segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Bla bla bla

Minha mãe fala, religiosamente, todas as noites com um sujeito que eu reputo por "Professor Girafales", sem ser professor de absolutamente nada, mas, assim como o personagem visitava todos os dias Dona Florinda, de igual forma esse outro energúmeno liga todos os dias para minha mãe. Não há assunto que seja digno de qualquer observação mais atenta. Todos os dias, anos a fio, amenidades. Esse tipo de comportamento me é completamente incompreensível. Não consigo pensar na hipótese de ter que falar pelo telefone com a mesma pessoa por tanto tempo, sem ter assunto nenhum que valha a pena. Isso me leva a refletir na seguinte situação: chego a ficar horas e horas a noite sem falar uma só palavra. Embora tenha a companhia da minha mãe sempre em casa, normalmente não falo muito depois das dezenove horas. Gasto esse tempo lendo ou no Twitter. Melhor empregado esse tempo seria se apenas fosse gasto em leituras e não em uma ou outra rede social. Mesmo assim, ainda considero mais útil e tranquilo do que ter que ficar falando trivialidades pelo telefone. Eu passo fácil pelo desafio de ficar calado. E olha que sou até muito comunicativo. 

sábado, 19 de outubro de 2024

Cavalarias digitais

Se eu recuar dez anos no tempo, ok, quinze, era comum ver a cavalaria da polícia militar em uso, no centro da cidade combatendo em montaria aos manifestantes grevistas ou a extrema esquerda anarquista, black blocks, etc. Ou ainda nos estádios de futebol para dispersar multidões enfurecidas com seus times. É impressão minha ou hoje não vemos mais nada disso? Nem cavalos, nem grevistas, nem black blocks. Tudo, ou quase, está na internet. A repressão com cavalos estatais está nas redes sociais. É conduzida por um careca lá de Brasília.






domingo, 24 de março de 2024

Novos estados na Federação Brasileira: alguns são necessários outros gerarão perigosos reflexos.

“A dimensão dramática da diferença é demonstrada no fato de que no início do século XIX a colônia espanhola dividia-se administrativamente em quatro vice-reinados, quatro capitanias gerais e 13 que no meio do século se tinham transformado em 17 países independentes. Em contraste, as 18 capitanias gerais da colônia portuguesa, existentes em 1820 (excluída a Cisplatina), formavam, já em 1825, vencida a Confederação do Equador, um único país independente”.

CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial; Teatro de sombras: a política imperial. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, RelumeDumará, 1996. 

"Se o Brasil não se esfacelou 'para fora' (forças centrífugas) ele fragmenta-se 'para dentro' (forças centrípetas)." <Herbert Toledo Martins, sociólogo>

Tirando São Paulo e os estados das regiões Norte e Nordeste, penso que realmente faria muito bem para o país que novos estados fossem criados, no Sudeste e no Sul. Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro podem ser desmembrados. Isso aproximaria o povo das regiões desmembrados dos centros decisórios, dos centros de poder. Melhoraria a qualidade da representação legislativa por meio da descentralização. Mesmo o pequeno estado fluminense deve ser dividido em dois, surgindo o Estado de Itatiaia, na divisa com São Paulo e Minas Gerais e capital em Barra Mansa. 

Entendo que hoje as regiões Nordeste e Norte, pelo número de estados existentes e pelas regras atuais de representação federal, já são super representados, ao contrários de estados como São Paulo ou Rio Grande do Sul, que são sub representados no legislativo federal. A criação de novos estados no Sudeste e no Sul minimizaria essa discrepância. Se novos estados forem criados no Norte ou Nordeste, a discrepância aumenta. 

Deve ser feito o registro: a criação de estados e territórios na região norte foi profícua durante o período do Regime Militar, pois era uma manobra de obter mais representação para a sua legenda, a ARENA, no congresso. Não obstante ainda cite-se que os estados da região norte são vazios demográficos, ao contrário de outras regiões do país. 

O ESTADO DE ITATIAIA 

A criação do Estado de Itatiaia seria um enorme ganho para São Paulo. A sua existência ajudaria e enfraquecer e muito a relevância do atual Estado do Rio de Janeiro, nos aspectos da representação política e peso político que essa unidade da federação possui. Seria também um estado tampão entre o Rio de Janeiro e seu caótico cenário de absolutamente degeneração moral e social e de violência. Itatiaia seria uma barreira para São Paulo, ao mesmo tempo que aproximaria essa região de uma maior influência Paulista, pois cidades como Resende, Paraty e Barra Mansa estão próximas do Vale do Paraíba Paulista, recebendo a nossa influência econômica, social e política. 

