domingo, 11 de fevereiro de 2018

Considerações eleitorais sobre a disputa de 2018

Ano passado, neste blog, fiz alguns apontamentos sobre a disputa eleitoral que ocorrerá neste ano de 2018. As linhas ali traçadas apontam para um caminho que, passados alguns meses, tem se mostrado corretos.

A condenação de Lula na segunda instância poderá tirá-lo da disputa. É incrível como uma questão como essa ainda esteja em aberto! O sujeito já está condenado por tribunal superior em um dos vários processos em que responde e ainda discutimos (infelizmente, por que é uma hipótese muito viável) se um delinquente condenado pode ou não disputar a presidência da República. Aliás, se poderia disputá-la de dentro da cadeia. E se ele ganha e seus votos são impugnados depois da eleição pelo TSE? Isso ocasionaria uma tensão social enorme e aprofundaria a desconfiança de setores da população nas instituições. É um desgaste desnecessário e se a Justiça tiver um pouco de juízo ela trabalhará para evitar isso, colocando Lula no xadrez e o impedindo definitivamente de participar da disputa e forçando o PT a se renovar, lançando Jacques Wagner ou Fernando Haddad na disputa, encerrando qualquer chance de existir um terceiro governo Lula.

Já iniciamos, então, o comentário seguinte, sobre a situação do PT e das esquerdas no país.

Lula é, historicamente, o maior líder das esquerdas nacionais. Maior não por sua consistência ou firmeza ideológica (simplesmente porque estás não existem nele) mas por que foi o único a conseguir chegar ao poder e a dominá-lo (Dilma Rousseff é uma extensão do Lula que quis se afastar do padrinho e se deu mal). A esquerda já vem discutindo e articulando maneiras de poder superar o lulismo, por mais que setores fortes dentro do PT, claro, e não tão surpreendentemente dentro de outras legendas se neguem a isso. A memória positiva do período do segundo mandato do líder sindical à frente da presidência da República é ainda muito forte, mas muitos não entendem que a bonança daquele período pouco se deve à Lula, mas sim à conjuntura econômica internacional da época.

Manuela D'Ávila, do PC do B colocou seu nome para a disputa. Não deve se sustentar. Penso que ela é candidata à vice e, colocando seu nome no show das pré-campanhas, tenta justamente é se cacifar para compor chapa com outro candidato mais competitivo. Joaquim Barbosa, pelo PSB, não é uma hipótese que possa ser descartada, embora informações nos apontem que é soberbo ex-ministro do STF só sai se os socialistas estiverem totalmente unidos em torno de sua campanha, coisa que, dificilmente, deve acontecer, já que a legenda é rachada entre aqueles que esperam poder apoiar Lula ou quem ele indicar, os que querem apoiar Alckimin, os que querem Barbosa e aqueles que apoiam uma candidatura da casa, como Beto Albuquerque (ex-vice da Marina Silva em 2014) e Aldo Rebelo. Há ainda os que pensam e defendem que o PSB não lance e não apoie ninguém para presidente. 

Ciro Gomes, creio, é aquele que tem o maior potencial na esquerda para poder chegar ao poder. O fato de ser um coronel nordestino e conhecer bem os gostos eleitorais daquele público tende a fortalece-lo, na ausência do sapo de Garanhuns. O PDT, em 2016, cresceu eleitoralmente, em grande parte ocupando o vácuo deixado pelo desgaste do PT. Sozinho, o partido teria não muito tempo de TV, mas Ciro é um velho político, que entende bem da arte do "comício e do cochicho", como diziam as raposas do antigo PSD mineiro. Pode levar para sua chapa outros partidos médios, como o próprio PC do B, talvez PHS, PROS e AVANTE.

Marina Silva é outra que se fortalece com a possível saída de Lula da disputa. Ela é a candidata mais insossa dessa disputa e isso não é novidade. Disputando a presidência pela terceira vez (e pelo terceiro partido), Marina hoje já não tem o mesmo fôlego de campanhas anteriores, mas, ainda sim tem um recall muito forte na cabeça do eleitor. Não deve ter muito tempo de TV na campanha e pouca possibilidade de ampliação desse tempo.

