Esses dias resolvi com a minha mãe, aproveitando a calmaria do feriado de carnaval, ir passar em frente de duas casas onde moramos nos anos 1990. Uma delas, pelo que pude ver pelo satélite do Google Maps ainda está lá. Como ficava nos fundos de uma casa principal, ela não pode ser vista da rua. Quando lá morei, a casa principal era sede de uma firma de BATATAS FRITAS. Sim, uma empresa que cortava, fritava e embalava batata frita, dessas tipo Lays ou, mais bem comparando, aquelas batatas que se vendem nos carrinhos de pipoqueiros. Cresci vendo durante vários anos o funcionar daquele pequeno engenho.
Eu não me queixo disso da minha infância. Ao contrário, tive uma infância maravilhosa. No terreno ao lado de nossa casa, que foi desmembrado nos anos 2000 e uma enorme casa, um verdadeiro mausoléu de cinco quartos e vários banheiros foi erguido, naquela época abrigava várias árvores frutíferas como mangueiras e jabuticabeiras. Também criávamos galinhas e, se a minha mente não me engana completamente em um surto de megalomania, chegamos a ter até um leitãozinho. Era uma área enorme, uma chácara de perímetro urbano. Aliás, nos bairros mais afastados de São Paulo vi muitos terrenos enormes como esse, que eram do porte de chácaras. Hoje são raríssimos, considerando as invasões e a expansão imobiliária.
Paramos em frente e ficamos olhando pela grade. Os dois lotes e suas construções não tem moradores, mas, não estão abandonadas. Nota-se que há ainda cuidado com a limpeza periódica e o mínimo de manutenção.
A casa mais antiga é um exemplar de uma outra era. Tem um oratório na parede frontal da residência, grade baixa, forro de estuque reparado em alguns trechos com forro de pinus. Piso de caquinho vermelho na garagem e áreas externas e vermelhão na sala. Um jardinzinho limpo, igual me lembrava de 1997. Até uma assustadora aranha grande pendurada em sua teia no beiral. O lugar está parado igual quando eu sai de lá em 1999. Nessa parte nada mudou. Está há 26 anos estacionada no tempo.
Já ao lado, o terreno gigantesco já não está mais livre. O mausoléu está sobre ele. Subsiste uma mangueira de bom porte rente ao muro da frente. O portão de madeira que viu meu tio Leonel pular com medo do falecido cão "Roliço" também não existe mais. No local um muro e outro portão de metal.
Tudo o que existe se muda constantemente. É física. Por mais que tenhamos a impressão de que muitas coisas possam estar iguais, na verdade, é óbvio, elas só se parecem iguais.
Na minha mente essa casa era ainda maior do que a que eu pude visitar nesse carnaval.
Eu era pequeno e aquele terreno enorme era uma fazenda para mim. Ter tido a chance de ter a infância que tive é razão para agradecer à Deus por esse privilégio. Não sei se uma infância em um apartamento de 40 metros quadrados tem o mesmo sabor. É possível que não, apostaria.
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