Além disso, o que não é pouco, a brasilidade, esse conceito fajuto forjado pelos lacaios intelectuais de nossas elites políticas centralizadoras, tem o seu centro entre o eixo do Rio de Janeiro e da Bahia. O novo Estado de Itatiaia ajudaria a minar o soft power ideológico e cultural carioca. É arrancar uma perna da brasilidade e ajudar a destruir essa ideologia, que alguns tem por identidade nacional brasileira. 


MOVIMENTO PELA CRIAÇÃO DO ESTADO DE TAPAJÓS

O último movimento tratando da criação de um novo estado no Brasil foi ainda no ano de 2023, sobre o Estado de Tapajós, que seria desmembrado do Pará. Contaria com 8 deputados federais, 24 estaduais e três senadores. Composto por 23 municípios. Mais burocracia e gastos estaduais? Mas estes gastos já não existem hoje? Não vejo porque necessariamente os gastos devem aumentar. Não é uma condição sine qua non. É antes uma oportunidade para o nascimento de um novo estado, que permita uma melhor representação dos cidadãos, aproximação do centro estadual de poder, descentralização e a chance de um novo estado começar com ideias administrativas novas, contemporâneas, com a austeridade fiscal como pilar e o incentivo ao desenvolvimento econômico. A população e as lideranças dos municípios que comporiam o Estado de Tapajós alegam o que nós, separatistas, alegamos: trabalham, pagam impostos e são abandonados pelo poder público central, em Belém, que se esquece, deliberadamente, da região. 

No caso do plesbicito pelo Tapajós, o projeto de lei coloca que toda a população paraense é interessada e deve votar. Entendo isso como um enorme equívoco. Os únicos chamados a votar deveriam ser os eleitores dos municípios que irão compor o novo estado. Não tem sentido que um povo que não compõe o meu povo seja chamado a discutir uma questão "interna" aos tapajoenses. 

Em 2011, na Câmara dos Deputados, haviam projetos propondo a criação destes novos estados e territórios federais. Ao contrário dos novos estados, os territórios, estes sim, por definição e realidade, já nascem absolutamente dependentes do erário público federal (mantido pela arrecadação de todos os demais estados). A criação de novos territórios não faz nenhum sentido, mas de novos estados sim. 

Fica também uma pergunta: a população de Tocantins, que virou um estado com a Constituição de 1988, se separando de Goiás, formando hoje um próspero e rico estado, baseado no florescente agronegócio, teria se arrependido da secessão? A resposta é evidente. Ninguém quer dar um passo atrás.

Esse argumento é fortíssimo. Quem se separa não olha para trás. País que se separou não quer voltar da condição não soberana de onde partiu. Igualmente, um território que se emancipa e passa a ser um estado membro autônomo não vai querer perder a sua autonomia. Não há motivo que justifique movimento em contrário. A secessão é uma marcha irrefreável.

ESTRATÉGIA EMANCIPACIONISTA

Alguns passos são fundamentais para o sucesso de uma empreitada emancipacionista, no Brasil de hoje. Cito algumas.

1. Ter um discurso duplo articulado e espalhado. Para a região que vai se emancipar, mostrando todas as vantagens da autonomia e para a região que ficará mostrar que eles estão se livrando de um peso, de um fardo pesado que carregam nas costas. A questão aqui não passa pela verdade objetiva da situação, mas pela criação de narrativas capazes de conduzir a opinião pública para os lados que são desejados. Os separatistas sendo à favor porque querem ter mais liberdades e autonomia e os separados também ficando a favor, mas, para poderem se verem livres de um fardo que carregam.

2. Esse discurso precisa estar fortemente alinhado com a classe político das duas regiões e com a imprensa, que deve fazer reportagens a favor da emancipação, mostrando as vantagens dela para ambos os lados. O empresariado precisa ser convencido a usar o seu lobby em favor da emancipação. Promessas de isenções fiscais inseridas na nova constituição estadual que surgirá, favorecendo seus ramos de atividades e favorecendo o comércio. Instigar, com isso, a rivalidade entre o empresariado de ambas regiões, da emancipacionista e da emancipadora.

