sábado, 29 de dezembro de 2012

A Fraternidade Americana

A Ilusão Americana. Eduardo Prado, Editora Brasiliense, 1957.
"Pensamos que é tempo de reagir contra a insanidade da absoluta confraternização que se pretende impor entre o Brasil e a grande república anglo-saxônia, de que nos achamos separados, não só pela índole e pela língua como pela história e pelas tradições do nosso povo.
O fato de os Estados Unidos e o Brasil se acharem no mesmo continente é um acidente geográfico ao qual seria pueril atribuir uma exagerada importância.
Onde é que se foi descobrir na história que todas as nações de um mesmo continente devem ter o mesmo governo? E onde é que a história nos mostrou que essas nações têm por força de ser irmãs? Em plena Europa monárquica não existem a França e a Suíça republicanas? Que fraternidade há entre a França e a Alemanha, entre a Rússia e a Áustria, entre a Dinamarca e a Prússia? Não pertencem estas nações ao mesmo continente, não são próximas vizinhas, e deixam porventura de serem inimigas figadais?
Pretender identificar o Brasil e os Estados Unidos, pela razão de serem do mesmo continente, é o mesmo que querer dar a Portugal as instituições da Suíça. porque ambos os países estão na Europa!
A fraternidade é uma mentira.
Tomemos as nações ibéricas da América.
Há mais ódios, mais inimizades entre eles do que entre as nações da Europa.
O México deprime, oprime e tem por vezes, invadido Guatemala, que tem sangrentíssimas guerras com a república do Salvador, inimiga rancorosa da Nicarágua, feroz adversária de Honduras, que não morre de amores pela república de Costa Rica. A embrulhada e horrível história de todas estas nações é um rio de sangue, é um contínuo morticínio. E onde fica a solidariedade americana, onde a confraternização das repúblicas?
A Colômbia e Venezuela odeiam-se de morte. O Equador é vítima, nunca resignada, ora das violências colombianas, ora das pretensões do Peru. E o Peru? Já não assaltou a Bolívia, já não se uniu depois a ela numa guerra injustíssima ao Chile? E o Chile já não invadiu duas vezes a Bolívia e o Peru, não fez um horroroso morticínio de bolivianos e peruanos na última guerra, talvez a mais sangrenta deste século?
E o Chile não tem somente estes inimigos: o seu grande adversário é a República Argentina. Este país, que tem usurpado territórios à Bolívia, obriga o Chile a conservar um exército numeroso, e ninguém ignora que um conflito entre aqueles países é uma catástrofe que, de um momento para outro, poderá rebentar. O ditador Francia, o verdugo taciturno do Paraguai, que Augusto Comte coloca entre os santos da humanidade venerados no calendário positivista, por ódio aos argentinos e aos outros povos americanos, enclausurou o seu país durante dezenas de anos.
A República Argentina é a adversária nata do Paraguai. Lopez atacou-a, e ela secundou o Brasil na sua guerra contra o Paraguai. E que sentimento tem a República Argentina pelo Uruguai?
Não há um só homem de estado argentino que não confesse que a suprema ambição do seu país é a reconstituição do antigo vice-reinado de Buenos Aires, pela conquista do Paraguai e do Uruguai.
Eis aí a fraternidade Americana."

Comprei ontem este livro, edição de 1957 da Brasiliense, editora do comunista Caio Prado Jrº.O tema do antiamericanismo é recorrente em análises de vários autores brasileiros, como Vianna Moog e Gilberto Freire, que já observavam um sentimento esquizofrênico de antiamericanismo na intelectualidade brasileira. Em A Ilusão Americana, não é possível observar um componente de ódio oposicional aos Estados Unidos como vamos ver em outros livros e autores, como Nelson Werneck Sodré, Moniz Bandeira e vários, vários outros. Eduardo Prado pensava de forma objetiva quando analisava em panorama os fatos, de modo a amparar a tese da inexistência da fraternidade americana - entre os ibero-americanos - e pensava com tristeza por ter visto nos republicanos do Brasil procurarem em parte imitar o modelo constitucional americano - que segundo o autor, era inapropriada para este país.

3 comentários:

  1. Retirem o que eu disse no meu comentário no texto. Eduardo Prado odeia mesmo os EUA, eu errei analisando só uns parágrafos. Depois volto e comento mais esse assunto.

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  2. alguém conhece o Sr. José Firmino Araújo ( Giuseppe)? Esse ser não passa de um caloteito, se alguém souber algum bens no nome dele me avisa, por favor.
    "Urgente"

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    1. Por favor, o que este senhor tem a ver com este texto?

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