O PSOL tende a lançar o líder provocador e agitador social Guilherme Boulos. Ele é a apontado como o novo Lula do futuro! Chefe do MTST, Movimento dos Trabalhadores sem Teto,vem ganhando algum espaço na mídia, sobretudo em jornais como a Folha de SP e na Globonews. Se ele não decidir por sua candidatura, o PSOL que é uma das legendas que mais ganha com o declínio do PT irá decidir em convenção o seu futuro. Hoje, além de Boulos, a legenda de extrema esquerda tem como postulantes ao cargo de presidente os professores Nildo Ouriques, Plínio de Arruda Sampaio Júnior e a liderança indigenista Sônia Guajajara. 

O Centro está desbarato. Não sabe que caminho tomar, embora esteja consciente de que essa eleição tem tudo para ser vencida por um candidato com o perfil centrista.

Geraldo Alckmin, do PSDB, não tem arrancado nenhum suspiro, ao contrário, tem chamado a atenção as sérias dificuldades que vem tendo para poder subir nas pesquisas. Não chega aos dois dígitos nem por reza. Isso já aumentou e muito os ânimos de partidos que em eleições passadas nem sonhariam em lançar candidatos, já que a posição de apoio à candidatos do PSDB ou do PT lhe eram muito cômodas. Falo aqui sobre as pré-candidaturas possíveis de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados pelo renascido DEM (ex-PFL), do Ministro da Fazenda Henrique Meirelles, do PSD e do próprio presidente Michel Temer, pelo PMDB.

Francamente, penso que é impossível iniciarmos o ano de 2019 sendo governados por Temer, Maia ou Meirelles. Essa divisão no Centro e a inexistência de uma candidatura nesse campo que consiga obter fôlego eleitoral, pode acabar dando o segundo turno para Jair Bolsonaro e alguém da esquerda, como Ciro ou Marina. Mesmo assim, se for apontar para um centrista, todas as fichas deveriam ser colocadas em Geraldo Alckmin.

Essa inexistência de um forte nome pelo centro tem trazido, novamente, à tona o nome de Luciano Huck. Essa semana muito se falou sobre o seu nome. Fernando Henrique Cardoso parece ser a figura mais entusiasmada com a possibilidade do animador sair candidato. Huck, por mais que não seja candidato à presidente, não deixará de se fazer presente nesta eleição, por meio do dinheiro que será investido por ele e outros ricassos progressistas em campanhas de deputados ligados aos grupos Renova BR e Agora.

A ausência de um nome forte pelo centro chegou ao extremo de trazer de volta ao centro das atenções o ex-presidente Fernando Collor de Melo, que lançou a sua pré-candidatura pelo PTC, justamente com o mote de candidato centrista. O que Collor realmente quer é uma icógnita. É carta fora do baralho, mas pode deixar a disputa do primeiro turno ainda mais acentuada e embaralhada, favorecendo a ida para o segundo turno de candidatos com baixa votação individual.

Me parece que há apenas hoje um nome que se consolida como pré-candidato sólido e com um pé no segundo turno: Jair Bolsonaro. O ex-capitão do exército tem inúmeros defeitos, que vem sendo, sistematicamente e exaustivamente explorados pela imprensa, mas, mesmo assim, não desaba nas pesquisas. A força dele na internet é assustadora e supera a de qualquer outro candidato. Seu partido futuro, o PSL, é nanico e com poucos segundos de TV. Deverá fazer uma boa bancada de deputados, puxados pela associação ao nome de Bolsonaro. Se ele vai conseguir manter o fôlego para firmar sua candidatura e chegar ao segundo turno não sabemos e eu não apostaria nada.

Infelizmente, diante de um quadro tão horrendo quanto este, fico mais uma vez emputecido com a passividade da população, que assiste a tudo bovinamente. Não que eu esperasse uma revolução ou coisa do gênero, mas esse desprezo das pessoas pela política não é um desprezo total, indiferente. Esses mesmos que estão com ar blasé a desprezar todos os ladrões, por que todos se equivalem, no dia eleição irão lá votar naquele nome que estiver em primeiro lugar nas pesquisas ou no candidato que a grande imprensa ungir como seu. É uma falsa indiferença. Se essa se mostrasse como abstenções, nulos e brancos, ai sim teríamos uma grande vitória eleitoral.


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