segunda-feira, 31 de março de 2025

Uma historiografia das épocas

Cada período escreve a sua história dando ênfase na inquietação daquele momento. A observação é do professor Hilário Franco Júnior, no livro A Idade Média, nascimento do Ocidente. Ele aponta: a pólis grega marcou com o aparecimento da história política; a idade média em seus mosteiros preparou as biografias de santos, as hagiografias; a afirmação dos estados e monarquias nacionais no século XVIII trouxe a história dinástica e nacional (comento: e o século XIX, antevendo a crise dessas monarquias, com o romantismo, buscou reforçar essa identidade nacional); por fim, no século XX de esperanças utópicas (socialistas e liberais-democráticas) o estudo da história das mentalidades. 

E a história do tempo presente, da geração do novo milênio? Me parece ser a geração da história da loucura, da desorientação planejada e mesmo da história da indecência. 

A linha de pesquisa do historiador é uma afirmação do seu entendimento final de sua época sobre si mesma ou sobre outro período. Como vivemos tempos anarquicos e dementes, somente uma historiografia da indecência e da loucura poderia ter voz forte. 

sábado, 8 de março de 2025

O presidente eventual

"O "Diário" informa que o presidente eleito comprou um sobrado em frente da casa de sua família, onde morou nos últimos quarenta anos. A reportagem apurou que o presidente eleito tem a intenção de fixar morada eventual na nova casa, já que Brasília o mantém longe de sua rotina diária, que inclui a convivência com seis gatos e uma igreja, onde frequenta semanalmente. Para a capital federal ficarão reservados no máximo dois dias por semana. A vontade do presidente eleito é que seu mandato fique marcado como o mandato em que o presidente mais tempo passou longe do palácio.".

Uma morada de infância

 Esses dias resolvi com a minha mãe, aproveitando a calmaria do feriado de carnaval, ir passar em frente de duas casas onde moramos nos anos 1990. Uma delas, pelo que pude ver pelo satélite do Google Maps ainda está lá. Como ficava nos fundos de uma casa principal, ela não pode ser vista da rua. Quando lá morei, a casa principal era sede de uma firma de BATATAS FRITAS. Sim, uma empresa que cortava, fritava e embalava batata frita, dessas tipo Lays ou, mais bem comparando, aquelas batatas que se vendem nos carrinhos de pipoqueiros. Cresci vendo durante vários anos o funcionar daquele pequeno engenho. 

Eu não me queixo disso da minha infância. Ao contrário, tive uma infância maravilhosa. No terreno ao lado de nossa casa, que foi desmembrado nos anos 2000 e uma enorme casa, um verdadeiro mausoléu de cinco quartos e vários banheiros foi erguido, naquela época abrigava várias árvores frutíferas como mangueiras e jabuticabeiras. Também criávamos galinhas e, se a minha mente não me engana completamente em um surto de megalomania, chegamos a ter até um leitãozinho. Era uma área enorme, uma chácara de perímetro urbano. Aliás, nos bairros mais afastados de São Paulo vi muitos terrenos enormes como esse, que eram do porte de chácaras. Hoje são raríssimos, considerando as invasões e a expansão imobiliária. 

Paramos em frente e ficamos olhando pela grade. Os dois lotes e suas construções não tem moradores, mas, não estão abandonadas. Nota-se que há ainda cuidado com a limpeza periódica e o mínimo de manutenção. 

A casa mais antiga é um exemplar de uma outra era. Tem um oratório na parede frontal da residência, grade baixa, forro de estuque reparado em alguns trechos com forro de pinus. Piso de caquinho vermelho na garagem e áreas externas e vermelhão na sala. Um jardinzinho limpo, igual me lembrava de 1997. Até uma assustadora aranha grande pendurada em sua teia no beiral. O lugar está parado igual quando eu sai de lá em 1999. Nessa parte nada mudou. Está há 26 anos estacionada no tempo.

Já ao lado, o terreno gigantesco já não está mais livre. O mausoléu está sobre ele. Subsiste uma mangueira de bom porte rente ao muro da frente. O portão de madeira que viu meu tio Leonel pular com medo do falecido cão "Roliço" também não existe mais. No local um muro e outro portão de metal. 

Tudo o que existe se muda constantemente. É física. Por mais que tenhamos a impressão de que muitas coisas possam estar iguais, na verdade, é óbvio, elas só se parecem iguais. 

Na minha mente essa casa era ainda maior do que a que eu pude visitar nesse carnaval.

