terça-feira, 4 de julho de 2017

Fernando Henrique Cardoso, o presidente globalista.

Eu estou lendo os Diários da Presidência, do Fernando Henrique Cardoso. Considero que FHC foi o único presidente brasileiro tolerável desde o fim da Primeira República. Apesar de todas as críticas que possam ser feitas a ele (e não são poucas, aliás) ele é único que ocupou o posto presidencial em que eu consigo enxergar elementos dignos de elogios.

É interessante estudar e buscar compreender como o PSDB se formou e o espaço que esse partido veio desempenhar na política brasileira no período pós redemocratização. Dentro dos hábitos partidários que temos como tradição, os tucanos carregam diversos vícios, como dar muito peso aos estados do nordeste e ao caciquismo, todavia é o único partido que não pertence a esquerda radical que possui intelectuais capazes de fazer uma leitura histórica, sociológica e econômica do país. Um mérito do primeiro governo Fernando Henrique foi o de estar sempre ouvindo o que importantes intelectuais tinham a dizer e é claro, estes pensadores dialogavam com um comandante que lhes dava ouvidos, que compreendia a profundidade de suas ideias e pensamentos. O PT está cheio de intelectuais (uns bons e respeitáveis - apesar de discordâncias que qualquer um possa ter com eles - e outros nem tão) mas a Marilena Chauí, o Marco Aurélio Garcia, o Márcio Porchmann, ou qualquer nome da academia que venha tratar com o Lula terá que lhe dirigir os temas por parábolas, já que a formação de sua ex-excelência é mais do que sofrível. Eis uma sensível diferença que pode ser colocada entre os governos de FHC e de Lula.

Também creio que não seja fácil colocar sobre as costas de Fernando um peso tão grande como o que hoje Lula carrega, de ter ciência de esquemas de corrupção de proporções monumentais. Sempre vi o Fernando Henrique como uma pessoa um pouco alheia a tudo isso. Sim, eu sei dos escândalos que tivemos durante o seu governo e aqueles que ele foi associado, após deixar a presidência, mas nenhum deles pode sequer estar perto de ser comparado com o assalto patrocinado pelo PT no período em que esteve na presidência, que deu salvo conduto para que todas as demais legendas e grupos políticos instalados no poder se sentissem abonados para realizar acordos espúrios a luz do dia, sabendo que o estado todo estava aparelhado tendo a corrupção como razão principal. Isso não se viu nem no primeiro e nem no segundo mandato (1995-2003). 

FHC sabe que fez um bom governo, dentro daquilo em que ele crê que fosse o correto a se fazer e diante daquilo que o intelectuais que mantém um diálogo liberal-social e social-democrata no Ocidente também creem que seja o correto a ser feito em relação ao governo e administração pública. Esse diálogo do qual o ex-presidente é uma voz muito ativa defende medidas que não concordo: são privatizadores, mas não querem que o mercado seja aberto para ampla concorrência; são liberais radicais (jacobinos) em relação ao entendimento do estado com as religiões (nesse sentido são espiritualmente tão ateus e antirreligiosos quanto o mais vulgar marxismo, embora a maneira como encarem isso não seja sempre tão ostensiva como foi a do comunismo durante o século passado); são radicalmente favoráveis ao entendimento contemporâneo de globalização e divisão internacional do trabalho. Quem lê e conhece os estudos de historiadores independentes sabe que há por trás de todas essas políticas, que de maneira ampla denomioa de política pós contemporânea, há um projeto de um mega estado gerente, em proporções globais, se formando. 

Não tenho nenhuma dúvida de que Fernando Henrique Cardoso é hoje uma das maiores referências internacionais em matéria de globalismo. Ele constroi esse papel de dentro do processo de ação política, de maneira consciente. Com certeza ele não chama o crê de globalismo, mas é consciente do que faz. Em seus governos teve atitudes, sempre paliativas, bastante importantes, como a reforma do estado, uma tendência a descentralização, estabilização econômica. Tudo isso é elogiável, mas temos que sempre levar em consideração que isso que está sendo elogiado por mim é bem visto pelo ex-presidente como sendo coisas positivas por outras razões, pelas razões que fazem de FHC um globalista.

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