quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Há quatro anos

Em novembro de 2014 eu vi o prenúncio de uma nova era. A nova era da direita que hoje, plenipotenciária, ocupa as manchetes dos telejornais, com seu comandante supremo e inquestionável, Jair Bolsonaro, começou faz quatro anos.

Quando Dilma Rousseff venceu o segundo turno contra Aécio Neves algo novo se descortinou na política do Brasil. A primeira vitória da Nova Direita brasileira foi sobre os separatistas de São Paulo. Foi uma vitória da organização contra a desorganização. Uma vitória dos contatos sobre os passos em falso. Foi também uma vitória de Pirro da traição.

Naquele momento o lema era "ou a Dilma cai ou São Paulo sai". Méritos por esse lema ao senhor Paulo Batista, corretor de imóveis no interior de São Paulo e, naquele ano, candidato liberal derrotado ao parlamento paulista. Ele criou um mega evento no Facebook, prenunciando o poder que as redes sociais viriam a desempenhar nos quatro anos seguintes, que reuniu mais de um milhão de pessoas. A conclamação para ir às ruas se assentava sobre a ideia, mesmo que remota, da independência de São Paulo, diante de mais uma vitória petista ter sido obtida graças ao voto de cabresto do nordeste subdesenvolvido.

No dia daquela manifestação os separatistas foram traídos. Fomos traídos por que eu mesmo havia falado, por telefone, com o "raio privatizador", alinhavando o apoio separatista. Chegando ao ápice, ao dia da manifestação, o carro de som estava repleto de nacionalistas brasileiros, como Eduardo Bolsonaro (sendo franco, Eduardo me pareceu a figura mais sensata e honesta naquele momento), Bene Barbosa (odiento anti separatista), além do cantor e ex-cocainômano Lobão, recém convertido, à época, as hostes do olavismo cultural. Os separatistas foram proibidos de subir ao carro de som. Durante, a manifestação fomos hostilizados, não pelos populares, mas pelos bodes patriotas que estavam em evidência no caminhão.

Naquele dia muitas pessoas passaram a apoiar a causa paulista e deixaram de ser apenas direitistas.

Naquele momento ainda havia muita expectativa pelo bom desempenho que o derrotado Aécio havia tido na eleição. Pouco tempo depois ele haveria de ser esmagado por sua própria sujeira.

Naquele tempo o jornalista Reinaldo Azevedo ainda era um ícone da direita reacionária e hidrófoba. Hoje, num canto da Rede TV, é uma sombra do símbolo que foi. Tornou-se um mostruário do jornalismo mais escroto que há, que sobrevive do puxassaquismo dos donos do poder, especialmente do MDB.

Jair Bolsonaro já era uma figura em total ascensão na internet, que gestava a niobosfera, que dita a nova era dos dias de hoje.

Olavo de Carvalho, ideólogo geral da nova direita, já era esse elemento controverso, inteligente, maquiavélico e prepotente que é até hoje. Quem começou a conhecer o sujeito nos anos iniciais do True Outspeak sabe ver bem a decadência moral do sujeito, que de analista cáustico e coerente passou a tratar a todos que discordavam dele como sendo inimigos mortais.

A inteligentsia neo direitista ainda não trabalhava em emissoras de rádio, em jornais de grande circulação e não dava pitacos em emissoras de TV.

Luiz Felipe Pondé só era admirado por uma pequena quantidade de leitores que liam sobre "jantares inteligentes" na Folha. Ele ainda não havia sido deglutido pela esquerda pós moderna, que não havia compreendido o liberalismo do filósofo judeu-baiano.

2018 vai chegando ao fim e eu mesmo não acreditaria, se me contassem quatro anos atrás, que tudo isso iria acontecer. Como Chesterton falou, a única lei da história é o imprevisto. A direita hoje se prepara para assumir o controle do país. Será bom. Será bom por que, como separatista, sei que não há ideologia ou doutrina política que possa curar o Brasil. Quando os remédios da direita se provarem, não só ineficazes, como também nocivos, assim como os da esquerda, muita gente vai cair na real, vai aderir ao ceticismo que a causa paulista defende.

Ps.: Paulo Batista, que traiu os separatistas, de figura ascendente da política direitista de 2014, acabou sendo traído por seus pupilos, em especial Kim Kataguiri e cia, que fundaram naquele mesmo dia o MBL, chutando o traseiro de Batista para fora. Hoje Kim e seus parceiros estão eleitos, todos pelo DEM e Batista continua na internet, com menos importância do que tinha em 14. De traidor a traído, apenas um passo.

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