3. Ressaltar as profundas diferenças regionais, mesmo que elas sejam sutis, para fomentar um processo identitário é essencial. Talvez boa parte do insucesso dos movimentos pela criação de novos estados esteja no fato de que as populações não se enxerguem como diferentes. A separação de irmãos é doida, portanto, para ter sucesso nessa operação é preciso que o sentimento de irmandade seja arrefecido e que a cizânia e a rivalidade entre as duas regiões se acirre. A ênfase fica maior em defesa da emancipação quando não há identificação histórica e cultural como um mesmo povo.

4. A classe política realmente é a mais interessada direta no processo. Todo estado precisa de políticos. Eles vão ter mais espaço de atuação com a emancipação dos novos estados. Por isso, ter uma coesão entre a classe política é fundamental para o sucesso dessa empreita. Diferenças ideológicas entre esquerda e direita devem ser totalmente ignoradas para o êxito da secessão.

Como referencial de pesquisa deixo o link para o seguinte artigo:
https://docs.ufpr.br/~adilar/GEOPOLÍTICA2019/federação%20e%20divisão%20territorial%20no%20Brasil/Divisão%20territorial/Criação%20de%20novos%20estados.pdf

sexta-feira, 1 de março de 2024

Amenidades da história política

 Eu tenho a sensação que o melhor de todos os tucanos modernos foi o Zé Serra. 

Poderia ter sido um presidente melhor que o Fernando Henrique, embora sem ter a possibilidade de ter uma gestão marcada por um fato vultuoso, como o Plano Real.

Depois dele, por simpatia ideológica, Franco Montoro, pois eu também sou um democrata-cristão. Se bem que as vezes o Montoro me passa a sensação de ser um símil do Brizola. O jeito antigo e radialístico de falar, o apelo constante à pautas sociais e humanistas. Nada disso os tucanos seguintes carregaram, nem mesmo o Alckmin.

***

Incrível como todos os senadores paulistas pós redemocratização são absolutamente insípidos. Hoje são três zés-ruelas políticos: Mara Gabrili, Giordano (ninguém o conhece -- era suplente do saudoso Major Olímpio, que veio falecer de COVID) e o vendedor de travesseiros Astronauta Marcos Pontes, que é homem muito estudado (e mais ainda viajado -- e como!).

Major Sérgio Olímpio Gomes tinha tudo para poder ocupar um lugar de eminência na casa da federação, mas quis o destino leva-lo precocemente. Foi um legítimo defensor de S. Paulo.

Voltando pra trás, o próprio Serra foi senador, sem mais destaque, apenas como prêmio de consolação em sua segunda passagem (2015-2023). Aloysio Nunes Ferreira teve um gás a mais. É um ponto fora da curva. Eduardo Suplicy, como é óbvio, sempre foi um peso morto (e continua sendo). Romeu Tuma usou a fama adquirida nos tempos da ditadura para garantir uma poupada aposentadoria (que não chegou a gozar, de fato, pois morreu durante o fim do seu segundo mandado, em 2010, em plena busca da reeleição. 

Aliás, a eleição para o senado de 2010 foi muito emblemática. 

Os paulistas já começavam a rejeitar com mais ênfase o petismo. Isso após José Genoino ter ido para o segundo turno para o governo, em 2002, enfrentando o Alckmin. Não ganhou por duas razões: a primeira e a mais relevante, Genoino não era paulista, o que em tempos pré-tarcísicos era algo muito relevante em matéria eleitoral e o segundo motivo é o fato de ser um petista da linha dura, seco, tradicional. Fosse um elemento mais dócil teria ganhado do Picolé de Chuchu de Pindamonhangaba. A história seria outra. 

Voltando ao senado, candidatos em 2010 eram: Marta Suplicy (que ganhou uma das vagas), do PT, Netinho de Paula, do PC do B, Aloysio Nunes, tucano, Ricardo Young, do Partido Verde (apoiado pela novidade eleitoral Marina Silva), Orestes Quércia, do PMDB e Romeu Tuma, pelo PTB. Os favoritos segundos as pesquisas eram Tuma e Quércia, com a Marta logo na sequência. Faltando um mês para a eleição os dois primeiros colocados passam dessa pra melhor. O eleitorado se mexeu para evitar a eleição mais indesejada: do Netinho. Resultado, migração para Young e sobretudo para o Aloysio Nunes, que ficou com a primeira vaga, com excelente votação. "Alô, alô 451". 