Eu era pequeno e aquele terreno enorme era uma fazenda para mim. Ter tido a chance de ter a infância que tive é razão para agradecer à Deus por esse privilégio. Não sei se uma infância em um apartamento de 40 metros quadrados tem o mesmo sabor. É possível que não, apostaria. 

sábado, 1 de março de 2025

Curtas

 Li esses dias que há milhares de vagas de emprego no setor supermercadista de São Paulo, mas existe uma dificuldade gigantesca em suprir essas vagas, pois, considerando a remuneração baixa que é ofertada, o trabalhador em potencial desse ramo de atividade prefere manter-se na informalidade, juntando a grana que faz com bicos com o dinheiro que o governo lhe dá, via Bolsa Família. Eis ai um exemplo vivo de como a interferência do estado na economia é, quase sempre, fonte da criação de distorções piores do que a sua inação geraria. Estamos diante de uma geração de gente que se acostumou a comer das mãos do governo, a esperar que tudo venha do estado, que o poder público onipresente resolva todos os problemas da sua vida, seja a cura de um câncer, uma unha encravada ou a educação de sua prole. Não tardará e surgirá um vale ou bolsa cabeleireiro, bolsa manicure, bolsa cílios e sobrancelhas, etc. E o povo continuará esperando sempre mais e mais benefícios estatais. Horda de inúteis. Precisamos voltar ao darwinismo social. 

***

Tenho a mente inquieta com a criação de projetos. Projetos com os quais eu não tenho nenhuma relação ou ligação direta. Planejo cidades, bairros, linhas de ônibus, projetos de infraestrutura industrial, reformas de igrejas, criação de empresas e comércios. Nada do que planejei nesses campos, desde a infância até a presente meia-idade jamais esteve perto de se realizar e, fatalmente, até o findar do meu labor nesta vida, jamais estarão. Sou tão maluco que planejo uma reorientação geopolítica da América do Sul, pregando a dissolução do Brasil enquanto estado nacional e a criação de novas repúblicas independentes menores, se bem que neste caso particular, há um enorme grupo de pessoas que também planeja isso e se articula para que um dia a realidade geopolítica sul-americana e mundial assista o nascimento das novas repúblicas soberanas da América Portuguesa. Essas ideias jamais me causaram qualquer prejuízo. Entendo que são positivas. São o resultado da fertilidade da minha imaginação. Tolkien criou o mundo do Senhor dos Aneis. Eu tenho um mundo novo criado todos os dias na minha cabeça, que, invariavelmente, se passa na cidade de São Paulo. Ao menos, está na porta de casa.

***

Lutero deu o exemplo. Estando em uma igreja, não sendo possível reformá-la, como era seu intento original, é melhor apartar-se dela. Os protestantes, no geral, entendem bem essa lógica. Não todos. Na Congregação tem existido um fenômeno desde os anos 2000, que é a saída ou afastamento compulsório de pessoas da comunhão da igreja, mas, por rancor, essas pessoas fazem de sua profissão de fé o maldizer da antiga denominação. Tivessem sabedoria sairiam e buscariam alguma outra denominação, onde a sua visão de cristianismo estivesse mais bem acolhida, ou ainda, caso fosse, que criassem uma nova denominação. Mas, nem uma coisa nem outra. A fé dessa gente é malhar a velha casa. Agora, um sujeito recentemente expulso, por negar disciplina e o código de ética do corpo ministerial, está se vendendo como vítima. Tem método, não humano, mas do adversário nisso aí. Colocar é fácil, difícil é tirar do ministério.

Fui enganado pela cientologia.

 Em 2009 publiquei aqui neste blog um comentário sobre um material de divulgação da cientologia, crença esdrúxula do movimento da Nova Era, sem saber que se tratava de material da cientologia. Na época, com 19 anos, eu já sabia o que era essa religião, pois na tv já havia visto reportagens e documentários, provavelmente na tv a cabo, Discovery Chanell, na época, um excelente canal (hoje, não sei nem se o canal ainda existe, deve existir).

LUSOSP: Doutrinação automática

Mas, o que penso aqui, 16 anos depois, é o quanto nós podemos ser facilmente enganados por uma "embalagem" cristã das coisas. É mais ou menos como ser enganado pelo espiritismo. 

Uma historiografia das épocas

Cada período escreve a sua história dando ênfase na inquietação daquele momento. A observação é do professor Hilário Franco Júnior, no livro...