terça-feira, 31 de julho de 2018

Bolsonaro no Roda Viva: a astúcia frente ao medíocre

A seletividade da imprensa é notória. Ela tem os seus interesses muito claros, sejam aqueles interesses dos patrões, sejam os das redações. Já não é de hoje eu penso que os interesses desses últimos tem sobressaído.

A cobertura política do Brasil favorece amplamente certos elementos e certos partidos. Exemplo claro é o espaço que o PSOL e representantes dessa legenda acabam por ocupar, inversamente proporcional à relevância que esta pequena legenda de esquerda tem. O mesmo se observa à Rede Sustentabilidade, partido-movimento ancorado em Marina Silva.

Fora esses dois casos ainda se deve destacar que há algum consenso, as vezes meio a fórceps, de que os melhores partidos para o Brasil são mesmo o PT e o PSDB. Gilmar Mendes, ministro do STF também acha e compartilhou esse pensamento em sua Twitter. O PT e o PSDB representariam o que ainda existe de moderno na política, enquanto os partidos pós-modernos ainda não obtém viabilidade eleitoral. A encarnação do mau se dá no MDB, no Centrão e nas bancadas ruralista e evangélica. 

O consenso social-democrata está formado no Brasil desde a redemocratização, mas ele está cansado e não sou roube, por enquanto, se renovar. PT e PSDB ocuparam o poder num consórcio desde 1994, interrompido, de jure, duas vezes, pelos governos interinos de Itamar Franco e agora de Michel Temer. Na política já há hoje mais vozes céticas em relação à social-democracia brasileira do que a vinte anos.

No meio acadêmico, porém, nada mudou. Talvez tenha mudado para pior. O domínio da esquerda é inconteste em todas as áreas. As perseguições do estamento universitário progressista aos dissidentes é enorme: falam de colegas, negam orientações em mestrado e doutorado, vetam bolsas e verbas de pesquisa, tudo isso para manter o status quo de esquerda dominante no meio universitário. Não tenho notado grande avanço e resistência nesse campo.

Na mídia tradicional, como já começamos a tratar no início desses escritos, há alguma mudança, em razão da pressão que a internet tem feito e da concorrência que ela representa para a imprensa tradicional. A mídia oficial perdeu a sua exclusividade na produção de conteúdos e hoje um Youtuber pode ter mais influência do que um comentarista do Jornal da Globo.

É na internet que encontramos resistência ao modelo progressista de sociedade. Alguma resistência. Desorganizada e descentralizada. Se no www temos muitas vozes, muitos influenciadores, não há um que seja o absoluto categórico que domine absolutamente esse meio. A voz mais importante no combate teórico à esquerda no Brasil é o jornalista Olavo de Carvalho e sobre já nos referimos aqui em outros textos. Olavo coleciona amores e desafetos. Há uma torcida organizada a seu favor e outra contra, mas negar a sua relevância no atual momento de transição e de geração que passa o Brasil é mentir.

Na política aquele que com mais relevância irá repercutir as vozes da internet é Jair Messias Bolsonaro. Goste-se dele ou não, foi a durante um bom tempo o único parlamentar assumidamente de direita em Brasília (seja lá que cazzo de direita isso represente). Apanhou e apanha até hoje de todos os lados, mas parece ser como massa de bolo: quanto mais se bate, mais ele cresce. Cansou de ser entrevistado em programas boçais, como o Superpop de Luciana Gimenez ou a arapuca do finado CQC. Seus debates-entrevistas com travestis e atores pornôs, além de outras sub-celebridades na Redetv! são clássicos e lhe deram cancha de como lidar com uma malta de jornalistas raivosos sempre dispostos não a questioná-lo mas a confina-lo num canto e o espremer como se faz com uma barata e um sapato de bico-fino.

Bolsonaro não foi figurinha carimbada, em todos esses anos em que é um fenômeno dissidente na internet, na imprensa tradicional. Na Globonews ele nunca teve o espaço que deputados de esquerda (como Maurício Rands, Chico Alencar, Miro Teixeira, Alessandro Molon e o senador Randolfe Rodrigues) sempre tiveram ao seu dispor, como arautos do mais puro republicanismo. As primeiras entrevistas aos dois mais relevantes programas semanais de política da TV aberta só aconteceram nesse ano: no Canal Livre da Band e no Roda Viva, da TV Cultura, no dia de ontem.

Quem não assistiu essas entrevistas precisa vê-las não para discutir o candidato em si, mas para analisar e observar, com um olhar quase etnográfico, o comportamento dos experimentados jornalistas que ali estavam sabatinando Bolsonaro. O deputado que já esperava um comportamento agressivo e rancoroso se deparou com aquilo para o que já estava preparado, temas como a ditadura militar, racismo, homofobia, misoginia, enfim, aquilo que interessa ao mundinho histórico e social que só existe na cabeça de membros da imprensa, das artes e da academia. São as taras e fetiches que povoam as mentes dessas pessoas, que, não tem sua luxúria com pés, chicotes, tapas, xingamentos, posições ou acessórios, mas com a dívida histórica com a população negra, o genocídio de homossexuais ou a violência policial. Tanto as taras sexuais clássicas quanto essas são doentias. 

A astúcia do Bolsonaro não precisava ser muita, diante do quadro horrendo de sodomia moral dos inquiridores. A mediocridade da imprensa a faz pensar que com ataques já velhos a tudo aquilo que o candidato sempre defendeu e que até agora só o fez angariar um séquito fiel e disposto a seguir ele até o fim, o fará agora marchar para trás, aprisionando-o ao baixo clero eterno da câmara dos deputados. Isso não vai acontecer. O eleitor quer um Messias que o guie, que o conduza, que o leve a um novo jardim de delícias. Esse condutor precisa ser forte, valente, aguerrido. Bolsonaro encarna o que povo quer e o que as elites não podem ofertar.

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