Incrível como o Aloysio não teve capacidade ou interesse de buscar voos eleitorais no executivo. Teria tido êxito. Apesar de ex-comunista, é um tucano simpático, como era o Alberto Goldman, ex-governador, ambos egressos do PMDB raiz.

Poderíamos ter tido o Afif e o Ricardo Young. Seriam nomes mais interessantes em 2006 e 2010. 

São Paulo não anda elegendo muito bem. E a cada dia menos.

Influência externa, claro.

***

Virou já tradição vice-governadores assumirem em São Paulo, com a saída dos titulares para disputar a presidência.

2022: Dória > Rodrigo Garcia

2018: Alckmin > Márcio França

2010: Serra > Alberto Goldman

2006: Alckmin > Cláudio Lembo

Em 2014 esse fato não se repetiu, pois Alckmin disputou a reeleição (e venceu com folga na primeira volta) e o candidato tucano foi o Aécio Neves, na altura senador por Minas Gerais.

Em 2026 as chances são grandes do fenômeno se repetir. Sair Tarcísio, para disputar a presidência, já que a depender do estamento burocrático o Bolsonaro não se elege para mais nada, e com isso deixar o Felício Ramuth no governo. Aliás, coincidência ou não, Ramuth é judeu, assim como Goldman, que também foi vice e assumiu, em 2010. 

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Correta restrição ao EAD

 O buraco da educação no Brasil não é mais embaixo. Ele já está no pré sal.

O MEC ano passado restringiu parte da liberdade universitária com os cursos à distância. Medida correta, assim vejo.

Poder-se-ia obstar, dizendo que o há cursos em ead de excelência. Mas, em contraponto, há outros tantos, às centenas, que não valem um caracol sequer. 

Facilmente pode-se licenciar em história, via ead, sem saber absolutamente nada do passado. As perguntas você pesquisa no Google. Se houver algum texto a postar num fórum, basta recorrer ao chat gpt. O estágio obrigatório? Na internet, pagando módica quantia, também se arranja com facilidade. No fim de 3 ou 4 anos basta sair por aí com seu diploma e se alistar na colégio estadual mais próximo para se tornar um ilustre mestre escola. É um sistema inaceitável.

Acertou o governo em restringir o ead. Acertará mais ainda se proibir definitivamente todas as graduações e especializações em ead, que não exijam provas físicas em papel, pesquisa de campo, seminários de corpo presente, submissão de artigo em banca, etc, como o nosso vetusto sistema universitário sempre fez. 

Em um país onde a burrice é campeã nacional, restringir o ensino superior é um dever. 

Que arrotem superioridade sem diploma.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Memórias de Pinheiros

 Em Pinheiros, 2020 em seus fins, estava parado dentro do carro, numa esquina, juntando forças para me levantar e caminhar uns poucos passos para entrar na igreja. Era uma época estranha. A rua que era sempre cheia de pessoas com vida externa, aparente, nos bares e botequins, estava naquele dia esvaziada. Bairro burguês, de gente que acredita na imprensa, muitos com medo paralisante do vírus. Não há cultos aos sábados na igreja de Pinheiros, mas, quando houve o retorno controlado aos cultos, após a reabertura dos templos, os dias passaram a ser uniforme. Quinta, sábado e domingo, se não me falha a curta memória. 

Ali em Pinheiros a igreja é vazia. São poucas as famílias que frequentam, a maioria idosos já no quarto final de suas vidas terrenas. Outrora aquela igreja esteve cheia, mas a mudança no perfil do bairro, que passou a ser, em vinte anos, essencialmente um bairro chique e lotado de restaurantes, bares e baladas, afastou parte dos frequentadores comuns de igrejas. Eu gosto de ir lá justamente porque é uma igreja vazia. Vazia e antiga, de tons beges, ao contrário do azulejado branco que se tornou padrão na última década nas congregações. 

