terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Indo ao mercado de madrugada

Estive esses dias indo no mercado de madrugada. Pelo que eu saiba, hoje em São Paulo são poucos os mercados que não fecham em nenhum momento e todos são da bandeira Extra, do Grupo Pão de Açúcar.

Tenho uma relação de afetividade com um deles, no Panamby, na Marginal Pinheiros. Ali foi, até os anos 90, um Paes Mendonça. O Paes Mendonça foi comprado pelo GPA para ampliar as lojas dos hipermercados Extra. Me lembro que nosso primeiro microondas, um aparelho Sharp, foi comprado ali. Havia uma promoção: quem comprasse um microondas daquele modelo ganharia um vôo de helicóptero sobre o Morumbi. Só ficamos sabendo da promoção na hora em que saímos do mercado, já a noite, quando os vôos já haviam terminado. Foi uma frustração pra nós.

O Paes Mendonça era um mercado de bom porte, de boa qualidade. Aliás, o senso que tenho é que até os anos 90, antes da onda dos atacarejos, os mercados todos tinham mais qualidade, no atendimento, na organização das lojas e nos produtos. Tudo isso se perdeu com os atacarejos, em troca de preços um pouco melhores.

Mas, pensando bem, há um curto período intermediário, quando parecia que em pouco tempo todos os super e hipermercados seriam do Pão de Açúcar. Essa sensação se deu justamente ali pela virada do milênio. Em toda a parte havia um Compre Bem, um Extra ou um Pão de Açúcar. Não mais existiam o Paes Mendonça e o Sé. Lembro de concorrentes tentando enfrentar esse colosso que é o GPA, como o Cândia e o Big. O Big original foi vendido ao Walmart e o Cândia não sei o que virou (acho que suas lojas foram negociadas com o Carrefour). 

Aliás, houve um período, antes do Carrefour criar o conceitos de lojas chamadas de "Carrefour Bairro", em que essa rede francesa criou, ou importou para o Brasil, o supermercado Champion. Havia um entre a Avenida do Rio Bonito e a Avenida Interlagos. Teve vida curta e logo virou um Carrefour Bairro (e lá está até hoje). 

Na Veja São Paulo dessa semana saiu uma reportagem sobre qual é o mercado com maior faturamento de São Paulo. É o Andorinha, na Zona Norte, junto com o Bergamini. São redes com as quais eu nunca mantive contato, pois estão restritas a regiões bem distantes de mim. O Andorinha fez um shopping center em torno de sua única loja, na Cachoeirinha. Tem mais de 40 caixas para passar as compras.

Mas o que eu queria dizer mesmo é que estando de madrugada no Extra, local onde não ia (não nesse horário) já fazem uns bons anos, pude notar algumas coisas:

• O público é muito rarefeito. Manter uma loja daquele porte aberta não deve dar faixas de lucro muito satisfatórias. Durante uns quarenta minutos, notei no máximo dez pessoas andando por lá, quase todas fazendo compra de pouquíssimos ítens (eu, inclusive).

• Vi homens que pareciam taxistas ou motoristas de aplicativo zanzando como alguns dos poucos clientes. 

• Um casal, aparentemente estrangeiro, muito suspeito. Seriam encarnações perfeitas daquelas pessoas que sequestram e mantém em cárcere privado por trinta anos alguém no porão.

Pena foi ter comprado uma bandeja de pão de batata com parmesão que estava mofada. Eu não notei isso na hora (acho que já estava muito cansado) e meu irmão teve que ir lá trocar. O aspecto, apesar do bolor, era muito bom. Notei que o ar condicionado estava desligado na loja, isso talvez explique a má conservação de alguns produtos, que se deterioram mais cedo.

A impressão que passa é que um hipermercado daquele, às três da manhã, é o espaço perfeito para um pederasta, um maníaco, um depressivo ou pessoas que se sentem fracassadas possam ir às compras.

Até onde sei, além do Panamby, o Extra da Brigadeiro Luís Antônio e um, na Marginal Tietê ainda são 24hs. Antigamente haviam muitas outras lojas que operavam nesse regime. Foram sumindo. Parece que ainda existe algum Sonda que não fecha. Acho que unidades menores, se abertas nesse horário, poderiam ter serventia melhor aos consumidores.

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