Antes das nove da noite, quando o culto acabou, eu sai, sozinho e voltei para o meu carro. Fiquei reparando numa vilinha que tem ali na Padre Carvalho. Também em uns sobradinhos sem garagem que há na esquina com a Marcos de Azevedo. Olhei o movimento e senti um sentimento que não sei nem como chamar, se saudosismo de uma imagem idealizada e não vivida (ou pouco vivida). Quando eu tinha onze anos ia numa sorveteria com meu pai, para tomar um picolé de groselha por ali. Hoje não tem mais sorveteria ali.


sábado, 16 de dezembro de 2023

Anotações sobre o pensamento autoritário no Brasil

 E lembra que Benito Mussolini exprimiu uma vez, de modo lapidar, essa missão do estadista revolucionário, dizendo que "não bastava ter coragem para reformar, mas era preciso também a coragem de conservar".

O autoritarismo colocado em um local especial, divorciado do conservadorismo, pois, antes de tudo, carrega consigo um apelo francamente revolucionário. É uma posição que busca conciliar a preservação de aspectos do passado, impedindo a tomada do poder pela turba socialista e anarquista, ao mesmo tempo que propõe uma ruptura da dominação das estruturas do estado pelo grupos oligárquicos conservadores, que pretendem impedir mudanças modernizadoras, sobretudo na economia e nas relações de trabalho. Entendo que esse fenômeno é decorrente de uma sociedade industrial ou em industrialização, necessariamente urbana. É a resposta na tentativa de promover mudanças, conforme a nova realidade de proletários urbanos e industrialização, frente o desejo de imobilismo das classes conservadoras (agrárias e exportadoras) e a ânsia anárquica revolucionária dos comunistas, no século XX. Mudança com ordem, hierarquia e autoridade, provindas do estado, liderado por um chefe forte que encarne as necessidades pátrias. Essencialmente, me parece, um déspota esclarecido.

Um possível fato que me parece curioso e sobre o qual poderia ser feita uma pesquisa mais profunda, já na década de 1930 parecia que era algo asqueroso dizer-se simpático ou inspirado pelo fascismo italiano. Por mais que aproximações ou mesmo imitações de diversos aspectos do fascismo tenham ocorrido nos círculos de pensamento autoritário no Brasil via de regra não se lê que tal autor, abertamente, se dizia fascista. Isso entre os integralistas e também entre os demais autoritários não alinhados aos Camisas-Verdes, casos, por exemplo, de Afonso Arinos e Azevedo Amaral. O mesmo vai valer para os trabalhistas que daí acabam derivando, como Alberto Pasqualini. (Vide artigo)

quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Oliveira Viana sobre a constituição de 1891. Alguns comentários.

 Francisco José de Oliveria Viana foi um jurista, sociólogo e pensador fluminense, cuja relevância na discussão sobre o caráter da formação e constituição do Brasil não pode jamais ser diminuída. Está no mesmo patamar, embora seja menos lido e menos estudado, do que Sérgio Buarque de Hollanda ou Gilberto Freyre, ou ainda do ilustre Alfredo Ellis Júnior, esse ainda menos conhecido, lido e estudado. 

"O Idealismo da Constituição" é apontado como um texto fundamental do autor para compreender sua análise sobre a república no Brasil. É um texto composto integralmente de críticas ao republicanismo no Brasil, à forma como ele foi adotado e, sem apontar para um modelo ideal, muito embora fosse O. Viana um monarquista. 

Inicia comparando a fortaleza da formação e do preparo dos titulares do império, cuja política reunida na representação dos Partidos Liberal e Conservador eram muito superiores aos homens que vieram a fazer a república e a compôr a sua classe dirigente. Se há fraqueza nos representantes da república há fraqueza também no próprio modelo republicano, liberal, constitucional e federal que foi importado e aplicado aqui. Os vícios da república, cristalizados na constituição de 1891, são as cópias do modelos prontos do democracismo francês, do liberalismo inglês e do federalismo americano. Não é preciso dizer mais nada a respeito, é nítida a posição de completa oposição do autor ao novo regime e suas inspirações.

Oliveira Viana é um autor que raciocina em termos de elite e a coloca como sendo a força única capaz de conduzir um processo histórico, nunca a obra coletiva de uma classe social, senão de uma elite, um grupo de escol. Compartilhamos com ele essa mesma opinião.

Trazer para o Brasil os modelos políticos estrangeiros, que não seriam adaptados aos hábitos e costumes da população brasileira, nem próprios para sua formação, teria sido um erro. Trazer a democracia republicana que pressupunha um regime assentado sobre a formação de uma opinião pública em um país de analfabetos sem instituições que possam consubstanciar essa opinião pública é formalizar um grande faz de contas. 




terça-feira, 18 de julho de 2023

Resenha: A Revolta dos Novos Farrapos, de Delmar Marques.





Um interessante livro. Um romance de história alternativa. Não conheço muitas obras desse feitio, tratando da realidade política, social e histórica do Brasil. Imagine que ali nos anos 80, na época da redemocratização, o clima político gerasse uma nova Farroupilha.

O cenário é bastante parecido com o que vivemos há mais de trinta anos. Aponto alguns elementos da paisagem que encontram total lastro na realidade. 

1. Greve de arrozeiros. 
2. Bloqueio de rodovias. 
3.Agitações militares. 
4. Greve de professores. 
5. Greve dos demais servidores.
6. Greve de celetistas. 
7. Invasão da assembleia legislativa e palácio do governo. 
8. Brigada militar aquartelada. 
9. Pessoas feridas por militares em manifestações. 
10. Mobilizações de sem terra. 
11. Inexistência de reforma agrária. 
12. Estações de rádio encampadas.
13. Discurso anti-mídia estrangeira. 
14. Formação de milícias civis. 
15. Empresário alemães gaúchos neonazistas!!! 
16. Cenas de flerte e lascívia entre um aspone e uma grevista. 
17. Falência das contas públicas. 
18. Explosão de bomba (ref. RioCentro).
19. O candidato da direita citado é um industrial Paulista. 
20. Expectativa por ação dos militares. 
21. Final com acordão político, embora com alterações no modelo legal/constitucional (ou seja, uma revolução que dá certo).

Todos esses 21 itens são factíveis com a realidade. É o que se vê acontecer na política desse país. Claro, há elementos aí que são absolutamente literários e servem para dar ares mais interessantes ao romance, como a presença de um espectro de industriais neonazistas gaúchos, que se reúnem de tempos em tempos para vestir suas velhas fardas pretas da época da II Guerra Mundial. Isso, claramente, é um elemento que não tem importância nenhuma na nossa política, mas, em se tratar da mente progressista, que vê fantasmas de fascistas e nazistas em toda a parte e que chama todos aqueles que são seus adversários políticos ou que apenas pensem diferente de fascistas, a presença desses personagens passageiros não chega a causar espanto. 

Se eu fosse da Rede Globo toparia filmar isso como minissérie. Teria apelo. Se bem que aqui o Brizola é personagem que passa discreto, mas está presente e a Globo odiava o "Brisa". Quer dizer, o Roberto Marinho. Essa Globo de hoje adora esquerdistas.

Há alusões em uma passagem que me lembram um livro que foi usado nas aulas de geografia da 7ª série, chamado A Invasão Cultural Norte Americana, da Júlia Falivene Alves. Aquele papo de Mcdonalds e Coca Cola, imperialismo cultural e etc. É a cara do discurso de quem frequentava o Fórum Social Mundial...

Mas, no fim, a nova Farroupilha consegue melhores condições para o Rio Grande num contexto constitucional de um federalismo político mais amplo ou de um estado autonômico. Não é recriada a República Rio-Grandense, como o leitor espera durante o livro. Seria um cenário divertido.

Eu gostaria de ver um desenlace como esse ocorrer. Uma revolta que proporcionasse um cenário de mais descentralização política e colocasse o governo federal de plantão de joelhos. Seria bom não só para o Rio Grande do Sul, mas para todos os estados da federação.


domingo, 11 de junho de 2023

Antígona

 O homem que governa bem a sua casa há de governar com justiça a cidade. Mas quem, por orgulho, menospreza as leis e pretende opor-se a quem tem o poder, esse não terá jamais o meu favor. Ao governador é devida obediência na pequena ou grande coisa, justa ou não. O homem que obedece, esse, eu tenho certeza, saberá mandar, pois sabe ser mandado, e, na confusão da peleja, estará firme em seu lugar, soldado bravo e Leal. A anarquia é o pior de todos os flagelos: é ela que destrói cidades, que subverte lares, que em batalha rompe, põe em fuga, desbarata tropas; enquanto onde há ordem salva-se por certo a maior parte das vidas. Eis por que é um dever respeitar sempre as leis, e não se deixar dominar por mulheres. "


*Tradução de Guilherme de Almeida 

Bla bla bla

Minha mãe fala, religiosamente, todas as noites com um sujeito que eu reputo por "Professor Girafales", sem ser professor de absol...